Premonição 5: Água Negra escrita por Lerd


Capítulo 4
Milagre


Notas iniciais do capítulo

Capítulo postado! Ele é mais calmo, pra colocar as coisas no lugar. Além disso ele difere dos outros ao não focar estritamente em Emily. Na verdade ele é mais focado em Francis e especialmente em Krista. Também resolvi dois cliffhangers do capítulo final da minha terceira fic, envolvendo os destinos de Heather, Somerset, Melissa e Bludworth. Expliquei direitinho o que aconteceu com eles. Espero que gostem! :D
E ah! Fiz uma "wish list", sobre quem eu gostaria que interpretasse cada personagem se a fanfic virasse um filme! Está aqui: http://premonicaofanficsource.blogspot.com.br/2012/10/wish-list-cast-agua-negra.html
Enjoy!



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Francis colocou a taça de sorvete de lado e sorriu encabulado.

— Você é bem mais falante do que eu imaginei. — Krista disse.

O rapaz sentiu-se corar no mesmo instante.

— É a convivência. — Ele disse. — Eu não sou tímido. Não com quem eu conheço. Acho que posso dizer que já te conheço né?

— O suficiente. — Krista garantiu.

Já fazia um mês que os dois eram amigos. Francis tentara voltar para casa no dia seguinte ao acidente com o Rainha, mas não conseguiu. Demorou-se uma semana até que sua mãe e sua avó atendessem suas ligações, e quando isso aconteceu veio outro baque. Um furacão havia passado onde eles moravam. As duas, mãe e avó, estavam bem. A casa deles não fora tremendamente arrasada, mas havia sido danificada. Entre os cômodos destruídos estava o quarto de Francis.

— Eu já falei com a Emily e o Johnny, filho. Você ficará com eles dois meses, até ajeitarmos tudo por aqui. — A mãe dissera.

Francis queria protestar. Podia ter dito que seria útil em casa, ajudando-as a reconstruir tudo. Podia ter dito que tinha um emprego e que não poderia perdê-lo. Podia ter dito tantas coisas... Mas não disse. Sabia que mais atrapalharia do que ajudaria, e que seu emprego não significava nada. Francis era adestrador de cães, mas não era um emprego de verdade. Ele ganhava por aulas dadas, e era seu próprio patrão. Não havia nada que o impedisse de ficar por ali.

Para sentir-se útil, decidiu que cuidaria da casa dos primos. Emily trabalhava numa escolinha de crianças especiais, saía cedo e voltava tarde. Com Johnny acontecia a mesma coisa, ele era estagiário num escritório de advocacia. Francis então tomara para si a tarefa de cuidar de todo o resto, de todas as tarefas domésticas. Lavava, passava, cozinhava. Até mesmo dava banho na Senhora Bigodes, e havia ensinado-a a ser menos agressiva e preguiçosa. Ele sabia como adestrar cães com maestria, e gatos não eram muito diferentes.

— Eu estou com medo. — Krista disse, de repente.

Aquilo pegou Francis de surpresa.

— Medo de quê?

A garota colocou uma mexa de cabelo atrás da orelha e disse:

— De tudo. Da visão de Emily, daquele caso do Trem 081...

— Me espanta que você ainda lembre-se disso. Eu não deveria ter dito aquilo. — Francis confirmou. — Foi um erro, me desculpe.

— E se não foi? E se nós realmente precisássemos saber disso? E se estiver acontecendo conosco?

Se você aceitar, eu vou ser obrigado a aceitar também.

— Não. Aquilo é uma lenda urbana.

— Eu espero mesmo que seja. Porque do contrário todos nós estamos mortos.

Estamos mesmo, ele pensou. Mas o que disse foi:

— Eu li uma vez em algum lugar essa frase, e ela me marcou, porque ela me faz pensar na transitividade das coisas. Sabe? Você tem medo agora, mas logo estará calma. E feliz. Porque nada disso é verdade, você vai ver.

Krista sorriu.

— Qual é a frase?

Francis pigarreou, engrossou a voz e disse:

— “Eu acredito que a cadência e a harmonia certas no momento certo podem despertar qualquer sentimento, inclusive o da felicidade nos momentos mais sombrios.”.

Uma rajada de vento passou por eles no mesmo momento, e derrubou a taça vazia de sorvete, estilhaçando-a no chão. Krista deu um gritinho, e Francis assustou-se. O rapaz rapidamente apoiou-se nas muletas e pôs-se a recolher os cacos.

Droga.

x-x-x-x-x

Leon, Abi e Krista haviam aparecido e ido embora. Francis também saíra. Johnny ainda não havia chego, decerto estava no jantar com Jade. Ele vai pedi-la em noivado essa noite, Emily sabia. Pela hora, já devia ter pedido. A garota não podia estar mais feliz pelos dois. Adorava Jade, e nada a faria mais feliz do que ver o irmão feliz. Tudo estaria perfeito, se não fosse o incidente.

Um mês, e as coisas continuavam martelando em sua cabeça. O que Francis falara na manhã após o acidente não havia saído de sua mente nem sequer por um dia. Ela decidira que não se tornaria paranoica. Iria esquecer o assunto. Mas ficava cada vez mais difícil...

E então se decidiu. Pegou o notebook e sentou-se em frente a ele na cama. A Senhora Bigodes veio rapidamente e aninhou-se ao lado de Emily. A garota pôs-se a afagar a gata, enquanto pensava longamente no que iria pesquisar. Premonições? Não, era muito genérico. Trem 081, é isso.

E assim fez.

Os resultados pularam da tela com rapidez. Emily olhou-os com desdém, ignorando todos os links com informações que ela já conhecia. Bobby, Bimbo, ou qualquer que fosse o nome dele, havia previsto um acidente. Ele morrera junto com mais seis amigos. Roxy, Eric, Naomi, Pepper, Lubo, Jamie. Emily sabia o nome deles quase de cor, de tão frequentes que eram suas aparições.

Mas então surgiu um link relacionado ao tal livro escrito por Heather Diamond. “Destino Final: Milagre” era o nome dele. Emily estava prestes a ignorá-lo, quando leu o título da matéria vinculada ao endereço: “Escritora Heather Diamond é internada em estado grave.”. A notícia era de alguns meses atrás, mas mesmo assim ela interessou-se. A garota subitamente sentiu uma sensação horrível, e um frio percorrendo a espinha. Clicou.

A notícia dizia:

Foi internada há dois dias a escritora e repórter Heather Diamond. Ela está em estado grave, após ter sofrido um acidente de lancha com seu namorado, o detetive policial e também escritor David Somerset. Ele morreu no local, enquanto a mulher conseguiu ser levada ao hospital. Não há previsão de alta, e a autora do best-seller “Destino Final: Milagre” corre risco de vida.

Emily tremeu. E se o livro que Heather escrevera tivesse mais dentro de si do que apenas uma lenda urbana? E se tivesse acontecido com a própria Heather Diamond?

Pessoas sofrem acidentes e morrem todos os dias, Emily. Sossegue.

Mas ela não conseguia. Mais links se seguiram, e então um que interessou a loira. Era outra notícia, veiculada no mesmo portal da anterior. Emily olhou-a por cima, e então se apegou à um parágrafo particularmente interessante:

Um mês antes a escritora havia escapado de um acidente quase fatal envolvendo o navio chamado Donzela Tímida, quando misteriosamente saiu da embarcação antes de ela afundar. Perguntada pelo portal o motivo de ter deixado o cruzeiro, Heather preferiu não se manifestar. Algumas testemunhas afirmam que viram um garoto dizendo que o navio iria naufragar. Seria verdade ou apenas mais uma teoria conspiracionista? Vale lembrar que o best-seller escrito pela repórter Diamond, trata exatamente disto: pessoas que tem premonições sobre acidentes. Esperamos que o mesmo destino de seus personagens não se repita com ela. Seria muita ironia... Ou oportunismo.

É isso.

Heather havia escapado de um navio destinado a afundar. E agora estava quase morta. Havia acontecido, não tinha outra explicação. Emily havia passado pela exata mesma coisa.

A garota pôs-se a pesquisar as notícias mais atuais sobre Heather Diamond. Ela não pode estar morta... Ela é minha única esperança. De fato, ela não estava morta. A última notícia era de duas semanas atrás, e dizia que o estado de Heather era estável. Aparentemente a repórter ainda estava internada, mas não corria risco de vida. Não havia qualquer indício de onde ela estaria. Emily desolou-se.

Ela não pode ser a única.

E então voltou a sua pesquisa original. Premonição era a palavra chave. Pesquisou. Ignorou os links relacionados ao livro e ao Trem 081. Encontrou informações sobre o Voo 180, o desastre na ponte North Bay, o incidente da montanha-russa Devil’s Flight, o Massacre da Babilônia. Ela conhecia todos, através de Francis. A história era sempre a mesma.

De repente, achou um blog pessoal. Era escrito por uma garota que dizia chamar-se apenas “Melissa”. Sem sobrenomes.

Um de seus posts mais acessados era a respeito de uma epifania. Ou algo do gênero. Um belo texto, Emily concluiu após uma breve investigação. Mas então um trecho chamou sua atenção:

Eu não sou como meu irmão, afinal de contas. Achei que era, naquela ocasião. Podia jurar que tinha visto a explosão, e visto meu amigo Bill ir pelos ares. Mas não passou de paranoia. Nunca houvera acidente, Bill nunca estivera em perigo. A última ocasião foi o Massacre da Babilônia, e eu preciso virar essa página da minha vida. Muitas pessoas sofreram por esse dom que ele tinha, e eu devia ser grata por não possuí-lo.

Jamais conseguiria ser forte como Bimbo.

Bimbo! Era isso! Essa garota é irmã do tal Bimbo que previu o acidente do Trem 081. Ela é a chave para tudo isso.

Novamente, Emily esbarrava na barreira da falta de informações. Quem é você, Melissa? Eu preciso te encontrar. Preciso saber se isso tudo é verdade, e, se é, como impedir? Nós estamos mesmo condenados a morrer? O que podemos fazer?

A garota suspirou e fechou o notebook. Esticou-se na cama e abraçou a Senhora Bigodes.

— Você sabe o que eu devo fazer?

A gata nada respondeu.

— Pois é. Eu também não. — Emily disse, por fim.


x-x-x-x-x

— Mas por que isso ainda a aflige? — A psicóloga disse calmamente.

Rebecca suspirou.

— É uma questão de receio. Consegue entender? — A outra mulher mexeu a cabeça delicadamente. — Eu demorei tanto tempo.

— Demorou tanto tempo para quê? — A voz da doutora Law era calma e gentil, como a de uma mãe.

— Para conseguir ter o Pete. Foram muitas tentativas de gravidez frustradas. Eu perdi dois bebês, e por duas vezes tive ameaças de gravidez que não se concretizaram. E logo agora que eu consegui tê-lo, eu... Eu sinto que posso perdê-lo a qualquer momento.

O silêncio pairou no ar por alguns segundos.

— O que seu marido diz sobre isso?

Rebecca suspirou outra vez.

— Ele acha que estou paranoica pelo acidente no navio. E ele tem razão, de certa forma. O naufrágio do Rainha Fohtaed me fez perceber que tudo o que eu tenho na minha vida é frágil. Eu amo meu marido, amo meu filho, amo meu emprego, amo a minha vida. Mas isso pode ser tirado de mim num estalo.

— Não só de você, Rebecca. De qualquer pessoa. A vida é assim.

A oriental bateu com a ponta dos dedos no braço do sofá.

— Eu sei, doutora. Eu sei. E é paranoia minha mesmo, eu também sei disso. Mas o que aconteceu com o navio...

— O navio que vocês desceram antes do acidente, você diz?

— Isso. — Rebecca respondeu calmamente. — Eu acho que o que aconteceu lá foi apenas o começo. Algo grande, poderoso e trágico está para acontecer em breve. Eu temo por mim. Mas temo especialmente pelo meu Pete...

E então um vento entrou pela janela aberta do consultório, e as cortinas balançaram freneticamente. Um abajur caiu, e a lâmpada no teto pifou e estourou. Cacos de vidro voaram para todos os lados. Rebecca deu um gritinho, e a doutora Law protegeu a cabeça.

Nós estamos em perigo. Deus nos salve...

x-x-x-x-x

Mikey sabia que não estava agindo da maneira certa com Emily. Mas o que podia fazer a respeito? Perto dela sentia-se sufocando. Sentia-se da exata mesma maneira que se sentira no dia do acidente do navio. Quando o Rainha Fohtaed naufragara, Mikey sentira-se sem ar. Sentiu como se estivesse literalmente se afogando.

E então pensou em Ajay.

Seria possível? Estar sentindo as dores finais do irmão?

Não, tudo isso é bobagem. Eu preciso consertar as coisas com a Emily, e vou fazer isto hoje. Agora.

Pegou as chaves do carro na mesinha de centro e saiu sem fazer barulho para não acordar os pais. No caminho para o carro discou o número da namorada.

— Emily, amor?

Sim. — Emily não parecia sonolenta, e isso surpreendeu Mikey.

— Você pode me encontrar? É urgente.

Eu não acho que agora seja uma boa hora, Mikey. — A voz da garota soou melancólica, e o rapaz temeu que algo sério pudesse ter acontecido.

— Agora é a hora perfeita, por favor...

Mikey, é sério, não. Eu te ligo daqui a pouco.

O rapaz então sentiu uma ira crescendo dentro de si. O que havia acontecido com Emily?

— O que diabos pode ser mais importante do que encontrar com seu namorado, Ems? Eu preciso falar com você e tem que ser agora! — Ao fim da frase Mikey percebeu que estava gritando.

Houve um silêncio sepulcral que durou vários segundos. Então Emily falou:

A Jade está morta, Mikey. Eu estou aqui no hospital com o Johnny.

E tudo fez sentido.


x-x-x-x-x

Krista fechou o livro na sua frente. Não iria mais ler aquilo. Não mesmo.

O rosto doce de sua prima Olivia subitamente apareceu em sua mente. Já fazia tantos anos que ela se fora... Krista conhecera-a quando tinha apenas dez anos, uma menina, e ficara chocada quando ela morreu. Olivia era sua prima favorita, ela não merecia aquele trágico destino. Morrer após uma cirurgia no olho... E o pior: após ter se salvado do desastre na ponte North Bay.

E agora Krista achava que estava na mesma situação.

Na época ela não ficara sabendo sobre o rapaz que previra que a ponte iria desmoronar. Era jovem demais, e tinha pouco contato com a prima, menos ainda com os colegas de trabalho dela. Descobrira anos mais tarde, numa conversa com os tios. E agora o assunto voltara à tona, quando ela lera sobre o acidente na internet. E então o que por anos julgou sandice, pareceu fazer sentido.

Sam Lawton teve uma visão e salvou a Olivia. Ela morreu logo depois. A Emily também teve uma visão, e me salvou. Isso quer dizer que eu vou morrer também?

Parecia provável. Mesmo assim, Krista não queria acreditar. Não podia conceber as coisas ao seu redor como armas mortais, como causadoras de sua própria morte. Seus bichinhos de pelúcia, seu anel de prata, seus livros. Tudo aquilo poderia causar um acidente fatal a qualquer momento.

A pergunta era: quando?

Desistiu de pensar. Precisava de energias positivas ao seu redor. Alguém que a fizesse sentir-se bem. Como Francis.

Já passava das três da manhã, ela sabia. E ela se encontrara com ele horas atrás. Mesmo assim... Seria loucura ligar para ele?

Loucura ou não, ligou.

Francis atendeu no primeiro toque. Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, o rapaz falou:

— Eu ia te avisar assim que tivesse tempo. Está um caos aqui.

Krista não entendeu.

— Avisar o quê? Caos aonde?

Francis fez-se de mudo, mas em seguida disse:

— Você não sabe. — Não era uma pergunta. — Droga!

— Não sei do que? Fala Fran!

— Vem pro hospital central. Está todo mundo aqui.

Hospital. Oh, não, Emily!

— A Emily está bem?! — A voz de Krista saiu entrecortada. — Me fala!

— Está sim. Vem correndo.

E em segundos a garota estava dentro de seu carro dirigindo para o hospital e remoendo coisas e pesares em sua cabeça. Oh, Olivia, que maldição. E subitamente sentiu-se apiedada da prima.


x-x-x-x-x

O hospital estava um caos. Krista teve de estacionar seu carro há várias quadras, e seguiu de a pé até lá. Encontrou Francis no meio do caminho. Ele andava lentamente, com as muletas batendo no chão de maneira ritmada. A garota achava-o adorável. Ele estava vestido com um cardigan verde e uma camisa branca, e seus cabelos estavam bagunçados. Quando a viu, um sorriso mórbido surgiu em seu rosto.

— Me conta. — Ela disse, correndo em sua direção. — Quem foi?

Francis virou-se e voltou a caminhar na direção do hospital. Krista seguiu ao lado dele, tão lentamente quanto podia. Não gostava de deixar transparecer que caminhava devagar por causa dele, então fingia ter um caminhar naturalmente vagaroso.

— A Jade.

Krista não esperava por aquilo.

— Ela está bem?

Francis mexeu a cabeça negativamente, ainda olhando pra frente. Falou:

— Foi um negócio muito... Estranho. Eu não entendi bem, mas eu acho que a Emily falou que ela foi atacada por cobras.

— Cobras?! — A garota perguntou incrédula.

— Pois é. Ela trabalhava num instituto que lidava com cobras ou algo assim. Aconteceu um acidente e as cobras a atacaram. O Johnny falou que o rosto dela ficou irreconhecível...

Krista tremeu involuntariamente. Tentou imaginar a dor de ser mordida por cobras no rosto. Nos olhos... Parecia demais para suportar.

— Pobre garota. Ela era tão linda e doce...

— Nem me diga. — Francis falou, em tom sussurrante e gentil. — O Johnny está há horas esbravejando e se lamuriando sobre como a Jade não merecia isso, e o quanto isso é injusto. "Ela era jovem, e boa, e gentil, e não fazia mal à ninguém", disse ele. E eu tenho certeza que tudo isso é verdade. Mas, me diz: quem merece morrer, afinal? A morte não julga bons e maus, merecedores e não merecedores. Ela só os coloca na lista e realiza seu trabalho...

A simples menção à palavra “lista” fez um terror tomar conta de Krista. Já não havia mais dúvidas, estava acontecendo. Como aconteceu com a Olivia.

E eles rapidamente chegaram ao hospital.

Johnny estava sentado num canto, dormindo. Sobre ele havia uma jaqueta, presumivelmente a jaqueta de Mikey levando em conta a inicial “M” inscrita. Para deixá-lo quente. O dono do objeto estava abraçado com a namorada Emily, um pouco longe do outro rapaz. Quando os dois viram Krista e Francis, levantaram-se para cumprimentar a garota.

— Como ele está? – Krista perguntou polidamente, embora soubesse a resposta.

— Arrasado, como era de se esperar. — Emily respondeu. — É surreal imaginar que a Jade se foi.

Ninguém disse mais nada. Todos sabiam o que a morte da garota significava, o que estava subentendido.

— Nós precisamos lidar com isso. — Foi tudo o que Krista disse, e mesmo tão soturnamente, todos entenderam. Mesmo Mikey, que não estivera presente no café da manhã do dia seguinte ao acidente do navio. Emily conversou com ele, eu tenho certeza, Krista pensou.

— Eu sei. Nós precisamos saber quando, e como. — Emily falou.

— No Trem 081... — Francis começou, sussurrando. Ele não queria acordar Johnny. — Os sobreviventes morreram na ordem que eles morreriam se tivessem ficado no trem.

Emily estava incomodada.

— Mas isso não faz sentido...

— Por quê? – Mikey perguntou.

A garota explicou:

— Na minha visão, a Jade não era a primeira a morrer. O Leon era. A Jade na verdade morria por último, antes de mim. Quando o navio já estava afundando completamente...

Francis ficou confuso pela primeira vez. Krista também. Mikey percebeu o óbvio, e externou seu pensamento:

— Ao contrário. A lista só pode estar ao contrário.

— Não, não, não, não, não. — Emily mexeu a cabeça negativamente e balbuciou: — Eu era a última a morrer, a Jade morria antes de mim. Se a lista está ao contrário, então eu deveria ter morrido primeiro, e não ela.

Oh, Emily, como você é ingênua, Krista pensou. Ao invés disso, disse:

— Você se esqueceu de um pequeno detalhe, Ems.

— E qual é esse detalhe? — A loira perguntou, seus olhos desconfiados e brilhantes. Ela está assustada, e preocupada com o irmão. Como posso julgá-la por não perceber o óbvio, por não perceber algo que está na cara dela?

Antes que a garota pudesse responder, Francis tirou as palavras de sua boca:

— Você já quase morreu, Emily. No cais, no dia do acidente. O fogo de artifício que iria te acertar. O Leon te salvou. Você foi a primeira, e foi pulada. Pra você acabou...

Emily queria acreditar naquilo, mas de alguma forma não conseguia. Pensou em como tudo era sórdido e errado, e em como não era justo. Pensou em Jade, em seu irmão Johnny, e no garotinho Pete.

E apagou.


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Notas finais do capítulo

Capítulo cinco em breve. Espero que estejam gostando, e comentem :D



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