A voar! escrita por NenaSt


Capítulo 8
(Peter) O reencontro


Notas iniciais do capítulo

Esse sim é o meu favorito! Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/280035/chapter/8

Os anos com a minha família passaram muito rápido. Eu acabei... Crescendo. Sim, eu cresci. Agora tenho dezoito anos. Demorei um pouco para superar isso, mas no fim acabei me convencendo que essa foi a minha escolha.

Nada de Wendy. Todos esses anos eu a procurava e tinha a esperança de finalmente encontrá-la. Mas eu não sabia o endereço daquele prédio dela. Só no ano passado, eu consegui descobrir e quando cheguei lá me disseram que não morava nenhuma Wendy no prédio. Tentei lembrar o nome dos irmãos dela, João e Miguel, mas eles também não moravam mais lá. Eu tinha perdido o contato completamente. Mas refiz a promessa que fiz a ela de voltar e prometi a mim mesmo que iria encontrá-la de qualquer jeito, nem que eu tivesse que viajar pelo mundo inteiro. Mas minha mãe não me deixou viajar pelo mundo inteiro. Ainda assim eu continuava procurando por todos os lugares, sempre que saía de casa olhava pros lados o tempo inteiro pra ver se conseguia encontrá-la. Nenhum resultado. Eu só não tinha desistido ainda porque continuava escutando sua voz nos sonhos. E tinha sempre a ver com ela estar me esperando. Não tinha coragem de contar desses sonhos para a minha família, elas acabariam me levando para uma psicóloga e isso era o que eu menos queria.

Como sentia falta dela... Desde que voltei, meu único objetivo era encontrá-la para que pudéssemos ficar juntos de uma vez por todas. Minha mãe e minha irmã nem tocavam mais no assunto, devem ter achado que eu esqueci. Mas aquilo não iria ser possível. Eu jamais esqueceria a garota que conseguiu mudar a minha vida completamente. E aquela garota era Wendy. Eu tive a chance de ficar com ela, mas a abandonei apenas por medo. Medo de crescer. Um medo besta, eu sei, não se comparava ao que eu sentia por ela. Ainda me lembro de cada detalhe de nossas aventuras juntos, que não duraram mais do que uma noite, mas na Terra do Nunca, o tempo simplesmente não passava, então era como se eu tivesse todo o tempo do mundo.

Eu a ensinei a lutar, ela me ensinou a dançar. Desde aquela noite em que dançamos juntos no Refúgio das Fadas, quando ela me falou que aquilo que eu sentia era amor, eu nunca mais havia dançado com mais ninguém. Quando eu voltei, minha mãe me colocou numa escola. Pensou em me colocar na mesma de Alice, mas achou melhor outra para que eu conseguisse me adaptar sozinho. Procurei por Wendy naquela escola, mas nada.

Na minha nova escola algumas garotas chegaram a se sentir atraídas por mim, mas já eu não sentia nada. Elas ficavam sempre indignadas com isso, e a minha explicação era sempre que eu estava procurando a garota certa. Não era total mentira. Mas a garota certa eu já havia encontrado. E perdido.

Quanto a minha família... Acho que não poderia ser melhor. Eu tinha uma mãe e uma irmã que me amavam mais do que tudo e logo se acostumaram com a minha volta. No dia em que eu cheguei a minha casa, fiquei com medo de nem ter mais espaço pra mim. Mas minha mãe falou que desde que eu havia fugido ela não tinha se mudado justamente esperando por mim. Havia deixado o meu quarto do jeito que estava. Quando entrei lá foi como se eu nem tivesse fugido. Lembrei de tudo. De toda a minha vida antes de conhecer Sininho e ir à Terra do Nunca. Do meu pai.

Lembrei que, antes de fugir, minha mãe contava as melhores histórias pra mim, inclusive uma sobre um lugar onde crianças não cresciam. Quando comentei isso com ela, ela falou que se sentia culpada pelo meu desaparecimento por ter contado aquela história. Mas eu falei para ela não se sentir culpada por isso. Se eu não tivesse ido à Terra do Nunca, jamais conheceria Wendy. Seria muito mais velho do que ela. Não passaria por nenhuma dessas aventuras. E também não estaria sentindo aquela alegria de ter a sensação de ter voltado pra casa, pra perto da família. Mas também não estaria sofrendo por uma garota que eu provavelmente nunca conseguiria encontrar.

Mas em uma simples tarde de domingo, tudo havia mudado.

No dia anterior, Alice falou que iria dormir na casa da amiga, e minha mãe, apesar de sempre deixar, perguntou por que essa amiga nunca ia lá em casa. Ela respondeu que não sabia e que iria perguntar assim que pudesse.

Quando minha irmã saiu eu resolvi dar uma procurada em Wendy, como eu fazia todos os dias. Gostaria de lembrar o sobrenome dela, mas eu nem sequer a deixei falar. Perguntei para muitas pessoas, mas disseram que não conheciam nenhuma Wendy, que não sabiam nem que esse nome existia. Em todos esses anos eu cheguei até a pensar que ela havia sumido de Londres! Mas pelo sonho eu tinha certeza que ela continuava me esperando, só faltava eu encontrá-la.

Voltei pra casa muito diferente do jeito que saí. Havia saído todo esperançoso, mas quando voltei não tinha mais esperança nenhuma. Teria que conviver apenas com aquela voz no meu sonho. E só. Eu nunca mais a encontraria. Procurei por cinco anos. CINCO ANOS! Resolvi que era melhor desistir de uma vez, ela provavelmente nem morava mais em Londres. Talvez não morasse nem na Inglaterra! E eu lá feito um bobo procurando por tudo que era lugar.

Domingo de manhã eu acordei novamente com a voz:

– Peter... – Dizia a voz, praticamente chorando – Por favor... Não vê que estou aqui? Você prometeu...

Era verdade. Eu havia prometido. Mas também não sabia onde encontrá-la. Procurei praticamente por toda Londres, só faltava eu sair batendo de porta em porta de cada casa e apartamento para perguntar se conheciam alguma Wendy. Eu não poderia fazer aquilo, iriam acabar pensando que eu sou um louco e me levarem para o hospício.

Resolvi descer para comer alguma coisa. Quando olhei a hora, já eram 11 da manhã! Procurei por minha mãe, mas vi um bilhete dela na geladeira dizendo que ela tinha ido fazer compras. Comi um sanduiche e voltei pro meu quarto, pensando em como faria para encontrá-la. Eu não podia quebrar minha promessa. De repente, escutei a porta se abrindo. Nem me dei ao trabalho de me levantar, já que tinha quase certeza de que era minha mãe.

Mas não era minha mãe. Era minha irmã.

– Peter! – Chamou ela, desesperada. – Peter, desce aqui, rápido!

– Já vou!

Eu não fazia ideia do que me esperava. Quando cheguei lá embaixo, ali estava ela. Wendy. Um pouco crescida, mas eu reconheceria aqueles cabelos loiros encaracolados de qualquer lugar. Ela estava com minha irmã. As duas com o rosto inchado. Não tive tempo de perguntar o motivo do provável choro delas, já que, sem pensar, corri para Wendy e a beijei. Foi como se o tempo não tivesse passado. Como se ainda fôssemos duas crianças. Como se ainda fosse nosso primeiro beijo.

– Peter... – Disse Wendy, já entre lágrimas. – Você voltou!

Ela me abraçou forte, já estava chorando muito.

– Você voltou!! – Gritou ela.

Retribuí o abraço.

– Sim... Eu voltei. Voltei por você, Wendy.

– Eu ainda não acredito! E se for um sonho?

– Shh. Não é um sonho. Eu posso garantir isso.

– Você me encontrou...

– Não. Você me encontrou, Wendy. Eu te procurei o tempo inteiro.

– E eu te esperei...

– Agora não precisa mais. Não vou mais te perder de vista.

Depois disso ficamos lá, abraçados, assim como no dia da nossa despedida. Mas dessa vez não teria despedida alguma. Nós teríamos todo o tempo do mundo para ficarmos juntos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!