É engraçado o quanto uma simples frase pode mudar o comportamento de alguém, ou melhor dizendo, alguns.

Sayuri e eu preferimos jantar no quarto, era um pouco difícil ficar diante de pessoas que faziam questão de se mostrarem incomodadas com nossa presença. Iríamos dormir no mesmo quarto onde nos vestimos e Sora fez a gentileza de separar as roupas e mostrar as camas onde ficaríamos.

Minha cama se encontrava ao lado de uma janela, o que a fazia ficar prateada em meio ao brilho da Lua. Era incrível a paz que reinava naquele quarto enquanto todos dormiam, uma ou outra falava, mas apenas sussurros sem sentido. Minhas pálpebras estavam pesadas, mas não conseguia deixar de encarar a Lua, tão serena e segura lá em cima que, por um momento, cheguei a invejá-la. Logo desisti e caí em sono profundo, mergulhando no que deveria ser um sonho...

“À primeira vista, uma menina de aparentemente seis anos de idade. Um jovem mais velho, no auge de seus 15 anos, cabelos igualmente louros e olhos carmim. A menina corria para seus braços, imersa em mágoas o abraçava. Ele, ainda surpreso retribuía o abraço e lhe entregava uma fita preta e lhe mandava guardar, assim sempre estaria com ela. O jovem sumia no horizonte junto de outros diversos cavaleiros; para a menina, sobravam-lhe apenas as lágrimas.

A imagem seguinte se baseava no mesmo mar de sangue que lembrava, com uma alteração: Sayuri.

Ela estava recolhida ao lado de uma grande árvore, mais lágrimas do que na praça, apenas parou para encarar uma mulher de pele pálida e cabelos louros cumpridos com pequenas ondulações; usava um vestido de escarlate intenso e aveludado que se misturava com o ambiente ao redor.

-Não se preocupe, logo eu mesma farei com que possa revê-los, só não espere que isso seja agradável – disse a mulher, com um sorriso de viés. Ela deu as costas e seguiu em frente, deixando as menina de olhos ônix sozinha, catatônica.” 

E quando acordei, os mesmos olhos me perseguiam.