Como Ser Um Pegador Em 12 Lições. escrita por Jess B


Capítulo 9
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6ª Lição: Não somos “fura olho”, fazemos um sistema de parceria.
O sistema de parceria se baseia no seguinte: agendas de celulares dos amigos na mão e uma pergunta no ar: – “pegou quantas vezes?”

Fred:
– E aí, cara, como foi o último ensaio hoje com a ju? – Hazz me perguntou assim que abriu a porta e me viu deitado no sofá assistindo TV, vindo com os meus outros dois amigos atrás.
– Rolaram alguns lances, mas foi legal. – dei um sorriso safado lembrando dos meus incríveis amassos com ju no nosso sofá velho do Subsolo. E quem diria que a freak tinha uma pegada boa?
– Esses “lances” influenciam na aposta? Porque, cara, você sabe que o Baile é logo menos. – Judd sentou no apoio de braço de nosso sofá e olhou pra mim com uma cara de curioso.
Eu estava louco para contar aos guys que finalmente tinha ficado com a Júlia Torres e de como – surpreendentemente – foi incrível. Como de costume, eu falava para os meus amigos como tinha sido a minha ficada com alguma garota. Sim, meninas, nós falamos com quem ficamos e como ficamos. Entre nós, isso não é nenhum segredo. Nós só não falamos tantos detalhes dessa ficada, quando a menina realmente importa para a gente. Por exemplo, se o cara ficou com uma menina que ele estava muito a fim de ficar, só uma vez, com certeza ele vai falar para os amigos como foi. E se a garota for “a” garota, é provável que ele não explane muito. A princípio, eu ia falar que passei a tarde toda beijando ju enquanto ensaiávamos, mas muitas coisas se passaram pela minha cabeça em poucos minutos. Uma delas foi a promessa que tinha feito. Eu queria falar para os meus amigos que tinha ganhado a aposta, que levaria Júlia ao Baile, pegaria minhas cem libras e depois gastaria num bar stripper qualquer, mas algo além da promessa me fez desistir de falar isso.
– Qual é, cara, é só falar se você beijou ou não beijou, não é tão difícil assim. – Davi falou ligando o PS, e percebendo a minha demora na resposta.
– Não, eu não fiquei com ela, ok? – tentei ser o mais verdadeiro o possível – Ela é chata, muito centrada. Quero dizer, hora de ensaiar para ela é hora de ensaiar, e não ficar abraçando e beijando alguém – menti.
Dude, ela deveria entrar para a nossa banda e botar ordem! – Guto falou com a boca cheia, pois tinha pegado biscoito na cozinha. - Porra, Guto, desse jeito que você falou, foi como se nunca ensaiássemos e ficássemos nos abraçando sempre. – falei, sorrindo nervoso, tentando fazer com que eles se esquecessem de que ju viera aqui, e não me enchessem de perguntas sobre ela.
– E a gente não faz isso, meu amor? – ele mandou um beijo no ar para mim, mas quando fez isso, um monte de farelo de biscoito caiu de sua boca.
– Tão amoroso... – Revirei os olhos.
– Depois dessa, a minha credibilidade pode acabar, mas vou falar a verdade... Cara, achei muito sexy quando a vi tocar bateria. – Davi disse, olhando para a TV enquanto jogava Guitar Hero. Ele estava de costas para mim, mas tenho certeza que tinha o seu famoso sorriso de Davi, “O Taradão”.
Todos riram, menos eu.
O sangue subiu.
– Pode parar por aí! – me levantei – Calma aí, até semana passada, Júlia era a estranha do colégio, e hoje é a sexy?! – senti a raiva nas minhas palavras, e acho que meus amigos também. Davi parou de jogar, Guto parou de mastigar e Harry parou de mexer na sua agenda de celular.
– Que drama é esse? Pensei que podíamos falar nossas opiniões sobre as garotas que você pega, ou vai pegar! Sempre falamos e você nunca disse nada! – Sousa se defendeu, claramente sem entender a minha reação. – Eu só disse que ela era sexy, . Relaxa aí.
– Pára tudo! – Andrelli resolveu falar, com uma voz afetada – O nosso Maia está com ciúmes, só pode! – ele veio até mim. – É isso mesmo, está com ciúmes da Torres! Vamos rir, porque isso é inédito! – depois que ele falou isso, meu coração disparou e eu entendi realmente o que estava sentindo. Era mesmo ciúme. E pior, eu só estava com ciúmes de uma besteira.
Hazz me olhou preocupado. Ele era um dos caras que mais se preocupava quando um de nós cismava em de gostar de alguém.
– Isso é verdade, Fred? – ele falou. – Se for verdade, então temos um problema... – se eu falasse que era verdade, o que eles fariam? Parariam a aposta e me deixam livre dessa?
E se isso acontecesse, não teria mais desculpa para ir atrás de Júlia e consequentemente, não teriam os beijos dela.
Não.
– Não! Que é isso, guys? Eu com ciúmes? – ri descontroladamente. – Só se for do Davi, né? Por que da Júlia é meio difícil – engoli em seco, pensando no que tinha acabado de falar.
– Ainda bem, porque seria tenso. – Hazz deu três tapinhas no meu ombro e subiu. – Vou dar uma dormida, a Clarie me cansou hoje. – ele subiu as escadas, nos deixando na sala de estar.

Júlia:

I swear one day we're gonna leave this town...
Cantava uma música dos Strokes enquanto penteava meus cabelos. Um sorriso bobo veio em meu rosto.
Fred – falei baixinho e senti vergonha de mim mesma.
Passar a tarde toda com ele foi inexplicável. Ainda podia sentir suas mãos me abraçando e sua boca me beijando. Um calorzinho vindo de dentro de mim subiu, e senti um arrepio. Era claro que aquilo não era normal. Eu nunca tinha sentido isso antes, nunca tive essa sensação! Agora eu me sentia mais bonita e muito mais confiante, e isso tudo por causa de Fred.
Assustei-me quando meu celular começou a tocar. Vi o visor e já sabia quem era.
– ju vem pra cá, eu... – ouvi um barulho tão alto, que não entendi nada do que ele havia falado.
– O quê, Mike? Não entendi! Repita mais alto ou saia de onde você está – falei um pouco alto, para ver se ele ouvia.
– ju! – ele gritou – Espera, estou saindo do pub!– ele gritou ainda mais, e depois de poucos minutos, o barulho tinha acabado.
– Hey, sumida! Estou no Hoots, aquela banda que você gosta está tocando, vem pra cá! – ele me disse, empolgado demais para o meu gosto.
– O que você tomou? – respondi com outra pergunta.
– O de sempre, aquele azul que você também gosta. Está esperando o quê, para tirar essa bunda daí, e vir? – ótimo, ele tinha tomado um doce. Esse era o meu amigo Mike! – Se você não vier, vou ficar tristonho. – ele deu uma risada forte e gostosa. Revirei meus olhos.
Eu sabia que se não fosse ele, falaria daquilo durante uma semana. Então, olhei para o meu armário e procurei logo uma roupa pra ir.
– ju, você ainda está ai? – ele me perguntou divertido, percebendo meu pequeno silêncio.
– Estou indo – eu ri. – Me espere!
– Eu guardo um pouco pra você. – e então, ele desligou.
Peguei minha calça jeans skinny, uma blusa preta, uma jaqueta de couro e um Vans preto. Eu fui básica, porque estava com pressa. Se tinha que sair dali, tinha que ser logo. Minha mãe não podia saber e, bem, não seria normal ter uma reuniãozinhado colégio às onze horas da noite.

Fred:

– Quantas vezes eu vou ter que te dizer? Eu fiquei com a Lindsey umas quatro vezes e só, e sim, foi bom! – Davi falou paraGuto, enquanto estava deitado. Guto olhava a agenda do celular que pertencia ao Sousa.
– E a Lauren? – Guto perguntou, e Davi revirou os olhos.
– Eu sei que essa parceria que a gente tem é fantástica para você, já que precisa de mim para pegar mulher, mas, cara, enche o saco ficar te respondendo essas coisas. - eu Hazz rimos da cara de bunda que Guto fez. Estávamos no meu quarto ouvindo música, bebendo e conversando sobre as merdas da vida.
Guto tinha mania de dizer que não era fura olho, mas que contribuía para com o bom relacionamento entre amigos. Se um gostou de ficar com uma menina, e não a quer mais, por ela estar enchendo saco ou coisa do tipo, passa paro outro. E a vida segue tranquilamente!
Eu até achava engraçado, e já – muitas vezes, admito – participei de algumas brincadeiras desse tipo. Mas, não sei, de um tempo pra cá, achava-as meio bobas e tediosas. Agora eu tinha preguiça de pegar o telefone, marcar um encontro e ouvir besteiras da garota, como “O meu cabelo não é lindo? Fala que o meu cabelo é lindo que eu te beijo”, só para ir para a cama. Eu tinha preguiça, tinha mesmo!
– Cata o telefone que você quer e me deixa em paz, Andrelli! – Davi disse por fim.
– Calma, ainda procuro por minha vítima. – mexeu mais um pouco – Eita, como assim, você tem o número da Bia, e eu não sabia? – todos nós ficamos surpresos com a tal revelação.
– Ah, ela se ofereceu para me ensinar física... – Ele passou a mão no cabelo, nervoso. Ficamos olhando desconfiados, mas ninguém falou nada sobre o assunto.
– Ok, vou chamar essa tal de Alice para sair. Ela é bonita, e você já tinha dito para mim que ela tem muitas habilidades com as mãos. – Guto deu um risinho cheio de malícia, e logo Davi falou algo como “aleluia” e se virou para mim.
– Amanhã é o grande dia. – ele abraçou meu travesseiro e me viu tragar a fumaça do cigarro que já estava no fim. Guto havia saído do quarto para fazer o telefonema.
– Não vejo a hora de tocar logo naquela merda, e acabar logo com isso! – eu falei, já cansado de ficar quase toda a semana na escola à tarde.
– Depois dessa apresentaçãozinha, quero ver qual será o próximo passo para ficar ainda mais com a ju. – Davi ainda continuou – Aliás, acho que amanhã será uma grande oportunidade para você chamá-la para sair.
– A gente pode até acompanhar, quero dizer, a gente pode fazer o esforço de levar as amiguinhas dela junto. – Hazz bebeu em sua garrafa de cerveja, e depois a colocou na minha mesa do computador.
– É, pode ser uma boa ideia. – falei, jogando a bituca no cinzeiro, sabendo que se nós oito saíssemos juntos, eu e Júlia não teríamos tempo para nos divertirmos, se é que você me entende. – Vou ligar para ela e pedir que chame suas amigas. – peguei meu celular, e logo liguei para Júlia.
Ninguém atendia, então liguei mais uma vez. Nada. Apertei a teclinha vermelha e vi a hora no relógio do celular. Meia-noite.Júlia deveria estar dormindo a uma hora dessas.
– Ela 'tá dormindo. – olhei para os meus amigos – Vou mandar uma mensagem, e amanhã ela vê – disse por fim, mexendo em meu celular e enviando a mensagem.
– MERDA! – Guto entrou no quarto, batendo a porta.
– O que foi?! – nós perguntamos em conjunto. Ele jogou o celular na cama e nos olhou.
– Eu liguei para a Alice, falei logo, mandei a minha melhor cantada e quem me atendeu foi uma velha! Uma velha! – a gente não aguentou. Todo mundo riu.
– E o que ela falou? – Harry perguntou.
– Ela me chamou para ir às sete na casa dela, porque às oito, tinha que assistir à novela! – Guto nos olhava, incrédulo, e nós continuávamos rindo. – Porra, Davi! A culpa é sua!
– Eu bem que estava esquecendo de te falar alguma coisa... – ele se fez de pensativo, e a gente ria cada vez mais.
– Ah, vê se não fode! Vou pegar mais uma cerveja. – ele se levantou e saiu do quarto.
– PEGA UMA PRA MIM! – gritei.
– Para mim e para o Sousa também! – Harry gritou da porta do quarto, e a gente ainda pôde ouvir Guto resmungar:
– Além de ser a piada, sou o escrevo! Puta merda, viu?!

Júlia:

Cheguei ao Hoots, abraçando minha jaqueta de couro por causa do frio. Levantei a cabeça, procurando por Mike, e peguei meu celular que tocava. Era Fred.
Resolvi não atender, porque eu sabia que se ele ouvisse o barulho, certamente iria querer que eu desse explicações sobre onde estava, e dizer que estava num pub, longe de casa, tarde da noite e ainda mais, por causa de Mike, não seria muito legal.
Fred não queria admitir, mas eu sabia que rolava um ciúmes meio bobo, mas fofo, da parte dele.
O celular tocou mais uma vez, e eu não atendi.
Parou e eu o senti vibrar novamente. Era uma mensagem do próprio.
“Os caras vão ver nossa apresentação, leve as suas amigas pra sairmos todos juntos, ok?
Queria que dizer que, depois da apresentação ficaremos juntos, mas nem vai rolar! Eles não vão desgrudar da gente!
Mas pelo menos, vou estar com você, mesmo de longe.
Ps: Vai ser MUITO difícil me controlar e não te beijar no meio de todo mundo”
xx Fred.
Sorri idiotamente para a tela do celular, querendo logo responder a mensagem. Fui tentar escrever alguma coisa, mas uma voz me atrapalhou.
– VOCÊ VEIO! – Mike pulou na minha frente – Sabe, eu já estava feliz, mas agora eu tô mais que feliz! O que é mais que feliz? – ele perguntou, mostrando quase todos os dentes, rindo – Hey, dude, o que é mais que feliz? – ele puxou a camisa de um cara que estava passando ao seu lado e perguntou. Tirei a mão de Mike do cara que já estava com raiva, e pedi desculpas a ele.
– Ok, Mike, vim te buscar, vamos! Cadê o seu carro? – perguntei, pegando as chaves de seu bolso.
– Ah, não, ju! A banda está tocando muito hoje! Vamos curtir! – e foi aí que eu vi que ele estava com um copo enorme de cerveja. Olhei pra ele com muita raiva, e acho que Mike percebeu. – Oh, pequena, estou me divertindo tanto, e ainda mais porque você chegou! Vai, vamos ficar só mais um pouco, depois eu juro que você me deixa em qualquer lugar que quiser – ele deu um sorrisinho de anjo, me convencendo.
– 'Tá, Mike! A gente fica só um pouco! – eu falei – Tenho que estar disposta amanhã, porque, se você não sabe, tenho uma apresentação. – ele bateu em sua testa com força.
– Puta merda, é mesmo! Eu vou assistir, claro que vou. – bebeu sua cerveja – Se estiver inteiro amanhã, assisto tudo. TUDO! – gritou.
Ótimo! Que belo amigo.

Uma hora mais tarde

– Tudo está coloridamente... Lindo. – falei. – E acho que o palco está vindo até a gente! – tentei falar sério, mas não consegui. A ideia de ter o palco vindo até a gente me deu medo, mas eu não conseguia me levantar, não conseguia me mexer direito – Mike, é sério! O palco está vindo pra cá! Me levanta, senão eu vou ser esmagada ou comida, ainda não sei! – tentei gritar em vão.
– ju, calma! O palco não está vindo pra cá. – ele fumava um cigarro diferente dos normais. Me levantei.
– Mike! Me tira daqui! O palco... Ele 'tá vindo! – tentei me segurar nos braços de Mike, que estava ao meu lado, mas uma força maior não deixava. – Você pode dizer que ele não está vindo, mas eu estou vendo, Mike! E ele tá muito perto de mim! Sinto que ele quer me comer. Olha a boca dele ali! – vi meu braço apontado para frente, e o puxei. A sensação de sentir a minha pele sendo esticada foi uma das melhores que já tinha sentido. Ri ainda abestalhada por causa disso, me esquecendo do palco.
– ju, está tudo bem? – ouvi a voz de Mike ao longe, e olhei para o lado. Ele estava bem ali. Fiz uma cara de confusa, e mesmo assim sorri.
– Tenho que te falar uma coisa, acho que estou gostando de alguém... – ri de mim mesma. – Você não vai acreditar quando eu contar. – minha língua estava pesada, o que me fazia falar bobamente.
– Quem, Júlia? – ele sorriu ainda mais, depois que falei. Ao longe, bem longe, ouvi outra risada. Fechei meus olhos para poder me concentrar e descobrir quem seria o dono daquela tal risada contagiante. Sorri ainda mais, ao saber de quem se tratava.
Fred.
Fred estava lá, rindo de alguma coisa e me chamando para rir junto. Ainda de olhos fechados, tentei me movimentar para ir junto com ele, não conseguindo. No mesmo instante, Fred parou de rir e me olhou com os olhos julgadores, como se estivesse dizendo o quão mal eu fiz vindo até aqui usando LSD.
“Não esperava isso de você.” Ouvi Fred falar, com os olhos tristes, dando meia volta pra ir embora.
– Não vá embora! Fica aqui comigo, por favor. – me ouvi dizer, numa voz chorosa.
– Mas eu não vou embora, ju. Estou aqui do seu lado. – ouvi Mike falar, me abraçando. Seu toque fazia minha pele vibrar. – Vamos embora. – ele falou, me levantando da cadeira e me segurando.
E depois disso, eu apaguei.

Fred:

Estava no portão do Westshelfied, esperando ju chegar. Sentado em um dos degraus da escada da entrada, vi uma garota ruiva se aproximar.
– Não se esquece da minha festinha amanhã, hein, Maia! – Sam me falou, segurando seu caderno lilás. Alisou seus cabelos cor de fogo com as mãos – E diga ao Harry que eu não vou me esquecer dele. – ela deu uma piscadela e saiu andando.
Se o Harry visse isso, acho que acabaria no banheiro da escola. Para ele, Samantha Goldman era a top das tops. Era a gostosa das gostosas. Samantha era tudo isso e mais um pouco, e por isso, ela era intocável para nós. Quem só podia ali, era Harry e mais ninguém.
Vi o meu alvo chegar de óculos escuros, e logo estranhei.
Júlia estava com uma cara amassada e meio descabelada. Levantei-me logo para receber a garota, já sentindo meu coração disparar.
– Bom dia. – falei ao chegar perto dela – E qual é a do Edward Cullen? – perguntei, apontando para os óculos. Ela fez uma careta e parou de andar.
– Insônia. – ela falou, parecendo nervosa.
– Poxa, se estava acordada a noite toda, porque não me retornou? Te liguei ontem e ainda mandei uma mensagem – falei, tentando entender o porque de ela não ter me respondido, já que ficara acordada – Fiquei até receoso em tentar te ligar de novo, com medo de te acordar. – tentei tocar seu rosto, mas ela desviou.
– Tanto faz. Olha, eu tenho que ir, porque vai começar a aula e tudo o que eu quero é que esse dia acabe logo! – ela falou sem emoção e seguiu em frente sem dizer mais nada. Logo em seguida vi seu amigo, Mike, chegar, atravessando o pátio. Mike virou sua cabeça em minha direção. Fumando um cigarro – o que era proibido no colégio –, me lançou um olhar um tanto quanto tenso, acenou com a cabeça e se foi para o seu lado do pátio.
Fiquei um pouco surpreso, mas mesmo assim, acenei também. O que foi aquilo, afinal? Será que ele já sabia sobre mim eJúlia? E Júlia, porque estava tão estranha? Será que eu fiz alguma coisa de errado?
Não, eu tinha plena consciência que não tinha feito nada.
Fui para a mesa onde eu e os guys sempre ficávamos e, para o meu espanto, a vi cheia de mulheres, mas não as meninas que costumávamos sair. Não, senhor. As meninas que estavam lá, eram nada mais, nada menos que as amigas de ju!
– Bom dia, meninas. – falei sorridente – Alguém sabe o que aconteceu com a ju, para ela estar com esse humor pela manhã? – todas se olharam, e logo Bia abriu a boca.
– Se você não sabe, não sou eu quem vai contar! – ela se negou a falar e as outras concordaram.
– Qual é?! O que ela aprontou dessa vez? – Andrelli pareceu ler meus pensamentos quando perguntou.
– Eu não sei de nada... – Sophia se fez de desentendida, e logo revirei os olhos.
– Parece que vocês não conhecem mulheres... – Hazz falou pensativo – Vocês sabem que elas, mesmo sob tortura, não abririam o jogo para ajudar uma amiga. – ele terminou de falar, e eu senti um olhar estranho (e encantado?) vindo de Cris para ele.
– Verdade. – falei, ainda pensando no que tinha acabado de ver – Er, meninas vocês estão sabendo que eu e a ju vamos tocar hoje depois da aula para a professora, não estão? – elas assentiram – Então, vocês não querem...
– O Sousa já nos chamou ontem. Ele me ligou. – Bia disse, e nós três o olhamos, prendendo o riso. – Ele me ligou, perguntando se a gente ia, e a gente vai. – Bia falou com simplicidade e saiu de cima da mesa que estava sentada. – Bom, vamos ver como a ju está. Tchau, meninos.
Nós olhamos Davi, desconfiados.
– Não me olhem assim! Vocês queriam que elas fossem! Já que o Fred não conseguia falar com a ju, decidi ajudar, né... – ele gesticulou com as mãos, e caímos na risada.
– Olha, se ela não fosse tão estranha, eu até diria que você está afim de ficar com ela. – Guto bagunçou seus cabelos.
Davi o olhou, meio sem graça.
– Não, mano, não faz isso comigo!
– Ela é tão inteligente! – nós paramos de rir no mesmo instante – E tão bonitinha falando de velocidade e tempo. E caras, pasmem, ela gosta de Star Wars! Uma menina que gosta de Star Wars, acho que vou chorar! – ele fingiu enxugar as lagrimas de mentira. – A Beatriz é tão inteligente que eu não sei como chegar, não sei do que falar com ela a não ser sobre como o Chewbacca é peludo. – ele riu meio sem graça.
– Bom, isso já um começo. – falei, feliz, pelo meu amigo que logo assumiu que estava mesmo afim de uma das esquisitas – Solta um “Eu sou seu Luke e você é a minha Leia” e beija!
– Ew, Fred! Eles são irmãos. – Guto disse, enojado.
– Tanto faz! Eles se beijam, não se beijam? Então! – falei rindo e Davi pareceu gostar da piada. – Ah, vamos logo, Luke apaixonado, o sinal vai bater.

Júlia:

Morte ao sinal! Meu novo protesto vai ter isso como lema. A minha cabeça dói, meu corpo está mole, e eu quero muito dormir.
Dormi na casa de Mike, porque eu simplesmente apaguei na volta, e ele não podia me levar pra casa naquele estado. A minha sorte era que eu tinha uniformes e algumas roupas íntimas na casa dele. Eu já tinha ido dormir várias vezes lá, por isso tinha uma gaveta só pra mim.
Pra ser sincera, não entendi minha reação quando Fred veio falar comigo. Eu não sabia se havia o tratado daquele jeito porque eu estava mal-humorada ou se... É, acho que não tem nenhuma outra explicação. Acho que eu deveria pedir desculpas a ele numa outra hora.
Sentei à minha carteira, coloquei minha mochila em cima da mesa e a fiz como travesseiro. Minha cabeça pesava tanto, que não demorou tanto pra dormir ali mesmo.
– Júlia Torres? – ouvi dizerem meu nome, mas não dei valor. – Júlia Torres, por favor, acorde – senti alguém me cutucar, e mesmo com raiva, levantei a cabeça. Meus olhos inchados, que agora estavam sem óculos pra protegê-los, demoraram a focar a pessoa que falava comigo.
– Professora? – perguntei, tentando identificar se era mesmo a minha professora de biologia, para quem todo mundo paga pau.
– Júlia, eu não aguento mais! Você só dorme na minha aula – ela elevou a voz.
– Não grite. – falei séria. A minha paciência estava quase no limite com aquela voz de taquara rachada.
– E ainda desmoraliza a minha autoridade na frente dos alunos? Saia agora mesmo! – ela gritou, apontando para porta. E o que eu fiz?
Levantei-me, peguei minha bolsa e falei:
– Demorou para pedir.
– Insolen... – eu bati a porta, sem esperar que ela terminasse de falar.
– Professora de merda! – falei, andando até o Corredor dos Losers, para me esconder da inspetora. – Só porque é metida a gostosinha, pensa que pode dar show comigo na sala. – fui até o corredor sombrio. – Comigo não!
Acendi um cigarro, nervosa, e traguei profundamente, parando pra pensar em Fred novamente, e no quanto fui grossa com ele.
– Merda! – falei para mim mesma. Fumei mais uma vez, e soprei para o alto a fumaça. Não queria que Fred soubesse da minha saída de ontem. Eu não sabia exatamente do que tinha medo. Talvez de falar pra ele e acabar com o nosso pseudo-relacionamento.
– Acho que a gente só resolve as nossas coisas nesse corredor. – ouvi a voz de Fred perto, e logo seu corpo esguio e branco veio pra claridade.
Joguei meu cabelo para o lado, em sinal de nervosismo, e fumei o final do meu cigarro. Ele estava bem na minha frente. Eu não queria falar nada, se eu falasse poderia ser o fim.
– O que aconteceu ontem à noite? – ele me perguntou calmo, sentando perto de mim. Olhou diretamente nos meus olhos.Fred encostou sua testa em meu ombro fazendo carinho com a mão nas minhas costas. – Me fala. – disse com uma voz rouca, beijando meu ombro. Fechei os olhos, sentindo os seus lábios na minha pele.
– Eu... – eu tentei começar.
– Você... - ele continuou a dar beijinhos em meu ombro.
– Fui... – Fred ia beijando a curva entre meu pescoço – Num pub aí. – e logo ele parou de me beijar.
Fred dirigiu seu rosto para mim.
– T-tudo bem, Júlia. Você não é minha n-namorada ou algo do tipo. – ele ficou duro e começou a gaguejar. Sua voz parecia um tanto quanto nervosa, Fred não sabia onde pôr as mãos. Estavam inquietas. – Mas você foi sozinha ou...? – ele me perguntou.
– Na verdade, veja bem, eu fui buscar Mike, porque ele estava um pouco... Alterado. – dei o meu melhor sorriso amarelo. Fred mudou completamente sua expressão.
– O quê? Agora você virou babá de drogado? – ele se levantou num pulo – Toda vez é ele, toda vez Júlia! – Fred andava de um lado por outro. - Por isso não me atendeu, por isso não me respondeu! Porque estava com ele. Claro, Fred, seu burro! – ele parecia falar com si mesmo.
– Eu só fui ajudá-lo. – fui até ele – Pelo menos no começo.
– Como assim, “pelo menos no começo”? – ele me perguntou, e eu fiquei calada. Peguei um dos braços de Fred e o coloquei em minha cintura.
– Vem cá, olha pra mim. – peguei o queixo de Fred que olhava pra baixo, com a objetivo de fazê-lo olhar pra mim – Mesmo eu tendo Mike – ele bufou –, e os meus amigos esquisitos – juntei meu corpo ao dele, o abraçando, enquanto só um de seus braços me envolvia –, isso aqui é diferente de tudo. – disse dando um selinho.
Fred não fez nada, não falou nada. Na minha cabeça, aquilo ia dar certo, mas não. Me enganei. Ele tirou o braço que me envolvia e disse:
– Te encontro na apresentação, depois da aula. – e foi embora.

Fred:

Ótimo, Júlia era o homem da relação. No nosso caso, quem saía, se divertia bebendo e curtindo na boemia, era ela. E o meu papel como o macho da relação? Qual era?
Com certeza não é esse que estou fazendo agora, que é estar sentando em um dos degraus da escada principal, tentando não dar uma de gay, indo até lá prguntar quais foram exatamente seus passos naquele pub, e saber tudo o que ela fizera na noite passada.
Não, não iria fazer isso. Mesmo querendo muito, muito, muito mesmo.
Fred, o cara que nunca faz esse tipo de coisa, agora está se roendo por dentro, louco para ir atrás de uma aposta?
– Ah, que merda! – falei baixo, quando ouvi o sinal tocar para o intervalo. Saí da escada e fui direto para mesinha do pátio.
– Hey, man! Pensamos que tinha se afogado na pia. – Sousa falou, se referindo à minha escapada fingindo que ia ao banheiro.
– Queria eu, me afogar na porra da pia! – falei, me sentado sobre a mesa e procurando você sabe quem. – Queria eu... – falei, quando achei a tal com o BFF dela.
– Ih, problemas no paraíso darkside. – Guto disse, se sentando ao meu lado. Eu revirei os olhos. Porra, sou tão óbvio assim?
– Como vocês sabem? – perguntei.
– Ultimamente, você se preocupa com isso, só fala disso e só quer saber... – Hazz disse.
– Já entendi. – disse entediado.
– Agora se vira para dizer a ela que a bateria está lá no meu carro, porque eu não vou, nem fodendo, lá no outro lado do pátio – Hazz continuou dizendo.
– Puta merda, você deveria ter me falado isso antes de eu ter brigado com ela. Agora eu vou lá, com o rabo entre as pernas! Te odeio. E TUDO ISSO É POR SUA CAUSA! – explodi. Sem mais rodeios, saí de lá, indo ao encontro de Júlia e seus amigos punks.
Parei a poucos metros, vendo Sophia cutucar seu braço direito, chamando sua atenção para que visse quem estava à sua frente. Júlia me olhou com dúvida, enquanto eu estava me matando em pensamento. Procurei por Mike e não o encontrei, ele deveria estar fumando um baseado ou alguma coisa do tipo.
Júlia então, se levantou e veio até mim. Fez um coque em seu cabelo, que deixou seu pescoço delicioso a mostra. Se controla,Fred. Finalmente, chegou com os braços cruzados.
– O que é?
– A bateria está no carro do Harry. Antes de nos apresentarmos, temos que ir lá para pegar. – sem esperar que ela falasse, dei meia volta e fui embora.
Decidi beber água, então entrei no pátio principal, andando pelo corredor até um bebedouro. Abaixei minha cabeça para beber e senti alguém atrás de mim.
Desconfiado, fiquei ereto.
– Ora, ora. Se não é o famoso Frederico Maia. – quem tinha falado comigo, era ninguém menos que Mike.

Júlia:

– Porque o Fred foi tão grosso com você? – Cris me perguntou logo que me sentei ao seu lado, em um dos banquinhos da área descoberta do pátio, o lado dark do colégio. – Daqui deu pra ver a tensão entre vocês dois! Isso tudo foi só porque você dormiu na casa do Mike e está um caco para a apresentação? – eu não tinha contado ainda sobre mim e Fred. Minhas amigas eram lindas e fofas, mas não conseguiam ficar de boca fechada. Fora o fato de eu ficar com medo de quererem me julgar por estar saindo com Frederico Maia, o pegador do Westshefild.
– Ele é um idiota, amiga. Liga não. – Bia me abraçou, tentando me consolar. Sorri de lado, querendo contar a verdade, para que elas me ajudassem, mas o medo foi maior que eu. – Se você quiser, a gente nem sai com eles depois do showzinho de vocês. O que me diz, uh?
– Não, Bia. Eu não quero atrapalhar nada, a gente vai sim. Mas só vou ficar um pouquinho. – todas riram de mim por causa do jeito que falei.
– Ah, só espero que dessa vez o Harry olhe pra mim – Cris dizia, sonhadora – Eu quero tanto que isso aconteça, não vejo a hora. – ela olhou para ele do outro lado – Quando isso acontecer, nem sei o que vai ser de mim! Acho que vou ser tão feliz...
– Oh, princesa da Disney, vamos acordar?! – Bia estalava os dedos na cara de Cris. – Não vá se empolgar tanto, ouvi dizer que Harry é um cara legal e tal, mas tem seus defeitos, já aprontou demais, como naquela vez que ele quase transou com a menina e eles só não foram até o fim porque ela descobriu que o Judd estava filmando. – Cris murchou.
– Destruidora de sonhos! Eu ainda vou ter ele na minha mão, aí eu quero ver vocês falarem alguma coisa – ela batia seu dedo indicador na outra mão. – Ela vai comer aqui! Um dia!
– Falou a profeta. – Sophia disse – Voltemos ao caso, Fred idiota e Júlia chorando. ju, posso ser sincera? – assenti que sim – Acho que rola uma sintonia incrível entre vocês dois, uma energia poderosa e que tem um calor denso. E tenho certeza que isso – ela girou o indicador – ainda vai nos render bastante noites alcoólicas e chorosas.
– Porra! Ainda fala que quem é a profeta sou eu. Oh, Sophia, vem cá... Você sentiu tudo isso só de olhar pra eles daqui? – Cris brincou, e Sophia a respondeu, dando língua.
Até numa hora dessas minhas amigas são demais – mesmo falando tanta besteira!

Fred:

– E você não seria o Mike, seria?! – dei uma de desinformado.
– Nossa, para quem nunca deu valor para o nosso lado do pátio, você está sabendo bem! Mas espere, Frederico Maia agora dá valor ao nosso pátio! – senti sua voz azeda. – Na verdade, ele dá valor a uma certa pessoa, Júlia Torres. – ao ouvir o nome dela em sua boca, senti uma grande ira, uma grande força que vinha de dentro, pronta para sair a qualquer momento. – O que foi, Maia? – ele me perguntou, ao perceber minha cara de raiva. – Sabe, eu não entendo o que você quer com ela. – ele continuava a falar – Quero dizer, porque ela? – ele colocou sua mão no queixo. – Dentre todas as garotas, você escolheu JúliaTorres pra sacanear.
– Eu não quero sacanear com ela, nunca quis. – me ouvi dizendo, com todo ódio que sentia por aquele cara. Eu sei que o que falei foi mentira, mas desde o primeiro beijo eu sabia que não ia ter volta. E sabia também que a partir dali não queria mais sacanear com ju.
– Isso seria verdade mesmo? – ele perguntou irônico. – Eu sei muito bem como você é, Frederico Maia. – a cada vez que ele falava meu nome, mais eu tinha raiva dele. – “Eu sou foda, eu pego todas!” – ele me imitou com uma voz afeminada, sorriu e depois ficou sério. – Não com a minha amiga, não com Júlia. Sabe porquê, Frederico Maia? – cerrei meus punhos, esperando por uma futura briga – Porque ela tem a mim! E eu vou protegê-la de você ou de quem quiser fazer mal a ela.
– Você se acha dono dela. Pensa que tem direito de fazer o que quiser da vida dela, mas não tem. Eu cheguei para mudar isso, e vou mudar. – falei, quase gritando. Senti meus lábios crispando de tanto ódio.
Mike riu.
– Patético. – ele riu – Além de metido a playboy, é patético. – riu ainda mais. – Você nunca vai tomar o meu lugar na vida deju, nunca vai estar à altura de ser amigo, quem dirá outra coisa! – eu avancei – Oh! Ele é bravo! – me segurei um pouco para não acabar no chão com ele. Mike me deu um empurrão e eu bati na parede de azulejos gelados – E pra te provar o que estou falando sério, Júlia ontem ficou na minha casa porque saiu comigo e se drogou comigo. – ele pegou no colarinho da camisa do meu uniforme. – E só pra deixar claro: se eu souber que você fez alguma coisa com ela, eu te mato. – Mike me soltou com força e saiu, me deixando caído no chão.
Então quer dizer que Júlia além de sair com ele, se drogou, dormiu na casa dele e o pior, mentiu pra mim?

Júlia:

Era a hora da saída. Eu estava no portão do colégio esperando Fred aparecer para pegar a bateria, mas acima de tudo, me desculpar pelo o que fiz e contar toda a história sobre ontem.
Chutei as pedrinhas que tinha no chão, ainda esperando e decorando o que iria falar.
“Desculpa, Fred por tudo! Eu não quis isso, me perdoa! Eu juro que não faço...” Ia pensando, quando senti alguém tocar meu ombro. Meu coração disparou, pensando que era Maia,mas assim que me virei, meu coração, aos poucos, ia voltando ao normal.
– Cadê o Fred? – perguntei a Harrry, que estava com as chaves na não.
– Desculpa, ju, ele não vem. – ele falou, meio triste – Acho que aconteceu alguma parada, ou ele está mesmo chateado com você. Ele preferiu ir direto para o auditório. – ele abriu a mala do carro, mostrando sua bateria.
– Ele deve estar com raiva de mim. – me encostei no carro. – Eu fui burra e idiota.
– Wow! Você é a primeira menina que eu ouço dizer que foi burra e idiota em relação ao Fred. – ele sorriu, tirando as cases dos pratos.
– Ele teve tanta mulher assim? – perguntei com certa insegurança. – Digo, ele ficou com tanta menina? – Harry riu e parou de falar.
– Se eu disser que não, estaria mentindo. – olhei pra baixo, triste – Mas é verdade também que você, Júlia Torres, é primeira que o prendeu por tanto tempo. – ele falou como se soubesse de alguma coisa. Meus olhos ficaram arregalados de espanto – E olha que vocês ainda não ficaram! – Judd viu a minha cara e consertou: – Er, não estou dizendo que vocês vão ficar, me entenda... – ele falou, nervoso, e tive a certeza que ele não sabia de nada.
– Entendo, entendo perfeitamente. – sorri. Então quer dizer que eu era a primeira pessoa com quem Fred fica, mesmo “não ficando” por muito tempo? Dei um beijo na bochecha de Harry, em agradecimento pela informação, e o ajudei a levar as coisas para o auditório.

Chegando lá, minhas amigas estavam sentadas na terceira fileira. Passei perto do palco e elas me mandaram uns tchauzinhos básicos. Os meninos, menos Harry, claro, estavam na fileira atrás da delas. O professor Gerard estava no backstage e a gorda da diretora estava com uma caderneta em mãos para julgar as equipes. Denise e Philip, a burra e o nerd, estavam ajeitando algumas coisas eletrônicas. Adam ainda estava sumido e Fred... Onde estava Fred?
– Procurando alguém? – Sophia, que tinha chegado perto de mim sem eu ter notado, disse perto do meu ouvido, apontando discretamente para uma porta lateral perto do palco. Olhei-a, agradecida, e fui até Fred, que ainda não havia me notado.
Respirei fundo, nervosa com o meu reencontro com ele. Coloquei minhas mãos para trás, em sinal de inocência e fui até ele.
– Precisamos conversar. – eu falei, e pelo o que pareceu, Fred tomou um susto tão grande, que quase caiu da escadinha que ficava embaixo da porta.
– Eu não tenho nada pra conversar. – ele falou, seco, olhando para as cadeiras vazias. Ele fazia de tudo pra não olhar pra mim.
– Mas eu quero falar com você. – tentei ser mais convincente. Lá estava eu, fazendo uma coisa que nunca tinha feito, me rastejando por causa de um garoto. – E quero agora.
– Olha, mas que surpresa! Ela sabe ter opinião própria! – Fred ironizou – Achei que só fazia o que outros pediam. Acho que, quando eu estiver em algum pub, vou ligar para você e pedir para que durma lá em casa. Quem sabe, assim, você faz o que eu quero. – paralisei ao ouvir aquilo. Fred sabia! Ele sabia que eu tinha ido dormir na casa de Mike. E ele falou com as palavras tão fortes, como se eu tivesse ido transar com Mike. Segurei minhas lágrimas, para não desabar ali. Era assim que ele me via agora? Como uma menina que vai para um pub disposta a transar com um dos amigos?
Ouvi um baralho de porta bater, e tive a certeza de que Fred tinha pensando assim.

Fred:

Posso parecer meio boiola, mas doeu muito ter dito aquilo para ju. Eu sabia que ela não tinha transado com Mike, mas eu tinha que mostrar para ela o quão (lá vou eu, dar uma de viado aqui) machucado estava.
Fechei a porta na cara dela, porque ela não teve nem a coragem de desmentir o que eu tinha falado. Ela ficou lá, parada que nem uma estátua.
– E aí, preparado pro rock’n’roll? – ouvi Davi falar de dentro do backstage – Eu sei que não é a mesma coisa sem a gente, mas você supera! – ele apontou para o outros que estavam ao seu lado.
– Pode crer, tocar sem vocês me deixa triste, mas fazer o quê?! – fiz uma cara de tristeza e os meninos riram – Porra, qual é? Eu expressando minha paixão, meus sentimentos e vocês ficam rindo de mim?
– Pára de ser dramático! – Guto deu um pedala em mim – Você sabe que a gente te ama, mesmo você sendo pilantra e tocando com outra pessoa.
– Er, por falar nisso,Fred, quero falar com você depois. – Hazz disse sério. – Agora vai pra junto da sua dupla, que nós ficaremos te esperando pra sair, tá? – assenti com a cabeça e fui até Júlia, que estava sentada em uma das cadeiras da primeira fila.
– Já arrumei tudo da bateria. – ela disse com a voz baixa, sem me olhar. Assenti com a cabeça e prestei atenção na apresentação de Denise e Philip, que ia começar.
– Bem, estamos aqui para falar sobre redes sociais e como elas ajudam a promover uma pessoa, ou seja, como faz de uma pessoa desconhecida, uma das mais influentes na sociedade, mobilizando o modo de pensar, se vestir e etc. – Denise, a gostosa falou no microfone – Vocês vão ver um curta que a gente fez sobre isso. Philip, aperte o play. – ela ordenou, e o menino quatro-olhos apertou algo em seu notebook. O filme começou a ser rodado.
Júlia se remexia na cadeira constantemente, parecendo estar um pouco incomodada. Ela colocou sua mão no braço da cadeira e a deixou lá, aberta e receptiva. Por alguns instantes, pensei em colocar minha mão ali junto à dela, mas meu orgulho foi maior e não pus.
Ela me olhou de esguelha, e quando seus olhos encontram os meus, virou para frente. Eu ri internamente e fingi que nada havia acontecido.
– Já imaginou que isso poderia ser um encontro da gente? – ela falou baixinho, para que ninguém mais ouvisse – Iria ser o nosso primeiro encontro de verdade. A gente num cinema de verdade, vendo um filme de uma loira burra com um Hackernerd. – ela riu – Eu iria ficar com vergonha de te olhar, e você pensaria em como pegar minha mão, sem parecer idiota. – ela falou bobamente, linda – Ah, sei lá. Fiquei imaginando...
– Isso seria um encontro, se não estivéssemos no colégio e não tivéssemos uma briga do caralho. – eu falei, um pouco aborrecido – Mas isso não é um encontro e eu ainda estou com raiva de você.
– Cara, eu não dormi do jeito que você pensa que dormi. – ela disse num muxoxo.
– Não é só por isso, ju! – eu tinha parado de sussurrar e falado normal. Ouvi a Biscoito (diretora) fazer um “psiu” bem alto, me parando na mesma hora.
– E então, por que é? – Júlia sussurrou, mais uma vez olhando para trás, tentando ver se a Biscoitinho nos olhava. Depois, sem vergonha nenhuma, me olhou.
– Você mentiu, e ainda mente. Você se drogou, Júlia. Eu ia dizer que não esperava isso, mas depois que você fumou com ele, eu espero tudo. – eu disse com uma voz carregada. Júlia, ao me ouvir, fez uma cara de espanto. Alisou seus cabelos com a mão, nervosa.
– Com licença. – ela falou e saiu em direção ao backstage.

Júlia:

Foi pior que do que eu imaginava. Muito pior! Ouvir Fred dizer aquilo para mim foi muito triste e doloroso. Fred não sabia que agora suas palavras me mexiam comigo. Ele não acreditava em mim, não tinha confiança. E não o culpava.
Eu fiz aquelas coisas, não porque alguém me obrigou, eu fiz porque quis. Tudo bem, Mike teve certa participação nisso, mas quando um não quer, dois não fazem, certo?
Sentei no chão ao lado da cortina de veludo. Depois de Denise e Philip, nós iríamos nos apresentar, finalmente.
– É isso, Professor Gerard. Concluímos que tudo depende muito da opinião de cada um, sobre saber definir e selecionar o que é bom ou ruim para valorizar a sociedade hoje em dia. – Philip disse e todos aplaudiram.
Me levantei, apressada, já procurando por minha dupla para que pudéssemos começar a nos ajeitarmos com os instrumentos.
Minutos depois, peguei a bateria de Harry e a coloquei no meio do palco, ainda sem sinal de Fred. Arrumei os pratos e toda a parafernália, e pude ver, de cima do palco, minhas amigas conversando abertamente com os garotos. E, tipo, quando em milhões de anos, isso poderia acontecer? As meninas mais obscuras do colégio iam ser amigas dos mais populares, em que planeta? Bom, por aqui, isso ia funcionando razoavelmente bem.
– Cheguei. – Fred veio com a sua guitarra já no ombro, e com o amplificador na mão. Ele ajeitou todos os fios, plugou tudo o que deveria ser plugado. A porta do auditório bateu com força, fazendo com que todos os que estavam dentro do mesmo olhassem pra trás.
Era Mike. Ele havia prometido – mesmo não estando em seu estado normal – que ia me ver tocar. Olhei para Fred, que nem sequer fez o mesmo comigo. Só abaixou a cabeça e disse:
– Claro. – rindo, coçou seu nariz com a palheta já na mão – Pronta? – e agora, dessa vez, ele tinha se virado para me ver. Assenti com a cabeça, e então fiz a contagem.
Fred jogava sua cabeça ao som da batida e cantava pesado, profundo. Concentrei-me em fazer o melhor o possível, para que ele tivesse orgulho de mim. Fred riu em algumas partes da musica, demonstrado satisfação no que fazia.

Will dance if they want to dance
(E então dance se você quiser dançar)
Please brother take a chance
(Por favor irmão, se dê uma chance)
You know they're gonna go
(Você sabe que eles irão)
Which way they wanna go
(Em qual caminho quiserem seguir)
we know is that we don't know
(Tudo o que sabemos é que nós não sabemos)
How it's gonna be
(Como vai acontecer)
Please brother let it be
(Por favor, irmão, deixe acontecer)
Life on the other hand won't make you understand
(Esquivar-se da vida não vai nos deixar entender)
We're all part of the master plan
(Que somos todos, parte do plano-mestre)


Quando acabamos de tocar, todos no auditório nos aplaudiram de pé, até a gorducha da diretora, com dificuldade em unir suas mãos. Fred agradeceu fazendo reverência, e logo fiz o mesmo. Saí de onde estava, ficando de pé com as baquetas na mão, e me juntei a ele.
Frederico pegou minha mão e a levantou. Em seguida, baixou seu tronco novamente. Saímos do palco correndo. Fred me pegou no colo, rindo.
– A gente conseguiu! A gente conseguiu! Você viu a cara da diretora quando me viu tocar, viu, Júlia? – ele falava que nem uma criança, de tão feliz que tava.
– Eu vi sim. – falei orgulhosa. Eu ia dar um beijo em Fred, quando ouvimos a gorda falar:
– Frederico, meu rapaz, estou orgulhosa você. – Fred me colocou no chão – Você foi divino! E a Srta.Torres, então? Não sabia que tinha tanto talento! Além de fazer protestos, também toca bateria? – ela pôs sua mão gordinha sobre o peito esquerdo – Ai, meu coração! É desses alunos que meu colégio precisa, talentosos e magníficos. Conversaremos mais depois, sobre como irá ficar a nota de vocês... – ela finalmente nos deixou.
– Porra, de aluno problema eu passei a ser talentoso e magnífico? Preciso fazer mais alguns shows desses. – ele riu, e o silêncio ficou entre nós.
– Er, a gente precisa conversar. – venci a vergonha e o silêncio constrangedor alguns segundos depois – Você não quer...
– Fred! – os garotos gritaram. Porra, todo mundo tinha que nos atrapalhar? – Foi lindo, a gente tem que fazer esse cover, você foi muito bom – os meninos ficaram envolta de Fred, como se estivessem o engolindo, e eu, coitada de mim, fiquei de fora da roda observando a felicidade dele com os amigos.
– E você, Júlia, foi demais! Com certeza quero umas aulas com você. Quero muito! – aparentemente, Harry havia notado minha presença e veio falar comigo, assim como os outros fizeram depois.
Depois de falar com todos, fui ver minhas amigas.

Fred:

Meus amigos haviam me deixado esperando. Eles foram se encontrar com as meninas, para irmos juntos a alguma lanchonete. Andei um pouco em direção a porta do auditório, quem estava se apresentando agora era Adam, o assassino. Ele ainda discutia com o professor sobre as fotos que tinha tirado. Ele chamava de arte, pichação e vandalismo, enquanto o professor estava com o celular na mão dizendo que iria chamar a policia, porque aquilo era um crime. Se eu fosse o Sr. Gerard, não discordaria de Adam, porque não queria acordar com a boca cheia de formigas no dia seguinte.
Vi Júlia gesticular ao longe com Mike, que ouvia caladinho o que ela falava. Eu ri. Mike tentava falar, mas era sempre interrompido por ju. Ela gesticulava, colocava o dedo na cara dele. Eu estava gostando daquilo, na real, estava amando. Quando eu ia cantar o hino da vitória, eles se abraçaram e Júlia seguiu seu caminho até as meninas.
Muito brochante.


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