Dilemas escrita por Paige Sullivan


Capítulo 17
Capítulo 17




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QUINTA FEIRA

CONDOMINIO ANIMALE

Aline sentiu uma presença no seu quarto. Já tinha acordado há um tempo e estava enfiada embaixo das cobertas imaginando o que faria dali pra frente. Não queria admitir para si mesma que estava apaixonada por Tiago, principalmente depois de todas as suas atitudes, de tudo que falou... Não achava certo nem que ele ficasse com Leticia, mas ai seria decisão dela. Nada demais.

- Posso falar com você? – ouviu aquela voz familiar e tentou sorrir, mas não conseguiu – E você sabe que quando eu quero uma coisa, eu vou atrás. Então é melhor sair debaixo do cobertor, senão eu puxo.

- Ok. – Aline se levantou e Leticia riu quando a viu toda descabelada.

- Não dormiu essa noite não é? – Aline negou – Estou vendo pela cara abatida. – respirou fundo – Cheguei cedo e me arrumei cedo justamente pra ter tempo de conversarmos. E depois você vai se arrumar, tudo bem?

- Tudo planejado? – ela sorriu desanimada – Desculpa por não ter contado as coisas antes.

- Eu só quero saber uma coisa... Parei pra pensar a noite toda e organizar os pensamentos na minha cabeça. Você gosta dele não é?

- Gosto, Leticia. Não tem como mentir. – ela suspirou derrotada – Mas não queria.

- Por quê? – ela parecia curiosa e Aline não queria tocar naquele assunto.

- Porque ele não gosta de mim. Foi uma coisa de momento, nós dois tivemos uma noite em São Paulo e depois disso eu sumi. Não batemos de jeito nenhum.

- Não acho. – ela se levantou e foi andando pelo quarto – Depois que vocês se viram na MP, o que aconteceu?

- Nada. – Aline desconversou e conseguiu disfarçar levantando da cama e indo em direção ao banheiro – Ele considerou que foi uma ocasionalidade. E convenhamos, ele pediu você em namoro... Não eu.

- É... – Leticia parecia indecisa – Acha que ele gosta de mim e que eu devo aceitar?

- Não posso me comprometer respondendo isso não.

- Mas não tem como eu ficar com ele, com você gostando dele.

- Leticia... Eu não o amo. As coisas aconteceram muito rápido...

- Isso não quer dizer nada.

- O problema... – ela a cortou – É que ele foi o primeiro cara depois do Caio. E eu fiquei me sentindo pressionada a seguir em frente. É complicado porque envolve outras emoções e eu fiquei confusa... – Aline começou a chorar deixando Leticia preocupada.

- Eu não vou ficar com um cara pra depois você ficar chorando pelos cantos.

- Estou de TPM se isso ajuda. – ela sorriu depois de secar o rosto.

- Aline...

- Você gosta dele? – ela olhou para a amiga que retesou um pouco para dar essa resposta – Gosta ou não Leticia?

- Quer a verdade? – ela assentiu – Gosto. Não sei o que ele tem que me deixa mais feliz. Ele ainda precisa aprender muita coisa, mas quem sou eu pra falar de aprendizado? – ela sentou na cama derrotada – E mesmo depois do que eu ouvi, sei lá... Não consegui ficar com raiva dele.

- Então fica com ele. – Aline pegou suas roupas e colocou na cama – Esquece o passado e fica tranquila que não vai acontecer mais nada entre a gente tá? – ela sorriu sincera. Não iria adiantar mais continuar imaginando “se” ela ficasse com Tiago. Ele não era dela, nunca foi.

- Arrume-se então. Vou preparar o café.

Aline saiu para o banheiro. Ligou o chuveiro bem quente e tentou apagar tudo o que vinha na sua mente. Todas as suas lembranças de Tiago e ela, de suas ilusões, do fato de ter conseguido em tão pouco tempo se apaixonar por um cara, mal saindo de um relacionamento. Letícia, por mais que não quisesse o sofrimento da amiga, sentia-se melhor. Ela estava realmente interessada e toda aquela revelação bombástica não era boa.

Ela não era idiota. Sabia muito bem que algum sentimento tinha rolado entre os dois. Queria entender quais motivos que os levaram a desistir tão rápido de algo que talvez fosse dar certo, mas preferiu não se fiar nisso, senão ficaria louca. Tiago já tinha dito que queria ela, e Aline não o queria mesmo gostando dele. Era nisso que ela tinha que se prender.

Dominique saiu do quarto já arrumada também. Sentiu o cheiro de café e correu para a cozinha. Sorriu ao ver Leticia preparando tudo como sempre e chegou perto dela.

- Tudo resolvido?

- Acho que sim. – Leticia suspirou – Só espero não me arrepender depois.

- Leticia... – ela encostou tomando um copo de suco – Aline está tomando banho? – ela assentiu – Vou falar rápido – Você quer ficar com Tiago porque gosta dele ou por status?

- Como é? – ela parou de colocar os pães no prato e olhou pra ela – Está realmente me perguntando isso?

- Eu te conheço muito bem. – ela sorriu – Ele é um dos solteiros mais cobiçados do Rio de Janeiro. Vai a vários eventos da elite carioca e você sempre falou aqui aos quatro cantos que queria um cara assim.

- E só por causa disso eu vou passar por cima dos sentimentos da minha amiga? – ela se indignou – Tá parecendo que não me conhece.

- Eu não estou incluindo Aline nisso. O fato de ela estar gostando dele é apenas um... Fato, não vai mudar muita coisa, mas enfim... E você vai ficar insegura o tempo todo porque se ficar com ele, os dois vão se ver mais do que o normal, já que vão trabalhar na mesma campanha. Juntos.

- Para Nique. Ai também já é demais. – ela se enfureceu – Está me dizendo que sou fútil a esse ponto?

- Não. Só estou pontuando uma coisa que você sempre deu a entender. Se isso mudou de um tempo pra cá, muito bom. Mostra que amadureceu. Mas se não... Ai sim vai ser um problema pra você ficar com ele.

- Eu sempre quis sim um namorado como ele. – ela se acalmou, mesmo não gostando muito da verdade sendo jogada em sua cara – Só não imaginei que ele viria acompanhado de uma amiga.

- Aprende uma coisa: Nem tudo na vida vem de mão beijada. Vai ficar com ele então?

- Não sei. Marcamos de nos encontrar no horário do almoço e depois que eu conversar com ele resolvo o que vou fazer.

- Tudo bem.

Aline encontrou com as duas e elas começaram a tomar café juntas. Pela hora iriam chegar cedo até demais na empresa, mas isso era o menos importante. Letícia abriu a boca e contou para Aline sobre Dominique e Bruno e ela quase voou com os pratos em sua cabeça. Ela pelo menos pode esquecer a conversa que teve com a amiga e conseguiu se acalmar mais. Olhou para Dominique que estava sem graça com a situação e estranhou o fato de Bruno ter que perdoá-la no passado. Nunca ouviu nada parecido antes, e aquilo fedia. E muito.

Levantaram e foram para a empresa. Charles mandou uma mensagem para Aline querendo saber se estava tudo bem e ela disse que sim. Mas que conversaria depois com ele contando o que tinha acontecido. 

CONDOMINIO MARTIN

Tiago tomava café quieto com seu irmão. Tinha passado a noite em claro pensando em toda essa confusão. Ele era um idiota e já estava começando a se arrepender de muita coisa. Mas sentia que não podia mais desistir do que tinha escolhido. Era um caminho sem volta. Dennis sentou logo em seguida e Marta serviu o café dele também. Perguntou se queriam algo mais e eles negaram. Dez minutos comendo em silencio e Ariana entrou com um Charles também abatido e preocupado.

Ele sentou e começou a comer sem cerimônias. A sucessão de olhares entre os três já estava sucessiva e cansativa.

- Parou. – Charles se irritou – O que foi?

- Não tomou café em casa não cara? – Dennis perguntou e ele riu.

- Não. Não posso mais comer aqui não?

- Não é isso. – Tiago continuou – Parece que não come há dois dias.

- Vocês não tem noção do que passei noite passada. – olharam-se novamente e sorriram maliciosamente – E mesmo me olhando com esse jeito de vocês pervertido, não vou contar nada. – soltaram gargalhadas e Charles ficou sério. Mal sabem o que ele tinha passado na noite anterior.

- Pelo visto a noite foi boa.

- Enfim... – ele cortou as risadas – Só vim aqui mais cedo porque quero saber uma coisa. Resolveu seus problemas com as meninas Tiago? – ele olhou assustado para o primo e todos mudaram de postura na mesa.

- Pedi a Leticia em namoro. Conversei com a Aline e está tudo certo.

- Conta logo a historia toda Tiago. – Dennis pressionou e ele não gostou – Ele vai saber no final de qualquer maneira, afinal é amiguinho dela. – ele olhou pra Charles desconfiado – Desde quando vocês tem intimidade?

- Somos amigos apenas. Não precisa ficar com ciúmes. – Dennis riu e Tiago ficou mais ereto a mesa. Não gostou daquilo – Então quer dizer que ela vai ficar em paz?

- Não. Dennis disse que vai tentar ficar com ela. – Tiago respondeu desgostoso.

- Acho que você não precisa ter nada contra, já que vai ficar com  a Leticia.

- Eu...

- Não comecem. De novo não. – olhou pra Tiago – Esquece a Aline, ouviu bem? Ela é muito querida e não quero sofrendo por conta de marmanjo irresponsável. Já basta ela ter tido outros namorados imbecis, pra ter mais um.

- Está me chamando de imbecil? – os dois perguntaram em uníssono e Charles bateu a mão na cabeça pedindo misericórdia.

- Vou falar... – Ariana entrou já furiosa – Foi essa criação que dei pra vocês dois? Acham que o pai de vocês vai ficar feliz ao saber disso? – Dennis tomou um susto quando ela entrou e parou ao lado dele – Coitada dessa menina.

- Ariana, você não sabe de metade da historia, não se mete, por favor. – Tiago a olhou suplicante e a fúria aumentou.

- Respeito garoto. Por isso que não tem namorada nenhuma, não respeita nem a mãe de criação.

- Sim, mas é que...

- Mas nada. Eu hein... Eu querendo ensinar valores a esses meninos... – ela saiu reclamando como sempre e Dennis olhou confuso para os outros dois.

- Ela bebeu ou está na TPM?

- Deve ser os dois. – Charles riu e olhou para eles – Por favor, eu não quero que isso comprometa ainda mais a situação. Já vai ser bem difícil lidar com negócios com vocês todos se estranhando.

- Não vai acontecer nada, primo. Fica tranquilo. – Tiago o assegurou e passou firmeza.

- E você não me inventa de ir atrás dela. – alertou Dennis que se fez de inocente.

- Não sou igual ao meu irmão. – Tiago olhou pra ele irritado.

- Ainda bem!

- Hei. – e chiou.

- To falando que você nunca namorou Dennis. Quer algo com alguém? Procura uma pessoa que não esteja tão envolvida nessa confusão.

- Charles, eu só quero conhecê-la. Ela me parece uma excelente mulher e...

- E é.

- Então. Se no final não der nada certo, espero que sejamos grandes amigos. – ele suspirou – Meu irmão é um idiota, mas eu acho que ela tem algo especial e quero descobrir o que é. Se no final ela não me quiser, tudo bem... Mas e se for ela? – ele parecia sincero – Sei lá, não quero perder uma oportunidade que pode mudar a minha vida de verdade. E de repente eu paro de ser esse galinha que Ariana tanto reclama.

- Acho bom mesmo! – ouviram a voz dela ao longe e Charles riu.

- Para de ouvir a conversa! – Tiago reclamou e só ouviram o barulho de algo caindo no chão.

- Como sempre você tenta me convencer usando esse seu senso de persuasão. – Charles encostou-se à cadeira se dando por vencido - Vou ficar de olho nos dois. E provavelmente vou saber de tudo, porque me importo muito com Aline, e a quero bem. Então vou saber de uma forma ou outra dessa história louca que vocês me arrumaram. Diana por acaso sabe disso?

- Então... – Tiago levantou a cabeça e olhou para o primo – Ela disse que iria contar pra Diana sobre tudo e iria se afastar da campanha.

- Como é? – eles se assustaram ao mesmo tempo – Mas ela não pode fazer isso! Ela é uma das peças-chave pra tudo – Charles se indignou – O que você fez hein?

- Eu não fiz nada. – ele reclamou – Eu entendo que ela não queira ver minha cara pintada de ouro na frente dela, e eu ia comentar isso com você ou com a Diana depois. Ela não pode sair de algo tão importante até mesmo pra carreira dela, por conta disso.

- Começou a pensar como adulto. – Dennis riu e ele não gostou muito – Eu falo com ela.

- Não. – Charles negou – Eu falo com ela. E se for o caso, Diana também. Vou aproveitar que tenho que passar na MP e converso logo sobre isso.

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  Aline já estava há mais de uma hora dentro da sala de Diana. Dominique já estava nervosa porque tinha muitos relatórios pra que a chefe assinasse e Leticia não conseguia conter a curiosidade. A servente passou pelas duas e deu um sorriso malicioso e elas não entenderam nada. Olharam-se confusas e Leticia voltou a atender os telefonemas. Dominique resolveu passar no setor de RH, ver com Danilo se eles dois poderiam sair mais tarde, aproveitando que a reunião das duas iria demorar mais do que o previsto.

- Sim Aline, eu entendo toda essa situação, mas não vou deixar você sair da campanha porque o primo do Charles é imaturo e idiota. – ela sorriu simpática e debochada ao mesmo tempo – Que isso nunca saia daqui. – Aline acabou rindo.

- Eu sei, mas não quero ter problemas maiores. Sabe como é?

- Bom, não seria certo já que pelo que me falou, mas se tiver mais trabalhos de campo, que eu acredito que teremos, eu troco os pares. Coloco você com o irmão dele. E eles dois juntos. São namorados e se não chegarem com o trabalho pronto, Charles sabe dar uma dura no próprio primo e eu me resolvo com Leticia.

- Mas isso não vai trazer problemas? - o ramal de Diana tocou.

- Diga Leticia (...) Os três? (...) Leva pra sala de reunião então... (...) Só o Charles? – Diana olhou pra Aline, que apenas assentiu – Pede então pra ele entrar, e manda os primos dele para a sala de reunião. E depois do horário de almoço eu quero falar com você também.

Aline se levantou e se ajeitou. Esperou para que Charles entrasse e quando ia se retirar, ele fechou a porta e a olhou.

- Vamos aproveitar que você também está aqui e eu converso logo com as duas. – Aline engoliu em seco, sabia que iria sobrar pra ela.

Leticia cumprimentou os irmãos Palmas normalmente e os levou para a sala de reunião. Ia sair quando Tiago a puxou delicadamente para dentro da sala e fechou a porta. Ela engoliu em seco e Dennis já foi se acomodando na cadeira e esperando pelo que viria.

- Pelo visto vamos ter que almoçar aqui. Será que podemos jantar mais tarde?

- Pode ser. – ela sorriu já mais amigável.

- Mas está tudo certo?

- A gente fala sobre isso depois. – ela desviou do assunto e saiu da sala. Assim que andou alguns passos, a servente a puxou para a copa e fechou a porta.

- Menina! – ela estranhou o jeito animado com que ela falava – Quer dizer que você dormiu com o gostoso do Tiago Palmas?

- Como é que é? – Leticia arregalou os olhos – Está ficando louca?

- Não mente menina, ouvi muito bem quando eles conversaram da outra vez aqui. Quer dizer que vocês dois estão juntos? Todo mundo da empresa já sabe...

- Ai meu Deus! – ela chiou – Você ouviu o que não devia e saiu espalhando pela empresa não é?

- Eu ouvi da boca dele. Falaram seu nome... Estão até comentando que a Aline está com o Dennis, irmão dele, viram os dois trocando cartões e tudo.

- Seguinte: vou falar uma coisinha aqui antes que você ache que somos amigas ou coisa do tipo. O que acontece na vida pessoal de Aline e minha é problema nosso. Não quero ninguém se metendo porque senão quem vai contar a Diana sou eu, está me entendendo?

- Claro, desculpa. – ela abaixou a cabeça, mas sem gostar muito do fora que tomou. Ela saiu revoltada e quando chegou à recepção viu Dominique parada e sentada em sua mesa esperando pelo término da reunião.

- A servente ouviu o que não devia e já espalhou pela empresa sobre o Tiago e eu.

- Povinho fofoqueiro. – ela reclamou e viu Aline saindo da sala sozinha.

- E ai? – as duas praticamente voaram pra cima dela. Ela apenas sorriu.

- Ta tudo certo. Tiago e Dennis estão na sala de reunião? – Leticia assentiu – Ok, então, pede pra servirem algo pra eles que parece que Charles e Diana vão demorar um pouco.

- Pra aquela servente fofoqueira? – ela se assustou com a atitude de Leticia – Nem morta.

- Mas o que houve?

Dentro da sala de Diana.

- Espero que seja rápido Charles. – Diana reuniu uns papéis e se acomodou mais em sua cadeira – Presumo que vai falar do beijo no restaurante.

- Creio que sim. – ele sorriu desconcertado – Eu queria pedir desculpas de novo pelo que fiz. Não devia ter tomado uma atitude daquelas com você.

- Também acho. – ela continuou séria.

- Mas também não pode negar que retribuiu...

- Não. E aonde quer chegar com isso?

- Eu quero que você entenda Diana. – ele levantou cheio de esperança e tentou chegar perto dela, que também levantou e se afastou – Aquele beijo significou alguma coisa.

- Que você é um bruto! – ela cruzou os braços – E que beija as pessoas a força.

- Não! Eu só beijo você. – ele apontou pra ela e foi chegando perto de novo – Será que ainda não percebeu que...

- Charles, por favor, já não basta minhas funcionárias estarem envolvidas com seus primos, você também quer misturar as coisas?

- Nossa história vai alem de uma fusão qualquer.

- Que história? – ela se alterou um pouco – Isso não existe mais.

- Pode ser que não exista concretamente, mas de forma abstrata sim. – ela o olhou confusa – Ainda sentimos alguma coisa pelo outro.

- Eu não sinto mais nada Charles. – Diana massageou as têmporas – Não se ilude. – ela se conteve para não chorar ou se desestabilizar perto dele.

- Mentira! – agora quem cruzava os braços era ele – E eu tenho como provar.

- Prova então! – não deu muito tempo para raciocinar. Charles a puxou daquele jeito bruto novamente, praticamente a jogou em cima da mesa e lhe tascou um beijo. Diana se sentiu invadida de todas as maneiras, principalmente por ele ter feito isso a ponto de qualquer pessoa entrar por aquela porta. Que Aline estivesse de prontidão sem deixar ninguém entrar.

Mas foi fatal. Ela não conseguia se desligar dos sentimentos por ele. E acabou retribuindo avidamente, puxando aqueles cabelos revoltos que ela tanto gostava de tocar, cruzou as pernas em volta de sua cintura e ele a puxou ainda mais pra perto dele. A sensação de estar perto dele novamente e daquela maneira estava deixando seu corpo em erupção. Charles estava se lixando pras pessoas que pudessem estar lá fora e só se preocupava em provar para Diana por aquele beijo todo o sentimento que tinha dentro de si. Mordiscava ora delicadamente, ora mais afoito, deixando-a em êxtase. E quanto mais ela mexia em seus cabelos, mais excitado ficava.

- Aline. – ela estava sentada terminando de assinar alguns documentos quando ouviu a voz familiar e olhou pra cima – Eles ainda vão demorar?

- Deixa eu ver. Vou ligar para o ramal dela.

O barulho do telefone tirou os dois do transe. Diana se assustou com a atitude dos dois, parecia que estavam drogados e que tinham sido jogados em um universo paralelo. Imediatamente se afastou de Charles e o empurrou para longe. A frustração nos olhos dele era evidente, mas assim que se encararam, o arrependimento foi mútuo. Charles não podia ser instigado daquela maneira, se sentia como uma fera pronta para ser liberta. E a culpa era dela. E Diana... Como queria ter ficado quieta. Olharam-se novamente de cima a baixo e a tensão dos corpos era evidente de que queriam ir além daquilo.

- Eu não...

- Não fala nada. – ele chegou perto novamente e a calou com os dedos – Por favor, a gente discute isso depois.

- Alô. – pegou o telefone antes que fosse tarde demais – Sim Aline. Vamos demorar só mais cinco minutos. O Dennis quer falar com o Charles? Vou entregar o telefone.

- Charles. – ele pegou e atendeu – Pode passar Aline.

- Caramba cara, vocês dois estão fazendo o que ai dentro?

- Modos Dennis. Não estamos na PP e nem em casa.

- O problema é que nós temos hora. Será que você não se lembra que eu tenho outras duas reuniões hoje e uma campanha pra aprovar?

- Não me esqueço dos compromissos de trabalho de ninguém. – ele olhou para Diana que já se encaminhava para o banheiro para se recompor – Pode ir pra sala de reuniões que eu já estou indo com Diana.

- Ok. – respondeu um tanto desconfiado e olhou pra Aline assim que desligou o telefone.

- O que foi? – ela se fez de desentendida.

- A voz dele... É como se estivesse rouca, não sei. – deu um sorriso maroto – Vai saber né? Eles dois se conhecem há tantos anos... – Aline se segurou para não gargalhar – Enfim, você vai pra sala de reuniões também?

- Sim, estou só terminando algumas coisas. Já encontro com vocês por lá.

- Ok.

Diana estava lavando o rosto e tentando se conter. Por dentro seu corpo fervia e há anos que não se sentia daquele jeito. Mas claro, era Charles e ele sempre conseguia tirá-la do eixo. Saiu do banheiro e ele estava sentado já mais calmo. Olhou pra ela com aquele jeito perdido dele e assim que viu o jeito frio dela, desvaneceu.

- Eu sei que...

- É sempre assim? Toda vez que quer algo me trata dessa maneira?

- Se eu chegar de mansinho, vou ser repelido. E você bem que retribuiu.

- Ai para Charles. Já chega. – ela se revoltou – As coisas não podem funcionar assim. Um passado todo não se resume em uma simples atração sexual.

- Não temos apenas uma atração sexual e você sabe disso, mas está tão preocupada com seus medos e afins que não consegue se desprender.

- Como é? – ela cruzou os braços e foi chegando perto dele irritada – Quer dizer que todo o meu sofrimento por sua causa é bobagem então? Que eu tenho que agir como se nada tivesse acontecido e me sentir bem porque você quer esquecer o passado e seguir em frente? – a voz era tão irritada quanto sofrida. A mágoa era visível em seu olhos que lutavam para não demonstrar o sentimento que ela ainda tinha por ele.

- Eu não quero esquecer o passado. – ele baixou os ombros e encostou-se á mesa – Eu quero que você entenda que eu estou disposto a mostrar que mudei. Eu... – ele ia falar que a amava ainda, mas travou no meio do caminho, seria muita informação para a mente dela processar naquele momento – Preciso que você me de uma chance.

- Desculpa Charles, mas não dá pra se pensar em segundas chances. – ela parecia séria e certa do que dizia – E não vou me deixar levar só porque ainda sinto alguma atração por você. Não vou seguir mais meu coração, porque só vou sofrer.

- Então... – ele a puxou pra perto dele – Usa a cabeça. Pensa no que aconteceu durante todos esses anos, vê a diferença em tudo. Pelo menos me deixar ser seu amigo.

- Amigo? – ela riu e olhou para o relógio – Sei muito bem que tipo de amigo você quer ser. Vamos logo, vamos nos atrasar ainda mais.

Diana saiu primeiro da sala e partiu em disparada com suas pastas para a sala de reunião. Charles ainda ficou algum tempo pensando no que tinha acontecido há pouco ali dentro. Sentia que mesmo com toda a repulsa automática dela, alguma coisa ali dentro dela mudava. Ele ia conseguir o que queria sim, nem que tivesse que esfregar na frente dela que eles dois foram feitos para ficar juntos.

- Charles, só falta você. – Aline entrou na sala e viu a mesa desorganizada. Conteve uma risada e o viu meio transtornado – Quer alguma coisa?

- Não. – ele respirou fundo, estufou o peito e ajeitou o cabelo – Vamos logo antes que eu surte.

Diana já estava sentada e conversando com todos os outros na sala. Dennis olhou desconfiado para o primo que mesmo se mostrando calmo e sereno, seu olhar ainda era de pura confusão. O que eles tinham discutido dentro daquela sala afinal?

Aline entrou por ultimo com a servente que trazia café para todos. A reunião sucedeu tranquila, e Tiago estendeu discretamente o caderno para Aline. Ela não entendeu nada quando viu na sua frente, mas ele apenas apontou e ele fez uma mímica mandando ela abrir depois.

Ainda olhava pra ele e mantinha a vontade de fazê-lo engolir folha por folha, mas agradeceu que ele não ficou com tudo pra ele. Já que não ia sair mais da conta, ela precisaria de suas anotações para fazer algumas apresentações para Diana entregar ao Stolt.

- Pois bem, devido a alguns problemas que todos estão cientes, vamos mudar os pares para os projetos futuros. – Diana olhou para o papel e depois para Charles que apenas assentiu. Antes de quase se atracarem em sua sala, ou seja, enquanto Aline ainda estava lá dentro, eles resolveram essa questão – Aline e Dennis vão ficar juntos até o final da campanha e Leticia e Tiago ficarão juntos.

- Só espero que não misturem as coisas. – Charles olhou para os primos autoritário. Poucas vezes ele lançava aquele olhar e isso significava que estava enfatizando o quão séria era a situação – Já que todos estamos cientes que vocês já fizeram uma cagada antes, espero que isso não se repita. Os prazos precisam ser cumpridos e eu não quero nem desconfiar que o namoro de vocês dois... – apontou para Leticia e Tiago – E a amizade de vocês dois – apontou para Aline e para Dennis - ... Vão atrapalhar a nossa fusão. 

- E por que minha amizade com Dennis atrapalharia o nosso trabalho? – Aline estava realmente perdida olhando para ele que se fez de idiota.

- Também não sei porque ele disse isso.

- Enfim... – Charles continuou – Vamos terminar logo essa reunião porque ainda temos duas reuniões depois daqui.

Depois de terem acertado tudo para duas semanas, Dennis e Aline teriam de viajar para o Ceará para visitarem um resort que estava incluído na listagem de compra do Stolt junto com mais dois sócios. Dali eles conversariam com os dois e veriam a possibilidade de fazer alguma propaganda útil para revitalizar o lugar e trazer mais sócios. Além do mais, pelo que foi visto no projeto inicial, ainda teriam muito trabalho pela frente.

Com o que foi acertado na reunião anterior, todos ali contaram como tinha sido o dia anterior e o aproveitamento de cada dupla. Diana e Charles anotaram o que consideraram importante, pediram que todos entregassem um relatório resumido para que expusessem isso para Stolt em uma reunião que Diana já tinha marcado com ele pra semana seguinte.

A principio tudo tinha se acertado. A reunião terminou e cada um voltou para seus afazeres. Dominique enfim conseguiu as assinaturas de Diana e partiu para resolver problemas no banco com o gerente da conta da empresa. Dali, ela sabia que perderia praticamente a tarde. Revisar conta de empresa com gerente não era nada fácil.

Aline sentou em sua mesa e viu a lista de coisas pendentes em sua agenda pra fazer. Letícia voltou à sua mesa e Tiago chegou perto.

- Eu passo aqui às seis e meia, tudo bem?

- Tudo. – dali ele se foi e Leticia partiu pra sala de Diana. Já sabia que tomaria uma bronca daquelas e respirou fundo antes de ter uma crise.

Assim que se viu sozinha, Aline abriu o caderno procurando pela mensagem oculta de Tiago. Esperava que não fosse nada demais e se surpreendeu quando ele tinha escrito e colocado notinhas em praticamente todas as suas anotações. Complementos de coisas que antes ela não tinha percebido, e detalhes em vermelho. Fora as impressões de páginas de Photoshop ligadas a ideias de propagandas para campanhas da empresa. “Abusado!”, pensou ao ver que ele tinha lido praticamente o caderno todo. Estava pronta para ligar para ele e xingá-lo até a quinta geração, quando viu um recado na ultima página escrita do caderno.

“Tudo o que um sonho precisa para ser realizado, é alguém que acredite que ele possa ser realizado.” (Roberto Shinyashiki)

Charles e Diana confiam na sua capacidade. E eu sei que você acredita em seus sonhos. Posso ter sido um abusado me metendo e escrevendo em meio a anotações que não me dizem respeito, ma só fiz pra ajudar. Você tem talento. E depois do que li e de suas ideias, eu também acredito em você. mesmo sabendo que minha opinião não vale de nada e que você vai querer me matar por eu ter escrito ai, me sinto na obrigação depois daquela minha atitude na praia. Não desiste da campanha. Não vale a pena atrasar um futuro promissor por causa de um idiota que nem eu.

Tiago.

Ela se sentiu comovida com aquilo. Pela primeira vez em tempos, ele teve uma atitude altruísta e humilde. Admitiu pelo menos que era um idiota. Releu seu caderno e viu que ele teve bastante trabalho ali. Será que dormiu por acaso? Será que ele realmente passou a noite em claro porque sentia um certo remorso, ou porque queria aparecer?

Já não sabia mais o que pensar dele. Era demais pra sua mente processar em tão pouco tempo, então resolveu apenas se fiar que ele a ajudou. Resolveu então trabalhar e adiantar seu serviço, que logo depois do que ela viu no caderno, não era pouco.

Dominique saiu do prédio com Danilo e os dois foram jantar em um restaurante próximo da empresa. Ela preferiu ficar em um local de total discrição, porque tinha certeza de que não poderia esconder dele o que tinha acontecido com Bruno. Ela já sabia que Danilo não ia muito com a cara dele, mas que sempre se manteve neutro, porque era óbvio que tinha muito mais coisa envolvida do que aparentava. Assim que fizeram seus pedidos, ela o olhou decidida de que falaria logo, senão explodiria.

- Acho que já sei o que quer me falar. – tomou uma taça de vinho e ela o olhou confusa – É sobre seu ex-namorado não é?

- Na verdade, ex-noivo. – ela o corrigiu envergonhada – Temos muito mais passado do que você possa imaginar.

- Eu até tenho minhas teorias. Mas preferi não me intrometer, afinal eu sou o cara novo aqui. – eles dois sorriram – Conte então.

Dominique foi sincera. Contou por alto sobre seu relacionamento com Bruno e sentiu confortável ao admitir todos os seus erros no relacionamento, assim como os dele. Danilo não ficou nenhum pouco alegre ao saber que naquele dia no Pampa os dois tinham se beijado e muito menos que eles quase repetiram isso no apartamento dele. Na verdade, o que mais o enfurecia por dentro era saber que ela tinha se dado ao trabalho de ir ao apartamento do no caso ex-noivo.

- E por que está me contando tudo isso?

- Porque não acho justo termos um relacionamento com mentiras. Eu gosto mesmo de você e sei que você também gosta de mim, mas a honestidade tem que valer sempre.

- Ainda o ama não é? – ele procurou a resposta em seu olhar, porque sabia que ela iria mentir – Consigo ver em seus olhos.

- Não.

- Mentira.

- Estou falando a verdade Danilo. Eu não o amo mais.

- Por que então o beijou no Pampa? E por que se deixou levar por ele desse jeito? Homem nenhum consegue uma aproximação dessas sem que haja uma resposta da mulher, nem que seja involuntária.

- Quem costumava falar muito isso comigo era minha mãe. – ela sorveu de seu vinho também e olhou para Danilo – Não quero acabar com o que temos.

- Mas não da pra termos um relacionamento se não há total comprometimento seu. Vocês dois ainda tem muita coisa pra resolver e não dá pra ficar no meio disso tudo. – ele sorriu – Eu gosto de você também, mas não é assim que as coisas funcionam. Sentimento não se força.

- Desculpa. – ela pegou sua mão na mesa – Só não quero que fique com raiva de mim.

- Eu não estou com raiva de você. – ele a olhou compadecido e pegou suas mãos na dele – Estou com raiva desse cara ai, que sabia que nós dois e mesmo assim forçou a barra. Mesmo que você tenha retribuído, mas ele usou de sua vulnerabilidade para conseguir o que queria. E sim, eu fiquei meio magoado porque mal começamos o namoro e já fui, digamos, chifrado?! – ele perguntou quase afirmando e ela se conteve para não rir – Pode rir, vai.

- Vamos terminar aqui então?

- Não precisamos terminar. – ela não entendeu – Digo... Podemos ser amigos, nos encontrar de vez em quando e se caso você resolver esquecê-lo de vez, a gente tenta de novo.

- Ou seja, seremos os famosos amigos com benefícios. – ela concluiu surpresa.

- Como se você não gostasse da ideia. – ele sorriu malicioso e ela lhe de um tapa na mão se fazendo de ofendida. Segundos depois, sorriu maliciosa também.

- Eu topo.

Aline ainda estava trabalhando. E já eram quase sete horas da noite. Letícia ainda estava por lá e andava de um lado para o outro nervosa.

- Se continuar batendo esse sapato e fazendo esse barulho eu não consigo me concentrar e terminar o meu trabalho.

- Estou esperando por Tiago, mas ele não chega, não me liga, não dá noticias.

- Bom, quanto a isso eu não posso fazer nada.

- Engraçadinha. – sentou na poltrona ali perto e assim que seu celular vibrou, voou em cima dele – Alô. – e logo mudou sua voz, para uma indiferente, fazendo Aline rir.

- Estou na porta do prédio. Desculpa a demora, mas estava em reunião até ainda agora e liguei meu celular há pouco.

- Sem problemas, estava aqui terminando algumas pendências. – Aline arqueou as sobrancelhas e ela balançou as mãos em sinal de que ela não se ligasse na historia – Já estou descendo.

- Bom jantar.

- Antes de ir... – ela chegou perto da amiga – Tem certeza de que está tudo bem?

- Se continuar me perguntando sobre isso, eu juro que me mudo pra casa dos meus pais.

- Depois dessa... – ela sorriu – Vou indo. Vamos ver se o perdoo ou não.

- Eu sei que vai.

Assim que Leticia saiu de suas vistas, ela pode finalmente respirar em paz. Tinha todo o apoio de Charles e de Diana, mas sentia que precisa de um aconchego maior. E só de pensar e falar em seus pais, seu coração já se enchia de saudades. Há muito tempo que não os via e não tinha muita intenção de viajar para fora para vê-los, mesmo achando que isso se tornaria necessário. Queria poder explodir longe de todo mundo. E da maneira como as coisas se sucediam, ela não conseguia.

Tiago se foi com Leticia assim que ela entrou em seu carro. Os dois conversaram amenidades e assim que ele fez menção de ir para um restaurante, ela sorriu maliciosa e colocou uma mão em sua perna.

- Acho que podemos conversar em um lugar mais confortável. – sorriu faceira e ele entendeu o recado. Mesmo não concordando muito com aquela reação dela, acatou seu pedido. Passou em um drive-thru para comprar algo para comerem e logo partiram para seu apartamento.

Desceram do carro e pegaram o elevador. Assim que chegaram, ela já foi se encaminhando para o quarto dele, enquanto que ele buscava pratos e bandejas na cozinha. Quando chegou ao quarto, ela já estava tirando sua meia calça e todas as suas roupas estavam caídas no chão. Ele engoliu em seco assim que ela lhe lançou aquele olhar fumegante e chamativo. Rapidamente pegou a bandeja e a colocou ao lado no chão. Girou por ele e retirou seu casaco rapidamente. Trancou a porta do quarto e ficou de frente pra ele de novo, que apenas observava a situação curioso. Queria saber detalhadamente o que ela faria. Ela o puxou e o sentou na cama. Começou a beijá-lo avidamente, e mesmo retribuindo, ele a afastou rapidamente para entender onde ela queria chegar.

- Pensei que queria conversar.

- Nós temos a noite toda pra isso. – falou rouca e perto dos seus ouvidos, já beijando calidamente em volta de sua orelha e deixando um ar quente por ali. Ele tremeu – Meu desejo é maior e prioritário no momento.

- Sim senhora. 


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