A voar! escrita por NenaSt


Capítulo 5
(Peter) Uma mãe e uma... irmã?


Notas iniciais do capítulo

Não vai ser sempre na ordem toda bonitinha Wendy Peter o tempo todo, às vezes eu vou repetir um pouco. Mas ainda assim, espero que gostem!



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A viagem era realmente longa. Quando cheguei a Londres, foi como se nunca tivesse estado lá. Como era dia, estava tudo muito movimentado, e se eu voasse com certeza poderiam me ver. Eu teria que caminhar até encontrar minha casa.

Durante a caminhada, fiquei pensando nos problemas que poderiam acontecer. E se minha mãe tivesse esquecido de mim? E se ela não me aceitasse de volta? E se ela e meu pai tivessem outra discussão que tivesse a ver comigo crescer? Afinal, meu pai estaria lá mesmo? Havia viajado novamente? O que aconteceria depois que eu os encontrasse? Eu tinha que colocar na minha cabeça que se eu quisesse viver com a minha família eu teria que crescer. Como eu encontraria Wendy? Eu sabia que não poderia voar novamente depois que chegasse à minha nova casa, e eu só sei chegar ao prédio dela voando.

Deveria ter me lembrado disso quando decidi voltar, pensei. Mas eu sabia que um dia iria encontra-la. Ela estava me esperando, me dizia isso todas as noites. Fazia muito tempo que eu não escutava suas histórias, mas imaginava que ela nem contasse mais. Será que havia crescido? Claro que havia crescido, crianças só não crescem na Terra do Nunca.

Parei na porta de uma casa. Foi como se o tempo não tivesse passado. Lembrei que eu entrava por aquela porta todos os dias voltando da... Escola. Eu sabia que teria que voltar a estudar, mas não sei se estava pronto para passar por isso novamente. As crianças zoavam comigo na escola, porque todos queriam crescer, menos eu. Resolvi acabar logo com aquele tormento e toquei a campainha.

Meu coração estava a mil por hora. Será que me reconheceriam? Será que ao menos me aceitariam? Uma garota com cara de ter mais ou menos uns quinze anos atendeu a porta. Ela era baixinha para a idade, era meio ruiva e tinha algumas sardas no rosto. Como eu. Ela franziu a testa, como se me conhecesse de algum lugar.

– Posso ajudá-lo? – Perguntou.

E agora? O que aconteceria? E quem era aquela? Não era minha mãe, eu tinha certeza, era muito jovem para ser minha mãe. Eu não sabia o que dizer, então comecei me apresentando.

– Eu sou Peter Pan.

A garota ficou paralisada. Parecia também não saber o que dizer quanto aquilo.

– Espere um minuto.

Então ela fechou a porta na minha cara, e eu ainda cheguei a escutá-la gritando “mãe” pela casa. Eu sabia. Sabia que não me aceitariam. Não fazia ideia de quem era aquela garota, mas imaginava que ela já houvesse escutado falar de mim. Escutei um barulho vindo de dentro, uma voz conhecida:

– Alice! Por que você fechou a porta na cara dele, então???

– Eu não sei mãe! Eu entrei em pânico! Nem sei se é ele mesmo!

– Ahh, Alice! O pobre garoto deve estar pedindo ajuda, você não deveria...

A dona da voz abriu a porta e ficou paralisada na minha frente. Era uma mulher já adulta, praticamente velha, parecia ter uns cinquenta anos. Tinha os cabelos ruivos, assim como os meus e os da garota que abriu a porta, apesar de um pouco grisalhos. Eu a conhecia. Ela era a minha mãe.

De repente, ela começou a chorar, enquanto a garota tentava tranquilizá-la.

– Peter... – Disse ela entre lágrimas. – É... É você! Eu não consigo acreditar nisso! Você voltou! – Com isso, ela me abraçou forte, o que a fez chorar ainda mais, e, admito, também chorei um pouco. – Eu sabia! Sabia que você voltaria! Ninguém acreditava em mim, os policiais chegaram a dizer que você havia morrido!

Retribuí o abraço. Não fazia ideia do quanto havia sentido falta da minha mãe!

– Oi, mãe... – Falei, também entre lágrimas. – Senti sua falta...

Ela começou a chorar ainda mais. A outra garota, Alice, também parecia estar emocionada. Apesar de que eu ainda não sabia quem era ela. Mamãe pareceu notar a minha dúvida, então nos apresentou.

– Hmm, Peter... Esta é Alice... Sua irmã.

IRMÃ? Eu não sabia que eu tinha uma irmã! Ainda mais sendo mais velha! Eu podia não lembrar de muitas coisas, mas lembrava muito bem de que não tinha irmã nenhuma, eu era filho único!

– Irmã? – Perguntei, desconfiado. – Eu... Eu não me lembro de ter uma irmã.

– Ah, querido... – Começou mamãe. – No dia em que você sumiu, eu estava grávida. Foi no dia em que eu comuniquei isso ao seu...

– Pai?

Com isso ela começou a chorar novamente, mas dessa vez não era de alegria. Era de tristeza.

– Sim. – Disse ela, limpando as lágrimas do rosto. – Vamos entrando.

Nós entramos na casa. Era grande, mas ao mesmo tempo simples. Eu consegui lembrar cada detalhe daquele lugar, de todos os dias felizes que eu passava com meu pai. Não sei como tive a coragem de fugir daquele lugar tão maravilhoso.

– Nesse dia nós te procuramos por toda parte. Mas não te encontramos. Eu entrei em depressão. Te procuramos por dois anos, até depois que Alice nasceu. Quando ela completou três anos...

Minha irmã começou a chorar também. E de tristeza. O que havia acontecido?? Estávamos num momento tão alegre, e de repente as duas estavam chorando.

– O que? O que houve, mãe? Por que vocês duas estão chorando?

– Filho... Seu pai era... militar. – Disse ela, chorando cada vez mais, com sua voz trêmula - Faleceu em guerra.

Alice também começou a chorar muito. E eu também. Não lembrava muito bem do meu pai, mas apesar disso queria poder encontra-lo assim como encontrei minha mãe. Me arrependi profundamente de não ter aproveitado cada segundo que passei com minha família. Não devia ter fugido. Devia ter ficado e crescido. Aproveitado mais tempo com o meu pai. Não. Aquilo não podia estar acontecendo. Não era isso que eu tinha planejado.

– Eu sinto muito, meu filho. Mas vamos mudar de assunto – Disse ela, limpando as lágrimas. – Espere. Passaram-se quinze anos. Você não mudou nada!

Contei pra ela toda a minha história na Terra do Nunca. Desde que eu ouvi meus pais discutindo até ter decidido voltar. Não sabia se contava sobre Wendy ou não. Elas eram minha família, mereciam saber sobre a garota por quem eu havia me apaixonado e o motivo por qual eu havia voltado. Não imaginava que elas fossem acreditar, mas como eu havia ficado fora por quinze anos e voltei com a mesma aparência de treze, acho que era a única alternativa delas acreditarem na minha historia. Resolvi contar logo sobre Wendy, embora não tivesse citado nomes, mas fiquei com medo da reação delas. Ao contrário do que eu pensava, minha mãe ficou muito feliz por essa garota. Falei que primeiro teria que encontra-la, e elas prometeram me ajudar o máximo possível.

A minha volta havia sido melhor do que eu esperava, embora meu pai não estivesse lá também. Eu nunca imaginaria que pudesse ter uma irmã, e nem principalmente que ela fosse me aceitar. Mas eu senti que com certeza havia feito a escolha certa.


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