Dilemas escrita por Paige Sullivan


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

OK, ok. Não postei no final de semana.
Malz, não estava no Rio.
Mas pra compensar vou postar três hoje.

Beijão!!!



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Capitulo 16

Aline olhava para a praia e para Tiago. Fez isso durante alguns minutos e ele já ficava apreensivo com a não resposta dela. E nem teria como ela responder a principio, a noticia era muito chocante para uma resposta imediata. Respirou fundo, levantou e olhou para ela que ainda olhava para a praia perdida em pensamentos.

Por um milésimo de segundo, Aline teve vontade de chorar. Queria voltar ao passado e consertar essa burrada. Era ela que tinha que ser intitulada de namorada dele. Balançou a cabeça e olhou pro chão. Como ela podia se sentir mal por alguém tão irresponsável e imaturo como Tiago? Ele continuava olhando para ela já preocupado. Não imaginou que a noticia fosse chocá-la tanto.

- Não vejo porque o motivo de tanto silencio.

- Quando foi isso? – ela o olhou finalmente. Tiago engoliu em seco por ver que seu olhar era magoado, confuso... Mas por que ela o olhava assim? Desviou de olhar para ela e fitou o mar.

- Ontem mesmo quando a deixei em casa. Na verdade imaginei que você estivesse em casa e ela tivesse contado.

- Não dormi em casa ontem. – ela olhou para o mar também, e jogou os braços desleixadamente em cima das pernas.

Tiago tentou não transparecer o desconforto ao ouvir aquilo da boca dela. O tempo mudou, o céu já estava fechado e o vento batia já um pouco forte na praia e ela se encolheu. Seu casaco não era o suficiente para lhe proteger daquele vento. Ele ficou preocupado e sentou ao seu lado. Mas ela continuou imóvel. E isso já estava deixando-o nervoso. Por que ela não respondia, não reagia mais, não gritava? Sabe-se lá Deus o que. Mulher não costuma reagir bem a esses tipos de informações.

- Aline... – o vento já batia ainda mais forte e ele pegou seu casaco. Ela travou o movimento se levantando.

- Não encosta-se a mim. – finalmente uma reação, um pouco pior do que ele queria...

- Está frio.

- F...-se o frio. – ele se assustou – Eu não estou com frio e podia cair nevasca na minha cabeça que eu continuaria sem sentir frio. – olhou finalmente pra ele – Contou a ela sobre nós pelo menos?

- É isso que importa? – ele levantou chateado. Depois parou para analisar o que estava pensando. Ele estava ficando maluco e a culpa era dela. Por que diabos ele ia se importar com isso?

- Ela é minha amiga Tiago. Será que parou para analisar isso um minuto sequer antes de inventar essa loucura? – ela continuava aparentemente calma, mesmo depois do jeito meio ríspido antes.

- Pensei sim. – mexeu nos cabelos em sinal de nervosismo – Mas foi tão espontâneo, estávamos no carro conversando e parecia que estava tudo tão claro na minha frente... – Aline imaginava a cena e já sentia um nojo característico. Não era repulsa, era um ciúme que ela não queria sentir – Olhei para ela e pedi. Ela aceitou e sei la me senti bem com isso. Não é nenhuma loucura como você disse.

- Claro... – ela riu com descaso e ele voltou o olhar para ela – Acho melhor sentarmos e conversarmos decentemente com ela antes que tudo desmorone ainda mais.

- Como assim desmoronar? – ele levantou e parou de frente pra ela – Não temos nada. O que aconteceu não importa. É passado e fim. Ela não tem porque ficar preocupada com nada, não da minha parte pelo menos.

- Nem da minha. – Aline rebateu no automático. Os dois estavam surpresos um com o outro devido aquelas afirmações. No fundo, mesmo que escondendo de si mesmos, não era o que queriam ouvir. Aline, principalmente. Mesmo sabendo que tinha tomado a decisão certa de não ficar com ele, e ouvindo aquilo, afirmar ainda mais algo que já era um fato, queria que o sentimento dela por ele não existisse.

Porque no final de tudo, algo desmoronava sim... E era seu coração.

- Só espero que não a decepcione Tiago. Ela é minha amiga e eu a amo muito. Se magoá-la, eu juro por Deus, eu te caço até o fim do mundo e te castro. – Aline foi sucinta. Tiago viu o olhar assassino e tentou se conter para não mostrar nervosismo – Se bem que ela provavelmente não vai confiar em você depois dessa.

- Não vai confiar em mim?

- Acha mesmo que alguma mulher vai confiar no cara que escondeu algo do tipo pra ela? Ela vai perder a confiança em mim que sou amiga, imagina em você que ela conheceu não tem nem um mês.

- Vou fazer de tudo para que ela entenda os meus motivos. – ele disse confiante. E Aline sentiu a vontade de chorar vir. Respirou fundo, pegou suas coisas do banco e olhou para ele já cansada daquela conversa inútil.

- Pois bem senhor convicção. Assim que terminarmos aqui, vamos conversar com ela. De hoje não passa. – pegou a mochila nas mãos e procurou um óculos escuros, o que deixou Tiago intrigado, não havia sol pra aquele tipo de acessório. Colocou nas costas, colocou o óculos e foi andando em direção oposta a ele – Vou terminar o meu serviço.

- Mas nós já terminamos por aqui.

- Eu não. – e saiu andando e o deixando ali sozinho, com seus pensamentos e indefinições. Algo balançava dentro dele, e mais uma vez ele fez questão de colocar uma pedra naquilo. Não adiantaria continuar imaginando coisas que não iriam pra frente. Nunca mais.

Três horas depois, Leticia ligou para ele que estava se arrumando na moto e já olhando preocupado pelo relógio. Aline não estava mais na marina. E ele já tinha dado umas três voltas por ali. Disse a ela que estava tudo sob controle, mas que eles tinham atrasado um pouco o serviço para comer e ela estava conversando com alguém e ele não queria incomodar.

Letícia estranhou. O celular dela só dava desligado e isso não era muito comum durante o horário de trabalho. Mas poderia ter descarregado e ela ainda nem tinha percebido.

Marcou de se encontrar com os dois no apartamento já que ela estava se encaminhando para lá com Dennis e eles já tinham passado no restaurante com comida para todo mundo.

Tiago ligou a moto e foi procurando de novo por Aline. Ela tinha que estar em algum lugar. O telefone dela só dava desligado e a preocupação só aumentava. Onde ela tinha se enfiado afinal?

Aline estava sentada no balanço de uma praça que ficava no final da praia de botafogo. Queria muito não chorar, mas estava sendo difícil controlar. O lado bom do tempo estar ruim daquele jeito era que ninguém ia pra praça levar seus filhos para brincar. Ninguém queria uma gripe assolando a criança. Olhava para o mar a sua frente e um pouco longe e assim que avistou a moto de Tiago passando, segurou o choro de qualquer jeito. Tremeu um pouco tentando guardar para si seus sentimentos e assim que ele a viu sentada, de óculos e se balançando, bufou revoltado.

- Mas o que você pensa que está fazendo? Sabe o que pensei que tivesse acontecido?

- Não quero saber. – rebateu fria. Ele recuou um pouco e ela se levantou já pegando a mochila – E já vi a mensagem de Letícia sobre o almoço no apartamento.

- Por que não respondeu a ligação dela? Ela estava preocupada.

- Tiago, vamos logo embora, por favor?

- Teríamos ido mais cedo, se você não tivesse sumido. Eu fiquei que nem um idiota procurando por você e achando que tinha acontecido alguma coisa. Está frio, o lugar está meio deserto e aqui em Botafogo é meio perigoso, mesmo de dia...

- Não quero saber de nada. Não ouvi quando eu disse isso? – cortou-o e rebateu friamente novamente.

- Olha aqui... – ele se revoltou – Pára de agir igual criança. Estamos trabalhando e até onde sei quem manda aqui sou eu. Não vamos confundir o pessoal com o profissional.

- Quem começou confundido foi você.

- Como?

- Quem começou aquela conversa, foi você, não eu.

- Sim, mas eu já tinha terminado meu trabalho, ai você foi e nos atrasou, porque não tinha mais o que fazer e queria ficar se balançando... – Aline jogou um caderno com todas as anotações que tinha feito.

- Já adiantei nosso trabalho em uma semana. Com essas informações ai você vai ficar bem ocupado, porque eu não quero mais trabalhar com você. E depois que eu contar a Diana tudo que aconteceu, ela vai me liberar desse trabalho.

- Vai largar a fusão?

- Quero ficar longe o quanto posso de você. – sentou na moto – Prefiro distancia de quem não merece minha companhia.

- Eu não acr...

- Olha Tiago... – Aline que até então ainda estava calma, se revoltou também – A criança aqui é e sempre será você. Mas isso não me importa mais, agora sobe nessa moto, vamos para o apartamento e vamos resolver logo todos os nossos problemas, para poder nos livrar um do outro e para eu poder viver minha vida em paz.  

- Eu...

Ele não tinha como rebater. Mas também não queria que ela saísse daquela campanha, ela era muito competente e isso iria prejudicar o trabalho dela na empresa de Diana. Pegou o capacete que ela tinha esticado quase em sua cara, esperou ela colocar o dela e subiu na moto. Como não estavam longe e não tinha engarrafamento, chegaram rápido ao apartamento. Entraram no prédio, pegaram o elevador e o silêncio de cemitério era constante. Mas assim que chegaram ao andar dela, e pararam na porta do apartamento, ela travou o movimento um momento.

- Só tem mais uma coisa... – olhou pra ele – Você não manda em mim em nada, a fusão ainda não está completa e mesmo que estivesse, que manda em mim é a Diana. Espero que esteja bem ciente disso.

- Desculpa... Eu me alterei e... – ela abriu a porta e uma Letícia saltitante e feliz chegou perto deles.

- Vi a porta abrindo e já estava dando graças que chegaram. Que foi? – olhou para cara de enterro dos dois e estranhou – Brigaram?

- Não. – Aline forçou um sorriso – O... a...

- O pneu da moto furou. – Tiago se pronunciou já entrando no apartamento como se fosse dono do lugar. Dennis saia da cozinha com os pratos na mão e assim que colocou na mesa, o irmão lhe cutucou. Cumprimentaram-se e Aline fechou a porta do apartamento.

- Como assim? E você não me liga pra avisar nada? – olhou pra amiga que parecia cansada e que não dormia há dias – Você não está bem não é?

- Não. – forçou o sorriso novamente – Mas estou com fome, então não estou tão ruim assim.

- Sim, mas aconteceu alguma coisa não foi? – olhou pra ela desconfiada.

Dennis dispondo os pratos na mesa e Tiago parou ao lado dele. Os irmãos se entreolharam e Tiago voltou o olhar para os talheres que estavam em um recipiente e entregou ao irmão.

- Falou com ela? – Dennis sussurrou.

- Com quem?

- Preciso dizer quem? – bufou.

- Ah não acredito que você dormiu com o Caio! – Leticia falou tão espantada, que Aline ruborizou e os irmãos pararam literamente de falar e olharam para as duas.

- Por que você não pega um megafone e espalha para o prédio todo? – Aline queria fuzilar a amiga depois dessa.

- Quem é Caio? – Tiago perguntou curioso e com raiva.

- Não te interessa. -  Dennis cutucou o irmão, e ele e Leticia se espantaram com a grosseria dela com ele – Desculpa.

- Tudo bem. – ele acuou um pouco e Leticia puxou Aline pela mão.

- Um minuto que já venho falar com vocês. Dennis, já coloquei tudo nas travessas, pode trazer pra mesa?

- Claro. – cutucou o irmão que tentava se manter frio – Vamos lá pegar as coisas na cozinha.

Letícia praticamente guinchou Aline dali e a levou para o quarto. Ela queria morrer, isso era definitivo. Mas pelo menos Tiago agora se roeria por dentro querendo saber quem era Caio e que ele não era o único homem da vida dela.

- De todas as burradas que você poderia fazer, tinha que ser logo dormir com o Caio?

- Pode ter certeza Leticia, tem burrada muito maior por ai. – Leticia estranhou o jeito calmo e meio indiferente de Aline e a olhou atravessado.

- O que você quis dizer com isso?

- Vamos comer primeiro? – Aline tentou se manter alegre – Sério, estou morrendo de fome.

- Nada disso, você vai me contar primeiro que história é essa do Caio.

- Você não vai sair daqui enquanto eu não falar nada não é? – Leticia apenas negou com a cabeça e cruzou os braços igual ao irmão Bruno, e só nisso Aline percebeu que não tinha jeito – Ok, senta ai que eu conto.

Dennis e Tiago já tinham colocado as travessas na mesa e estavam sentados esperando pelas duas que não saíam do quarto. Tiago olhava para a porta ansioso para saber como seria a conversa e se Aline já estava dando com a língua nos dentes. Dennis olhava o irmão e o cutucou para que prestasse atenção nele.

- Olha aqui, contou pra Leticia de vocês dois?

- Ontem eu pedi a Leticia em namoro. – Dennis se assustou – E contei a Aline hoje de manhã.

- Como é? – Dennis jogou a cabeça na mesa e bateu duas vezes – Senhor, a inteligência veio toda pra mim, só pode.

- O que?

- Você é uma verdadeira anta meu irmão. – Dennis o olhou e abriu a garrafa de vinho – Vou até tomar um gole antes de ver a casa explodir.

- Eu estou fazendo o que acho certo e sim, eu e Aline concordamos em contar a Leticia hoje o que aconteceu. Não será nada demais, e vai dar tudo certo.

- Não vai Tiago, deixa de se iludir. Você só faz merda! – Dennis se alterou, mas sem deixar o tom de voz subir – Acha mesmo que Leticia vai te perdoar diante dessa situação? E ainda por cima vocês dois trabalharam juntos hoje. Ela vai pensar muitas coisas.

- Ela não te contou do namoro? Estranho... – Tiago tentou desconsiderar o que o irmão falou. Dennis o olhou de cara feia e Tiago se acuou – Vai dar tudo certo, vou conversar com ela.

- Acho bom mesmo.

No quarto...

Depois de contar da noite com Caio e da conversa que tiveram, Leticia olhou para amiga procurando alguma reação negativa ou qualquer outro indicio de arrependimento. Depois a abraçou e sorriu.

- Até que enfim você voltou. – Aline não entendeu – Quer dizer que agora vai usar o gostoso do Caio só pra sexo?

- Não é bem isso que eu imaginava, estava precisando desestressar e ele era minha única opção.

- Dennis está ai na porta ué. – ela sorriu maleficamente – Quem sabe ele também não pode...

- Não inventa Leticia. – Aline se levantou – Vamos logo almoçar, to morrendo de fome e já contei mais do que devia.

Saíram do quarto e ao chegarem na sala, o clima não parecia muito bom entre os irmãos. Letícia sentou logo ao lado de Tiago, e Aline ao lado de Dennis.

- Aconteceu alguma coisa? – Leticia perguntou preocupada.

- Nada...  – Tiago acariciou seus cabelos e sorriu – Problemas na empresa.

- Algo a ver com a MP? – Aline perguntou também sem entender.

- Não, fica tranquila. – Dennis olhou pra ela e sorriu – Vamos comer?

O almoço começou tranquilo. O grupo riu um pouco, conversaram sobre o trabalho do dia e Tiago teve que inventar algo sobre o pneu da moto. Quando o almoço terminou, as meninas tiraram a mesa e eles foram pra sala. Lavaram a louça e serviram mais uma taça de vinho pra cada um. Conversaram mais um pouco sobre o trabalho e quando se deram conta já era quase quatro horas da tarde.

- Então minha gente, muito bom conversar com vocês, companhias muito agradáveis, mas agora eu preciso passar na empresa pra deixar tudo isso e pegar mais alguns trabalhos.

- Pelo visto hoje o dia vai terminar bem cansativo não é Dennis? – Aline perguntou e ele riu.

- Você nem tem noção de quanto. – ele deu um olhar significativo e ela entendeu.

- Eu vou ver se já faço o jantar, porque Dominique vai chegar e reclamar que não tem nada pra comer. – Leticia comentou e Tiago a segurou.

- Antes, nós precisamos conversar. – ele a olhou sério e ela não entendeu.

- Como assim?

- Nós três na verdade. – Aline comentou e ela estranhou ainda mais. Dennis percebeu que ele não tinha mais o que fazer ali.

- Me liga. – olhou pra Aline que apenas sorriu concordando.

Assim que Dennis cruzou a porta e deu graças a Deus que não ia ver o circo pegar fogo, mesmo que no fundo a vontade de ter mantido uma câmera gravando tudo fosse grande, Leticia virou para os dois dentro do apartamento já esperando que algo não tão bom fosse acontecer. Pelo menos a cara dos dois não indicava isso.

- Espero que eu não tenha que me irritar. – Tiago engoliu em seco e Aline respirou fundo. Os dois estavam encrencados. De fato.

- Então... – ela colocou o cabelo atrás da orelha, se ajeitou no sofá e começou a falar – Espero que você entenda tudo o que eu vou falar.

Aline contou tudo. Tiago acabou se envolvendo na conversa e contando os detalhes do lado dele também. Em nenhum momento eles disseram nada sobre sentimentos, e pularam a parte da noite que tiveram. Pela cara que Letícia fazia, ela nunca iria aceitar aquilo. Até mesmo porque ela se sentiria como sendo a outra, Aline bem conhecia, já que pela contagem de tempo, ele tinha dormido primeiro com Aline. Os dois sincronizaram os pensamentos e agradeceram mentalmente que o outro não tinha aberto o bico totalmente. Minutos depois de terminarem o relato, Leticia olhava para eles em silencio. Tiago era homem, provavelmente depois dessa, ela nunca mais confiaria plenamente nele, mas isso não fazia muita diferença em si. O problema era Aline. Como que sua amiga fazia uma coisa dessas com ela?

- E por que me pediu em namoro antes de me contar isso? – lançou um olhar de indiferença para a amiga e logo olhou pra ele.

- Eu gosto de você Letícia. – ele sentou ao seu lado e ela se afastou – O que aconteceu entre mim e Aline não foi nada. – Aline se conteve, queria muito, mas muito enfiar a mão na cara dele. Como assim não significou nada? – E eu nunca ia imaginar quando te vi na boate que vocês duas eram amigas, que moravam no mesmo apartamento....

- Então foi por isso que você ficou perdida e acuada no dia que se esbarraram aqui? – Aline apenas confirmou com a cabeça – Por que não me contou?

- Fiquei com medo de acontecer alguma coisa pior.

- PIOR? – Letícia levantou revoltada – Vocês dois se comeram em São Paulo, eu tenho certeza que você ficou mexida com tudo, você sabia da campanha, que ia vê-lo de novo e depois me manda uma dessas? – ela andava de um lado para o outro bufando em ódio – Ele realmente não tem culpa de ter me conhecido na boate...

- Eu não estou me isentando não Letícia. – Tiago levantou e tentou chegar perto dela – Eu sei que deveria ter contado a você antes, mas eu quero que saiba que eu gosto de você. Eu pedi você em namoro, EU quero você! – ela até se surpreendeu com tanta convicção vinda dele.

- Você gosta dele não é? – olhou para Aline que até então estava de cabeça baixa – Por isso foi enterrar as mágoas com o Caio.

- Não! – ela levantou alarmada. Tiago a olhou suplicante e ela não sabia se estava fazendo a coisa certa – Não gostamos um do outro Leticia. – Aline engoliu tudo que queria falar – Foi algo de momento. E isso não vai mais se repetir.

Letícia continuou olhando para eles. Tiago segurava sua mão e ela olhava para as mãos entrelaçadas ainda perdida. O que ela podia pensar dos dois? O que fazer? Aline não tinha que ter feito isso com ela. As coisas estavam erradas.

- Preciso pensar. – largou da mão dele e pegou sua bolsa no sofá.

- Calma Leticia, eu... – ela parou Tiago com a mão.

- Já disse que preciso pensar. – saiu praticamente furando o chão, tamanha era sua raiva. Fechou a porta com força que os dois se assustaram.

- Pra onde ela vai? – ele falou e se virou enquanto Aline se direcionava para a cozinha. Precisava de mais vinho.

- Provavelmente para o apartamento do irmão dela.

- Pode me dar o endereço? – ela o fuzilou e depois suspirou – Quando a Letícia diz que precisa pensar, quem chegar perto morre.

- Mas ela vai me ouvir! – ele chegou mais perto e Aline soltou uma gargalhada.

- Quer namorar mesmo com ela? – ele assentiu freneticamente deixando-a desnorteada. Ele parecia realmente estar muito convicto do que queria – Então espera ela te ligar. Amanha a gente vai se ver na empresa mesmo, todo mundo.

- Eu...

- Tchau Tiago. – ela apontou a porta e ele se sentiu ofendido.

- Está me expulsando? – ele reclamou e ela revirou os olhos.

- Não tem nada do que precisa aqui.

Tiago saiu do apartamento irritado. Aline não precisava ter falado daquele jeito com ele. E ela no apartamento, desabou no sofá e ficou olhando para o teto. Deixou poucas lágrimas caírem dos seus olhos até ouvir um barulho na porta e Dominique adentrar como um furacão.

- Acho bom terem feito algo pra eu comer, porque estou morrendo de fome. E cheia de trabalho ainda pra fazer.

- Vai ter que pedir comida. – ela viu a amiga desolada e saiu correndo para o sofá.

- O que aconteceu?

Depois de contar tudo o que aconteceu desde Caio até o incidente no apartamento, Dominique e Aline já tinham feito lanches pra comer e estavam à mesa. Ficaram tão entretidas em seus pensamentos que Dominique percebeu que não teria tempo para fazer seu trabalho. Ela teria que colocar uma realidade na cabeça de Letícia, que ou ela não estava se dando conta, ou simplesmente estava se fingindo de vitima.

- Eu vou atrás dela.

- Mas não vai mesmo Nique. – Aline negou na hora – Ela tem que aprender a entender as coisas e tem que pensar no que vai fazer.

- Vocês omitiram algo dela e mentiram Aline. Tudo bem que tem um pouco da personalidade ai, já que ela o conhece há menos de um mês. Mas ela precisa entender que não vai ter nada entre vocês.

- Eu gosto dele Dominique. E ela viu isso nos meus olhos e está óbvio pra quem quiser. Acha que fiquei com o Caio porque?

- Por que é uma idiota? – Dominique riu e tentou se conter depois do olhar de Aline pra ela – Sim, você se sentiu carente e deu pro primeiro que apareceu na sua cabeça. Pelo menos o Caio é bonito e você sempre disse que era bom de cama, então dá pro gasto.

- Nique...

- Ué, faz a merda, faz direito! Pelo menos agora ela já sabe e tudo vai se resolver entre os dois. E você amiga... – ela pegou a mão dela docemente – Vai ficar tudo bem.

- Leticia me odeia Dominique, acha mesmo que vai ficar tudo bem?

- Aline... – ela estalou os dedos e ela se assustou – Estamos falando da mesma pessoa? É a Leticia, se não desencanar do Tiago, vai ficar com ele e nem vai ligar mais pra isso. Se você gosta dele, problema, ela vai pensar que se ele quis ficar com ela, você vai ter que entender.

- Estou me sentindo muito melhor. – ela bufou.

- Eu realmente não to com paciência pra falar sobre a burrada de vocês. Eu tenho algo muito mais sério pra contar.

Dominique passou mais uma hora contando a Aline o que tinha acontecido. Depois da risada intermitente, ela percebeu que não estava mais engraçado pela cara da amiga. Respirou fundo e olhou séria pro copo a sua frente.

- Acho que vocês dois são inevitáveis. – Dominique não entendeu – Vocês dois vão acabar ficando juntos mesmo.

- Como é?

- Eu não vou falar mais nada, senão você vai me fuzilar.

APARTAMENTO BRUNO

- Acredita nisso? Ela me traiu, foi bem nas minhas costas! – Leticia andava de um lado para o outro tentando amenizar a raiva e Bruno só a olhava pensativo. Sabia que a irmã sempre exagerava quando tinha algum problema com ela.

- Aline não é esse tipo de pessoa Leticia, sabe muito bem disso.

- Eu sei? Acho que você não entendeu meu irmão. Ela me traiu.

- Posso comentar então? – ele perguntou já a puxando para um canto da sala e a colocando sentada no sofá – Eu vou falar e se você abrir o bico para me parar eu te calo a força. – Leticia engoliu em seco. O irmão sempre era muito persuasivo quando queria falar algo.

- Fala.

- Vamos colocar pingos nos is disso aqui. Tem muita informação e coisa que acho que nem você percebeu. Aline o conheceu antes... – ela ia falar e só o olhar dele a calou – Fez besteira sim, mas ficou com medo de te contar, porque a senhorita ficou muito empolgada. E só contou mesmo porque viu que o lance de vocês é serio. Acho que esse cara ai merece umas porradas porque devia ter te contado antes de te pedir em namoro...

- Hei.

- Hei nada! – ele continuou olhando-a sério – Um homem de verdade não faz uma burrice dessas. Ele viu que vocês duas eram amigas e já que Aline ficou com medo, ele tinha que ter tomado a frente antes de chegar aonde chegou...  Mas você gosta dele? – ela apenas assentiu – Então vê no que vai dar. Só não me peça para ter simpatia com ele agora, porque não vou. Ele não é adulto o suficiente para você, mas não adianta, que já que você gosta, se eu impedir algo vai ser pior.

- Eu sou maior de idade.

- E eu sou seu irmão. – ele enfatizou – Mais velho... – enumerou nos dedos – E mais responsável. Então não me venha com essa. Vou ficar de olho.

- Só queria passar a noite aqui. Eu não sei como vou fazer amanhã.

- Tudo bem.

Meia hora depois e tomados banho, os irmãos estavam sentados vendo televisão. A campainha tocou e Leticia já temia ser Tiago atrás dela, já que o celular ela teve que desligar por conta das várias ligações que ele tinha feito. Bruno levantou já se preparando pra bater em alguém até que ao abrir a porta, deu de cara com Dominique. Os dois se olharam de cima a baixo umas duas vezes, até que ela se pronunciou.

- Não sente frio não? – ela ficou olhando para o peito desnudo dele e apenas para a calça de moletom. Ele riu.

- Quanto menos roupa, mais rápido pra fazer o serviço. – ele piscou e ela ruborizou.

- Leticia está ai? – fugiu do assunto pra não pensar coisas.

- Sim, mas ela não liga pra esse tipo de coisa, como se ela não fizesse com os namorados dela.

- Tá de brincadeira não é Bruno? – Dominique se enfezou – Vou ficar aqui mesmo na porta?

- Cadê a senha? – ele riu sacana.

- Que senha o que! – ela se irritou e saiu empurrando a porta. Mas como ela sempre se esquecia, ele era mais forte e claro, ela não conseguiu muita coisa com aquilo – Bruno...

- Por que me bateu ontem? Agarrou-me e depois me bateu, me deixou sozinho...

- Esquece que aquilo aconteceu, está ouvindo?

- Eu não esqueço não! – Leticia saiu se enfiando entre os dois e abriu a porta com um sorrisão no rosto – Quer dizer que teve um remember entre vocês dois?

- Viu? – Dominique apontou pra ela olhando pra Bruno – Era isso que eu não queria.

- Mas foi você que me agarrou. – ele se fez de inocente e foi entrando pelo apartamento de novo fazendo-a ir atrás dele. Letícia já ria.

- Você veio pra cima de mim primeiro. – ela se enfezou.

- Mas você tem namorado. – Leticia fechou a porta e se arrependeu de olhar pra Dominique – To falando a verdade.

- Virou complô isso aqui? – respirou fundo e olhou para Leticia – Nós duas precisamos conversar... AGORA! – ela saiu andando e se enfiando algum cômodo da casa.

- Se quiser eu mostro o apartamento pra você Nique! – Bruno falou rindo dela.

- Vai a merda! – ela gritou e ele riu ainda mais. Letícia revirou os olhos e foi atrás da amiga.

Depois de achar algum lugar confortável, ela olhou em volta direito. Não entendeu o que aquele sofá fazia ali no meio do que parecia um banheiro. Leticia entrou logo em seguida e sentou ao lado dela.

- Aline me contou o que aconteceu.

- Ela contou tudo mesmo, ou ela omitiu alguma coisa? – ela continuou com o deboche e Dominique respirou fundo – E que história é essa de você com meu irmão? Não tem nem uma semana que ele voltou direito de lá de fora e vocês já estão assim? Daqui a um ano estão casados.

 - Cala a boca que o assunto aqui não somos nós dois. – ela se irritou e Leticia conseguiu segurar o riso frouxo – Eu quero saber como você vai resolver com Aline com o Tiago.

- Eu não sei como vou fazer amiga. – ela levantou e se apoiou na bancada – Eu estava começando a gostar dele, como acha que vou confiar?

- “Eu sinceramente acho outra coisa, mas se eu falar você vai querer me matar”, pensou Dominique – Eu acho que você deveria parar pra pensar. Ele te contou pra não ter mais problemas, ele não teve tempo pra conversar com a Aline para os dois poderem te contar também. É complicado visto pelo ângulo deles também.

- Não é bem isso não. – Leticia saiu andando e Dominique foi atrás – Como acha que eu vou ficar com um cara que já dormiu com uma amiga minha antes? – ela sabia que Leticia falava não tanto pelo problema dele ter ficado com Aline, mas porque ELA não tinha sido a primeira, ela não poderia deixar ninguém com inveja, não teria a oportunidade de jogar na cara de ninguém que ela tinha sido de Tiago Palmas.

- Leticia... – Dominique também se levantou e fez a amiga ficar de frente pra ele – Vamos fechar logo esse assunto. Você gosta do Tiago?

- Eu...

- Gosta ou não gosta?

- Ah Dominique, me deixa! – ela chiou e foi andando para fora do lugar. Dominique a segurou e já soltava fogo pelas ventas. As duas se encararam com raiva, até que ela resolveu responder. Dominique aprendeu muita coisa com Bruno.

- Gosto.

- Você está segura de que ele gosta de você também?

- Tá perguntando demais não? – o olhar assassino a fez engolir em seco – Ele disse que sim. Duas vezes e já me ligou outras tantas.

- Então para de frescura, volta pra casa, conversa com Aline e ouve o que ela tem a dizer direito. Ela não o quer e ele não a quer. Foi uma noite... – parou e pensou que na verdade foram duas – E que não vai mais se repetir.

- Mas ela gosta dele. – Leticia afirmou e sentou novamente – Eu vi nos olhos dela.

- E vai deixar de gostar depois. Para com essa palhaçada de adolescente, se ela realmente o quisesse não acha que ela iria fazer de tudo pra ficar com ele?

- Não sei, Aline é muito indecisa, insegura...

- Exato. Ele não deu certeza nenhuma pra ela de nada, e por mais que ela seja insegura e indecisa, se viu que ela não ia ter nada com ele, não iria pra frente, que não iria insistir.

- Ela não me disse nada disso.

- E tem como? Ela contou o que aconteceu, não o que ela sentia.

- Mas ela me assegurou que não sentia nada por ele, viu? – Leticia se irritou – Ela mentiu.

- Eu não contaria pra você que gosto de alguém se esse mesmo alguém está parado ao meu lado e não quer nada comigo.

Letícia parou pra pensar no assunto e entendeu o que ela queria dizer. Algo lhe dizia que tinha alguma coisa errada no meio disso tudo, mas Aline tinha uma chance mesmo de falar alguma coisa. Mesmo assim ela ainda não se sentia preparada para enfrentar aquela situação toda.

- Eu ainda não estou me sentindo bem com isso tudo. Eu entendi tudo o que você disse, mas eu prefiro ficar por aqui essa noite e pensar. Posso? – ela pediu com jeitinho e Dominique apenas revirou os olhos.

- Poder pode, mas fazer o que...

- Fala com meu irmão Nique. – ela mudou de assunto drasticamente – Vocês dois precisam se acertar.

- Eu gosto do Danilo, Leticia. E pretendo contar a ele o que aconteceu. Não quero mais seu irmão e o mesmo se dá com ele.

- Tem certeza disso? – ela arqueou as sobrancelhas – Sua mania de achar as coisas pelo meu irmão.

- Eu não...

- Nique... Só vou te dar um conselho... O fato da oportunidade do meu irmão ter sido muito boa, não quer dizer que ele a tenha aceito apenas por isso... – Leticia se levantou e foi indo embora – Não se esquece disso não.

Depois de alguns minutos pensando no que ela disse, Dominique foi pra sala. Bruno estava sentado lendo um livro e esperando pelo próximo ataque quando a olhou. Ao invés disso, ela estacou parada a alguns metros dele apenas observando. Massageou as têmporas, e foi chegando perto dele. Bruno largou o livro e tentou se levantar, mas ela o parou com a mão.

- Pode ficar sentado, não vou tomar seu tempo e eu sei por onde eu saio depois. – ela foi meio grossa, e ele não entendeu porque – Acho melhor esquecermos o que aconteceu no Pampa. Eu estou namorando e gosto muito do meu namorado. Não quero que ele sofra por conta de uma burrice de adolescente.

- Então o que aconteceu foi burrice de adolescente? - ele se fez de confuso, o que a irritou ainda mais – Não acredito que esteja dizendo isso.

- Mas não foi? O que te leva a crer que foi algo diferente? Só por que ainda sentimos alguma atração física um pelo outro? Isso pra mim é irrelevante.

- Pois bem, se considera todo nosso passado irrelevante... – ele parecia magoado com o que ela disse – Pode ir, fica tranquila que seu namoradinho não vai saber nada por mim.

- Mas eu vou contar a ele. – ela já se sentia arrependida de ter falado daquele jeito – Desculpa Bruno, eu não queria falar desse jeito, eu...

- Você nunca quer não é Dominique? – ele estava irritado, já estava chamado-a pelo nome todo – Toda vez que solta algo que está preso e entalado em você, manda essa de que não foi sua intenção.

- É a verdade, Bruno.  – ela jogou a bolsa no sofá – Quer que eu fale que sinto falta do nosso relacionamento, de nossos momentos, que fiz aquilo pra reavivar todo o nosso passado? Acha mesmo que quero me martirizar?

- Nosso passado não foi ruim, para de agir como se tivesse sido. Eu sim deveria estar triste e magoado por tudo o que aconteceu.

- Você? – ela se indignou – Não mediu esforços em ir para fora quando teve a chance, e isso porque tinha me dito que tinha me perdoado.

- Mas eu perdoei!  – ele se alterou e ela recuou um passo – Sabe o esforço descomunal que eu tive que fazer pra conseguir deixar aquela história toda no passado?

- Eu sei. – ela baixou os ombros em sinal de rendição – Desculpa.

- Aham, é muito fácil agora pedir desculpas. Depois de tudo que aconteceu.

- Você nunca esqueceu. Sempre teve isso remoendo sua cabeça e quando pode, fugiu para não ficar mais comigo. – a voz já saía meio embargada e Bruno se segurou para  não sair em socorro e abraça-la.

- Não podia mais ficar aqui. – sentou e quase arrancou os cabelos da cabeça – Era muita pressão para suportar. Muita cobrança e muita falta de tempo pra tudo.

- E por que voltou? – ela tentou perguntar calmamente, mas se arrependeu assim que ele a fitou bem nos olhos e prendeu a atenção ali. Seu coração falhou uma batida, quando o olhar intensificou e toda uma corrente quente passou pelo seu corpo. Bruno levantou, foi chegando perto dela, ao mesmo tempo em que ela andava pra trás até chegar à parede e não ter mais por onde ir. Ele colocou um braço na parede e outro em sua cintura. Ela engoliu em seco e mesmo que sua mente lhe enviasse chamados de perigo, seu corpo não queria se mover um passo. E só a respiração quente dele perto de seu pescoço, fazia com que seus pés fincassem no chão ainda mais.

- Ainda pergunta? – sorriu satisfeito ao ver que ela reagia a todo e qualquer movimento dele.

- Você precisa parar com essa mania de prensar os outros na parede. – eles se encararam por um momento e ela finalmente conseguiu raciocinar – O fato de ainda termos atração um pelo outro... – afastou-o e pegou a bolsa no sofá – Não quer dizer que eu queira algo com você.

- E quem disse que eu quero alguma coisa? – ele sorriu sacana e ela praticamente varou a bolsa nele.

- Para de me agarrar então, imbecil! – rosnou, e Bruno, que não tinha medo do perigo, chegou mais perto dela e antes que conseguisse puxá-la pela cintura, ela deu um salto e praticamente correu pra porta.

- Não tenho medo do perigo, Nique. – o jeito carinhoso e safado voltou a voz dele – Já disse, existem coisas no nosso passado que não podemos esquecer. – e o tom quase que pornográfico que saiu da voz dele fez com que ela enrubescesse ainda mais.

- Cretino! – jogou a bolsa e quase partiu pra cima dele, quando o mesmo a pegou no ar e apenas riu – Respeita-me. Eu tenho namorado agora e ele é muito legal pra eu sacaneá-lo.

- Já o fez me beijando ontem. – ela tentou lhe dar um tapa e ele a segurou – Além do mais, namorado não é casado. E segundo, só terminar que tudo se resolve.

- Acha que vou terminar por sua pessoa? – ela riu em deboche – Poupe-me.

- Pode não ser por mim, mas que esse namoro não vai durar muito tempo eu vejo em seus olhos que não vai. – ele afirmou sério e ignorando a atitude dela.

- Como ousa?

- Se gostasse dele de verdade, não teria acontecido nada no Pampa com a gente e você não estaria aqui também. Já teria ido embora assim que terminou de conversar com minha irmã.

- Não admito que ache as coisas por mim! – ela se alterou e ele riu em deboche.

- É bom quando as pessoas fazem isso com a gente não é? – ela entendeu o recado. Pegou sua bolsa novamente e saiu andando a passos largos, colocando fogo pelas ventas. Bateu a porta com tanta força que ele quase considerou a possibilidade de ter que trocar tudo.

Letícia saiu do quarto estupefata. Tinha coisa no relacionamento dos dois que ela nunca soube. Que diabo que ela fez que ele teve que perdoar e nunca esqueceu? Ela nunca soube muito bem o que tinha acontecido, e mesmo quando tentou descobrir, eles dois a cortaram. Será que Aline sabia de alguma coisa?

- Como você consegue desestabilizá-la desse jeito? – ela sentou ao lado do irmão que já bufava irritado.

- Anos de prática.

- E acha que assim vai tê-la de volta? – ele arqueou as sobrancelhas – Você já tinha me dito que a queria de volta.

- Já é? – bufou e sentou direito – Não sei se é o caminho certo, mas é o único que conheço. Se souber outro, me fala.

- O que ela fez que você teve que perdoá-la? – ele a olhou de rabo de olho e ela fingiu que não viu – Eu ouço atrás das portas mesmo porque sou curiosa, da pra dizer?

- Se um dia tivermos de acordo, vamos contar tudo a vocês... – ele levantou – Até lá vai ficar na curiosidade.

Bruno saiu de perto dele e foi para o quarto dormir. Andou naquela postura militar rígida que Leticia detestava e se trancou no quarto. Ela também não teve muita alternativa já que teria que trabalhar no dia seguinte. Levantou e foi para o quarto. Checou novamente o celular e tinha mais umas cinco ligações perdidas de Tiago. Resolveu que deixaria aquilo pra amanhã. Não tinha cabeça pra isso agora.

CONDOMINIO MARTIN

Dennis estava terminando seu trabalho quando ouviu passos dentro do escritório. Respirou fundo para não olhar pra trás e constatar que era seu irmão burro chegando. Assim que ele sentou ao seu lado e o encarou, ele se dignou de olhar para o lado.

- Liguei umas vinte vezes e ela não me responde. – ele parecia frustrado.

- E com razão. – Dennis voltou seu olhar para o notebook. Tiago o olhava quase pedindo misericórdia. Ele suspirou e se virou para o irmão novamente – O que é?

- Preciso de ajuda.

- Também acho, quiser eu falo com a nossa secretária e arrumo o telefone de um psiquiatra.

- Haha, engraçado. – ele levantou e Dennis apenas girou a cadeira – Eu preciso muito conversar com a Leticia.

- Pra que esse esforço todo se nem gosta dela? – ele estava recostado à mesa, largado e olhando para o irmão.

- Quem disse? – ele firmou o olhar a Dennis e por um milésimo de segundo ele acreditou. Se fosse alguém de fora com certeza acharia que ele estava falando a verdade.

- Ok, digamos que por um momento isso seja verdade. Você esteja realmente interessado nela. Se estiver querendo mesmo ficar com ela, vai ter que cortar um dobrado. Vai ter que mudar muita coisa em você. Mesmo achando que ela não seja em nada parecida com a Aline, no mínimo ela quer um cara responsável. Então aprenda a ser um.

- E eu vou provar isso do dia pra noite? – ele se irritou – É claro que quero mostrar que sou responsável...

- Que vai se tornar, porque responsável, você não é... – Dennis o cortou e ele não gostou.

- Você também não é.

- Sou mais do que você. Pelo menos não teria arrumado esse circo todo como você fez. – ele se irritou também e Tiago engoliu em seco – Aprenda que você não precisa fazer as coisas pra mostrar para os outros. Tem que ser pra você. Quer a Leticia? Então aprenda a correr atrás. Não acredito que vá precisar de muito esforço com ela...

- Hei... Não fala mal dela.

- Eu não estou falando, só estou afirmando algo que é fato. – Dennis se ajeitou mais na cadeira e continuou – Ela e Aline são bem diferentes. E Leticia ainda se deslumbra muito com popularidade. Não estou dizendo que não seja uma boa pessoa, mas santa ela também não é.

- Aline também não. – ele cortou o irmão que sorriu – Sei muito bem que está querendo defendê-la.

- Não estou defendendo ninguém e quem meteu a Aline no meio foi você. – suspiraram e Dennis continuou – Escuta uma coisa: Somos bem diferentes nesse ponto meu irmão. O fato de termos tido muitas mulheres na nossa vida, não implica que somos iguais. Ou seja, cada um age de uma maneira diferente para ter quem quer.

- Isso quer dizer que...

- Seja você mesmo. No final das contas, você é um cara legal.

Tiago pensou um pouco no que o irmão havia dito, pegou o celular novamente e assim que ia ligar de novo para Leticia, Ariana entrou no escritório.

- Desculpa interromper, Leticia Costa na linha. – os irmãos se entreolharam e Tiago se segurou para não soltar seu sorriso de vitória.

- Parabéns, conseguiu o que queria. – apontou para o telefone e Tiago o pegou – Ariana, pode passar.

- Por acaso não é mais uma não NE? Já não basta ter trazido aquela loirinha e já está com outra. Isso é um absurdo. – eles riram da indignação dela e Tiago negou com a cabeça.

- Não, Ariana. A loirinha é a mesma que está ligando.

- Hum... – ela o olhou desconfiada – Acho bom mesmo.

Ela saiu do escritório e eles soltaram gargalhadas.

- Sinceramente, não sei o que deu na mamãe pra deixar a Ariana tomando conta da gente.

- O pior é nosso pai ter concordado com isso. – o telefone tocou – Alô. – Tiago atendeu.

- Sou eu. – a voz era ainda um pouco indiferente – Vi suas ligações. – ele vibrou do outro lado sem que ela percebesse – Precisamos conversar.

- Eu sei. – ele levantou e foi chegando perto da janela – Não queria que tudo tivesse saído dessa maneira, desculpa.

- Pra isso acontecer, você ainda vai ter que me explicar muita coisa. Mas primeiro eu vou me acertar com Aline. – ele estacou – Ela é minha amiga e não custa nada ouvir o que ela também tem a me dizer. Sozinha. – ele engoliu em seco.

- Claro. – pigarreou para disfarçar o desconforto da voz.

- Amanha vocês vão à empresa?

- Bem provável que sim.

- Então, podemos almoçar juntos. Pode ser?

- Com certeza e mesmo que eu não vá, eu passo pra te buscar. Só me avisar.

- Ok então. Ate amanha. – ela desligou e Dennis tentou entender o irmão que ficou ainda um tempo olhando para o celular.

O que ele queria afinal de contas? Tentou de todas as formas tirar da cabeça o que imaginava, e quase pedia a Deus para que fosse o que estava aparentando, que o irmão estava gostando mesmo dessa garota e que estava mudando. Mesmo achando que ela não era a garota certa pra ele e sim Aline.

- Tiago... – ele tirou o irmão de seus pensamentos – Sabe o que tudo isso implica não é?

- O que? – ele perguntou sem entender.

- Aline está livre. – ele arqueou as sobrancelhas – E se não tem nada que a prenda...

- Está me pedindo para tentar algo com ela? – ele riu.

- Não. – Dennis respondeu sério – Estou comunicando que eu vou ficar com ela.

- Não está muito convencido não irmão? – ele sentou e se sentiu desconfortável com o que ele dizia, e não sabia por que – Ela já ficou comigo, acha mesmo que ela vai querer algo com você?

- Espera e verá.

- Pensei que estava brincando quando tinha dito isso antes. – ele o olhou raivoso.

- Nunca disse que estava brincando. – Dennis se levantou – E não estou querendo criar atrito com você, mas a considero uma mulher muito especial.

- Garanto que não vai conseguir nada. – ele levantou também e se encostou à mesa.

- Não entro em nada pra perder. 


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