Premonição 5: Água Negra escrita por Lerd


Capítulo 3
Dominó


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 3 postado! Ele soluciona algumas dúvidas e cria outras. E ah, "Kitty" é apelido carinhoso pelo qual Emily chama a Krista, não foi erro de escrita não HASUSAHSAUA Enjoy!



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Tudo ao seu redor era azul, e girava.

No sonho Emily estava sempre se afogando. A água que a cercava era densa e escura, e não permitia escapatórias. A garota se debatia debilmente, e de nada adiantava. Sentia o líquido escuro entrando por seu nariz, e sentia-se literalmente sem ar. Morria.

Então ela puxou o ar com tanta força que acordou.

Olhou ao seu redor e sentiu-se melhor por pouco tempo: estava em sua casa, em sua cama. O quarto estava um pouco escuro, mas Emily conseguia distinguir as coisas ao seu redor. Olhou para o relógio. Era 1h08 da madrugada. Murmurou:

— Jo? Johnny?

— Aqui, princesa. — Ele respondeu, mas não era seu irmão.

Mikey estava deitado num colchão no chão ao lado da cama da namorada. Estava de olhos abertos e estoico, fitando a escuridão.

— Você está aqui. E bem. Eu tive um pesadelo, eu...

— Não foi um pesadelo. — Mikey concluiu. O rapaz levantou-se e pediu licença para se deitar ao lado de Emily na cama. A garota afastou-se para lhe dar espaço, e quando ele estava confortavelmente instalado, agarrou-se a ele como um bebê agarra-se à sua mãe.

— Não foi? Então, o Ajay, ele...

— Eles ainda não têm certeza. — Mikey voltou a interrompê-la. — Ainda estão fazendo buscas, pode haver sobreviventes. As chances são pequenas, mas elas existem. — Mesmo no escuro a garota teve a certeza de que o namorado estava segurando o choro.

Emily teve vontade de chorar também. Mas não podia. Ela precisava ser forte, e apoiá-lo. Agarrou-se à Mikey ainda mais forte, esperando que seu toque pudesse reconfortá-lo.

— Eu quase perdi você também. — O rapaz falou.

— Como?! — E então subitamente o afogamento voltou à mente de Emily. Ela lembrou-se do seu mundo azul e rodopiante, e percebeu que não sabia como havia saído do pesadelo.

Mikey começou a fazer carinho no cabelo da namorada. Disse:

— Você não lembra?

— Bem pouco. Lembro-me de você sentado no cais, e depois de estar dentro da água com o... Leon? — Emily arriscou.

— Bingo. — Mikey pareceu sorrir de leve na escuridão. — Ele salvou a sua vida.

— Me conta como foi.

— Eu mesmo não vi. Estava de costas. Mas a Krista me contou que você estava lá parada, e de repente do nada um fogo de artifício veio na sua direção. O Leon te puxou no último segundo. Se ele não tivesse percebido, você teria sido atingida em cheio e...

— Eu teria morrido. — Emily falou em voz alta, e então sentiu o peso das palavras. Eu podia ter morrido se não fosse o Leon. Ele salvou a minha vida.

Mikey parecia tristemente ressentido:

— Eu não fiz nada. Você poderia estar morta, e eu teria que carregar duas mortes na minha consciência. Eu me esqueci do Jay, eu... — E então Mikey não conseguiu mais segurar as lágrimas. — Eu cuidei dele por tanto tempo, por tantos anos... — A essa altura o rapaz já falava com a voz embargada. — E quando ele mais precisou de mim, eu não estava lá... — Emily abraçou-o com mais força e pôs-se a beijar sua bochecha. — Eu não estava lá para ele...

A garota sentiu as lágrimas quentes de Mikey contra suas bochechas. Nunca desejou nada com mais ferocidade quanto desejou poder ter tido a oportunidade de lembrar-se de Ajay no momento em que saiu do Rainha Fohtaed. Era tanta gente, e eu estava tão confusa e assustada.

Sem que percebesse, dormiu. Sonhou com coisas melhores do que da última vez. Dessa vez não se afogava. Sonhou que estava num oásis no meio do deserto egípcio. Em seu sonho vestia-se como uma princesa africana, com seda e joias, e estava deitada numa rede multicolorida comendo uvas. Serpentes venenosas dançavam ao seu redor, roxas e verdes, mas ela não tinha medo.

E então ele apareceu.

Leon vestia nada além de uma calça de cetim branca, e sua pele pálida parecia emitir luz própria. O rapaz abriu a boca e sussurrou para ela:

— Seja minha.

E Emily cedeu à tentação.


x-x-x-x-x

Quando Emily acordou, Mikey já tinha ido embora.

A garota desceu lentamente os degraus, e deparou-se com Johnny, Jade, Francis e Krista tomando café da manhã.

— Ems, que bom que você acordou. — Johnny disse. Krista levantou-se e a abraçou. Emily retribuiu de modo acanhado e confuso, e sentou-se na cadeira indicada pela amiga. Jade estava com os olhos baixos, e Francis parecia uma estátua de sal, somente remexendo seu cereal com uma colher. Nenhum deles conseguia olhar diretamente para ela.

Eles têm medo de mim.

— Você quer suco? — Krista perguntou.

— Quero sim, obrigada. — Emily forçou um sorriso. — Mas o que você tá fazendo aqui, Kitty?

Krista colocou o suco no copo para a amiga e deu com os ombros.

— Eu não consegui dormir ontem, depois de tudo o que aconteceu. O Ajay... — E engoliu em seco. — Achei que era melhor ficar entre amigos.

Emily tocou a mão da amiga, como a lhe passar conforto. Jade continuava comendo sem olhar para Emily.

— Onde está o Mikey?

— Ele saiu faz algumas horas. — Johnny respondeu. — Parece que eles encontraram alguns... Corpos.

Jade largou a torrada que estava comendo, e Francis abaixou a cabeça. Emily já estava farta daquela situação. Farta da desconfiança, do medo, da maneira como todos a tratavam como se ela estivesse doente ou louca. Chega.

— Eu sei o que todos vocês estão pensando. — Ela disse, num rompante. Subitamente oito olhos se viraram para ela. Dez, se contar a Senhora Bigodes que havia acabado de chegar. — E eu não tenho a menor ideia do que aconteceu comigo. Eu juro. Eu... — E sentiu o nó na garganta, e a vontade de chorar se formando em seu âmago. — Eu não sei. Eu só... Vi. Foi como num sonho, sabe? Eu vi vocês morrendo, todos vocês. — Jade abafou um gritinho, e Johnny abraçou-a. — E daí eu acordei. E tudo começou a acontecer como no meu sonho. Eu não pude deixar de pensar que... Que o acidente ia realmente acontecer.

A garota então se pôs a avaliar o impacto de suas palavras nos quatro ali presentes. Francis pigarreou, e então Krista falou:

— Vocês vão me chamar de louca.

A louca sou eu, Emily teve vontade de gritar.

— Fala. — Johnny pediu. Ele estava abraçado com Jade e olhava de modo consternado para a irmã. Ele me olha com pena.

— É besteira, eu sei, mas...

— Fala logo, Kitty! — Emily pediu.

— Ok. Eu falo. — E a garota suspirou. Continuou: — Eu li sobre algo exatamente igual ao que aconteceu contigo, há alguns meses atrás. Era um livro, mas também existem blogs na internet e coisas do tipo. É meio que uma lenda urbana, mas nunca se sabe, né? — Ninguém mexeu um talher. — É sobre esse cara, um tal de Bobby ou Bimbo, depende da versão da história que você lê. Bom, esse cara estava indo viajar com os amigos de trem. Tudo normal até aí. Mas então ele teve uma visão de que a coisa ia descarrilar, e impediu que os amigos tomassem o trem. E, claro, o negócio aconteceu do jeito que ele previu.

Emily tremeu. Krista não ousaria inventar isso. Eu poderia procurar na internet e desmascará-la facilmente. Além disso, ela não é cruel assim.

— E...? — Jade perguntou. — É só isso? Um cara tem uma visão, salva os amigos e fim?

— Bom se fosse. — Krista riu morbidamente. — Os garotos fizeram a viagem mesmo assim, mesmo sem o trem. E então dois dos “sortudos” morreram de maneira brutal e bizarra, no exato mesmo dia. — Krista deu uma pausa. — Algumas semanas se passaram, tudo parecia perfeitamente normal. E então outro dos sobreviventes morreu, uma garota chamada Naomi. E então outro. E por fim todos os sobreviventes do Trem 081 estavam mortos.

Krista deixou suas palavras pairarem no ar, esperando pela reação dos outros. Jamais imaginou que fosse ser Francis a respondê-la:

— Nem todos. No livro de Heather Diamond duas garotas e um rapaz sobrevivem. E uma recém-nascida também.

— Não importa, a história fica melhor se todos morrerem.

Emily teve um estalo.

— Espera, livro? Tem um livro sobre isso?

— Tem sim. — Francis respondeu. — “Destino Final: Milagre” é o nome dele. Alguns dizem que o livro é baseado em fatos reais, outros dizem que é fictício. O primeiro grupo se apoia em teorias de que a escritora, a Heather Diamond, se encontrou com alguns sobreviventes do Trem 081. Já os apoiadores da segunda teoria dizem que ela só foi oportunista e escreveu um livro sobre uma lenda urbana. De qualquer forma...

... se for verdade nós estamos condenados.

— Quanta bobagem! — Johnny repeliu. Jade havia voltado a comer sua torrada de modo tímido. — Visões de acidentes, ok. Sou cético, mas eu acredito na Emily. Mas todo o resto? Qual objetivo? Por que essas pessoas morrem afinal?

Francis tomou coragem e falou:

— Você não entendeu a beleza da coisa.

— E qual é ela? — Johnny indagou.

— Quando esse Bimbo retirou os amigos do trem, ele salvou-os da morte. Salvou-os da lista da morte.

— A morte tem uma lista?

— Tem sim. E todos nós estamos nela. — O rapaz disse, em seu tom sempre calmo e sussurrante. — Quando é a nossa hora, é a nossa hora. Mas quando esse cara teve a visão e salvou os amigos, ele tirou-os da lista da morte. Ele ferrou com os planos dela.

Johnny não conseguiu segurar uma risada.

— Ah, qualé? Em seguida você vai me dizer que as mortes dessas pessoas são causadas pela própria morte querendo tomar as vidas de volta.

— Eu não poderia ter dito melhor. — Francis falou, relutante. — É o que a Heather Diamond diz em seu livro.

O irmão de Emily parecia estranhamente irritado. Estava vermelho como um pimentão. Ele amassou o guardanapo que estava na sua mão e jogou-o na mesa com força. Levantou-se da cadeira e, sem olhar para trás, disse:

— Podem deixar que eu lavo a louça quando acabarem. — E saiu para o quintal dos fundos. A Senhora Bigodes o seguiu. Jade olhou para os outros, desculpou-se, e saiu atrás do namorado.

Francis então subitamente voltou a ser o doce e gentil rapaz que Emily conhecera.

— Eu não queria irritá-lo, eu...

— Deixe quieto, Fran. O Johnny só precisa de tempo. Todos nós precisamos. — Emily falou, e subitamente sentiu que aquilo era certo.

Agora eu preciso encontrar o Leon. Agradecê-lo por ter salvado a minha vida. E então irei me dedicar em tempo integral à Mikey. Ele precisa de mim mais do que nunca. Eu sou tudo que ele tem nesse momento.


x-x-x-x-x

Um mês depois.

Emily tirou mais uma nota irregular do saxofone e então se frustrou.

— Não dá, eu jamais conseguirei tocar esse negócio. — Reclamou.

Leon riu.

— Claro que conseguirá, mon cher. O saxofone foi feito pra você. É jazz e é o nosso tipo de música. Você só precisa treinar, e não ficar frustrada por não ser uma saxofonista profissional com apenas quatro aulas. — E abriu o sorriso mais perfeito do mundo.

Eu devia ter pedido para que ele fosse embora, Emily pensou. Mas que direito eu tenho sobre ele? Leon irá embora quando bem entender.

Já fazia um mês desde o incidente do Rainha Fohtaed, e as coisas estavam bem estranhas, para dizer o mínimo. A começar por ela mesma, Emily, e a sua relação com seu namorado Mikey e seu amigo Leon.

O primeiro estava bastante ausente. As buscas por sobreviventes do desastre marítimo cessarem-se com rapidez, e, embora o corpo de Ajay não tivesse sido encontrado, ele fora declarado morto. Emily achara que quando isso acontecesse Mikey iria desmoronar, mas não foi isso o que aconteceu. Se ele sofria, escondia bem. E Emily não queria que isso acontecesse. Queria que ele pudesse falar com ela sobre seus problemas, e queria ajudá-lo. Mas Mikey parecia não querer a ajuda dela. Trabalhava mais do que o normal: de segunda a sábado, em horário integral. Nos primeiros dias do isolamento ela tentara vê-lo diariamente, visitando-o na clínica no horário de almoço, mas após algum “gelo” da parte dele, desistiu. Passou a se contentar com uma pizza no domingo, e telefonemas todos os dias, mas nada mais. Se era assim que ele queria que o namoro deles prosseguisse, era assim que prosseguiria. Emily preferia uma relação assim à perdê-lo de sua vida.

Já Leon... Bom, este era um presente inesperado. Ele estava morando em uma pensão junto de Abi, e havia decidido ficar mais três meses nos Estados Unidos. A garota egípcia estava trabalhando como modelo na cidade, e ele fazia freela tirando fotos de casamentos. O pai insistira inúmeras vezes para que voltasse para casa, mas Leon sempre negava: estava gostando dos Estados Unidos, mais do que esperara gostar. Se o motivo sou eu, estou ferrada.

Johnny bateu na porta.

— Pode entrar. — Emily disse.

O rapaz então apareceu. Estava vestido formalmente, com uma camisa branca, colete cinza e gravata azul bebê. O cabelo estava metodicamente arrumado, como sempre.

— Eu estou indo buscar a Jade no trabalho. Depois nós vamos jantar fora. Quer que eu traga algo?

— Não precisa, Jo. Eu acho que vou chamar a Krista e a Abi, e encomendamos umas pizzas. Divirta-se no jantar.

Johnny sorriu e concordou. Despediu-se da irmã e do rapaz e fechou delicadamente a porta.

— Ele ficou encabulado. — Leon disse, com seu sotaque mais latente do que nunca.

Emily deu com os ombros.

— Pois que fique. O jazz não pode parar. Onde estávamos?

Leon sorriu e voltou às instruções.


x-x-x-x-x

Jade fechou o frasco com cuidado, temendo derrubá-lo. Um momento de distração e o trabalho de todo mundo vai pelos ares. Mas ela dificilmente cometia erros, era boa no que fazia. Era daquilo que gostava, era aquilo que sabia como fazer bem.

O Instituto de Pesquisa de Serpentes estava quase vazio naquele dia. Era um domingo, e Jade havia aparecido para mostrar trabalho. Era uma estagiária, ainda cursando a faculdade em meio período, e queria provar que era capaz.

Então o seu celular tocou.

A garota tateou o jaleco branco que vestia e encontrou o aparelho no bolso da esquerda. Viu o número e sorriu. Atendeu:

— Fale, amor.

— Oi querida. Estou indo te buscar pra irmos jantar fora. Eu ia fazer uma surpresa, mas pensei que você podia acabar saindo mais cedo e eu ia ficar chupando o dedo. Me espera, tudo bem?

— Claro. Ainda preciso terminar umas coisas aqui, mas acho que não vai levar muito tempo. Vamos aonde, posso saber?

Do outro lado da linha, Johnny riu.

— Isso eu prefiro manter como uma surpresa.

Jade sorriu, e desejou que Johnny pudesse vê-la. Seu superior entrou na sala no mesmo instante, e ela rapidamente despediu-se do namorado.

— Sim, Doutor Grey?

O homem parecia divertir-se com o nervosismo dela.

— Sem querer ser intrometido, mas, quem era? Seu namorado?

— Sim.

— Bom, bom. — O homem pigarreou e então continuou: — Eu só preciso que você feche a Ala 18 e está dispensada.

Jade assentiu com a cabeça e o Doutor saiu. A garota terminou o trabalho que tinha ali rapidamente, e dirigiu-se até a Ala 18, o salto tocando o chão de madeira com delicadeza. O Instituto ficava dentro da universidade onde Jade estudava, num velho casarão de madeira localizado no meio de um bosque conhecido como “Bosque Negro”, pelos estudantes. Ali morrera uma garota há mais de quinze anos, de maneira misteriosa. Ninguém jamais soubera dizer com certeza a causa. Alguns diziam que ela fora assassinada, outros que fora picada por uma cobra venenosa. Bobagem, pensou Jade. As cobras não picam ninguém sem motivo.

A Ala 18 ficava no térreo, e era separada do restante do Instituto por uma área ao ar livre de vários metros. O casarão abria-se na porta dos fundos, e uma clareira conduzia-a para outra casa de madeira onde ficava essa ala. Era lá que estava guardada a maior parte das serpentes venenosas que eles utilizam em seus estudos.

Jade entrou no lugar e acendeu as luzes. Não havia ninguém ali. Mesmo assim, para garantir, chamou:

— Alguém? Estou trancando.

Com a falta de resposta, Jade pôs-se a sair da sala. Foi quando ouviu um barulho. Primeiro fraco, e então ficou forte. Pow. Algo caiu no chão, e Jade deu um pulinho. O barulho vinha da dispensa. A garota seguiu até lá a tempo de ver um ratinho branco correndo para fora. O animal saiu pela porta que ela entrara, e a visão dele causou certo furor nas serpentes. A maioria dormia, e acordaram com o barulho. Elas mexiam-se dentro dos aquários, e duas delas inclusive chocaram suas cabeças delicadamente contra o vidro.

— Acalmem-se, meninas. Tem muito mais de onde esse veio.

Jade recolheu os objetos que haviam caído e colocou-os de volta na estante. Uma das sobras continuava a bater com a cabeça insistentemente no aquário. A garota conhecia esse comportamento.

— Será que se esqueceram de você? — Ela perguntou à serpente.

Era comum que o outro estagiário se esquecesse de alimentar uma ou outra cobra, sempre. Quando isso acontecia era dever de Jade fazer isso. A garota bufou e pôs-se a vasculhar as estantes, procurando uma luva. Encontrou-a com facilidade, e seguiu dispensa à dentro em busca do aquário dos ratos. Pegou um pelo rabo e saiu.

Não teve tempo de andar muito, e um frasco que ela acabara de colocar no lugar na estante, caiu. Dentro dele havia diversas bolinhas, pílulas, que se espalharam pelo chão. Jade escorreu nelas com seu salto e caiu.

O braço bateu num dos aquários, o menor, e ele também caiu. Crash. O vidro espalhou-se, e a cobra libertou-se. Era pequena, e desapareceu com rapidez. Jade levantou-se, ainda atordoada. Deus, eu estou ferrada. Olhou ao seu redor, procurando a serpente, e não viu nenhum sinal dela. O rato, ela pensou, mas era tarde de mais.

Jade viu a cobra vindo em sua direção no mesmo instante em que sentiu o rato em seu pescoço. O bichinho fez um barulhinho mínimo, e a serpente pulou contra seu rosto para atacá-lo. Errou o roedor, acertou a garota.

Uma mordida na bochecha. Jade gritou, e tentou afastar-se da cobra. O rato caíra no chão, e a serpente fora atrás dele. A garota desequilibrou-se, atordoada pela mordida, e caiu de costas em outro dos aquários. Crash. A serpente dali sentiu o cheiro que o roedor deixara nela, e desferiu duas mordidas em seu pescoço. Jade gritou, e levantou-se. Desequilibrou-se mais uma vez, e o salto de seu sapato quebrou. Ela então caiu em cima de um terceiro aquário, que se espatifou no chão.

A garota estava deitada no piso de madeira, tremendo. As serpentes passaram ao seu redor, e o ratinho subiu em cima dela. Jade queria gritar mais alto, mas a voz não lhe veio. Não. O rato então se escondeu no meio de seus cabelos, e ela soube que era o fim.

As cobras vieram de uma vez. Uma, duas, três mordidas. No pescoço, nas bochechas, no nariz, nos olhos. Elas erravam o rato, camuflado no matagal de cachos louros, mas acertavam o rosto de Jade. A garota gritava, e tentava desferir golpes contra as serpentes, mas era em vão. Sentia-se cada vez mais fraca, e tudo culminou com a mordida certeira em seu olho.

Sentiu um ardor absurdo, e muito sangue jorrando. Gritou uma última vez, mais alto. O roedor saiu de trás de seus cabelos e fugiu. Duas das cobras seguiram-no, mas uma, talvez mais cega, não. Ela farejou o bicho e julgou-o ainda em cima de Jade. E cravou seus dentes no outro olho da loira, calando-a para sempre.

Ao fundo uma gralha grasnou, proclamando o último suspiro da garota de cachos dourados.

E então Johnny entrou no casebre, acompanhado do Doutor Grey, esbaforido. O que viu fez seu coração dilacerar-se.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Capítulo quatro já está 50% escrito, então sai em breve. Pra quem não leu minhas outras fanfics, a conversa no café da manhã envolve a fic 1 e a fic 3. Não se preocupe, nada muito específico será citado, então não tem problema caso não tenham lido-a. Espero que tenham gostado desse! Comentem! :D



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