Como Ser Um Pegador Em 12 Lições. escrita por Jess B


Capítulo 11
Ok, time to escape!




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Na calçada suja podia se ver três amigas. Pessoas vestindo preto, couro, jaquetas e de aparências um pouco duvidosas passavam sem ao menos notar o que se passava com aquelas três meninas.
Duas delas estavam desesperadas, quase chorando, enquanto a outra estava deitada com o corpo mole, sob o colo de uma das amigas.
Uma delas alisava o rosto da amiga desmaiada. O que seria dela?
– ju, acorda por favor. – Beatriz falou baixinho no ouvido da amiga – Não adianta, Cris. Ela não acorda.Já tentei de tudo! Já chamei, já dei tapas no rosto e nada! Júlia apagou mesmo! – Beatriz se dirigiu à amiga que continuava sentada com o celular em sua mão.
–Tudo que a gente tem que fazer é esperar – Cris disse calmamente – Já liguei pra Sophia e ela vai buscar ajuda. Agora nos resta ter esperança que ju acorde daqui pra lá.
–Só espero que a Sophia venha logo, eu to ficando com medo – Beatriz olhou pra Júlia que tinha a cabeça em seu colo – Já faz tempo que ela apagou. – e mais uma vez alisou o rosto da amiga.
– Ai. – Cris suspirou – ju tem que parar de fazer isso. Eu não agüento mais, Bia. – Cris parecia cansada das coisas que sua amiga fazia – Ela sempre faz isso quando o Mike ta por perto, sempre! Ele tem um grande poder sobre ela. – falou pensativa.
–Mas a gente vai fazer o que? Você sabe muito bem que a ju nunca nos deixou intrometer na amizade deles – Bia falou.
– É verdade, mas ta na hora de mudar isso. Mike não faz bem pra ela. A prova ta aqui – Cris apontou pra amiga – É obvio que isso não irá acabar bem.
– E ele, hein? Jogou ela pra gente já assim! – Beatriz falou com um jeito de ódio. Sem dúvidas, Beatriz odiava Mike.
– Ele é um grande filho de uma puta! – Cris elevou a voz – Ele ainda vai ver a fúria das minhas mãos! – Cris falou com tanta raiva que se não fosse dramático, seria cômico.
–Até parece que você desse tamanhinho ia bater num cara do tamanho de Mike – Bia riu um pouco da amiga bravinha. Cris deu a língua e quando foi responder, seus olhos foram encandeados por um farol forte de carro.
– Parece que Sophia chegou com a ajuda. – Cris disse ao perceber quem estava no carro.



Fred:

Saí do carro, batendo a porta atrás de mim. Fui correndo em direção às meninas sem esperar meus amigos. Vi Júlia deitada com uma expressão de inconsciência e um aperto no peito surgiu.
–O que ela tomou? O que ela usou?! – fui perguntando nervoso e desesperado. Suas amigas me olharam um pouco assustadas.
– Eu não sei. – Bia respondeu – Quando o Mike a trouxe, ju já estava assim, desacordada.
– Mike. – falei entre dentes. – Me resolvo depois com ele. –me abaixei pra a ver de perto, peguei o rosto de ju com as mãos. Ela parecia estar tendo um sono forte e profundo, poderia dizer que estava até sonhando. Coloquei-a de volta no colo de Bia e me levantei. Suspirei pesado. – Não vai caber oito pessoas na Eco. – falei me referindo ao carro. – Caras, vocês se importam em ir de táxi pra casa? – olhei pro meus amigos, que assentiram sem titubear. Eles não sabiam o que fazer naquele momento. Ficaram parados olhando o tipo de gente que andava por ali. Vi Davi se aproximando de Bia, dando um sorriso calmo como se tivesse falando “calma, tudo está bem agora” o que me deixou bastante surpreso. Davi não era um cara que passava isso pra meninas que ele estava interessado. Na maioria das vezes, ele passava um “quero ter você” e pronto. Simples assim.
– Levarei as meninas pra casa. – avisei a todos.
– Fred, se você quiser, ela pode dormir lá em casa! – Cris se levantou e veio até mim.
– Não, ela vai pra minha casa. – falei autoritário – Quem vai cuidar dela sou eu. – Cris pareceu entender minhas palavras e foi direto para Sophia, que estava no carro e continuava um pouco chorosa.
–Quer ajuda pra levar ela pro carro, dude? – Guto perguntou e eu balancei a cabeça positivamente. Fomos até Beatriz que continuava com a cabeça de ju em seu colo. Júlia daquele jeito estava linda. Até dando trabalho e sendo incorrigivelmente idiota, era linda. Dava pra entender?
– Vou pegar ela no colo e você abre a porta. – falei e ele assentiu. Peguei Júlia e seu corpo estava mole, e suas mãos frias. –Abre a porta do co-piloto. – Andrelli seguiu minhas instruções. Coloquei ju sentada, pus sua cabeça encostada no apoio do banco e por fim, coloquei nela o cinto. – Valeu, Guto. Vou levar as meninas e depois vou pra casa com ela, avisa os caras que já estou indo, ta? – disse.Andrelli chegou perto de mim, colocando sua mão em meu ombro.
– Nunca pensei que estaríamos aqui ajudando. – disse sério. – Isso mostra o quanto você mudou, e é por isso que gosto tanto dela. – ele apontou com a cabeça pra Júlia. Ele saiu me deixando sozinho vendo meus amigos conversando com as meninas.
E foi ali que percebi que as nossas vidas tinham mudado mesmo sem termos percebido.
– Vai, Fred! – Hazz gritou – Leve as meninas que a gente pega um táxi, ta ficando tarde. – ele disse preocupado. Olhei-o e chamei as meninas pra entrarem no carro e logo saí daquele lugar bizarro e fedido.
– Tchau, Fred. – Sophia, a última a ser deixada em casa disse ao sair do carro – Cuida da minha amiga. – ela bateu a porta.
– Cuido sim. – disse calmo e me despedi. Pisei fundo, indo direto pra casa.
Júlia ainda não tinha acordado, o que me deixou um pouco preocupado.
Pensativo, dirigi tentando olhar pra ela de minuto em minuto. Ela tinha uma respiração pesada, por isso eu ia ficando preocupado.
– Porra, Júlia! Só você mesmo pra me fazer sair de uma festa e ir te ajudar... – bati no volante.
– Fred? – ouvi me chamar baixinho e com dificuldade. Ela engoliu em seco, crispando o cenho. Parei o carro imediatamente no acostamento. A voz de ju saía fraca.
– Shiu! Não faça força. Vou te levar pra casa. – disse calmo, passando a mão em seu rosto fazendo carinho. Júlia assentiu com a cabeça devagar e voltou a fechar os olhos.
Finalmente ela estava voltando.
Mesmo fazendo merda era impossível, pra mim, não deixar de fazer carinho nela.
– Vamos, vamos pra casa. – voltei a falar baixo, e pisei no acelerador.

X

– Consegue ficar em pé? – Fred perguntou quando chegou em sua casa.
ju estava confusa. Ainda não estava entendendo o que Fred estava fazendo ali, nem reconhecera onde estava. Em seu corpo, sentia formigamentos e uma vontade imensa de ficar deitada e dormir.
Ela não respondeu nada. Fred entendeu o recado, e a tirou do carro com seus braços.
O garoto subiu as escadas com Júlia no colo ainda um pouco inconsciente. Os amigos de Fred viram a cena do outro lado sala, sentados e preocupados com o que acontecera naquela noite. Nunca tinham visto aquele lugar, não tinham a menor noção que Júlia faria uma coisa dessas.
Os meninos sentiram pena dela.

X

Fred:

Pus ju na cama de meu quarto. Senti suas mãos frias, então a enrolei com o edredom. Percebi que Júlia agora lutava pra ficar com seus olhos entreabertos, mas continuava calada. Quando ia desligar a luz pra conversar com os meus amigos sobre a noite louca que terminava nunca, a ouvi pedir:
– Água. – pediu baixo com a voz rouca. No mesmo instante, desci as escadas correndo, indo até a cozinha e buscando um copo de água. Meus amigos, sentados, me olharam confusos, mas não deu tempo para explicações.
Ao entrar no quarto, sentei perto de Júlia e a ajudei a levantar seu rosto pra beber a água.
– Sente-se mais forte pra segurar o copo sozinha? – ela teve dificuldade de afirmar com a cabeça, mas assim mesmo, deixei o copo em sua mão.
Ela bebeu um pouco e tossiu. Fiquei alarmado, tirando o copo de sua mão e o colocando no criado-mudo.
ju suspirou alto, olhando pro teto – pro pôster do House que eu tinha, e abriu a boca pra falar.
– Eu gosto de você, mas não vou dizer coisas fofas só por causa disso. – sua voz ainda era rouca e falava com dificuldade, mas mesmo assim, pude entender o que ela tinha dito. E ao ouvir, levei um susto.Júlia não se sentiu envergonhada de me dizer aquilo. Nós nunca tivemos a chance de dizer que um gostava do outro ou coisa do tipo, embora eu tenha realizado que sim, que gostava dela.
Pronto, admiti.
Ouvir que ju gostava de mim, me fez ver que sentia a mesma coisa.
E naquele momento, eu nem sentia mais meu coração. Ele disparava tanto que se saísse da minha boca, acharia o fato normal.
Ela se aconchegou em meu travesseiro, o cheirando.
– Seu travesseiro é gostoso. – ela fechou os olhos, sonolenta – Quem sabe eu não leve o seu travesseiro pra casa... – ela falava ainda com os olhos fechados, se ajeitando na cama. – É, é uma boa ideia... Levar ele pra casa...
Dormiu me deixando petrificado na minha cama.
Surpreendentemente, eu estava feliz por tê-la em minha casa, sob os meus cuidados.

Júlia:

Um barulho me incomodava. Lutava comigo mesma pra não abrir meus olhos, ainda estava com sono.
“Ah, ótimo! Pararam de fazer esse barulho irritante”, pensei aliviada.
Barulho novamente.
Parecia guitarra. Era isso! Estavam tocando guitarra por ali.
Aquilo já estava me enlouquecendo, eu queria dormir!
– Mas que porra de barulho é esse?! – levantei falando alto. E logo coloquei minhas mãos na boca, espantada. Havia um Fred adormecido na minha frente, sentado e babando. Ainda assustada, dei uma olhada no lugar onde, aparentemente, passei a noite – O que eu to... – levantei o lençol pra ver se eu estava vestida.
E pro meu alívio, eu estava.
Abismada, passei minhas mãos pelo cabelo.
Procurei minhas botinas, elas estavam ao lado da cama.
Saí de cima da mesma, fazendo silêncio para não o acordar, peguei minhas botinas e resolvi sair dali descalça. Fui até a porta e quando estava saindo uma voz me fez parar.
– Aonde você pensa que vai? – Fred me fez congelar.
– Buscar minha dignidade. – falei me virando, vendo-o coçar seu olho e bocejando – E o resto da minha memória. – fiquei envergonhada e Fred deu um meio sorriso.
– Do que exatamente você lembra? – ele se levantou. Fred só estava com uma calça de moletom e mais nada. Aquela visão me deixou um pouco nervosa.
Porra, eu estava no quarto dele, com uma cama do lado e ele me aparece assim, sem camisa?
Engoli em seco.
– De algumas coisas. – tentei não olhar pros seus olhos. – Poucas. – me restringi a falar só isso.
Fred apenas me olhava enquanto eu tentava ler sua expressão facial, até que ele se levantou e veio até mim.
– Você é linda dormindo. – disse como se estivesse pensando alto. Meu coração disparou e um impulso forte veio de dentro de mim.
Eu queria beijá-lo ali mesmo.
Fred suspirou, chegando mais perto.
– Você é tão linda, Júlia Torres, porém não sabe o que faz da vida! – ele sussurrou em meu ouvido, colocando uma mecha de meu cabelo atrás da minha orelha. Fiquei estática, fechei meus olhos ao sentir seu toque outra vez. E posso te dizer, eu estava com saudades daquilo. Sorriu ao ver a reação que tinha sobre em mim. Saiu calmo de perto e foi até a sua cama. Deitou-se, fazendo uma careta de dor e alisando suas costas em seguida. Ainda estática, fiquei na porta, sem saber o que fazer e falar.
Eu não estava entendendo nada. Até ontem ele me odiava e quase me chamara de puta porque tinha dormido na casa de Mike e hoje, durmo na casa dele e ele me chama de linda?
– Sabe, precisamos conversar. – ele colocou seus braços atrás da cabeça. Fred tirou seu sorriso do rosto fazendo uma cara séria.
– Não precisa ser agora, porque eu tenho...
– Se você não lembra do que aconteceu, eu posso fazer um breve resumo. – ele me interrompeu - Você apagou ontem, ju! Eu tive que te buscar, porque suas amigas estavam desesperadas. Então, o máximo que você pode fazer por mim é conversar comigo. – ele cuspiu todas as palavras tranquilamente.
Quer dizer que Fred me buscou lá no show porque eu tinha apagado?
VERGONHA.
Minhas amigas tinham o chamado pra me buscar? Quero morrer agora! Bem que Deus podia com o seu dedinho mágico me matar agora, né não?
Eu tinha que sair dali!
– Eu... Não quero conversar. Não agora! – tentei parecer calma, mas por dentro uma vontade de sair correndo me possuía - A g-gente pode deixar isso pra depois?– gaguejei – Eu vou t-te procurar... – me virei e o deixei no quarto sem mais, nem menos. Saí a passos largos, quase correndo, querendo fugir daquela situação o mais rápido possível. Passei por Davi que estava tocando guitarra com o amplificador ao seu lado no sofá. – Tchau Sousa! – e fui embora.

– AI...
–Por que vocês tinham que chamar ele pra me buscar? – cortei Cris. – Por que, Cris? Agora ele vai se achar o senhor da razão e querer dar um sermão da porra em mim! MAS ESPERA! Ele já tentou fazer isso comigo agora de manhã! – gritei no meio da rua, percebendo que pessoas me olhavam – O que?! – disse pra uma velhinha que passava com o seu carrinho de feira na calçada. Ela me olhou da cabeça aos pés e balançou a cabeça negativamente.
Vi meu reflexo na vitrine de uma loja. Meus cabelos estavam bagunçados, minha maquiagem borrada. Eu estava descalça e com cara de louca.
Ótimo.
– Amiga, a gente não sabia o que fazer a não ser pedir ajuda pra Sophia! – eu bufei. Sophia ta na minha lista negra desde já! – E outra, você queria que a gente te deixasse morrer na merda de uma calçada?! – Cris falou um pouco exaltada.
– Eu não ia morrer.
– Ah não, né ?! ju, aposto que você nem se lembra o que tomou! – puta golpe baixo esse.
– Agora não importa mais. – tentei ajeitar meu cabelo, ainda me vendo pelo reflexo – Amiga, foi horrível. – eu falei lembrando como Fred falou.
– Já sei que você está se referindo ao Fred. O que aconteceu? – Cris perguntou.
– Ele queria conversar, acho que queria me humilhar mais. Fred disse que o máximo que eu tinha que fazer era conversar com ele, como se tivesse passando na minha cara que ele tinha me ajudado.
– Eu sabia que isso ia dar merda. – Cris disse no outro lado do telefone. – O Fred foi legal e os amigos dele também...
– Como assim os amigos dele também? – perguntei, gritando de novo.
– Eles foram com Fred pegar a gente e ainda foram de táxi pra casa, porque o carro tava cheio. Fred levou a gente pra casa de cada uma e você, bem... Você sabe.
Fiquei em choque. Fred também tinha levado as minhas amigas pra casa? E pior, seus amigos me viram naquele estado?
Deus, é agora! Pega teu dedo e condena!
– Que vergonha, Cris. – disse chorosa.
– Isso é pra você aprender, ju. – eu revirei os olhos. Mas o pior era que ela tinha razão.
– Vou pra casa me esconder do mundo e depois a gente se fala. Tchau. – fiquei no ponto de ônibus, sentada. Aproveitei pra colocar minhas botinas e esperei o ônibus chegar.
Uma frase resumiria o que estava sentindo naquele momento: vergonha de mim mesma.

Fred:

– Para, porra. – falei com os olhos fechados, sentido uma vareta entrando em uma das minhas narinas. – Já falei que é pra parar! – tornei a falar agora com os olhos abertos vendo Guto rir da minha cara. – Sem graça. – falei num muxoxo massageando meu nariz e me sentando.
– Pra você! – ele tirou o lápis da mão, o jogando na mesa do computador.
– O que você quer? – perguntei bravo, ajeitando o travesseiro.
– Saber como você ta. – ele sentou na cama.
– Com dores nas costas. – fiz careta passando a mão na minha coluna. Guto chegou perto de mim e me bateu. – Ai! Sai viado! Ta doendo!
– Deixa de frescura! Aposto que bateu uma vendo seu amorzinho dormir na sua cama. – ele riu da minha cara.
– Ah, claro! – revirei os olhos – Eu acho que fiquei com mais medo de ju ter um treco com as suas respirações pesadas do que ela me pegar batendo uma por ela.
– Oh, que lindinho! – Guto apertou as minhas bochechas. – Não quis fazer um cinco contra um por causa da amada!
– Porra, Guto, tu ta mais gay ultimamente, viu... – eu falei tirando suas mãos de mim.
– O que as bichas estão fazendo? Consumando o amor? – Harry entrou rindo da nossa cara e sentando na cadeira.
– Se for, quero assistir. – Davi) chegou com um saco de salgadinhos e sentando na outra cadeira que tinha lá.
Beleza, eu querendo dormir, porque tive uma noite horrível, e meus amigos resolveram invadir meu quarto pra falar merda.
– Falem o que querem de uma vez! – sentei na cama já puto.
Os caras olharam pra mim, já sérios. Senti tensão no ar e já sabia que vinha depois, alguma coisa sobre Júlia.
– Eu a vi saindo correndo. – Sousa disse como se tivesse lendo a minha mente.
– Parece que ela gosta de sair correndo. – falei tedioso.
– O que você falou pra ela, Fred? – Hazz perguntou em seguida.
– Por que tem que ser sempre eu? – eu falei um pouco ríspido. – Por que eu sempre sou o culpado? Que eu lembre, não fui eu que me droguei, não fui eu que passei vergonha!
– Você nunca parou pra pensar que ela tem um problema? – Guto falou sério. Era uma das raras vezes que vi ele daquele jeito
– Que ela tem um problema é fato. –disse como se fosse óbvio.
– Isso é mais sério do que eu pensava... – Davi disse – Caralho, a Júlia tem um problema com drogas! – ele falou impressionado.
– Calma, também não é assim. – eu disse – Ela só faz esse tipo de coisa quando Mike está por perto. Ela não é do tipo viciada. – expliquei a situação.
– Então se o cara faz tão mal a ela, por que ju não se afasta? – Guto perguntou pensativo.
– Acredito que ju acha que Mike é um tipo de protetor, um irmão mais velho. Eu não sei qual é a história deles, só sei que ela o respeita muito e Mike se aproveita disso. – me bateu uma tristeza. Não tiro a culpa de Júlia, porém Mike fazia com ela o que bem entendia e isso me deixava com uma puta raiva.
– Fico triste porque a ju é uma garota tão boa... - Harry fez uma cara um pouco maliciosa – Tão boa... – os dudes fizeram a mesma cara.
– Muito boa. – Davi fez um bico e fechou os olhos como se tivesse imaginando alguma coisa.
– Boa até demais! – Guto falou por último suspirando. Eu ri, já sabia o que eles estavam fazendo.
– Seus retardados! Parem, eu não vou ficar com ciúmes desse fingimento de vocês. – falei rindo, indo até meu armário pra pegar umas roupas. Eu ia tomar banho.
– Eu não sei com vocês... – Davi olhou pro nossos amigos – Mas eu não tava fingindo. Imaginar Júlia tocando naquela bateria, toda suada... É fácil demais pra mim! – ele mordeu seu lábio inferior. Virei pra ver a cara de safado dele e joguei a minha camisa na cabeça dele.
– Idiota, ta doido pra levar uma surra. – murmurei e vi meus amigos rindo de mim.
– Nosso menino ta apaixonado. – Guto se escorou no ombro de Harry fazendo uma voz chorosa – Quanto orgulho! – revirei os olhos – Quem ia imaginar que o passarinho preto ia bicar ele de vez.
– É. – Judd suspirou – Eles crescem tão rápido, só falta o Davi se acertar com a "gênia" da física e pronto!
Deixei-os falando besteira e saí do quarto, indo até o banheiro.
– E o Mike, vai fazer o que com ele? – Sousa gritou do meu quarto.
– O mesmo que ia fazer com você, só que pra valer. – fechei a porta banheiro.

Júlia:

Gap dos The Kooks rolava alto no meu quarto. Eu estava deitada com rosto no travesseiro tentando parar de chorar.
Eu estava um lixo.
Eu não entendia. A minha vida de uma hora pra outra, estava virada de cabeça pra baixo.
Eu sempre fazia o que queria não me importando o que outros pensavam de mim. Divertia-me do meu jeito.
Aí Fred entrou em cena e tudo mudou.
Eu não queria ser daquele jeito, não queria que ele tivesse mais motivos pra ter vergonha de mim. Porque sejamos sinceros, uma pessoa como Fred ia ter coragem de andar de mãos dadas pelo colégio com uma pessoa que nem eu e ainda mais fazendo esse tipo de coisa? Acho que não, né? E mais, eu não queria que seus amigos – pessoas tão importantes na vida deFred – me vissem daquele jeito, e eles viram.
Virei meu rosto, fitando o teto.
Ri comigo mesma.
Nossa! Eu me importando com Frederico Maia, quem diria?
Algumas lágrimas caíram sem permissão. Deixei-as, já estava na merda, quem era eu pra impedir lágrimas?
A música ainda rolava alta – mesmo sabendo que minha mãe ia entrar no meu quarto uma hora ou outra pra reclamar, eu não estava ligando.
Ouvi a portar bater.
– Júlia Torres, você pode desligar isso?! – minha mãe abriu a porta com um pouco de força. Ela esperou eu falar alguma coisa, como sempre, a revidando. Eu não mexi um músculo. Fiquei deitada, fingindo que ela não estava lá e que não estava gritando comigo.
Ela estranhou.
– Você não está me ouvindo, garota? – de novo, não fiz nada. A única coisa que fiz foi enxugar algumas lágrimas e fungar um pouco. Meu nariz já estava vermelho e tinha um pouco de dificuldade pra respirar por estar entupido. – Júlia? Você está... Chorando? – a cara da minha mãe foi inacreditável. Acho que em muitos anos ela não me via chorar.
Mexi-me na cama tentando esconder meu rosto. Eu não queria que ela me visse assim.
Só queria que todos me deixassem em paz.
– O que aconteceu? – ela chegou perto de mim com cuidado, receosa que eu a respondesse com grosseria.
O negócio era o seguinte: desde que meu pai morreu, minha mãe tinha se tornado uma mulher infeliz, com isso, me deixou de fora de sua vida. Ela se isolava de mim e sempre me tratava com grosseria também. Então tudo o que se fazia naquela casa era guerra de ofensas e cada uma cuidando da sua vida.
– Sério, mãe? Depois de todo esse tempo você quer fingir que se preocupa comigo? – finalmente, dei sinal de vida. Sentei com rosto vermelho e molhado. – Não está acontecendo nada. – fiz um joinha com o polegar e me deitei. Minha mãe permanecia calada, sentou na minha cama e alisou meu pé.
A princípio, não entendi essa demonstração de afeto. Tirei meu pé de suas mãos e o coloquei em outro lugar.
– É obvio que alguma coisa está acontecendo, olhe pro seu rosto! – ela apontou pro meu rosto triste – Olhe pra essas lágrimas!
– Se não se importa, quero ficar sozinha. – fiz um bico com raiva e virei o rosto de novo.
– Olha, eu sei que não sou nenhuma das suas amigas. – Minha mãe fez um olhar triste a ao mesmo tempo solidário. Ela suspirou pesadamente – Eu sei que tenho sido uma péssima mãe ultimamente... – ela se levantou – E não te culpo por ser assim comigo. Se não quiser falar o que houve, tudo bem. Eu só estou cansada de ouvir essa música toda vez que você entra em crise! – ela deu pause no som e foi até a porta.
Fiquei espantada por ela ter falado aquilo, tanto que voltei a olhar pra mamãe.
Ela sabia quando eu estava mal, triste? Ela prestava atenção em mim?
– Mãe? – a chamei. Ela voltou e ficou parada na minha frente, com o rosto um pouco tenso.
– Se você quiser a gente só ouve música e não diz nada uma pra outra, o que me diz? – ela falou sentando na cama. – Como nos velhos tempos. – olhei um pouco desconfiada. – Filha, eu sinto que perdi muito tempo resolvendo problemas comigo mesma. Deixei você se perder no meio de tudo isso. Eu quero que você me perdoe. – ela voltou a se sentar.
Não sei por quanto tempo eu esperava por aquele dia. Senti uma felicidade vinda de dentro de mim, achando que ia explodir a qualquer momento.
Olhei-a com os olhos cheios de lágrimas, suas mãos estava quentinhas e tinha um cheiro bom.
Finalmente, eu tinha pelo menos uma coisa que eu amava perto de mim.
Mamãe pôs suas costas na cabeceira da cama e colocou minha cabeça em seu colo. Ela fez carinho em mim, enxugando as minhas lágrimas que insistiam em cair.
– Vai me dizer por que esse choro? – ela alisou meus cabelos. Engoli em seco com medo de dizer toda a história pra ela.
Claro que não ia dizer que me droguei, ia dizer sobre Fred.
Hesitei um pouco com vergonha.
– É que tem um garoto... – comecei a falar, mas mamãe me interrompeu.
–Júlia, se você falar que é o Mike, eu não respondo por mim! – ela parou de alisar meu cabelo e me olhou séria.
– Não, mãe, não é! – vi minha mãe respirar aliviada.
– Graças a Deus. – pôs a mão livre em seu peito. – Então, me fale. Quem é? – respirei fundo.
– O Frederico Maia. – eu falei corando, morta de vergonha. Tentei cobri meu rosto com o cobertor e mamãe o tirou de mim.
– Não seja boba, sou sua mãe.
– Por isso mesmo! – falei tentando puxar de volta o cobertor.
– Júlia! – ela tirou de uma vez.
– Ah, mãe. – revirei os olhos e cobri meu rosto com as mãos. – Tenho vergonha. – falei.
– Não vai dar pra conversar com suas mãos no rosto. – tirou-as do meu rosto – Fale. – ordenou.
– Fiz uma coisa feia, to com vergonha dele e fim! – eu disse rápido.
– Você o traiu? – mamãe perguntou. – Trair é coisa muito, muito feia, minha filha!
– Não, acho que fiz pior. – eu falei mais pra mim mesma.
– O que é pior que trair? – ela perguntou. “Mentir, brigar, dormir na casa do cara que ele odeia se drogar e fugir da casa dele com vergonha porque ele me ajudou?”, pensei.
– Não posso dizer. – disse baixo – Eu não posso dizer. – repeti com urgência na voz. – Eu não sei o que faço, eu só penso em fugir da situação e ele quer conversar, mas mãe, eu to tão envergonhada que não quero olhar pra cara dele!
– Ok... – mamãe fez uma voz nervosa – Deixa eu te dizer uma coisa, se ele quer conversar sobre isso, mostra que ele está interessado em resolver, em te ouvir. Mostra que ele se importa e se preocupa com você. – ela piscou – E isso é bom, não é? – eu balancei a cabeça afirmando.
– E se ele quiser jogar na minha cara que fiz algo errado? Não sei se estou pronta pra confrontá-lo.
– Isso você tem que descobrir. Tem que falar com ele, Júlia. – ela tirou minha cabeça de seu colo e se levantou. – Você tem que arriscar. Ele pode fazer as duas coisas: te ouvir, te ajudar ou jogar na cara o que você fez de errado. Minha filha, se não for até ele, nunca vai saber o que se passa na cabeça de Frederico. – ela se levantou, passou e deu play no rádio.
What's all this I see?
(O que é tudo isso que eu vejo?)
Yeah you're leaving right beside me,
(yeah, você está saindo do meu lado.)
And I miss you, and I love you.
(E eu sinto sua falta, e eu te amo.)
That's true.
(É verdade)

Ela fechou a porta e se foi.

Fred:

Difícil. Muito difícil. Acordar numa segunda-feira de manhã pra ir pra aula e ainda mais com o perfume de Júlia impregnado nos meus lençóis e no meu travesseiro.
Espreguicei-me ainda deitado, joguei minha cabeça pro lado, aspirando ainda mais o cheiro do seu cabelo. Fiquei aspirando aquele aroma bom e inebriante.
Olhei pra baixo. Merda.
Eu tava de barraca armada. É normal quando você é garoto, acordar com isso às vezes, ta?
Saí da minha cama, correndo pra tomar providências. Peguei minha toalha pendurada na porta do armário e fui até o banheiro. Girei a maçaneta e a porta tava trancada.
– Dá pra sair daí quem quer que seja? – falei com raiva, escondendo a minha barraca com a toalha.
– Desculpa, dude! Não to numa boa hora! – Hazz falou e eu já sabia o que era.
– Porra, Judd! Isso é hora de cagar? Eu to numa situação meio constrangedora aqui! – olhei pro meu amigo de baixo.
– Mais constrangedora que ouvir você dizendo que estou cagando? – ouvi um barulho estranho – É sério, cara. Acho que o leite de hoje tava meio estragado. Vai demorar um pouco. – revirei os olhos – Toma banho lá embaixo ou no quarto do Davi, porque aqui não rola mais! – saí e fui logo pro quarto de Davi, o único que tinha suíte.
– Hey, bela barraca! – ele apontou praquele lugar. – Sonhou com a ju? – ele riu e joguei meu dedo do meio pro alto.
– Vai liberar o banheiro?
– Só se você dizer como foi o sonho. – eu ri.
– Eu conto. E aí, vai liberar ou não? – ele assentiu com a cabeça. Fui até a porta do banheiro. – O sonho foi sensacional... – ele logo me olhou com os olhos brilhando, curioso pra saber.
– Eu, Júlia com...
– Com quem? QUEM? QUEEEM? – eu ri.
– Com a Bia NA MESMA CAMA! – bati com a porta em sua cara – Otário! – gritei de dentro e fui tomar banho com uma água bem gelada.
– Porra, Harry! O que você fez incendiou a casa toda! – Guto saiu reclamando do carro no estacionamento do colégio.
–Acho que o leite tava estragado. – ele fez uma careta.
– Só o leite? – Guto gritou – Impossível ter sido só o leite, aquilo tava foda pra ser só o leite.
– A gente pode parar de falar em coisas nojentas? Estamos no colégio procurando as criaturas bizarras mais amadas... – falei olhando pros lado.
– Estamos? – Guto perguntou.
– Como assim bizarras mais amadas? – Judd perguntou – Que eu saiba não to amando ninguém daquele grupinho seleto que ta na minha esquerda. – ele pegou minha cabeça e pôs as meninas no meu campo de visão.
– Vamos até lá! WOW! – gritei quando senti alguém puxando a minha mochila.
– Nós não vamos a nenhum lugar, e nem você. – Judd disse pondo seu dedo na minha cara.
– Por quê? – quis saber.
– Acho que Júlia não quer falar com você, ela saiu correndo lá de casa e disse que ia te procurar e não o fez, lembra? – porra, verdade.
– E daí? Só porque ela não tem a coragem de falar. Eu faço o esforço. – dei um sorrisinho – Vou até lá. – Harry me deixou ir meio a contragosto. No meio do caminho, Júlia me viu e sem pensar duas vezes, saiu puxando suas amigas até se perder na multidão do pátio.
– Eu não disse? – Hazz chegou perto de mim – Vai ver ela ta com vergonha, cara.
Fiquei frustrado. Eu queria falar com ela, queria entender que merda de show foi aquele e por quê não, tentar de tudo pra que a gente se acertasse.
É, eu queria que a gente se acertasse.

Júlia:

– Por que você não fala de vez com esse menino? – Beatriz disse com o seu jeitinho espevitado.
– Eu não sei se estou preparada, não quero ouvi-lo dizer o quão burra eu fui ou o quão idiota fui de deixar Mike fazer aquilo comigo... – sentei num baquinho perto da cantina.
– E não é verdade? – Cris cruzou os braços – Desculpa amiga, mas vamos acordar pra realidade! Já passou da hora de dizer não pro Mike. Se ele usa é problema dele, agora se ele te influencia nisso, vira um problema nosso. – ela apontou pras outras meninas – E eu acredito que tanto eu quanto elas estamos cansadas de te ver daquele jeito! Nós te amamos, ju! Não queremos mais ver você daquele jeito.
–O que a gente não pode fazer é te ver se detonando por causa de um babaca que não quer nada com a vida. - Bia disse meio triste.
– Eu sei que vocês estão certas, mas eu não consigo deixar o Mike. Ele precisa de mim, eu sinto que ele ainda vai precisar da minha ajuda e vou querer estar do lado dele nessa hora. – falei.
– Amiga, que o Mike precisa de ajuda, isso tá óbvio! Mas tipo, o cara nem tá aí, te puxa pra baixo e ainda destrói a coisa que você quer tanto ter! - Sophia olhou pra onde os meninos estavam.
Senti um aperto no peito.
–Preciso ficar um pouco só. – saí pensando no que estava acontecendo na minha vida.
Eu queria tantas coisas e tudo que eu pensava naquele momento era virar pó e sumir do mundo.
Andei um pouco, adentrando o colégio, resolvendo beber água .
Beberiquei um pouco. Enxuguei a minha boca com as mãos e do nada, senti puxarem minha outra mão.
– Vem. Agora. – Fred me puxou com força até um lugar mais calmo. Pensei que íamos ao Corredor dos Losers, mas engano meu. Fomos até um jardinzinho aos fundos do colégio. Ao lado desse jardim, havia uma casa separada – como se fosse um puxadinho. Acho que algum dos funcionários morava ali ou algo parecido. – Aqui ta bom. – ele olhou pros lados e abriu a boca, fazendo menção de falar. - Agora é sério, Júlia, precisamos conversar. - Fred parecia um pouco nervoso – Para definir tudo isso que está acontecendo e pra dizer que...
– Eu não quero conversar, eu não quero ouvir você falar, você me humilhar! Então, por favor, me deixe ir! – eu disse logo o que tava sentindo – Se você quer me ver com vergonha de você e dos seus amigos pelo o que fiz, sinta-se satisfeito, eu já estou!
– Você não está entendendo, ju, eu só quero falar algumas coisas... Me escuta! – ele falou um pouco acanhado coçando a nuca. Eu fiz menção de falar, mas ele foi mais rápido. – Eu tenho todos os motivos pra fazer isso que você falou. No entanto, não vou. – e agora eu estava surpresa. Fred não ia dar sermão, falar todas aquelas coisas como eu pensei que ia? – Eu só quero conversar. – Fred continuou nervoso. Eu deixava Frederico Maia nervoso? – Eu quero esclarecer algumas coisas. – ele falou e eu entrei em pânico. Queria sair de lá, não queria enfrentar aquilo. Era agora que ele acabaria tudo de uma vez, por minha causa, é claro. Eu tinha estragado tudo, mais uma vez. Minha respiração estava rápida, meu coração disparando, minhas mãos suavam.

Fred:

“Ok, Fred! Tomou coragem de falar, parabéns”
Eu esperava uma reação diferente da que ju estava tendo agora. A menina me olhava um pouco espantada e nervosa. Ficou inerte e isso me deixou um pouco apreensivo.
Na minha cabeça, eu não tinha planos e nem frases feitas pra falar naquela hora. Eu só sabia que tinha que falar o que tava guardado há mais tempo do que imaginava. Mesmo ela fazendo toda aquela merda que fez de mentir e se drogar, eu estava disposto a fazê-la mudar pra ficar comigo.
Naquela hora eu não estava ligando pra apostas, o que as pessoas iam pensar de mim ou outras coisas parecidas. Pra mim, o mais importante, era Júlia e eu.
– Eu não sei se quero conversar com você, Fred. – lá vinha ela com o papo de não querer conversar. Eu já estava cheio daquilo. A hora era essa, ou a gente falava ou não tinha mais jeito – Eu tenho que ir! – ainda um pouco nervosa, ela me deu as costas e andou devagar.
– Puta que pariu! – falei pra mim mesmo e a segui. – Me escuta garota! – puxei um pouco mais forte seu braço, vendo uma cara de dor – Eu não sei por que você ta assim, fazendo tanto cu doce pra conversar. Não me interessa do que você tem medo, você vai ter que me encarar.
– Sempre fazendo o que bem entende, não é Fred? – ela disse agressiva. – Sempre querendo tudo na hora que você quiser. Pois tenho notícias pra você: comigo nem tudo é do jeito que você quer!
– Você pode parar de drama?– eu disse no mesmo tom que ela. –EU SÓ QUERO FALAR QUE A GENTE PODE...
– Olha, vamos fazer o seguinte? É obvio que isso não ta dando certo – ela apontou pra mim e pra ela – Você me deixa louca. Uma hora ta me chamando de puta porque eu dormi na casa do Mike, em outra, joga na cara que me ajudou porque eu estava super drogada, caída na calçada e mesmo assim me chama de linda. É muito pra mim, eu não sei onde você quer chegar com essa conversa, Fred. Eu só sei o que eu quero. – ela respirou profundamente – Eu quero o fim disso aqui, dessa pseudo-relação. – quase vi uma lágrima cair de seu olho, mas acho que ju a segurou bravamente pra não cair. Eu fiquei em estado de choque, não queria que tudo acabasse assim, não sabia o que fazer pra ela mudar de ideia.
– ju – tentei a tocar, mas Júlia se afastou de mim. Entendi o recado. Se era assim que ela queria, era assim que ia ser. – Tem certeza que é isso que você quer? Não vai querer me ouvir antes de tomar uma decisão definitiva? – falei sério, seco. Já esperando o que ela ia responder. Júlia assentiu com a cabeça e se foi me deixando a vendo ir sem falar mais nada.

– E então ela saiu sem dizer mais nada – falei sentado na mesa do pátio com os meus amigos.
– Porra, dude! Que merda, hein. – Guto bateu em meu ombro, se sentando em seguida – E como você ta? – eu engoli em seco.
– Arrasado. – disse sinceramente – Depois que ju disse que gostava de mim, mesmo estando daquele jeito, me fez pensar que eu queria ficar com ela. Acabou, gente.
– Acabou a sua pseudo-relação com ela... – Harry imitou ju. – Essa menina não existe. Você aí todo apaixonadinho, louco pra ficar com ela e ju dá um dos maiores foras da sua carreira como pegador. To impressionado.
– Imagina se você ainda tivesse na aposta? Tava perdido, queria ver você conquistar ela de novo! – Guto disse.
– Deixa. ju pensa que se livrou de mim, engano dela. – peguei no bolso minha carteira de cigarros.
– Quê isso, dude! Não pode fumar aqui dentro! - Guto falou.
– Foda-se. – me levantei do banquinho – Vou ao estacionamento fumar e depois vou embora.
– E posso saber pra onde você vai? – Harry me perguntou.
– Claro, mamãe! Vou pro pub encher a cara. – falei segurando meu cigarro nos dedos. Judd olhou pra mim com uma cara estranha.
– E como você se atreve ir pro pub e não chamar a gente? To partindo com ele, quem quiser ir, nos siga. – Harry foi logo indo atrás de mim e outros dois vieram junto.
A animação dos meus amigos pra beber não atingiu tanto. Eu só tinha uma coisa na cabeça,e era ela.
Eu poderia desistir, ficar com raiva ou até mesmo jogar tudo pro alto e esquecer de Júlia, mas alguma coisa me dizia que aquele não era o fim. Que ainda tínhamos muita coisa pela frente e não uma despedida fria num jardim da escola.

Júlia:

Andei procurando as minhas amigas. Queria desabafar com alguém, queria uma palavra amiga e se não conseguisse com elas, não saberia o que fazer.
Cheguei perto delas, só quem estava era Cris e Sophia. Olhei-as com vergonha e sorri.
– Preciso dizer uma coisa. – disse baixo. Cris me olhou preocupada.
– O que houve? – contei o que tinha se passado.
– COMO ASSIM VOCÊ ACABOU COM O DELÍCIA? – Cris me perguntou quase gritando.
– Fiz o que já era pra ter sido feito. Coloquei um ponto final, se não quem ia colocar era ele e eu estaria mais destruída do que agora. – senti um nó minha garganta. Eu tinha que ter feito aquilo. Nunca queria ouvir Fred terminar comigo.
– Tem certeza, Júlia, que você não está se precipitando? – Sophia me perguntou com a sua voz calma e protetora.
Eu não sabia. Eu não sabia mais de nada.
– Não sei. – falei sincera – Acho que... Foi melhor assim.
– Poxa, amiga – Cris me deu um abraço – To triste por você, sei que mesmo com o pouco tempo, Fred era diferente dos outros.
Merda de vida.
– Preciso de um cigarro. – falei rápido, esfregando minhas mãos nas pernas e me levantando – Preciso agora. Vou ao Corredor dos Losers fumar, to nervosa. – disse por fim pra minhas amigas e andei em direção ao famosinho corredor.
Sentei no banco que me trazia tantas lembranças boas.
Tinha sido aqui que Fred falara que não era tão pegador assim quando o acusei. Também foi aqui que Fred falara que queria ser meu amigo, me passou toda confiança e só assim, cedi.
Ri pensando naquele dia que tinha terminado num convite inesperado pra ir à minha casa.
Acendi o meu querido cigarro, companheiro de longas crises. Fiquei tão aliviada ao tragar que meu corpo antes tenso, ficou relaxado.
Traguei mais uma vez, com uma música na cabeça, cantei baixinho.
– But it was not your fault, but mine and it was your heart on the line. I really fucked it up this time. Didn't I, my dear? – fiz um barulho estranho como se não tivesse lembrado o resto da música – Uh, huh... I really fucked it up! – repeti essa frase que encaixava perfeitamente no meu caso.
Joguei um pouco de cinza na terra do jardim que tinha atrás do banco. Fui colocar o cigarro novamente na boca, sentindo uma presença.
Meu coração, com pressa, disparou.
– Fred? – perguntei esperançosa.

Fred:

– Acho que a gente devia fazer uma festa mucho louca lá em casa! – Guto disse depois que bebeu sua garrafa de cerveja. – Pelo menos a gente tira essa bad do meu amigo... – ele bateu fraternalmente no meu ombro.
Até que não era uma má ideia. Bebida, vodka e pouca roupa não fariam mal a ninguém.
– Eu to dentro. A última festa que eu fui, uma pessoa desagradável atrapalhou! – falei rindo e com a língua mole com a ideia babaca de não citar o nome dela.
– Ta, o Fred ta na fase de não citar o nome, a gente respeita – Davi colocou a mão no peito esquerdo e tragou profundamente seu cigarro. – Enfim, vale levar uma pessoa? E quando digo pessoa me refiro uma do sexo feminino a qual vocês não podem pegar? – todos nós rimos da cara dele. A gente já sabia de quem Davi estava falando.
– Sousa, pode levar a Bia ou quem você quiser, a casa também é sua. – eu disse o reconfortando.
– Se o Davi convidar uma, vai ter que convidar todas e... E eu acho que a pássaro preto não vai querer ir.
Rolei os olhos. Quando os caras iam parar de chamar a (todo mundo sabe quem é) de apelidos estranhos só porque ainda tem um pouco de graça?
– Olha, por mim, chamem quem vocês quiserem. Eu só sei que vou estar no meu quarto tirando o sutiã de alguém. – bebi a cerveja a goladas rápidas, acabando com ela – Me vê mais uma, por favor. – falei pro garçom que assentiu a cabeça indo pegar outra cerveja.

Júlia:

– Era ele quem você esperava? – ouvi a voz rancorosa de Mike falar. Era só que me faltava.
– Você não acha que ta se metendo demais de novo, não? – falei brava. Mike se aproximou, ficando frente a frente comigo.
– Pequena, eu só estou me preocupando pro seu próprio bem. Não quero que nada te aconteça.
– Engraçado. – eu ri debochada – Quem foi mesmo que me deixou desacordada por causa de drogas com as minhas amigas? – fumei o final do meu cigarro e o joguei fora. Joguei a fumaça pra cima e me levantei. Mike não falava nada, não tinha resposta. Qual era a moral que ele tinha depois do que ele fez? – Foi o que eu pensei.
– ju, eu tenho uma explicação muito boa pra isso. – ele ficou nervoso – Eu t-tenho sim.
– Não me interessa. Não vou deixar você fazer comigo o que vinha fazendo, Mike. Acabou. Ache outra pra se drogar com você. – falei indo embora.
Saí brava, mas meu coração estava despedaçado. Mike era meu amigo, meu irmão, meu companheiro. Ele tinha bom coração, eu sei que tinha. Só fazia escolhas ruins e me levava junto por eu cair fácil em sua conversa. Eu sentia muito por ele, mas era hora de parar com aquilo. Mike tinha me ajudado em uma das fases mais difíceis da minha vida, como quando meu pai morreu.
Já era tarde pra eu me arrepender e voltar praquele corredor.
Eu já tinha feito a minha escolha.
Era o intervalo, eu tinha perdido as duas primeiras aulas e saído por fingir que estava com uma cólica enorme na aula de inglês, fui direto ao darkside do pátio.
Vi minhas amigas sentadas no banquinho de sempre. Bia comia seu sanduíche vegetariano, Cris tomava um sorvete e Sophia mexia em seu Iphone.
Fui correndo até elas pra contar a novidade.
– Acho que a minha amizade com Mike terminou. – e foi ali que a ficha tinha caído. Mike, uma das pessoas mais importantes pra mim, tinha me machucado muito, e por causa dele não tinha mais dignidade e tinha me humilhado pro cara que eu gosto.
Minhas amigas me olharam felizes e largaram o que estavam fazendo, dando um abraço apertado em mim.
– Eu sabia, eu sabia! – Sophia deu um beijo em minha bochecha.
– Eu sei o quanto o Mike é importante pra você, ju, mas você sabia que não dava mais, ele estava atrapalhando a sua vida. – Carine falou me abraçando forte.
– To feliz por você! Júlia Torres finalmente aprendeu a lição – Duda disse batendo palmas – Agora tudo será diferente! Nada de drogas e shows bizarros. – ela falou de um jeito engraçado que todas riram.
– As coisas estão mudando. Eu sinto isso – falei por fim.

Fred:

Pra ser sincero, eu nem sei de que horas saímos do bar. Tudo bem que a gente perdeu a aula de Histórias, mas quem queria saber quem o Henrique XVIII tava comendo se a gente podia beber?
Durante a noite, já mais sóbrio, conversei com os caras sobre o que eu queria fazer logo de manhã cedo.
Simplesmente era uma coisa que estava presa dentro de mim a muito tempo e eu ia fazer agora.
– Vai fazer isso mesmo, dude? – Guto me perguntou entrando no carro.
– Vou, eu ainda não acertei as contas. – ri maldoso.
– Então já sabe, estamos esperando você na esquina do outro lado. Se a gente ver que você ta demorando, voltamos. E se a gente tiver afim de bater, voltamos também. – eu ri com o que Hazz falou.
– Beleza. Relaxem, não vou fazer mais do que o cara merece. – eu disse. Bati na porta do carro - Agora dêem o fora daqui.

Fiquei parado no muro de trás do colégio esperando Mike passar. Fumando um cigarro, concentrado, fiquei pensando no que ele tinha feito com Júlia. Ter deixado a menina ali, só com duas amigas no meio de tanta gente esquisita e drogada só aumentou o ódio que sentia por ele.
Coloquei meu pé na parede. Esperei ansiosamente por Mike.
Eu poderia muito bem foder meu nariz, uma perna, um pulso ou até mesmo meu abdômen, mas com certeza aquilo ali valeria à pena.
Mike vinha até a mim, andando aéreo, com a sua mochila preta nas costas. Ele nem desconfiava do que ia acontecer.
Joguei minha bituca no chão e fiquei ereto, esperando pra dar o bote.
Fiquei em sua frente, e com um pulo assustado, Mike foi pra trás.
– Mas que merda é essa? – disse.
– Minha vingança particular. – falei entre dentes e uma força tomou conta de mim. Empurrei-o com tudo, o que fez cair. – Você é um filho de uma puta! Como fez isso com a Júlia? – comecei a chutá-lo com todo ódio que eu tinha, cada vez que lembravaJúlia apagada, chutava mais – Eu quero que você fique longe dela, ta entendendo? – abaixei e peguei no colarinho da camisa dele. – Seu merda! Você entendeu? – Mike tinha sangue em sua boca, seus olhos brilhavam e o que eu sabia que ia acontecer, aconteceu. Ele revidou.
Mike deu um murro na minha barriga que me fez cair no chão. Relutante, me levantei rápido pra que ele não me chutasse também. Com um movimento rápido, peguei meu soco inglês no bolso e com toda a coragem, esmurrei seu rosto, o que fez sagrar bastante.
– FIQUE LONGE DELA OU SENÃO, QUEM VAI MATAR VOCÊ SOU EU! – falei por fim e corri pra onde tinha marcado com os meus amigos.
Mike estava deitado no chão com o rosto sangrando.
Eu fiz aquilo por mim, com certeza, mas também fiz por Júlia.


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