A voar! escrita por NenaSt


Capítulo 4
(Peter) Decisão




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Estou te esperando...

Acordei com um sobressalto. Era a voz da Wendy. Fazia noites que eu sonhava com aquilo. Não sabia mais o que fazer. Então eu me decidi. Eu tinha que voltar. Alem disso, eu também havia começado a lembrar da minha mãe, aos poucos. Nunca pensei que isso fosse acontecer. Que um dia eu voltaria pra casa. Mas eu não podia mais esperar. Era como se eu precisasse voltar, de qualquer jeito, mesmo que não quisesse crescer. Precisava comunicar isso à Sininho e aos Meninos Perdidos. Olhei para o céu. Ainda estava escuro, todos dormiam. Assim que amanhecesse eu iria contar.

As horas foram se passando. Eu não consegui voltar a dormir. Algumas vezes eu lembrava de pequenos detalhes do meu passado. Detalhes como eu chegando com o joelho machucado em casa e minha mãe me dando colo. Lembrei que meu pai vivia viajando. E também do dia em que eu decidi ir para a Terra do Nunca. Vi meus pais discutindo sobre algo. Não lembro o que era, depois disso só me lembro de ter ficado com raiva deles e fugido de casa. Então encontrei Sininho, que me ensinou a voar e me levou à Terra do Nunca. Algum tempo depois, decidi voltar. Minha raiva havia passado. Mas eu já não lembrava. Cheguei em Londres e não lembrei mais pra onde ir. Então eu escutei uma voz. Uma voz feminina, que parecia estar contando uma história. Segui o som da voz até chegar em um prédio, numa janela onde haviam três crianças.

A mais velha era loira, tinha os cabelos cacheados. Era linda. O garoto do meio era alto, com cabelos castanhos e curtos, usava óculos. O mais novo parecia ter uns cinco anos. Era loiro como a irmã e usava um pijama como um macacão cor-de-rosa. E tinha também uma cadela, sentada, parecia estar escutando a história da garota. Decidi ir escutar também, apesar de Sininho não ter gostado muito disso.

–... E então ele jogou a mão decepada do Capitão Hook para o crocodilo! O crocodilo havia gostado tanto da mão, que até hoje persegue o Capitão, agora chamado de Gancho por causa do gancho no lugar de sua mão esquerda! – Disse a garota.

Eu conhecia aquela história. Não só conhecia como também havia vivido. Tentei entrar escondido, mas acabei tropeçando em um dos brinquedos e espatifando tudo. Voei o mais rápido possível para o telhado. Cheguei a ver a garota brigando com a cadela. A partir dessa noite, passei a visitar aquela casa todas as noites para escutar as histórias que aquela linda menina contava, até que um dia eu deixei minha sombra. E foi aí que tudo começou. Wendy disse que foi a cadela, Naná, que havia guardado a sombra e a costurou para mim. Então eu a chamei para ir comigo à Terra do Nunca, e ela falou que não deixaria os irmãos. Fomos nós quatro. Eu já tinha passado por várias aventuras lá, mas aquela foi sem dúvida a melhor de todas.

Vi que o dia começava a amanhecer. Não sabia se levantava logo ou esperava um pouco, pois eles poderiam ainda estar dormindo. Pelo menos os Meninos eu tinha certeza, já que sempre dormiam até tarde. Mas Sininho provavelmente já estaria acordando, ela sempre acorda assim que o sol nasce.

Resolvi levantar e ir falar com ela. Sininho é minha melhor amiga desde que cheguei à Terra do Nunca. Na verdade, antes disso. Nunca faço nada sem pedir o conselho dela antes. Pensando bem, às vezes eu nem escuto o que ela fala... Ops, tilinta. Mas não importa se eu escutei ou não, ela acerta de qualquer jeito. Um dia, eu fui beber o remédio que Wendy tinha preparado, mas o que eu não imaginava era que aquilo era veneno que o Gancho tinha preparado. Sininho tentou me avisar que era veneno, mas eu não a escutei. Ela teve que beber o veneno para que eu visse o que aquilo realmente era. Tivemos que gritar, junto a todas as crianças do mundo “eu acredito em fadas” para que ela voltasse.

Quando levantei, ela já havia acordado a muito tempo. Resolvi falar com ela logo.

– Sininho!

Olá, Peter! – tilintou.

– Er... Eu preciso de seu conselho para uma coisa.

Ela parou o que estava fazendo e se sentou em sua cadeirinha minúscula. Contei tudo. Sobre os sonhos, sobre a voz dela, sobre a minha mãe e, finalmente, sobre a minha decisão de voltar pra casa. Fiquei esperando que ela tilintasse algo, mas ela continuava com a mesma aparência, como se ainda estivesse esperando algo mais. Cheguei a ficar com medo que ela não me deixasse ir, que tivesse a mesma crise de ciúmes que teve na primeira vez que Wendy tentou me beijar. Mas ao invés disso, ela voou em minha direção e tentou me dar um abraço, mas não conseguiu, já que era muito pequenina.

Eu sabia que você faria a escolha certa! – tilintou.

– Então você não está brava?

Por que eu estaria? Peter, eu já te disse um milhão de vezes: Wendy te ama! E você também a ama! Vá lá, viva seu sonho!

– Obrigado, Sininho! Err... Só mais uma coisinha. Eu preciso ir o mais cedo possível. Se eu for a noite, corro o risco de minha mãe estar dormindo, e eu não gostaria de acordá-la. Quero chegar lá ainda de dia, e a viagem é longa. Você poderia...

Claro! Eu aviso aos meninos!

– Você é demais mesmo!

Eu sei disso!

Me despedi dela e saí em viagem. Rumo à Londres, encontrar minha família, e, principalmente, a garota que eu amo!


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