Ela nos levou até um espaçoso quarto repleto de camas, onde havia um armário cor mogno que recobria toda a última parede. Abriu-o e uma nuvem de vestido delicadíssimos, em sua maioria seda e veludo, concretizou-se na nossa frente.

Suaves e delicados, todos enfileirados, acompanhados por chapéus e outros acessórios. Mas um chamou minha atenção: era de seda puríssima, um salmão claro, quase opaco, com detalhes em branco e luvas da mesma cor. Era perfeito.

-Vejo que gostou de um! - disse a rosada, abrindo um largo sorriso – Vai ficar ótimo em você, experimente!O closet fica logo adiante!- ela me entregou o traje e indicou o local.

Ao colocá-lo me senti estranhamente aliviada, aquela roupa de iniciantes não era nada se comparada a delicadeza dos vestidos. Ele era justo do busto ao abdômen e tinha bordas brancas. Prendi o cabelo num coque, deixado apenas a franja e alguns fios mais cumpridos. A única coisa que mantive do antigo vestuário era meu cordão, que possuía uma pedra púrpura; por algum motivo, não conseguia separar-me dela.

-Que tal? - disse saindo do closet.

-Está deslumbrante – disse uma voz diferente da de Sora, que estava arrumando a outra menina. Vinha da porta e continuou – uma perfeita dama de Amistic - era Aiko.

-O-obrigada - respondi.

-Siga-me, por favor - provavelmente meu dia se resumira a seguir pessoas desconhecidas. Que interessante. – Temos que apresentá-la à Corte!- ele disse, agora segurando minha mão e puxando, fazendo com que tivesse praticamente correr para acompanhá-lo. Quando parou, estávamos dentro de uma sala, que conseguia ser ainda maior que a outra e mais repleta de gente pelos cantos. Sentei em um dos tronos isolados da multidão, onde estava a menina de olhos ônix ao lado. Me senti como uma ré, e realmente me parecia que ia ser um julgamento.

-Vamos começar - disse Aiko, abafando os comentários –, deixemos que se apresente a jovem! – apontou para a garota ao meu lado – Vamos, não tenha vergonha!

-Meu nome é Sayuri. Venho do La Fource, clã da qual fui expulsa ao vir aqui – disse, agora cabisbaixa. - Mas deve ser melhor assim, já não era mais útil...- seu depoimento soava como um desabafo, era clara a dor em sua voz.

-E por que acha que seria útil para nós?- disse a jovem de cabelos negros, a mesma de hoje à tarde - O que essas duas poderiam oferecer ao clã? Uma aprendiz bem-vestida e uma espadachim rejeitada! - disse num misto de desdém e raiva.

-Chega Karin! - gritou o louro, fazendo com que todos se espantassem. – Sua presença se tornou incoveniente e desrespeitosa, coisa que não admito. Retire-se agora do salão, teremos uma conversa mais tarde – seus olhos relampejaram na direção da garota e um lorde resolveu pronunciar-se:

-Mas, Karin tem razão! No que elas nos seriam úteis? – seu comentário originou uma onda de sussurros e concordâncias.

-Por que sei que lembram em que condições estavam quando os recrutei – disse com autoridade, sua frase soou como um tapa na face de todos os presentes. E a partir daí, passei a admirar Aiko, sem perceber o quanto isso poderia me ser perigoso futuramente...