Dilemas escrita por Paige Sullivan


Capítulo 34
Capitulo 34


Notas iniciais do capítulo

Como lidar com baques como do último capítulo, não é? Vejamos o que irá acontecer...



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— Oi? – ele virou-se para ela – Como?

— Isso mesmo. – recuperou o fôlego. Respirou algumas vezes – Eu....

— Há quanto tempo?

— Um mês e meio. – ele sentou na poltrona longe dela e bagunçou os cabelos já um pouco crescidos – Eu ia contar, mas...

— Como sempre esconde as coisas de mim. – levantou e foi para perto do mini bar.

— Não é isso. Descobri quando voltei de Minas. – abaixou a cabeça – Você não ia falar comigo mesmo. Precisei criar coragem pra vir aqui, já disse. Não esperava isso.

— Muito menos eu.

— Eu... Eu...

— Ok. – sentou de frente pra ela – Vamos fazer um planejamento do que vai acontecer. Esse filho é meu mesmo?

— Vou embora. – fez menção de levantar e ele a segurou, firme e forte o suficiente para ela reclamar de dor.

— Não veio aqui? Vai responder tudo o que eu tenho a perguntar. Está me entendendo? – esperou uma resposta malcriada novamente, mas ela só abaixou a cabeça. Suspirou, ela não estava bem mesmo.

— É seu sim. Desde o dia que ficamos juntos, não dormi com o Danilo. Nem com mais ninguém.

— Contou a mais alguém?

— Não. Não tenho forças para contar nada a ninguém por enquanto. Estou muito fraca.

— Está me dizendo que você está grávida de um filho meu e está doente? – ele se revoltou – Não foi ao medico?

— Estou comendo sim, mas quase nada fica no meu estômago. – tentou falar sem chorar – Meu emocional está abalado demais e isso está afetando minha saúde.

— Procurou isso não é Dominique. – ela ia chorar de novo. Ouvi-lo chamando-a pelo nome todo – Agora esta colhendo um pouco do que plantou, mas ainda não é tudo e sabe disso.

— Eu sei. Me desculpa. – chorou ainda mais – Eu queria muito poder apagar meus erros, mas não posso. Eu... eu... – tremia toda. Bruno sentou ao lado dela e a abraçou. Ela se encolheu em seus braços e retribuiu o abraço ainda mais forte – Esse filho era pra ser uma noticia boa, mas veio em uma péssima hora.

— Você precisa se acalmar.

— O medico falou a mesma coisa. – continuou chorando.

— Isso é porque você está guardando tudo pra si. Vai acabar perdendo nosso filho assim. – virou e o encarou – Que foi? É nosso filho não é não? – ela assentiu – Isso não apaga mesmo as coisas, não vou deixar de ter minhas responsabilidades.

— Mas...

— Não espere que voltemos. – ela engoliu em seco – Seria esperar demais e eu já adianto que é melhor você não se iludir.

— Tudo bem. – se afastou. Bebeu o resto da água que ainda existia no copo e virou para ele – Estou indo na psicóloga.

— Pra que?

— Pra colocar as ideias no lugar. Ela me ajudou quando fiquei sem a Ana. Contei a ela o que aconteceu. E tomei uma bronca absurda. Ela me disse que se pudesse se enfiaria na historia só pra esclarecer as coisas.

— Se dependesse de mim tinha sido resolvido há um mês. Mas como eu não tenho nada a ver com isso... – se levantou e pegou sua pasta – Vou te deixar no trabalho.

— E ficamos nisso? – levantou também – Eu conto e fica por isso mesmo?

— Dominique, olha. Acabei de receber a noticia. Acha que eu tenho que reagir com a maior felicidade do mundo? – se indignou – É claro que eu sempre quis ter um filho com você, mas já parou pra ver em que situação isso está acontecendo? Logo no momento que eu não quero mais nada com você? Ou seja, totalmente o oposto?

— Não precisa ser grosso.

— Eu estou tentando ser educado, mas você não está deixando. Acabei de falar pra não criar expectativas e é exatamente isso que você ta querendo. Que saco! – jogou a pasta no sofá – Não tem nem seis meses que voltei e já viu a quantidade de bomba que você jogou no meu colo? Você. Sempre você!

— Desculpa. – ia chorar de novo, mas se segurou – Não falo mais nada.

— Não é o que eu quero. E esse é o maldito problema! – ela se assustou – Você não falar nada *&+%$#! Essa sua maldita redoma, que você se enfiou e acha que todo mundo tem que ter pena porque pensou em sua mãe. Me perdoe, mas que se dane a sua mãe! – ela ia falar – Não, deixa eu terminar, não queria ouvir? Pois agora vai, porque eu já to puto com essa historia.

— Bruno...

— Bruno o cacete. Aquele infeliz tá lá vivendo uma vida de farsa enganando sua mãe todo santo dia com uma filha que ele nem sabe se é dele, e você vivendo outra vida de mentira, porque esconde isso, e acha que eu tenho que ter pena? Você mentiu pra mim merda! Mentiu! O que eu nunca admiti em toda a minha vida foi mentira, e logo você... – ele bufava – A mulher que eu mais amei na vida, mentiu pra mim. E não foi uma vez apenas não, FORAM TRÊS! – gritou.

— Eu...

— Eu devia te expulsar daqui e nunca mais olhar na sua cara e mandar você se virar, mas está grávida não é? O filho não é meu? Então... Pelo menos isso você teve a decência de vir me contar. – ela chorava – Vou cumprir minha responsabilidade. Passei minha vida sem meu pai, meu filho não vai ficar sem um. – ficaram em silencio. Ela de cabeça baixa, abraçando a si mesma tentando um conforto, e ele se arrependendo em parte por ter largado logo toda a sua angustia no momento que ela não estava podendo ouvir – Será que agora podemos ir embora? 

Foram para o carro dele e nada disseram durante o inicio do trajeto. Vez por outra, ele a ouvia fungar ao lado dele, mas não poderia mudar mais nada do que disse. Era o que pensava de qualquer forma. Não conseguiria perdoar o que ela tinha feito tão cedo e agora sabendo que estava grávida e ter que conviver com ela direto seria um tanto quanto doloroso.

Pensou em todas as possibilidades que tinha criado na mente quando pensou em ter um filho com ela, mas nunca imaginou que seria daquela maneira.

Dominique não estava bem. Sabia que estava passando mal, mas não conseguia nem abrir mais a boca. Todas as imagens, frases, situações possíveis passavam por sua cabeça, lhe dando uma dor terrível, tanto na testa, quanto no abdômen. Respirou fundo e apertou a perna de Bruno forte o suficiente para ele se alertar.

— Dominique... – não teve resposta, assim que o corpo dela pendeu para o seu lado e viu que ela estava desmaiada.

****

SÃO LUCAS

Aline e Letícia corriam no corredor do hospital. Bruno estava com os braços apoiados no joelho e com as mãos cobrindo o rosto torcendo para que ela não tivesse perdido a criança. Chegaram perto dele assim que o avistaram e Leticia ao ver o irmão, abaixou e o abraçou com toda a força possível.

— Como ela está? – Aline sentou ao lado dele e o afagou com as mãos nas costas.

— O medico está lá dentro fazendo os exames, mas não veio ainda me dizer nada.

— Por isso que vocês dois estavam fugindo da gente? Não queriam contar da gravidez?

— Não. Eu só soube hoje. Só que nós discutimos, falei o que eu devia, mas não no momento certo, ela passou mal e a trouxe pra cá.

— É por isso que ela estava estranha. – Aline concluiu.

— Ela ia contar pra vocês, mas...

— O que aconteceu em Minas? – Leticia olhou para o irmão que estava confuso – Eu sei que você foi pra Minas no mesmo dia que ela. Desde que vocês voltaram que estão esquivando...

— Não é da minha alçada contar nada do que aconteceu lá. – ele respondeu sério e Leticia não gostou – Quando for pra contar, ela vai contar.

— Lá vem você fugindo de novo.

— Letícia, meus nervos estão a flor da pele. Não me faz descontar minha raiva em cima de você, da pra ser? – eles se encararam por um tempo e Aline encostou-se à cadeira para fugir do meio do fogo cruzado.

— Bruno Costa?

— Sou eu. – ele levantou largando a irmã ali mesmo pelo chão. Elas duas se levantaram juntas para ouvir também.

— Posso falar com o senhor um minuto na minha sala?

— Ela perdeu o bebe? – Leticia perguntou afoita. Ele sorriu.

— Não. – todos respiraram melhor – Mas eu preciso falar com o senhor.

— Ok.

— Doutor... – Aline o interrompeu – Podemos vê-la?

— Ainda não. Daqui a pouco eu líbero as visitas. Só preciso mesmo falar com ele e já voltamos.

***

Bruno entrou no consultório do medico e ele pediu para que sentasse. Sentou de frente pra ele e assim que se acomodaram direito, pegou o prontuário de Dominique.

— Meu nome é Carlos Moura. – estendeu a mão – Desculpa a falta de educação.

— Não tem problema, doutor. – sorriu fraco – Então?

— Eu sou o medico da Dominique. Ela veio me procurar quando pensou que estava grávida e estou cuidando dela.

— Que bom. – ele sorriu de novo – Desculpa, eu só soube que seria pai hoje. Estamos tendo alguns problemas de comunicação.

— Entendo. Ela me contou que se trata com uma psicóloga, a Dra. Virginia Arantes. Ela é muito boa, e parece que ajudou-a depois da primeira gravidez.

— Outra coisa que só soube hoje doutor. – ele estranhou – É que não queria me delongar nesse assunto, infelizmente não estamos juntos e essa gravidez dela tem alguns anos. É complicado.

— Não precisa explicar. – ele parecia sem graça  e sorriu apenas – Entendo que estejam tendo algumas dificuldades e os conheço muito pouco. Mas só preciso aconselhar, ela é nova, saudável sim, mas está passando por muitas emoções que não devia.

— Como assim?

— Quando ela veio me procurar a primeira vez, não parecia que ela estava tão triste. E isso se sucedeu na outra consulta quando vi que ela realmente não estava bem. Conversei com a medica dela, e soube que ela teve depressão pós parto na primeira gravidez.

— Isso.

— Do jeito que as coisas estão caminhando, ela está entrando em depressão no período da gravidez, e se ela não se tratar, provavelmente, vai piorar quando ela der a luz.

— Isso é certo?

— Não cem por cento, mas sempre nos guiamos pelo histórico.

— Ela pode perder o bebe se continuar assim? – encostou-se mais a mesa apreensivo.

— Pode. – ele suspirou – Por isso que preciso pedir que ela não sofra emoções muito fortes. Isso não vai fazer bem nem a ela, muito menos ao bebê.

— Entendi. A culpa foi minha. – jogou o corpo pra trás.

— Sua?

— Nós discutimos hoje e acabei falando demais. Algumas coisas que ela precisava ouvir, mas acho que fui grosso demais.

— Não se culpe, você não tinha como saber. E, ás vezes, não conseguimos controlar nossas emoções.

— O senhor nem tem noção.

— Mas vamos falar de algo positivo. – ele sorriu – Ela está um pouco fraca, mas nada que não possamos resolver. Algumas vitaminas, exercícios que eu quero que ela faça, bons para aliviar o estresse que ela esta tendo no momento, uma nutricionista que trabalha aqui comigo preparou uma dieta boa pra ela, e me baseei no que ela tinha me dito com relação ao dia a dia dela. Vamos ver como vai na primeira e na segunda semana.

— Ela disse que nada para no estômago dela. – parecia preocupado.

— No inicio da gravidez, algumas mulheres ficam assim mesmo, mas acredito que o estado emocional dela esteja ajudando um pouco também. Seguindo essa dieta e mais algumas coisas que estou receitando aqui, vou seguir de perto e ver como ela reage.  

— Ok. Posso vê-la?

— Vou ver com a enfermeira e já chamo.

Bruno voltou para a recepção do andar. Letícia olhava para o corredor ansiosa e Aline estava ao telefone. Chegou perto dela e sentou ao seu lado. Contou parte do que conversou com médico, e assim que Aline desligou o telefone, foram chamados por ele para ir ao quarto dela.

Dominique já estava bem mais calma. A Dra. Virginia já tinha ido ao seu quarto e conversaram bastante. Sabia mesmo o que tinha que fazer, mas precisava treinar sua coragem para conseguir abrir o verbo para todo mundo. As luzes estavam um pouco baixas e o silencio era mórbido.

Estava deitada de lado e assim que ouviu o barulho da porta se abrindo, virou para olhar. Letícia apareceu apenas com a cabeça e foi andando devagar até o corpo todo se mostrar. Aline vinha logo atrás dela. Chegaram perto e a abraçaram ao mesmo tempo. 

Bruno entrava ao lado do médico. Esperaram o momento delas terminarem, e todas pararem de chorar.

— Por que você não nos contou nada? – Aline sentou ao lado dela – Nós somos suas amigas Nique, íamos te ajudar.

— Me desculpa. To passando por tanta coisa ultimamente, que estou tendo dificuldade de conversar sobre qualquer coisa. – abaixou a cabeça.

— Dominique. – o medico se aproximou – Conversei com o Bruno. Já entreguei a ele tudo o que você precisa fazer para melhorar e manter o bebe saudável. Tudo bem?

— Tudo bem. – virou-se lentamente e as meninas a ajudaram a se sentar – Posso ficar tranquila?

— Pode sim. O bebe está bem. Daqui a uma semana quero te ver pra saber se esta acompanhando o tratamento que te dei.

— Pode deixar, eu garanto isso. – Bruno comentou.

— Vou preparar algo bem gostoso pra você comer. – Leticia comentou – Essa criança vai nascer forte e saudável.

— Com você? Vai ser amante de pacotinhos de batatinha frita. – Aline comentou  todos riram.

O doutor saiu do quarto e elas continuaram conversando. Bruno vez por outra dava um comentário também, e sempre olhava as receitas e as recomendações do medico enquanto elas conversavam.

— Vai ter que passar a noite aqui? – Aline perguntou.

— Vai. – Bruno respondeu – Eu vou ficar com ela. Já falei com meu chefe, e com a Diana.

— Você falou com a Diana? – Leticia riu – Queria ter visto essa.

— Aham. – ele ignorou o comentário – Só preciso que alguém faça uma mala pequena pra ela.

— Por quê?

— Porque você vai ficar comigo no meu apartamento. – ele comentou e todas ficaram sérias olhando pra ele – Estou falando sério.

CONDOMINIO MARTIN

Dennis, Tiago e Charles conversavam na sala de jogos. Enquanto os dois primeiros disputavam uma partida de sinuca, Charles estava sentado terminando de ver algo em seu notebook.

— Mas ela está bem? – perguntou aos meninos.

— Aline falou que está sim. Ela me contou mais ou menos a historia, mas o mais importante é que ela não perdeu o bebe.

— Que bom. Depois vou mandar alguma lembrança pra ela. – eles assentiram.

— Leticia me pediu para buscá-la. Ela vai ao apartamento pegar algumas coisas para Nique. Parece que o Bruno quer que ela fique com ele no apartamento.

— Certo ele. Pelo menos pode vigiá-la e o bebe. – Dennis se preparava para mais uma tacada – Mas Charles, uma coisa que queria perguntar... – fez a tacada, mas não encaçapou a bola – Queria te perguntar uma coisa.

— Não estou com a Monalisa, senhor curioso fofoqueiro. – Tiago riu. Dennis olhou de canto de olho para o irmão e o viu encaçapar a outra bola.

— Quem é assim é o Tiago, não eu.

— E se eu enfiar esse taco em você fica tudo certo né? – riu em deboche e Charles meneou a cabeça.

— Estou falando isso, porque eu sei que desde que voltei de Alagoas, que vocês ficam nesse fogo para me perguntar. E como eu estava muito ocupado resolvendo as pendências do projeto, fiz questão de ignorar.

— Muito obrigado. – continuaram jogando – Mas porque não é serio? Ela parece ser uma pessoa bem legal, especial. Não é todo dia que eu vejo você levando uma mulher para uma casa quase que deserta. – todos riram.

— Ela é uma amiga.

— Aline também era. – comentou deixando Tiago um pouco desconfortável, errando também a tacada. Fingiu que não viu – Não to pressionando, mas acho bom você escolher alguém para conhecer, ficar, namorar. Sério, não te vejo com ninguém.

— Eu poderia dar um fora, mas sei que no fundo vocês estão preocupados. – eles assentiram – Mas tenho meus rolos amorosos, e um mais que especial. E como eu sei que não está acabado em definitivo, não vou ficar nutrindo sentimentos em outra pessoa que eu não ame.

— Hum... – Tiago se apoiou no taco – Quer dizer que você ama uma mulher. – afirmou – Bem que eu desconfiei.

— Eu acho que sei quem é. – Dennis olhou bem nos olhos do primo – Mas não vou criar contenda com isso.

— Como assim? – Tiago o olhou – Não entendi.

— Charles sabe do que eu estou falando. Mas pelo visto, essa parte da vida dele é secreta. E não sou eu que vou me meter. – Dennis continuou olhando para a mesa até que deu a tacada na bola oito e a encaçapou – Outra partida? – sorriu para o irmão que assentiu.

Tiago tinha percebido algo de errado só no olhar deles. E Charles imaginou se por algum momento Aline comentou algo com ele. Mas confiava demais nela para acreditar em uma coisa tão ridícula. Ela era bem fiel aos amigos e não perderia tempo falando da vida dos outros, sendo a dela já bem confusa.

Monalisa apareceu na porta do apartamento dos meninos e tocou a campainha. Marta abriu a porta e a reconheceu da festa dada por Manoel.

— Boa noite. – sorriu – O Charles está?

— Sim. – sorriu também – Entre.

— Obrigada.

Assim que adentrou o apartamento e foi indicada para ir a sala, deu de cara com Ariana. Essa, mesmo tentando disfarçar, tentou imaginar de onde ela tinha surgido e o que fazia ali. Marta subiu para chamar Charles. Elas duas continuaram se encarando, até que Monalisa cortou o silencio.

— Boa noite.

— Boa. – abriu um sorriso pequeno – A senhora é amiga do Charles?

— Senhorita. – sorriu educada – Sou sim, ele me pediu para vir aqui.

— Hum. – Ariana não comentou mais nada. Deixou-a ali sozinha sem mais nem menos. Não entendeu nada e preferiu deixar por isso mesmo. Vai que era alguém da família?

— Que bom te ver! – Charles chegou a abraçando logo e lhe dando um selinho – Pensei que não viesse mais.

— Tive uns contratempos. O hotel está me enchendo de problemas. Mas nada que não possa ser resolvido. – sorriu. Marta ficou olhando a espreita e logo correu para cozinha para que não a vissem ali – Posso te perguntar uma coisa?

— Sim?

— Você tem alguma tia, alguma coisa assim?

— Tia? – ele já a levava pela cintura para onde os meninos estavam – Não.

— Ah.

— Deixa eu ver... – riu já imaginando quem era – Ariana que falou com você?

— Não sei quem é.

— Os meninos têm uma governanta e uma empregada. A que te atendeu é a Marta, e a outra, é a Ariana.

— Deve ser.

— Por quê? – ele perguntou já a olhando preocupado. Ela parecia incomodada.

— Ela me olhou estranho. – ele ficou sério. Parou de andar – Mas não se preocupa não. Ela não foi mal educada, só me olhou estranho. Não entendi muito bem. Esquece isso.

— Não se liga não. Ela tem complexo de mãe. Meu tio que a incumbiu de tomar conta de todos nós, e ás vezes, ela exagera.

— Entendi.

Foram para a sala de jogos e Monalisa foi apresentada formalmente para os meninos. Conversaram, riram e chega disputaram uma partida em dupla de sinuca. Até que Tiago teve que ir embora para pegar Letícia no hospital.

— Vai comigo Dennis? – ele assentiu – Aproveitem ai. Daqui a pouco a gente volta.

— Vamos sair também. – Charles comentou – Vamos jantar.

Saíram do apartamento conversando e rindo. Dennis falou a Marta que eles voltariam mais tarde e que ela não precisaria preparar o jantar.

Assim que saíram, Ariana e ela ficaram na cozinha e terminavam de preparar algo para elas. Um silencio mortal se fazia e Marta até estava estranhando tudo aquilo.

— Me diz. – virou para Ariana – Eu sei que você está louca pra descobrir o que ta acontecendo.

— Estou mesmo. – olhou pra ela – E vou.

— Deixa ele, está se divertindo.

— Eu sei. E isso é o que me preocupa. – sentou a mesa – Você não entende.

— Não? Me explica.

— Não posso.

— Pode sim.

— Não posso e não vou, sua chata. – levantou e pegou sua comida – Vou pro meu quarto e nada de me atrapalhar.

CONDOMINIO ANIMALE

Entraram todos no apartamento. Letícia correu para preparar algo para comer enquanto os outros iam para sala. Aline ligou a TV e assim que todos se acomodaram, perguntaram a ela o que de fato tinha acontecido.

Enquanto Aline contava os fatos, Tiago reparava na situação a sua frente. Dennis nem parecia mais o mesmo. Aline estava com as pernas em cima das suas e delicadamente ele deslizou para perto de seus pés e começou a fazer massagem neles. Ela ria das cócegas e tentava contar a historia, mas ele acabou não deixando. Riram, ele acabou a puxando para mais perto e se beijaram.

Tiago se levantou e foi sentar perto de Leticia. Não conseguia engolir aquilo tudo, e que era ele que deveria estar vivendo. Dennis olhava para ela de fato apaixonado. E Aline parecia corresponder a cada toque, olhar e beijo que ele lhe dava. E isso o matava. Já se arrependia de muita coisa e sabia que tinha oportunidade de viver melhor com Leticia, seguir sua vida e ir em frente, mas porque não conseguia?

Chegou perto dela e para se distrair, perguntou se ela precisava de alguma coisa.

— Olha, não é todo dia que eu vejo meu irmão falando isso. – Dennis chegou perto com Aline – Ele cozinhando?

— Não to cozinhando... – reclamou – To tentando ajudar. Ela tem que ir ao hospital levar as roupas da amiga né?

— Falando nisso, vou fazer uma mala pequena. – Aline foi andando para o quarto – Já volto.

Letícia continuava concentrada cozinhando até que não se aguentou e riu com Tiago tentando cortar os legumes. Chegou perto dele e pegou a faca e o mostrou como fazia. Dennis olhava a cena e imaginava em quanto tempo que ia ver o irmão fazendo isso. Mesmo ele não sabendo que o irmão fazia isso apenas para se concentrar na pessoa certa, ele ficava feliz por ver que ele aos poucos estava mudando. Só não sabia se essa mudança deveria ser agradecida a Letícia ou a Aline.

Foi ate o quarto de Dominique pra vê-la. Mesmo sabendo que ela estava com ele e segura daquele relacionamento, ele sozinho se sentia inseguro. Não sempre, mas sempre que via o irmão reagir a algo relacionado a ela. Ficou parado na porta, encostou-se ali e a admirou. Era interessante como em tão pouco tempo sentia como se estivesse apaixonado por ela há anos. E nem a conhecia tão bem assim para ficar daquele jeito.

Aline nem percebia que estava sendo vigiada, porque estava muito concentrada arrumando as malas do jeito que Dominique gostava. Se fizesse algo errado, era capaz dela aparecer no apartamento só pra dar com a mala na cabeça dela e reclamar. Murmurava uma melodia de uma musica e já se imaginava voltando a tocar piano. Oh! O piano! Parou imediatamente o que estava fazendo quando percebeu que estava dedilhando a mala e se imaginando tocar.

Olhou para o lado e viu Dennis parado e a olhando tentando entender o que ela fazia.

— Parece que vou ter várias surpresas suas não é? – ele sorriu e chegou de lado a abraçando.

— Você viu? – ela sorriu – Tem muito tempo que não faço isso.

— Tempo? – ela assentiu – Não entendi.

— Não é nada não. – fechou  a mala se desvencilhando dele – Podemos ir?

— Podemos. – ele ficou confuso, mas percebeu que era algum motivo difícil de falar. Ela sempre contava facilmente de sua vida, e ele não era leigo para não saber que apenas quem tocava piano que tinha esses costumes.

Foram para sala e Leticia já estava terminando as coisas na cozinha. Virou-se para Aline e a olhou perdida. Ela não parecia nervosa até pouco tempo.

— Aconteceu alguma coisa? – ela entrou na cozinha, pegou uma cerveja a abriu. Foi virando a garrafa logo de uma vez e olhou para Leticia, mas não falou nada – Aline...

— Eu pergunto o mesmo. – Dennis chegou perto dela e Tiago que até então tinha voltado do banheiro, não entendeu os dois parados olhando pra ela.

— Que foi gente?

— Não aconteceu nada. – ela riu nervosa – Eu hein.

— Ok, não quer falar, não tem problema. – Dennis a puxou pela mão – Vem comigo aqui.

Tiago não entendeu nada. Olhou para Leticia que parecia mais perdida ainda. Trocaram umas palavras até que pararam para ver a conversa dos dois. Aline estava parada e encostada na varanda da sala e ficou olhando a rua. Dennis parou ao lado dela e fez o mesmo. Ficaram assim um tempo, e ela só olhava para fora sem abrir a boca.

— Eu vou levar a Leticia logo. – Tiago a puxou e pegou a mala. Ela o olhou de cara feia e ele saiu empurrando-a porta afora – Deixa que meu irmão conversa com ela.

— Eles dois brigaram?

— Não parece. – deu de ombros para disfarçar. Também tinha ficado preocupado – Você é amiga dela, conversa com ela depois.

— Meu relacionamento com Aline não tem sido dos melhores. – chegaram a garagem e entraram no carro.

— E por que não?

— Você ainda pergunta? – virou para ele que depois de encará-la um tempo, encaixou as coisas na cabeça.

— Leticia. Eu e ela não temos nada a ver. Ela está muito feliz com meu irmão e eu estou muito feliz com você.

— E eu não to falando nada disso. – ela cruzou os braços – E sim que eu e ela— frisou –, estamos mais ou menos. A confiança se perde um pouco. 

Dennis percebeu que não tiraria nada de Aline naquele momento. Ela apenas olhava para o nada perdida em pensamentos. Como a noite ainda estava um pouco fria, resolveu ir até o quarto dela e pegar uma manta para cobri-la. E pareceu que ela estava sozinha, que assim que sentiu a manta em seu corpo se assustou. Viu o namorado parado e esperançoso de que ela fosse confessar o que a deixou perturbada, mas só o abraçou. Firme e forte o suficiente para se sentir segura.

— Pode confiar em mim. – ela apenas assentiu.

— Um dia eu te conto.

SÃO LUCAS

Dominique sabia que estava sonhando. Situou-se e viu que estava dentro do hospital vazio e frio. Usava apenas a camisola que usara desde quando chegara. Andou pelos corredores, respirou fundo várias vezes, pois sentia uma falta de ar vez por outra e se assustou ao ouvir um choro de bebe.

 

Andou em direção ao barulho e chegou a maternidade. Dentro do quartinho havia apenas uma incubadora e uma menina chorava. Sabia que era menina, porque estava com uma manta rosa. Tentou abrir a porta, mas não conseguiu. Uma enfermeira apareceu de costas para ela e ela batia freneticamente na janela, pedindo para que ela abrisse e a ajudasse a acalmar o bebe.

 

— Ela não vai te ouvir. – ouviu a voz de Augusto atrás de si – Ela só ouve a mim.

— Como?

— Se eu fosse você, eu deitaria, senão você vai sangrar.

— O que? – ela olhava para ele assustada, pois o olhar dele era assassino. Virou de novo para o berçário e sua mãe era a enfermeira segurando o bebe. Acalentava-o e ignorava que ela estava ali – Augusto, me deixa entrar.

— Ela é minha. – riu chegando perto dela e a prensando na parede – E já disse para se deitar, você vai ter hemorragia.

— Mas hemor... – sentiu um liquido entre as pernas e viu que estava sangrando – Eu quero minha filha.

— Ela é minha. – ouviu a risada maléfica dele e assim que passou as mãos nas pernas e viu todo aquele sangue, se apavorou. Bateu novamente na janela e o sangue se espalhava pelo chão, ela se sentia fraca e continuava gritando até todas suas forças se esvaírem.

— Dominique. Dominique! – foi acordada por Bruno e por mais uma enfermeira, que ouviam os gritos desesperados dela – Acorda! Você está sonhando. – ela ainda parecia atordoada, e se debatia, até que ele a segurou com a enfermeira – Você não pode tomar calmante. Se acalma.

— Minha filha, meu bebe! – ela ainda esperneava e ele pegou seu rosto já banhando em lágrimas com força e a segurou.

— Olha pra mim! – ela chorava – Olha pra mim merda!

— Senhor... – a enfermeira ia afastá-lo, mas de repente viu que os olhares se travaram e ela parou de espernear. Continuava chorando, mas seus batimentos iam caindo.

— Foi só um sonho tá? – ela passou as mãos pelas dele em seu rosto e depois passou no rosto dele tentando se tocar de que estava na realidade, que não estava mais sonhando – Um pesadelo. Você está aqui comigo, segura. – abraçou-o em desespero tentando colocar sua mente na realidade, mas o sonho tinha sido tão vívido que não sabia mais o que estava acontecendo consigo mesma.

— Um sonho... – se antes ele estava com raiva, ela estava se esvaindo só de vê-la desestabilizada daquele jeito. Respirou fundo várias vezes e assim que viu que o monitor diminuía os batimentos e ela ia se acalmando, pediu a enfermeira que os deixassem a sós – Eu não quero perder nosso bebê. – ele foi se encaixando no leito e deitando-a junto com ele.

— Não vai meu amor, não vai. – ele beijou sua testa e acariciou os seus cabelos – Vai dar tudo certo.

Aos poucos, sua respiração foi se tornando mais tranquila e compassada. E ouvindo o barulho do monitor, mantendo o equilíbrio nos sons, acabou dormindo com ela em seus braços.


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