Como Ser Um Pegador Em 12 Lições. escrita por Jess B


Capítulo 3
Don't come too close, you don't wanna see my ghost.




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2ª Lição: Tente chegar na mina como quem não quer nada.
Quando chegar ao alvo, a trate como uma pessoa normal. Não mostre que tem segundas e terceiras intenções. Mostre que pode ser tudo, menos o que realmente é:
Um caçador.

Fred:

Era hoje.
Hoje tinha que ser o dia de chegar chegando na freak.
Mas, calma.
Como eu tinha uma larga experiência no assunto – pegar mulher, claro – eu resolvi que tinha me aproximar aos poucos, de grão em grão, pra ela ter confiança em mim. Aí eu dou o bote.
Vou ao baile idiota com ela e ganho a aposta.
Tudo certo.
Eu estava no portão do colégio vendo as pessoas entrarem, mas principalmente as meninas. Fumava meu cigarro enquanto via meus amigos vindo até a mim.
– Pensando na vida? –Harry perguntou.
– Nah. Só numa estratégia pra abordar a from hell! E aí, qual é a boa? – perguntei jogando a bituca do cigarro no chão e amassando-a.
– Vai rolar uma festa na casa da Sam. E tu tá ligado quando tem festa lá, né?
– Perdição total! – Guto, Davi e eu gritamos que nem três crianças que acabaram de ganhar um presente do Papai Noel. As festas na casa da Samantha eram clássicas, as épicas! Tudo rolava lá. Na última – que eu lembro – eu acordei com três meninas, uma garrafa de champanhe, e só de boxers. Foi foda.
– E quando vai ser esse evento maravilhoso? –perguntei.
– No sábado.
– Vou sim, posso sim e não tenho ninguém que manda em mim. – falei e todos riram.
– Então formou! Vou marcar a nossa ilustre presença nessa crazy party e depois falo com vocês. – Harry foi entrando no pátio.
Ele já sabia o que ia acontecer. Bebida liberada, muita menina bonita e uma transa perfeita com a Sam. Toda vez era isso.
– E aí, vai pedir o que pra Júlia hoje? Um lápis de olho ou um esmalte preto? – Guto tirou com a minha cara e lhe dei um belo dedo do meio.
– Não fode.
O sinal tinha tocado, e nem sinal de Júlia. No fundo, eu esperava vê-la entrar no colégio. Nem sei por que, mas esperava.
Desisti, entrando no pátio e seguindo pra sala.
É, tinha que conseguir pelo menos uma conversa decente com a Torres-mãos-de-tesoura.

Júlia:

Eram oito da manhã e eu ainda estava na rua de casa com cara de sono e ouvindo Sex Pistols. Pensei no sumiço de Mike. Desde ontem que não falava com ele.
Ele me deixou em casa como havia planejado e depois foi embora. Quando ele faz esse tipo de coisa, eu sei o que ele anda aprontando. E ele sabe que eu sei – o que ele apronta me deixa puta – e ele não faz nada pra mudar.
Ele ia ver.
Dobrei a esquina, avistando o prédio antigo de tijolos avermelhados do meu querido colégio. O bom de morar perto do colégio era que dava pra ir a pé, e tinha a opção de cabular à vontade. O ruim era que se ligassem pra sua mãe, ela não demoraria tanto.
Como sempre, cheguei atrasada e não havia mais ninguém no pátio. O porteiro, José, meu brother, me deixou entrar sem ir pra coordenação. Amo ele. Suspirei.
Aquele pátio sem ninguém... O silêncio era acolhedor. Eu me sentia à vontade sozinha naquele pátio. Sem olhares julgadores, sem pessoas cochichando sobre você, sem a tensão de pensar que alguém iria te humilhar em público.
Acreditem, eles faziam isso sem dó e nem piedade.
Chega de sessão descarrego emocional, vamos pra aula.

Na hora da saída...
– Pois é meninas, to indo pro tormento!
– Cadê o Mike pra te avisar que tá na hora? – Sophia perguntou.
– Ele não veio hoje. – todas me olharam. – É, eu sei. Acho que ele teve algum probleminha em casa.
– Júlia, para de inventar... Nós sabemos qual é o problema dele. Sabemos muito bem.
– É,não é de hoje que a gente sabe que Mike usa drogas. – Cris falou. Entendeu por que minha mãe não curtia minha amizade com Mike?
– Cara, já falei pra ele parar de usar! Mas ele não me ouve. Promete e depois volta, parece que é mais forte que ele. – falei numa voz chorosa. Mike era como um irmão pra mim, e era triste vê-lo numa situação dessas.
– Eu sei, amiga. Mas o Mike já é bem grandinho pra saber o que é certo e o que é errado. Eu só não gosto de ver quando ele te oferece, ou manda você experimentar, e você faz o que ele quer. – Cris falou.
– Essa coisa de me oferecer e eu pegar, já passou. Na última vez, quase não voltei pra casa! Deus me livre! – é mano, o Mike tinha essa mania de me oferecer drogas, mas como ele tinha um poder de persuasão em mim, eu aceitava de boa. E como disse, na última vez eu tava tão mal, tão chapada, que não consegui voltar pra casa. Tive que esperar o efeito passar.
E não, não era maconha.
A gente tava numa rave, rolou de ele me dar uma balinha, e a noite passou tão rápida que só lembro de flashes dela. E depois, rolou de Mike me dar outra. E só me lembro de ficar deitada numa grama, com ele fazendo carinho na minha cabeça, dizendo que eu estava bem, mas precisando descansar e esperar a parada sair do meu organismo. Depois, só lembro-me de estar no meu quarto, no dia seguinte. Fim.
– Nós adoramos o Mike. Mas não gostamos dessa atitude. Que amizade da porra é essa que gosta de proteger, mas gosta de influenciar quanto ao uso de drogas? – Bia estava séria. E ela tinha razão. Precisava rever os conceitos sobre a amizade de Mike.
– Vocês estão certas. Vou ter uma conversa séria com o Mike e pedir pra ele parar com isso, ou então me perde. Mas lembrem-se que ele me ajudou quando eu precisei, e por isso gosto muito dele. Mike foi o único que me deu a mão...
– Nós sabemos disso. Ele foi o único porque você só tinha ele de amigo, mas agora a coisa mudou. Não estou dizendo que é pra deixar de ser amiga dele. É só rever as coisas que ele fez, conversar pra ver se muda. Entendeu? – Beatriz disse fazendo carinho no meu braço. Eu tinha sorte por ter elas como amigas.
– Vou ver o que posso fazer. Agora, tenho que ir. Beijo!
E assim, com a história de Mike-eu-amo-as-drogas, fui pra sala de estudos.
Opa. Tinha esquecido quem eu ia ver lá.
Respira. São só duas horas entre quatro paredes com um dos caras mais chatos e – mesmo não querendo admitir – o mais lindo do colégio.

Fred:
Júlia tinha chegou e ocupou a mesma cadeira de ontem. Pegou seu inseparável Ipod e começou a ouvi-lo. Nem olhou pra minha cara quando eu tentei fazer meu sorriso galanteador.
Peguei meu caderno e comecei a escrever coisas aleatórias.
She's just a loner with a sexy attitude.
Escrevi isso quando estava lembrando de seu rosto dormindo com toda aquela roupa preta e um biquinho. Pra mim, ela estava sexy.
Foi quando o professor chegou.
– Trouxe um presentinho pra vocês!
– É de comer, professor? – a loira gostosa perguntou. Dei uma risada e ela olhou pra trás. Pisquei e ela me deu um sorriso safado.
Qual era o nome dela mesmo?
– Não, Denise, não é de comer. – Denise (já sei o nome, só falta o telefone). – Bem melhor! Como vocês sabem, a diretora me pediu pra fazer uma atividade relacionada à arte e música, então tive uma grande ideia. Vocês vão se juntar em duplas pra fazer qualquer coisa. Música, áudio-visual...O que quiserem! Vai ser genial! – ele falou com os olhos brilhando.
Quando é que uma atividade qualquer, de qualquer matéria, era melhor que COMER?
E outra, esse cara não sabe contar não? Éramos cinco! CINCO.
– Professor, somos cinco. Vai sobrar alguém e eu não me importo em ser esse alguém. – ouvi uma voz suave e educada vindo de trás. Olhei por cima dos ombros e era Júlia.
Peraí. A menina ia fazer sozinha um trabalho que seria ser uma puta de uma chance de ficar perto dela?
Nem fodendo.
– Não sei se você se importa, professor, mas eu queria fazer com a minha ex-colega de classe, a Júlia. Seria uma chance de conhecê-la melhor antes da formatura. Ia ser, pra mim, muito chato ver daqui uns anos a minha foto de formatura e não conhecer a metade das pessoas que estão nela.
– Tudo bem, Maia. Vai querer ficar com ele, Torres? – então engoli em seco olhando pra trás e vi uma Júlia chocada. Eu nem sei de onde tirei tanta merda, mas tava desesperado e aquela era uma ótima oportunidade. Tinha que arriscar. E Júlia balançou a cabeça, ainda calada. – Ok, então. Temos a primeira dupla. Quem vai ficar sozinho? – o professor perguntou e o Adam levantou a mão – Certo. Podem ir pra qualquer lugar do colégio pra expor suas ideias. E Adam, se quiser compartilhar a sua comigo, fique à vontade. E lembrem-se: quero vocês aqui às 15h15min. Vão.

Júlia:

Que merda era aquela?
Não sério. Que merda era aquela? O que esse menino tinha falado? O cara nunca teve interesse em me conhecer, saber como eu sou, e agora estava incomodado com o fato de tirar foto na formatura sem falar comigo. WTF?
Caminhei até a área livre do colégio sem olhar pra trás pra saber se ele havia me seguido ou não. Sentei numa árvore de frente ao campo de futebol, tentando achar uma razão praquilo.
E não vinha nada, nada mesmo.
Comecei a roer a unha, e louca pra achar uma só razão.
– Você anda rápido, pra uma menina que fuma. – uma voz cansada disse ao meu lado e eu dei um pulo de susto. – Sério, o que tem com as árvores? Sempre tá em uma. – Fred falou com a mão no peito e agachado em sinal de cansaço. Sentou perto de mim ofegante.
– Eu sou que nem o Serguei, gosto de fazer sexo com a natureza. – disse o olhando séria e depois virei o rosto pra frente, fitando o campo.
– Eu já desconfiava dessa sua tara. Mas ouvir você dizendo é melhor, acredite. – segurei o riso.
– Fale o que quer de mim. São drogas? Porque eu posso te arranjar um vend... – fui interrompida com uma risada gostosa. Gostosa demais pro meu gosto.
– Então tudo o que falam de você é verdade? A menina que é ex-namorada de um traficante? – ele perguntou e depois parou de rir – Não se preocupe, eu não quero drogas. Eu só quero... Sua amizade. – oi? Por essa eu não esperava.
Frederico Maia querendo minha amizade?Aí tinha coisa.
– Por quê? – perguntei receosa.
– Por que eu quero sua amizade. – riu nervoso – As pessoas não precisam de motivo pra ter uma amizade, Júlia. – coçou a nuca. Eu deixei Frederico Maia nervoso? O cara que sempre teve confiança pra conversar com as meninas? Sou foda.
Não, peraí. Acho que esse nervosismo todo era medo de falar comigo mesmo.
Merda.
– Mas vindo de você,tudo é possível. E se toda essa aproximação é pra fazer algum pedido, fale agora.

Fred:
Júlia falou aquilo e a minha língua tava coçando pra dizer a verdade e pedir por tudo que era mais sagrado pra me ajudar a ganhar a aposta. Mas como cagão que sou e já tava morrendo de medo de toda aquela história de drogas e ex-namorado traficante, fiquei calado.
– Não tem nada por trás disso, eu juro. Só tenho curiosidade de saber como você é, sei lá. Acho que você tá me julgando mal. Logo você, que não gosta dessas coisas, de pré-julgamentos... – ela me olhou com espanto. Como se eu tivesse falado uma coisa importante sobre sua personalidade.
Ponto pra mim.
– Você não vai querer ser meu amigo. – Júlia falou séria ainda olhando pro campo, tensa, insegura.
– Agora quem faz a pergunta sou eu: por quê?
– Simples, Maia. Você não vai querer ser amigo de uma estranha, que só veste preto e é uma possível drogada. Somos de mundo diferentes, amigos de pessoas diferentes. – ela se levantou e saiu andando, me deixando só.
Essa menina tinha problemas. Ela fugia toda vez que eu tentava manter uma conversação agradável.
Já tava puto. Como ela me deixa lá falando sozinho pela segunda vez? Eu decido a hora que a conversa acaba. Eu decido quando ela vai embora.
Parei com o momento de egocêntrico.
“Mundos diferentes”. Que clichê da porra era aquele? Minha filha, só quero ser seu amigo. Aí, depois, pensamos em mundos diferentes. Os dois partem pros seus mundos, eu com as cem pratas, e você volta a ouvir Evanescence.
Levantei-me com raiva e a procurei com os olhos. Ela tava perto da cantina. Fui até lá, pensando no que falaria.
Não posso ser direto, isso a assustaria mais, não posso falar minhas segundas intenções e nem da minha aposta. Eu tinha que ser simpático e agradável. Tudo pra ela não desconfiar.
Cheguei perto dela – que estava sentada na escada – e sentei ao seu lado.
– Você está sempre fugindo. Como espera que alguém queira ser amigo de uma pessoa fujona como você? – falei arrancando um sorrisinho dela – Ah, é isso. Gosto de ver sorrisos simpáticos. – dei um murrinho no ombro dela, não vi quando sua mão quis tirar a minha. Nossas mãos se chocaram e eu senti um arrepio estranho. Sério, eu nunca tinha sentido isso, era um arrepio misturado com calor... Será que Júlia fazia parte de algum grupo de wicca e tinha poderes? Tipo, quem a tocasse sentiria calor com arrepios na espinha?
– Você pode, por favor, tirar sua mão daí? –falou grossa e eu acordei de um tipo de transe. Não tinha sacado que minha mão continuava na dela. Tirei rápido e fiquei com vergonha. Ótimo, Fred. Você nunca ficou com vergonha de nenhuma menina, já tocou em vários lugares, até nos mais tensos. Mas quando toca no ombro do ser mais estranho da escola, sente vergonha. Vira homem, pô!
– Obrigada. – percebi que Júlia estava corada. – Eu não sei o que você pretende com isso, mas fique ciente de que eu vou estar de olho sempre!
– Sim, senhora. – coloquei minha mão na testa como se fosse um soldado – Meu Deus, quanto drama! Imagino o que os seus amigos fizeram pra se tornarem seus amigos. Tiveram provas, sacrifícios?
– Não, mas no seu caso, até que é uma possibilidade. Mas só porque eu estou tendo essa conversa com você, nós não vamos andar por aí de mãos dadas e cantando e saltitando.
– Ainda bem. Saltitar é coisa do Guto. – ela riu. Fiquei mais à vontade colocando os braços encostados no degrau acima. – Você conhece os guys?
– Só de vista. – ela ainda estava incomoda com a conversa, acho que ainda estava desconfiada. Vou tentar ser o mais normal possível, querendo demonstrar confiança falando dos meus amigos e da minha vida, será que cola?
– Cara, eles são os melhores. Os mais engraçados! Você tem conhecê-los. – e mais uma vez, no olhar de Júlia transpareceu dúvida. – Eu não acredito que você ainda está pensando no negócio de mundos diferentes! Se você fala comigo, tem que falar com meus amigos também. E não to nem aí pro que você pensa. – joguei na lata. Pelo menos uma verdade tinha que sair da minha boca, certo?
– Finalmente! Alguma atitude em suas palavras. Eu sei que esse papo de amigos e blábláblá é puro drama, mas eu tenho medo de como vou ser recebida. E não to afim de, no futuro, pagar psicólogo pra xingar vocês em voz alta.
– Não precisa. É só mandar todo mundo praquele lugar na mesma hora. – eu disse como se fosse óbvio. Ela riu da minha cara.
– Não, é sério. Vamos ficar ó na detenção mesmo. Ih, já tá na nossa hora. – ela falou e me deu tchau fofo, com um sorrisinho e uma piscadinha.
Ela e sua mania de sair correndo.
Mas, pelo menos, foi um puta avanço.
Quem é que vai perder a aposta mesmo?
Júlia:

Banho, música alta, xampu na cabeça e gritaria. Bem-vindo à minha vida. Eu dançava freneticamente no boxe do banheiro, debaixo da ducha quente. Cantava alto e arriscava notas altas sem me importar se estava fazendo bonito ou não.
Eu estava alegrinha e nem sabia por que.
Ou por causa de quem.
Na verdade, sabia. Mas não queria pôr grandes expectativas pra não ter grandes desilusões. Esse era meu lema desde o último namoro. Aprendi com o traste falecido (falecido pra mim) que não era legal ter expectativas num relacionamento. Sério.
Mas quem falou em namoro? O cara só queria ser meu amigo. AMIGO. Sem mãos dadas, beijos perfeitos e amassos no sofá de casa.
O mínimo que faríamos seria assistir Star Wars na minha casa. E se ele não gostasse de Star Wars, com certeza eu reveria meus conceitos sobre a amizade. Tem que gostar desse filme!
Ouvi baterem na porta com muita força.
– Júlia, eu não sou obrigada a ouvir seus gritos e sua música idiota na minha casa! – ótimo, minha mãe com sua delicadeza. Revirei os olhos, ainda com xampu na cabeça. Saí do boxe indo até o som pra abaixar o volume.
Uma coisa que eu odiava era Fredar banho sem música. Era um ritual entrar no banheiro, ligar o som, tirar a roupa, fazer xixi, ligar a ducha, colocar as mãos pra testar a temperatura da água e, finalmente, Fredar banho. Mas com a minha mãe em casa, isso não era bom. Pelo menos pra ela.
Banho Fredado, cheirosa, pijama do Incrível Mundo de Jack vestido, fui pra internet pra falar com as meninas que iriam me ajudar amanhã.
Olhei pro chão, perto da minha mesa, e sorri vendo um faixa enrolada. Amanhã seria mais um dia de luta.

Fred:

03h20min da manhã. Ótimo. Muito bom mesmo. Eu tinha que dormir, ter bons sonhos, mas tudo o que se passava na minha cabeça era Júlia.
A menina mais esquisita que conheço, e ao mesmo tempo mais interessante. Uma hora ela era toda cheia de frescura, drama pra conversar. Em outro momento, ela é bonitinha, dormindo com biquinho, dando tchau simpático, digno de uma menina normal com direito a piscadela.
Ela era uma incógnita.
Isso a deixava cada vez mais interessante. Durante toda a madrugada, fiquei pensando... Não sobre o jeito como conseguiria um beijo dela ou de como conseguiria convencê-la a ir ao Baile de Verão comigo.
Nada disso.
Fiquei imaginando como seria ela na vida real. Fora daquele estereótipo de menina from hell. Imaginei quais foram suas experiências de vida pra chegar onde ela está: famosa por defender as suas causas e por ser uma das drogadas do colégio.
Só de pensar por que situações ela passou, me deu um arrepio e um sentimento de proteção. Coisa que nunca tinha sentido, só com os dudes. Estranho.
Mesmo sentindo isso, tive que me focar na minha prenda por fazer merda com Harry. Já tinha conseguido o pior, ter uma conversa normal com ela, agora era partir pro plano principal.
Tentar ficar com ela até o Baile.
Rebel, Rebel me despertou de um sonhos mais bizarros que já tive na vida. Eu tava quase pegando a Beyoncé. Foi mal, Jay-Z. Acordei com alguém me empurrando e quase pulei da cama.
– Qual foi a brincadeira que vocês aprontaram pra cima de mim? – disse, fazendo uns movimentos ninja.
– Calma, dude. Sou eu, Davi. – ele me chacoalhou e então percebi que não havia brincadeira alguma. Suspirei aliviado – É que você não acordava, mesmo com David Bowie cantando aí.
– Valeu, cara. Pode ir que eu vou Fredar banho.

Dor na cabeça, sono acumulado, mau-humor... O dia só tava começando e eu já tava pedindo pra terminar.

No Colégio...


– ÃO, ÃO, ÃO! BANHEIRO SUJO NÃO! ÃO, ÃO, ÃO! BANHEIRO SUJO NÃO! – ouvi assim que entrei no colégio.
– Mas que porra é essa? – Harry perguntou mais assustado que eu.
– É a Torres fazendo mais um dos seus protestos. – José, o porteiro mexicano, falou. Adentrei o colégio, mais curioso do que surpreso. Era típico dela fazer esses protestos, e as causas eram o mais engraçado da coisa. No último, semestre passado, ju estava fazendo um protesto pra que os caras do time de vôlei tivessem uma nova rede e melhores condições de treino. Ela tinha levado uma faixa enorme e pendurado na fachada do colégio, pulava pra cima e pra baixo, distribuía panfletos tentando convencer a galera a fazer uma vaquinha pra comprar a nova rede e ainda fazia uns truques com a bola de vôlei. Hilário.
Claro que suas amigas não ficavam atrás. Todas as três – cujos nomes não sei – ficavam ao lado de Júlia em todos os movimentos inventados por ela. Isso que é amizade.
– Que lindo, a sua mina pagando de Che Guevara! – Davi falou alto. Por que ele sempre era o linguarudo da galera, hein?
– PSIU! – coloquei meu dedo indicador na boca – Cala boca, porra! Ela ainda não sabe que vai ficar comigo, e a escola não está preparada pra esse choque cultural. Quero ir aos poucos. – Os viadinhos (Harry e Guto) riam que se mijavam toda vez que o assunto Júlia e escola se juntavam.
Tava na cara que eu ia pagar o maior mico quando todo mundo souber que fiquei com ela. E se eu me queimar com as garotas?
Mas eu posso fazer uma propangada dizendo que eu sou tão bom que até a estranha quis.
Olha aí. O lado positivo das coisas me anima.
– Ok, que merda é aquela que tá escrita na faixa?- Judd perguntou, apontando pra faixa presa na grade do campo.
“Queremos melhoramentos nos banheiros femininos! Chega de sujeira, de poucos papeis higiênicos e vasos mais sujos que em um banheiro público. Pagamos todo mês esse colégio, e o mínimo que queremos é ter um banheiro LIMPO!”
Ao invés de a palavra “limpo” terminar com “O”, terminava com o palavra “limpo” invés de terminar com “o” terminava com osímbolo do feminismo. Eu ri. Era claro que aquilo era ideia de Júlia. Aliás, tudo era. A faixa, o palanque, suas amiguinhas queridas distribuindo os panfletos – como sempre – e Júlia gritando a pleno pulmões.
Típico de Torres.
– Vai lá, Fred. Dizer que tá apoiando a causa. Afinal, você é um dos frequentadores do banheiro feminino. – Guto fez graça e eu dei o dedo pra ele. – Cara, é só dizer que tá apoiando a parada dela. Duvido que ela não vá gostar de saber que tá curtindo o que ela faz.
– É, dude! O Guto tá certo, já é um passo pra ficar amigo dela. – Davi falou, me empurrando pra frente.
– Vocês estão certos. É só ir lá, dizer “bom trabalho!”, e sair correndo. Tudo pra ninguém me ver falando com ela. – disse, saindo e ouvindo meus grandes amigos rirem. Ótimo, virei motivo de piada.
Fui em direção ao campo, com o coração batendo rápido. É muita adrenalina falar com Júlia sem que ninguém perceba.
Me aproximei, Júlia permanecia com o alto-falante na mão, entregando papel com suas amigas. As pessoas passavam sem dar importância, outras jogavam os papeis na cara dela. Era meio chato ver isso, humilhante, mas ju não tava nem aí. Entregava os papeis de boa.
– Fala, Júlia. – disse baixinho.
– Oi, Frederico. –falou mais baixo do que eu, e olhou pra amigas como se tivesse vergonha de falar comigo. Querida, você tá falando com o cara mais gato do colégio, orgulhe-se!
– Banheiros femininos sujos? Que vergonha, vou ter uma conversa séria com a Boi, quer dizer, a diretora. – ela riu da minha piadinha e me entregou o papel.
– Venha fazer parte dessa luta. Banheiro limpo para todos! – ela gritou depois de ter me dado o bendito papel, fazendo com que a atenção de geral voltasse pra gente. Valeu Torres.
– Vou indo, falo com você depois. – disse, saindo antes que meu filme queimasse mais.

Júlia:

Fred veio falar comigo no meio de todo mundo?
Beleza que rola uma vergonha da minha parte. Imagina a galera do darkside me ver conversando com ele? Suicídio social, mas to nem aí. Ele veio falar comigo no meio do meu protesto sobre banheiros sujos.
Fazendo a dançinha da vitória. Não, ju, aqui não. Tem muita gente!
Aliás, sabia que o nosso banheiro é podre, todo cagado, sem papel higiênico e ainda por cima não tem sabonete? Que raio de escola era aquela?
O bom desse protesto era que alguma coisa se resolveu. Medidas enérgicas dão resultados ótimos. A diretora – ou Boi, como oMaia gosta de chamar – veio me dizer que era pra parar com aquilo e concordou em conversar pra saber quais eram as necessidades dos banheiros femininos.
Vale responder todas?
Bom, depois desse começo de manhã super agitado, era hora do intervalo. Sentei no lado sombrio e tentei esconder o cigarro que estava fumando.Trago bem dado, dia amado.Era o que eu costumava dizer.
Mike, meu querido amigo-estranho, veio pra escola, graças à Deus. Ele me explicou o que tinha acontecido. Disse que teve problemas com o pai, que mora em Liverpool, mas eu não acreditei.
– Seu nariz tem uma espinha. – ele tocou meu nariz, fazendo cócegas, e eu ri como uma criança. Uma coisa era fato: eu amava o tempo que passava com ele. Não importava onde, se era com ele, tava tudo de boa.
– Tem espinha coisa nenhuma. – tirei a mão dele com um tapa. Mike a segurou e me olhou nos olhos. Engoli em seco.
Ok, olhar estranho. Profundo e estranho.
Escutei uma risada que vinha de uma mesa do outro lado do pátio, um grupo de meninos rodeado de garotas bonitas. Todos estavam rindo, menos um garoto.
Por que aquele garoto estava olhando pra mim? Digo, pra mim e pro cara que segurava minha mão com força. E seus olhos eram tão intrigantes que tentei decifrar o que eles passavam, mas não consegui.
Afinal, por que Fred nos olhava com aquela intensidade?


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