Laura dormia tranquila, seu corpo estendido por todo o colchão, e os lençóis jogados no canto da cama. Ela teria dormido o resto do dia se seu alarme maluco não tivesse começado a tocar e ela fosse forçada a acordar. Teve uma grande dificuldade em abrir os olhos e outra maior ainda para sair da cama. Seu corpo queria descanso mas ela uniu suas forças e ficou em pé. Um novo dia havia começado e ela precisava ir atrás de seus sonhos.   

        Mas naquele momento só queria ir atrás de uma coisa: comida. Estava faminta.   

        Andou lentamente até a cozinha e ficou supresa em ver que nenhuma das suas colegas estavam por ali, deviam estar dormindo ainda.

        - Ai... cadê a comida? – Choramingou ela, unindo os lábios em um biquinho. Laura resolveu fazer tudo por si mesma. Olhou para a cozinha arrumada, os alimentos todos seguros na geladeira e sua fome diminuiu. Resolveu acordar Catherine.    

        Espreguiçou-se durante o caminho até o quarto da loira e chegando lá, abriu a porta lentamente. Como ninguém disse nada, resolveu abrir de uma vez.     Arrependeu-se no segundo em que fez isso. Ficou chocada com a cena que acabara de ver e não moveu-se nem um pouco, nem mesmo quando a porta bateu contra a parede, fazendo as duas investigadoras acordarem subitamente. Sara e Catherine estavam nuas na cama, com a coberta cobrindo-lhe até o peito.

        - O que... – tentou dizer, mas sua voz não saiu mais alto do que um sussurro.    

        - Ah... – disse Sara, engolindo em seco. Puxou o cobertor um pouco para cima e coçou o braço, distraidamente. – A Catherine... ela... teve pesadelos ontem, então...   

        Laura apenas concordou levemente com a cabeça, tentando parecer que não havia se importado mas por dentro sentindo uma cascata de ciúmes queimar seu coração. Então Sara e Catherine estavam juntas mesmo. Aquilo serviu apenas para comprovar o que inconscientemente já sabia.

        - Me desculpem por entrar de repente, eu... Vou ao banheiro... Me desculpem.

        Sara esperou até que Laura tivesse ido para sussurrar:

        - Acho que ela não acreditou muito nessa história...   

        - Você acha? – Ironizou Catherine. – Mas ela agiu normal... Não pareceu se importar muito.

        - É... Fiquei surpresa.

        Catherine pensou um pouco depois olhou para Sara.

        - Pesadelos?

        Sara nem respondeu, apenas encostou-se ao lado de Catherine e riu, não acreditando que conseguira dar uma desculpa tão esfarrapada.

        No banheiro, Laura estava jogando água no rosto, tentando acalmar a confusão que estava em sua cabeça. Não tinha o direito de ficar daquele jeito... Não tinha que se meter na vida, nem na relação delas. Sabia que o clima ficaria um pouco estranho depois daquela descoberta, ou melhor, do flagra, mas tinha certeza de que iriam continuar sendo amigas.

        Laura abriu os olhos e olhou-se no espelho. Hora de segurar vela um pouco.

        - Então, Laura, vamos sair para uma caminhada? – Perguntou Sara, tentando puxar assunto.   

        - Nós... caminhada?    

        - É. Eu, você e a Cath – disse ela.

        Claro que seriam as três. Laura engoliu em seco e deu de ombros.

        - Tudo bem – murmurou.

        O dia estava lindo e as três mulheres corriam pelas ruas de Las Vegas, usando roupas leves, tomando cuidado para não serem atropeladas por nenhum carro e nem perdendo o passo enquanto corriam. Sara estava na frente, com os pensamentos em algum lugar. Catherine, por sua vez, estava ao lado de Laura um pouco mais atrás, que estava tendo sérios problemas em coordenar a atividade com sua respiração.

        Sara olhou para trás e sorriu.   

        - Será que temos que facilitar para a Laura Guerreira hoje?   

        - Correr é a melhor forma de conhecer Vegas – disse Catherine. – Você vai amar essa cidade. Você está bem? Às vezes a Sara acha que vai correr nas Olimpíadas.   

        - Eu vou – retrucou ela, modesta. – Sem dor não há ganho, Laura!

        - Até que ela está indo bem para uma primeira vez – comentou a loira. Laura permaneceu em silêncio.   

        - Aham.

        - Acho que já fizemos uns sete quilômetros.

        - Claro que não, Cat. Já fizemos nove, ou mais... – ela deu um tapinha discreto na bunda. – Pelo menos vamos ficar com as bundas durinhas.

        Catherine observou o gesto de Sara e sorriu maliciosamente. Sara piscou para ela.

        Elas pararam para descansar um pouco. Laura estava quase morrendo, e mesmo assim tentava parecer que estava bem. Cansada demais, nem percebeu quando suas pernas vacilaram e ela caiu sentada no chão.

        - Você está bem? – Perguntou Sara e logo estendeu uma mão para a mulher.

        - Sim, eu só... – ela segurou a mão da morena e começou a se levantar.

        - Ei, ei, olha aquilo – disse Sara animada apontando para a frente. Ela se esqueceu completamente de Laura e foi em direção a uma ave.

        - Ai! – Reclamou Laura caindo novamente no chão. Ela olhou para Catherine. – Ela é sempre tão malvada?

        - Depende da hora – respondeu Catherine sem pensar e olhando com malícia para a morena. Ela ajudou Laura a ficar em pé. – Vem, vamos ver o que Sara encontrou.

        Elas se aproximaram e pararam repentinamente quando viram um falcão negro no chão. Ele parecia estar ferido.

        - Por Deus, ele é lindo... – falou Catherine, querendo se aproximar. Sara a impediu na mesma hora com um braço.

        - Não toque nele, a não ser que queira ser bicada.

        - Eu não ia fazer isso...

        - Certo. Vai na frente, eu cuido dele... – disse Sara, ainda olhando para o falcão. As duas mulheres ficaram paradas no lugar. – Eu disse para irem na frente! Depois eu alcanço vocês. Podem ir.

        - Vamos... quando ela coloca uma coisa na cabeça... – Cath balançou a cabeça e seguiu seu caminho, com Laura ao seu lado.

        Sara abaixou-se, tentando acariciar a ave. O falcão parecia estar assustado e tentou recuar, mas a morena não ia desistir tão rápido. Havia algo diferente no olhar dos dois, como se eles tivessem uma ligação. Sara sentiu que ali começaria uma amizade duradoura. Ela esticou o braço lentamente e acariciou a cabeça do falcão, sem tirar os olhos da ave nem por um minuto. 

        Catherine e Laura estavam correndo de volta para casa quando foram interrompidas por Vartann, Hodges e Warrick. Laura se lembrava de Hogdes e de Warrick, que estava usando uma camisa preta, que valorizava seu porte atlético.

        - Oi! – Disse Vartann.

        - Oi – Catherine cumprimentou.

        - Será que as melhores investigadoras do LVPD não querem tomar um café com a gente?

        - Não, obrigada... Estamos correndo.

        - Catherine Willows... – disse Vartann e não soube mais o que dizer.

        - Essa sou eu. E essa aqui é a Laura Grey.

        Laura deu um sorriso tímido quando Vartann apertou sua mão.

        - Prazer. Eu sou Vartann. Esse é Warrick e o idiota aqui é o Hogdes.

        - Olá, já nos conhecemos – disse Hogdes, ignorando o outro.

        - Bom, nós temos que ir agora... – começou Catherine, mas Vartann a interrompeu novamente.

        - Ei, Cath, o aniversário do Warrick está chegando. Ele vai dar uma festa em um cassino. Já soube?

        - Já, sim...

        - Parece que vai ser divertido. Você vai?

        - Talvez... – ponderou. Ela olhou para Laura, que sorriu alegremente. – Temos que ir, de qualquer forma...

        - Espero te ver lá, Cath – disse Vartann rapidamente antes que elas fossem embora.

        Alguns metros depois, Hogdes mudou sua voz e brincou com Vartann:

        - "Espero te ver lá, Tori..." – fazendo os três rirem. Vartann empurrou Hogdes de brincadeira.

        Enquanto isso, Catherine e Laura apressavam o passo para chegar em casa.

        - Acho que ele gosta de você... – murmurou Laura, sorrindo. Seu sorriso tinha mais que apenas alegria por uma amiga...

        - Quem?

        - Ora, você sabe.

        - Aff, ele gostou dos meus peitos – disse Catherine. – Todos gostam.

        - E você vai?

        - Aonde?

        - Na festa do Warrick.

        - Com aqueles investigadores cheios de hormônios se jogando em cima de mim? Prefiro um cadáver enterrado em metros de lixo orgânico. Queria saber onde Sara se enfiou com aquele pássaro...