Como Ser Um Pegador Em 12 Lições. escrita por Jess B


Capítulo 12
Entre orgulho e decisões.




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8ª Lição: Se for gata, olhe sempre pra mim na balada (grite que é gostosa).
Tá na baladinha com os amigos e um deles achou uma perfeita pra você?
Mande-o fazer o sinal.

Fred:
Corri o mais rápido que pude e olhei algumas vezes pra trás pra conferir se Mike conseguiria vir atrás de mim, coisa que não fez. Eu não pensava em nada naquele momento, só em uma coisa: chegar ao carro e sair daquele lugar.
O carro de meus amigos estava na esquina do outro lado. Vi Davi fora do mesmo, em pé com a cabeça encostada na porta fechada, com o semblante tenso. Harry tava no sentado batendo os dedos no volante, nervoso, e Guto, sentando no banco de trás cabisbaixo, ouvindo música.
Todos olharam pra mim quando cheguei respirando alto e com sangue nas mãos.
– Porra, Fred! Demorou, ficamos preocupados! – Sousa foi o primeiro a falar como se fosse meu pai. Nervoso, olhou pra mim pra ver se tinha algo errado comigo. – Ele te machucou? Ele reagiu? Tá vindo pra cá? - Davi se aproximou e viu meu soco inglês intacto na minha mão.
A adrenalina era tanta, que eu nem parei pra tirar o meu soco inglês.
Comecei a rir.
Eu estava feliz, com uma sensação boa... Como se eu tivesse cumprido um dever.
– Mano, você tá bem? - Guto me perguntou. Saiu do carro e veio até a mim.
– Eu to bem. – tentei falar e as palavras não saíam, e então, comecei a rir – Eu to ótimo! – eu ria cada vez mais e meus amigos não entendiam. Tirei meu soco inglês da mão, o jogando e rindo cada vez mais – Aquele filho da puta merecia! – meu coração não parava quieto, quanto mais eu falava e pensava em Mike deitado com sangue em seu rosto, mais meu coração disparava.
Sentei no chão pensando no que havia feito: eu tinha dado a maior surra da minha vida. Uma coisa sobre mim que era bem importante era que eu não tinha entrado em tantas brigas na vida. Eu nunca fui de brigar por certas coisas, principalmente garotas. Se ela não estava afim de mim e demonstrava que tava afim de outro cara, a deixava ir e mostrava pra ela o que tinha perdido. Não saía no murro com outro cara.
Senti Harry do meu lado. Colocou sua mão em meu ombro e me fez olhar pra ele.
– Você pode contar como foi? Porque veja bem, não ficamos aqui com o cu na mão de preocupação pra você vir e rir como se tivessem contado a piada do ano! – ele parecia sério.
Parei de rir e respirei fundo.
– Tudo foi tão rápido! Eu bati nele, falei pra ele ficar longe de ju, aí ele revidou e depois consegui bater mais e o ameacei de morte, pronto.
– Olha, vou ser sincero. Parando pra pensar, isso tudo vai dar em merda. – Davi falou pensativo, coçando sua nuca. – Não sei vocês, mas acho que o Mike não vai esquecer tão cedo essa briga e ainda tem a ju...
– Puta que pariu! É mesmo! – Guto gritou como uma bicha – Eu não tinha pensado nisso antes. Depois disso, quem vai querer matar você nessa história é a ju.
Porra, agora que caiu a ficha.
Como eu, o cara que ela tava odiando nesse momento, ia dizer a ela que tinha dado uma surra em seu melhor amigo?
Ela iria me matar, e o pior: nunca mais ficaria comigo.

Júlia:
– ju, você pode parar de olhar o portão do colégio por pelo menos cinco minutos pra gente estabelecer uma conversa saudável? - Bia me perguntou.
– Mas eu não estava olhando o portão... – dei uma de desentendida.
– Júlia, se você quer se enganar, tudo bem. A gente aceita, mas nos enganar... Aí já é outra coisa. – Cris falou mascando seu chiclete com um jeitinho engraçado, sentou do meu lado e me olhou – O que tá acontecendo? Saudade dele?
Senti minha garganta dar um nó. Eu era tão óbvia assim?
Acho que na minha testa estava escrito: “Fred, volta! To afim de beijar você de novo!”
– É a minha mente que pensa o que não deve. – suspirei – Ela fica pensando no que o Fred ta fazendo, no que ele vai fazer e com quem... Ta foda.
– Amiga, eu acho que você deve decidir logo o que tem que fazer. – Sophia disse olhando pra mim e fazendo uma cara tristonha – Porque nesse vai e não vai, ele fica com outra e pronto, acabou-se tudo!
– Não sei se gosto desse “acabou-se tudo”. – falei de uma maneira engraçada e fiz as meninas rirem. – O problema é que eu não sei como vou fazer pra falar com ele, pra chegar perto dele. Eu não consigo chamá-lo pra conversar, tenho medo do que ele pode fazer. Me ignorar na frente dos seus amigos populares ou até mesmo não me ouvir quando ficarmos a sós. Eu tenho medo de tanta coisa e tenho tanto orgulho que não sei se seria capaz nem de olhar pra cara dele.
– Mas ju, orgulho não leva a nada. – Sophia me disse – Vamos, o sinal vai tocar e ainda não copiei a matéria de Física. – o sinal tocou e minha esperança de ver Fred por meros minutos foi por água abaixo.
Virei meu pescoço um pouco em direção ao portão pra dar mais uma olhada.
– Para, menina! Assim vai quebrar o pescoço de tanto olhar, acho que os meninos não vem hoje. – Bia me puxou até o pátio e fui andando sem coragem pra sala.

Fred:
– Estamos nos tornando verdadeiros vagabundos! – Sousa abriu a garrafa de cerveja sentado no sofá - Quem vai ser o próximo a perder? - estávamos em casa, sem fazer nada. Depois do que aconteceu, resolvemos não ir pro colégio, mas acho que pra falar a verdade, poderia ser o medo de enfrentar Júlia ou até mesmo, Mike surgir do nada e querer acabar comigo e com os meus amigos ao juntar o darkside todo contra nós.
– Eu! – dei um grito, pulando no sofá e pegando o controle do PS – Manda a minha cerveja, faz favor? - disse apontando pra mesinha do centro e Hazz me deu a garrafa. Bebi, saciando a sede. – Ah, nada como uma gelada pra relaxar as coisas por aqui...
Todos me olharam.
– Tá todo animadinho... Nem parece que vai enfrentar a fera que escuta punk! – Guto comia uma coxinha insanamente. Sua boca tava melada de frango.
– Ew! Limpa a boca, caralho! – falei grosseiramente.
– Eu to nem aí, to na minha casa! Eu faço o que quiser. – ele abriu a boca mostrando tudo o que tinha dentro dela.
– Guto, sempre tão maduro. – revirei os olhos.
– Fred, sempre tão boiola. – ele me deu o dedo do meio.
– Pra sua informação, to animadinho porque já tenho ideias pra nossa festinha que vai ser louca, vai ter muita mulher e...
– E se a ju vier? - Hazz perguntou.
– Se ela vier, não tem problema! Não vou deixar de fazer as coisas só por causa dela, já fiz muito por Júlia, agora é cuidar disso daqui. – apontei pro meu querido amigo de baixo.
É, garotos podem ser ridículos às vezes.
– Mandou bem, Fred! – Davi, ao meu lado, me deu um high-five. – Acho bom você pensar assim, se rolar alguma coisa entre vocês dois nessa festa, tudo bem. Se não, tudo bem também. O que importa é que vamos curtir do nosso jeito!
– Bom, o que eu mais quero é curtir essa festa... – falei com uma voz diabólica.
Já nesse momento, eu não me importava com mais nada! Pra mim, bater em Mike foi a última coisa que fiz por ela, se ela não me quisesse, isso eu não teria que mudar. Do que fiz eu não me arrependo, e se ela não ver por que eu fiz, não vou poder fazer nada.
Agora, eu só quero minha vida de volta.
Ou não.

Júlia:
Segundo dia.
Segundo dia sem ver Fred. E eu já estava louca querendo saber onde diabos ele e seus amigos idiotas tinham se metido.
– Aí eu disse pra Sanderson “você precisa mesmo fazer isso?” – Bia contava um história louca sobre uma vadia que tinha lá no colégio, a Rachel Sanderson. Ela tinha belas pernas e era loira. Bem sugestivo. Essa garota tinha mania de provocar os rapazes vindo com saias curtas e blusas decotadas, uma ridícula – Foi aí que ela empinou, colocou o dedo na minha cara e começou a falar merda, juro que queria falar “é você colocando esse dedo na minha cara e eu colocando minha mão na sua!”, mas me segurei, a professora de biologia tava na sala e pro meu coeficiente não era bom ter uma briga nos relatórios da escola. – eu até me distraía com a conversa quando meu coração pulou.
Vinham garotos bem conhecidos em nossa direção.
Meus olhos arregalaram-se e meu coração não parava de bater. Eles iam mesmo conversar com a gente no meio de todo mundo?
Foi aí que uma grande frustração apareceu: haviam três meninos, o meu não estava no meio deles.
– Oi. – Davi falou sorridente pra nós e deixou seus olhos fixos em Bia, claro. – Viemos em missão de paz.
– Pelo que eu lembre, ninguém tá com raiva de vocês três. – eu falei e senti um cutucão vindo de Cris.
Harry tentou seu sorriso mais simpático e começou a falar:
– O lance é o seguinte, vamos dar uma festa nesse sábado e queremos vocês lá. Pronto, é isso. – ele foi direto e claro.
Uma festa? Na casa de deles?
Minha cabeça girava e muitas coisas se passavam, como por exemplo, se eu fosse pra festa teria que ver Fred me ignorando, curtindo a vida e pegando alguém.
– Você vai, ju? - Guto me perguntou e parecia que todos esperavam por aquela resposta. – Queria muito que você fosse. – ele falou com certo carinho na voz, o que me fez achá-lo fofo.
– Desculpa galera, mas não vai dar. – num tom triste, disse sinceramente – Não quero ver... Vocês sabem.
– Nós sabemos. – Harry com seu jeito metidinho fechou os olhos como se tivesse querendo engolir uma coisa engasgada. – E então, meninas, vocês vão? - ele perguntou às minhas amigas que me olharam indecisas. Eu sabia que Bia queria ir, já que eu estraguei seu primeiro encontro com Davi. Cris queria ir também, seria como trair sua paixonite por Harry se não fosse pra uma festa sendo convidada pelo mesmo, e Sophia... O que Sophia ganharia pra ir nessa festa? – Olha, se vocês quiserem ir, por mim tudo bem! Sem problemas, não vou ficar chateada por causa disso... – falei como se não tivesse ligando que minhas melhores amigas fossem pra uma festa que eu não fosse.
Pelo menos eu teria a Sophia, certo?
– Então, se por você tudo bem, eu vou! – ela foi a primeira a responder. Valeu aí, disse toda animadinha.
– Eu vou. – Bia falou tímida, olhando pra Davi que sorriu satisfeito.
Ótimo, vou ficar sozinha no sábado à noite. YEY!

Fred:
– Convidaram? – eu me sentia uma velha fofoqueira querendo informação. Perguntei baixo pros meus amigos quando estávamos na aula de geografia. Não fui com eles porque não sabia o que faria na frente de Júlia. Eu preferi ficar pra por meu plano em prática, tentar esquecê-la. – E o que aquela pessoa disse? – não por nada, eu só queria saber se ela ia ou não. Muitas coisas poderiam acontecer com aquela reposta. – Fala caralho! – sussurrei – Eu fiz uma pergunta, quero a resposta!
– Ela não vai. – Hazz disse, também sussurrando – Ela não quer ir. Satisfeito? Era isso que queria ouvir? - parei na hora.
Ela não iria. Na real, eu não sabia bem o que eu queria, se queria que ela fosse ou não. Uma parte de mim não queria nem ver a sombra dela naquela festa e outra estava tão esperançosa que se pudesse, fazia a festa aqui e agora só pra ju ficar comigo e acabar de vez com essa coisa toda.
– Fred? - Guto mexeu no meu braço, me fazendo sair do meu transe.
– O que, porra? - balancei a cabeça em sinal pra que os pensamentos saíssem. – O QUE É? - gritei porque Guto ainda me cutucava e o professor se virou e nos olhou. Com os seus óculos de velho e olhos sérios disse:
– Maia e Andrelli, se retirem. – ele falou tão sério que nem me titubeei, saí puxando meu amigo retardado.
– Muito obrigado! Era tudo que eu precisava! Sabe quanto eu preciso pra passar em Geografia? - disse pra Guto enquanto andávamos até a cantina – Não é todo mundo que sabe sobre relevos, montanhas e vegetações! Porra, eu vou ser músico, pra que quero saber sobre merda de vegetação?! - sentei em uma cadeira do refeitório seguido por Guto.
– Mano, to com uma puta fome.. – falou simplesmente, ignorando meu ataque histérico.
– Você sempre está com fome, Guto, nunca vi! – revirei os olhos.
Guto comia seu croissant enquanto eu mexia no meu Facebook pelo meu celular.
–V ou postar no Face que vai rolar uma festinha e que pra chegar é só levar alguma bebida. – Guto riu de boca cheia e engoliu.
– Tu acha mesmo que ela não vai? – eu já sabia de quem ele falava.
– Eu não sei, sinceramente. Júlia é tão imprevisível que não estranharia se aparecesse do nada, louca na festa. – ri do meu comentário e por alguma razão, meu coração no mesmo instante teve uma reação já conhecida. Isso me lembrou uma das coisas que mais eu gostava nela: ju era uma garota imprevisível.
– Engraçado, mas acho que ela vai fazer isso. Aparecer do nada e fazer você melar a cueca. – eu ri alto.
– Por que Júlia iria me fazer melar a cueca?
– Porque você querendo ou não, sempre tá melando a cueca quando Júlia está por perto. Naquele dia da lanchonete, você saiu se borrando porque não agüentou saber que tava gostando dela ou então naquele dia em que Júlia acabou com que vocês tinham e você foi meio medroso pra por moral e fazê-la ouvir o que você tinha que falar, ou então...
– Saquei. – disse meio envergonhado.
– Você sempre soube agir com qualquer menina, já com Júlia... – ele mordeu um pedaço grande de seu lanche como se tivesse falando a maior besteira do mundo. Pra ele, porque pra mim, fazia maior sentido.
Eu nunca fora tão medroso com as coisas quando o assunto era garotas. Sempre fui chegado a uma pressãozinha, a dar certas indiretas que as deixavam querendo pagar pra ver, e ju foi diferente, desde o momento da aposta até agora.

Júlia:
– Eu to com fome, pelo amor de Deus, vamos pra cantina! – falei quase pra gritando pras minhas amigas lerdas. Corri pra fila pensando em comprar comidas e doces como se não houvesse amanhã.
Cheguei toda animadinha, já que a professora tinha nos largado cinco minutos antes do intervalo, e eu ia comprar lindamente as minhas coisas sem fila nenhuma.
Suspiros de felicidade.
Fui andando como louca até a cantina, me apressando pra ser atendida.
– Olha... - falei pra tia da cantina – Hoje eu quero uma folheado de misto, uma Coca, e coloca dois doces desse daqui. – apontei pra caixinha de vidro – E eu quero os dois grandes, viu? - falei pra tia por fim, que me deu um sorrisinho fofo e gentil. Ela me deu a bandeja cheia de coisa e fui andando atrás das minhas amigas. Quando eu menos espero, as três estavam paradas em uma mesa, conversando com uns meninos.
Parei de andar na mesma hora!
Eu não sabia o que fazia! Se andava até lá, se passava por eles, se fingia que não tinha os visto ou se ficava lá com cara de babaca. O que eu ia fazer?
De novo, que porra eu ia fazer?!
“Calma, Júlia” tentei falar pra mim mesma, sem solução.
Então, uma coragem súbita veio até mim, me fazendo andar. O que eu não contava era com as tremedeiras que minhas pernas faziam, mas aí já era outro problema!
Fui andando com o coração na mão e me arrependendo da quantidade de comida que tinha na minha bandeja.
“Ótimo, agora Fred vai achar que eu to comendo demais e que é por causa dele ou pior, que eu sempre comi muito e, que com isso, vou virar uma balofa e vir rolando loucamente pro colégio.” a minha voz interna não parava de me massacrar enquanto eu continuava andando.
– ju! – a Bia acenou pra mim naturalmente. Fiz um gesto com os ombros como se não tivesse nenhum problema e fui até, finalmente, eles.
– Oi. – eu disse baixinho, envergonhada com o tanto de comida que tinha na bandeja. Fred mal olhou pra mim e quando fez, foi rápido demais. Guto foi mais receptivo, me mandando um sorriso enérgico a lá Andrelli.
– Oi ju! A gente tava falando sobre a festa – ah, claro! E se fala mais de alguma coisa entre vocês?
– Legal. – me limitei a dizer isso.
– Então... V-você não vai? - ouvi a voz de Fred pela primeira vez em dias e porra, quanta saudade eu tinha daquilo! Sua voz parecia nervosa e seus olhos não paravam de piscar. Em suas mãos tinha um pedacinho de guardanapo e que se rasgara ao falar comigo.
– Não. – dei um sorriso torto – Tenho umas coisas pra fazer. – menti já sabendo que ele não cairia. – Meninas, podemos ir pra nossa mesa? É que isso está realmente pesado. – levantei minha bandeja, a mostrando. Admito que falei meio que arranjando uma desculpa pra sair dali o mais rápido possível.
Como boas amigas, elas sabiam do que se tratavam e foram comigo.
– A gente se encontra na festinha. – Cris falou e saímos todas.
Agora, eu podia respirar aliviada.
– MUITO OBRIGADA! – falei sentando na nossa mesa do darkside – MUITO OBRIGADA MESMO, MENINAS!
– O que foi? - Bia quis saber.
– Você jura que não sabe? To agradecendo por vocês pararem na mesa do Fred e fazer com que ele pense que eu sou uma gorda que come pra caralho, que prefere ficar sozinha em casa enquanto todo mundo se diverte!
– E não é a verdade? - Cris disse divertida, fazendo todas rirem, menos eu.
– Ridícula. – revirei os olhos. – Poxa, gente... É sério, foi super chato.
– Eu sei amiga, mas pensa... A gente não ia deixar de falar com os caras que nos convidaram pra uma festa com os populares e logo eles que já viraram tão queridos, pelos menos pra mim! – Sophia levantou a mão e as outras duas também, concordando.
Assenti com a cabeça, voltando pro objetivo principal: comer.
– Agora eu posso comer em paz? - falei já de olho no meu folhado – Obrigada.

Fred:
– Era disso que eu tava falando. – Guto disse.
– Do quê?
– “V-você não vai pra f-festa?” – ele me imitou com voz e gestos afeminados – Seu mela cueca!
– Eu não sou mela cueca! – aquela brincadeira já estava enchendo o saco – É que eu só fiquei meio... Tenso, só isso!
– Seu mela cueca! – ele repetiu e quando fui fingir que ia avançar nele, meus outros dois amigos chegaram.
– DR uma hora dessas? - Judd riu e Davi veio logo atrás dele. - É que às vezes a minha mulher é meio descontrolada, não é meu amor? - tentei alisar o queixo de Guto mas ele conseguiu desviar.
– Tem certeza que você quer falar de mulheres e descontroles? Porque se for, a gente começa com a dona protesto...
– Sabia! Eu sabia que uma hora ou outra a gente ia voltar a esse assunto! – Davi sentou na mesinha da cantina estranhando alguma coisa – Nós não devíamos sentar na nossa mesa de sempre, tipo aquela no meio do pátio?
– Ainda falam que quem tem frescura são as meninas. Vamos pra lá já que a moça do Davi não achou o local agradável. – Harry disse e fomos até a nossa mesa favorita, sentamos e fizemos claro, a nossa visualizada clássica: as garotas do colégio.
Meus olhos pararam na menina que tinha uma calça justa e blusa decotada. Ela falava com suas amigas e mexia repetidamente seu cabelo.
Eu já tinha pegado, era Rachel.
Loira e gostosa – uma boa combinação. Eu tinha lamentado como fora a minha experiência com ela por causa de certa pessoa mal agradecida.
Pensei comigo mesmo. Ela poderia ser meu link perfeito pra minha vida de antes, poderia se encaixar no que eu queria, e isso aconteceria na festa.
– Voltando ao assunto... Acho que ju...
– Vocês podem parar? Eu to cansando de ouvir vocês falaram sobre ela, tudo gira sobre essa menina! Acabou, gente! Não foi ela mesma que disse que tinha acabado? Então, vivam com isso que eu vou seguir em frente! – saí sem dizer mais nada e já sabia pra onde eu iria.

Júlia:
– ju,olha aquilo! – Sophia virou minha cabeça pro lado direito do pátio e eu não tinha acreditado no que meus olhos estavam vendo.
Fred com uma menina.
Calma, eles não estava ficando, mas pareciam bem íntimos.
Queria trucidar aquela vaca que tava com ele, eu sabia bem o tipinho da Sanderson! Ela adorava um cara atrás dela, e quem não queria Frederico Maia atrás de você?
É, parece que essa pergunta foi meio bad. Na teoria, eu não queria Fred atrás de mim e agora to puta só de vê-lo conversando com aquela vadiazinha loira.
Começou o que eu temia.
– Porra. – falei baixinho soltando a raiva que eu tava na hora.
– Calma Júlia. Vai ver eles estão conversando alguma coisa sem importância. – Sophia tentou amenizar a situação.
– Como vídeo game ou de como está o dia? – falei um pouco brava e cada vez que ia falando, eu ficava mais vermelha.
Eu tinha problema sério com esse tipo de coisa. Eu não tinha só ciúmes, eu tinha ciúmes e mais um pouco.
Beleza que ele não tava comigo e que tudo isso era por minha causa, mas porra, já?
Mal acabou comigo já ta atrás de outra?
E foi aí que uma tristeza bateu em mim. Era claro que eu não passava de um passatempo pra Fred, que era mais uma conquista dele.
Palmas, agora ele conseguiu o queria. Agora to realmente machucada.
– Eu pensava que ainda tinha jeito, mas agora... – olhei pra eles e me lembrei de como Fred tinha suas “queridas amigas”.
– Eu sabia que isso ia acontecer mais dia, menos dia. Tava claro que Fred não ia sossegar, mas veja o lado dele, ju. Ele deve estar chateado, magoado... Resolvem tudo com bebida e mulheres estilo essa free bitch aí! – Bia falou de um jeito que me fez rir só um pouquinho.
– Vocês são demais, não existem! Se ele quiser ficar com essa vaca loira o problema é dele, eu que vou cuidar da minha vida. Pronto. – fiz um gestinho com o dedo do meio e minhas amigas riram de mim.
– ju, quando você vai aprender, hein? - Sophia perguntou.
– Aprender a fazer o que? - disse não entendendo.
– A amar direito.

Fred:
– Só quero saber duas coisas: como e quando? - Hazz perguntou sentando na minha cama enquanto eu estava no computador falando com Rachel no MSN.
Já estávamos assim.
– Como e quando o que?
– Essa mina apareceu do nada, como? - ele se referia à Rachel.
– Vou esclarecer as coisas. Eu fiquei com ela na festa da Sam, mas essa ficada foi atrapalhada por causa da Júlia que fez aquela merda toda e agora, já que estou livre pra voar, quero aconchego e carinho de outros braços. – falei gesticulando com as mãos como se tivesse fazendo esquemas pra ver se Harry estava mesmo me acompanhando. – Entendeu?
– Ah! Você está com a síndrome do homem ferido, foi procurar amor em outros braços.
– Não mesmo! Síndrome do homem ferido é o caralho! Eu voltei à ativa! Eu só estou voltando a ser como antes! Sou o Fred de novo, vamos comemorar, voltei pra ficar com as novinhas. – eu ri da minha própria piada.
Uma coisa era clara, eu estava de volta. Eu queria estar de volta. E naquele momento nada e nem ninguém podia tirar isso de mim.
– Então tá. – Judd disse incrédulo – Quero vez esse gás todo aí na festa. E por favor, se achar a minha cueca da sorte, me entregue porque eu não vejo a hora de transar com a Sam.
– Tu ainda não desistiu? - era sério que ele ainda insistia em comer aquela menina? - Isso que é tesão acumulado!
– Man, nessa festa vai acontecer e vai ser na minha cama. Vou chorar na hora.
– Otário, parece um virgem.
– Aquela garota é muito gostosa, pelo amor de Deus! Eu preciso pegar, sério. Na última festa, eu cheguei tão perto... Fui na porta da felicidade e você, como sempre, me atrapalhou.
– Sai daí! Eu não atrapalho a transa de ninguém! Aquele caso foi único, não podia deixar de ajudar a menina lá.
– A menina lá, a Júlia né? Duvido que se fosse outra menina lá você me atrapalharia e sairia de uma festa.
Revirei os olhos, cansado de tanta coisa relacionada a ela.
– Olha, eu não sei se você tá percebendo, mas eu to tentando superar tudo isso. Não vou mentir que gosto dela. ju é diferente de tudo que eu já tive mas não deu certo. Como vê, – apontei pro computador – to fazendo de tudo pra voltar ao que era antes e se for preciso beber mais do que eu bebia e ficar com o número máximo de garotas pra esquecê-la, eu faço. Eu não quero ter nada a ver com sua vida. Pra mim, acabou. De vez. – eu desabafei. Eu gostava de Júlia, mas estava cansando de ela não me querer. Meu amigo chocado com a minha pequena declaração fez um "o" com a boca e fez menção de falar.
– Acho que é a primeira vez que você foi sincero em relação à Júlia.
– Eu sei e é por isso que peço pra que você não fale mais dela aqui. Sei que é gay...
– É totalmente.
–Mas é o que eu quero.
– Então tá. – ele se levantou – Como você quiser, doce donzela. – fez uma reverência, saiu do meu quarto e gritou no meio do hall: - Aviso importante! Nada de falar sobre Júlia Torres nessa casa!

Júlia:
Esse seria o meu quinto cigarro só naquela tarde.
Meu cabelo fedia a fumaça, minha boca estava seca e meus olhos não saíam da rua calma de casa. Traguei pesadamente o cigarro, soltei a fumaça tentando inutilmente fazer círculos com ela.
– Nem pra isso eu presto. – disse comigo mesma.
Suspirei.
Olhei pra bateria e decidi tocar.
Coloquei meu cigarro na boca, sentei no banquinho da bateria e fiz um coque no cabelo.
Som de uma música qualquer começou a soar no meu quarto. Eu batia cada vez mais forte, tocava com mais dor e de repente, me vi chorando.
Parei de tocar, fumando ainda o meu humilde cigarro. Aquele sim era o meu único companheiro.
Tentei segurar as lágrimas e já cansada de pensar sobre o que tava acontecendo, resolvi fazer algo que depois eu pudesse me arrepender, mas agora seria bom pra mim.
Joguei meu cigarro no cinzeiro. Coloquei rapidamente a minha calça jeans, uma blusa dos Ramones e um Vans preto e saí de casa em direção à estação de trem.

Fred:
– Já enviei uns e-mails, já postei no Face e no Twitter da banda sobre a festinha, tudo certo. – eu disse entrando na cozinha.
Meus amigos estavam sentados na mesa comendo o jantar. Todos estavam de samba-canção e rindo sobre alguma coisa queGuto tinha dito.
– Posso saber a graça?
– Você! – todos responderam juntos.
– O que tem eu? Eu não to cagado nem nada! – me virei pra ver se tinha alguma coisa de errado.
– Lembrei do episódio da estrelinha colorida. – Guto disse e ah, mano! Eu já sabia do que eles estavam falando – Fred, você falando pra menina que queria ser a estrelinha colorida dela porque se sentia especial perto dela. – naquele momento eu tava morrendo de vergonha.
– Cara, eu tava bêbado e queria muito ficar com ela então pensei que qualquer coisa seria jogo!
– Velho, isso foi a pior cantada que eu pude ouvir. – Sousa riu.
– Porque você não ouviu todas do meu repertório. A sua prima deve saber quase todas! – eu me defendi e ele ficou sem graça.
– Tira a minha prima da história! – ele pediu.
– Não! Falar de mim assim é legal, mas dar a prima pra mim que é bom, nada né? - disse safado. Ele sabia bem as minhas intenções nada boas com a prima gostosa dele. Acho que todos sabiam.
– Que isso, dude! A prima é covardia... – Guto disse em defesa de seu querido amigo.
– Covardia é irmã, como nunca peguei as irmãs de vocês, não posso falar nada. Agora a prima...
– Puta que pariu Fred! Você pegou a minha prima? – Davi pareceu nervoso.
– Vou te deixar com o gostinho da dúvida. – eu dei uma risada fatal.
Comigo era assim, quando brincadeira era pesada, levava outra na cara!

ju:
Cheguei à antiga ferrovia. Já estava escuro e parecia que ia chover. Enrolei-me mais na minha inseparável jaqueta preta que tinha resolvido trazer comigo de última hora.
Procurei instigada pelo cara que queria. Eu estava nervosa, com mente, espírito e coração loucos. Eles precisavam de sossego que eu podia muito bem dar.
Eu tinha achado o tal cara, o fornecedor.
O nome dele era Frederico Gordon, mais conhecido como Fred. Até que ele era bonito. Magro, cabelos pretos, olhos azuis redondos e convidativos, tudo que garotas queriam: boa aparência e muito bom de lábia.
Fred só tinha um defeito, vendia maconha.
– Faz tempo que eu não te vejo por aqui. – ele falou pra mim assim que cheguei.
– Vida corrida. – falei simplesmente. – Quero algum.
– Claro, princesa – sua voz era mansa – Quer quantos? Você sabe que quem manda aqui é você. – ele passou sua mão em meu rosto – Cadê seu amigo, o que sempre vem aqui?
– Eu não sei, não faço a mínima idéia. – pela primeira vez, eu não sabia onde Mike estava, por onde andava e isso me deixou com uma sensação ruim. – Vai me dar ou não?
– Quantos você quer? - ele abriu sua bolsa que ficava nas costas – Você sabe que aqui é no precinho, não sabe?
– Sei, quero dois. – ele tirou dois cigarrinhos de sua bolsa e me deu. Dei o dinheiro e fui andando, mas antes ele falou:
– Obrigado por negociar comigo.
Sentei na escada que levava na recepção da antiga ferrovia. E aquela aparência de antigo me agradava. Acendi o cigarrinho sem muita dificuldade, eu poderia dizer que estava ansiosa para ficar chapada. Tudo que eu queria ficar fora do ar por alguns momentos.
Traguei o baseado segurando-o com os dedos polegar e o indicador, fechando logo os olhos. Primeiro, aquela sensação boa atingira meu corpo rapidamente. Soltei a fumaça pelo nariz e tudo que senti depois foi minha cabeça ficar pesada. Apoiei-a na parede que eu estava encostada fechando os olhos novamente.
Ah, aquela sensação de alívio que eu tanto queria finalmente estava vindo. Cocei a cabeça preguiçosamente sentido cada parte dos meus dedos encostando-se ao meu coro cabeludo e aquilo estava incrivelmente gostoso.
Puxei mais uma vez no meu baseado e uma vontade gostosa de rir veio na mesma hora. A vontade foi tanta que eu nem esperei soltar a fumaça, ri com toda força e com isso, tossi me engasgando com fumaça presa ainda na garganta.
Eu estava feliz ali. Não tinha nenhum problema, não brigava com ninguém, não tinha ciúmes de ninguém. Eu podia ser eu mesma ou uma versão sorridente de mim.
Ali, eu poderia ser que eu quisesse ser.

Fred:
– Bom dia! O que tem pra hoje? - perguntei me espreguiçando. Davi sem camisa, só de calça jogado no sofá com cabelos amassados, Guto tinha melado sua blusa com pasta de dente e foi tirar a blusa, e Harry dormia no sofá
– Aula de Física, Matemática e Redação. – Davi olhou seu caderno com os horários das aulas.
– Mano, hoje tem Redação! Eu odeio essa matéria! – eu falei penteando o cabelo.
– É sério que você tá reclamando de Redação quando se tem Física e Matemática no mesmo dia? - Sousa parecia indignado.
– Nas aulas de cálculos, meu caro amigo, ainda dá pra enrolar, mas em redação não! Aquela velha dos infernos fica toda hora em cima e você sabe que eu tenho preguiça de escrever! Saco!
– Parem de gritar, to querendo dormir. – Harry falou como um gato manhoso e dei um tapa na testa dele.
– Fale que nem homem, porra! Acorde, a gente já vai pra merda do colégio. – avisei.
Chegamos ao colégio, a maioria da galera vinha pra falar com a gente sobre a tão esperada festa dos Mcguys. – era assim que nós éramos conhecidos.
Minha atenção foi direcionada a certo corpo que passara no portão.
Seus cabelos estavam lindamente soltos, seu estilo não negava quem era. Passou por mim como se não me conhecesse, só cumprimentou os meus amigos e um cheiro um pouco conhecido nos chamou atenção.
– Eu sei que você não quer saber dela, mas ela anda se drogando de novo? - Hazz cochichou no meu ouvido.

Júlia:
– Que cheiro é esse, Júlia Torres? - Cris me perguntou preocupada.
– Se sabe, pra que eu vou responder?
– Acabou o respeito! Como você vem chapada pra escola, hein? Tem medo do perigo não?
– Não! Eu nem fumei tudo, ok? Eu só fumei uns poucos tragos. Deixei um pouco pra outra hora. Algum problema? - eu senti que naquela hora eu fui realmente debochada, mas eu não tava nem aí.
– ju, isso tem a ver com Mike? Você voltou a ser amiga dele, é isso? - Bia perguntou.
– Eu não sei onde Mike está e nem quero saber! No mínimo, ele deve tá jogado numa calçada e drogado, como me deixou. To indo. – o sinal tocou e fui até a minha sala.
Os dias se passaram e cada vez mais me via distante do mundo real. O final de semana tava quase aí e o meu medo de ficar sozinha em casa triste ia ficando cada vez maior.
– Professora, posso ir ao banheiro? - era aula de Filosofia e tava chata pra caralho.Eu não queria assistir nem a pau, então resolvi fumar.
– Porra Júlia, vai fumar de novo aquilo? - Bia sussurrou enquanto eu me levantava. Sua voz era de decepção.
Neguei com a cabeça, mostrando discretamente o cigarro normal pra ela e senti de longe seu alívio.
Saí indo em direção ao Corredor dos Losers. Fui descendo as escadas quando algo se chocou comigo.
– Ei, toma mais cuidado. – falei, não vendo quem era a pessoa. Meu cigarro caiu para um degrau mais abaixo que a pessoa que logo em seguida, descobri quem era.
– Desculpa... – Fred disse de um jeito fofinho que me fez quase abraçá-lo ali mesmo.
Eu tava com saudade, era fato.
– Ah, é você. – tentei expressar desânimo, quase conseguindo.
– Acho que isso é seu. – ele pegou o cigarro da mão e me deu.
– Obrigado. – peguei quase grosseiramente o cigarro de sua mão. – Pode me dar licença, por favor?
– Claro. – ele abriu caminho. Assenti com a cabeça em forma de agradecimento. Desci as escadas nervosa quando o ouço perguntar:
– Vai pro corredor?
– Velhos hábitos não mudam. – respondi e desci de vez.
Eu queria dizer tudo que estava entalado dentro de mim. Dizer que o queria de volta, queria com todos os defeitos dele. Eu queria dizer que estava com saudade do jeito que ele tem aquele nariz empinado, do jeito que ele toca guitarra, do jeito que fuma e até do jeito que mexe o cabelo.
Eu queria tudo que ele tinha.
Fred:
Eu passei o resto da aula calado e pensativo.
Já tava decidido que eu não queria ter nada a ver com a vida dela, mas a minha preocupação estava clara. Eu sabia que Júlia andava exagerando nas doses de loucura. Eu podia sentir só pelo cheiro!
Eu prometi a mim mesmo que sua vida não me interessaria mais, o problema é que com Júlia as coisas não são tão rápidas assim. Não tem como você dizer “não, eu não quero mais gostar dela”. Eu simplesmente não sabia o que faria. Deixá-la dar uma de drogada e perdida ou se tentava, pela última vez, ajudar.
Aí veio uma idéia. O meu último ato de solidariedade.
O sinal do intervalo tocou, nós fomos pra nossa mesa no centro do pátio.
– Fred, tá rolando alguma coisa? Você tá caladão... – Guto observou e eu não respondi.
– Eu volto já. – saí sem dar mais explicações. Fui até Sophia, Beatriz e Cris. ju não estava, então a hora era agora.
Já que eu não podia mais cuidar de Júlia de perto, pediria às suas amigas pra fazê-lo.
– Oi. Pois não? - Cris tirou o canudo da boca.
– Quero saber da Júlia. – falei um pouco envergonhado. – Eu sei que ele deve ter feito a minha caveira pra vocês, mas enfim... Notei que ela anda meio estranha, mais do que o normal. – eu soltei essa e as meninas olharam torto. “Porra, Fred! Você tá falando com as estranhas do colégio!”, pensei comigo mesmo e ri sem graça, mesmo assim, continuei – Entendam, quero saber como ela tá. Eu to preocupado.
Sophia suspirou parecendo preocupada.
– Ela vive. Fumando loucamente, mas vive.
– Fumando o que eu devo estar pensando?
– Não sei, Fred. – foi a vez de Bia responder. – Nós não sabemos. Às vezes ela fuma baseado, às vezes cigarro. Mas o que tá na cara é que ela não para de fumar.
– E se você acha que tem a ver com isso... Saiba que está certo! – Cris me alfinetou.
– Olha, a Júlia já é bem grandinha pra saber o que é certo e errado. Se ela quer se destruir, aí não é problema meu! Mas isso não importa, não vim falar de nós dois. Eu só vim pedir pra que cuidem dela. – as meninas me olharam surpresas – Mesmo afastado, eu quero o bem dela. – percebi que ju vinha e logo me apressei – Vou nessa antes que eu seja expulso.

Júlia:
– O que ele queria aqui? - apontei com o meu polegar pra Fred que tinha saído assim que cheguei.
– Se eu fosse você, ia pra festa mais do que nunca. – Cris deu um sorriso enigmático voltando a tomar o seu suco.
– Alguém pode me explicar o que tá acontecendo? - perguntei ainda sem entender nada.
– Fred anda preocupado com você, ju. É isso. – Bia falou simplesmente. Senti um arrepio na espinha só de saber que ele ainda pensava em mim. Isso era bom, não era?
– Sério? Ele não pareceu preocupado quando tava quase agarrando Rachel no meio do pátio. – roubei o cookie que estava na mão de Bia.
– Hey! Isso era meu! – ela falou aborrecida.
– Era seu. –comi, pensando que pelo menos por agora, as coisas estavam ficando bonitinhas.

No laboratório de Química...
Eu tentava a todo custo não pôr fogo no meu jaleco. Eu tinha o poder de fazer desastres naquele laboratório, e com certeza o fogo não era o meu amigo ali.
Com os óculos de proteção, mexia na solução azul, que logo seria acrescentada em outra pra aquecer. Minha dupla escrevia no caderno o que seria feito depois dali.
– ju, coloca no tubo de ensaio essa solução. – fiz o que ela pediu – Depois jogue tudo no béquer que vai aquecer a parada.
Mais uma vez, fiz o que me pediu.
– ju?
– Oi.
– Você não acha estranho esse sumiço do Mike? - verdade, agora eu tinha parado pra pensar que Mike tinha sumido mais uma vez.
– Ele deve tá fazendo as coisas dele, Bia. Fica tranqüila, você sabe como ele é. – tentei tranqüilizá-la. Bia deu um sorriso torto.
Eu não tinha noticias de Mike há dias! E se ele tivesse em algum lugar perigoso? Se ele tivesse se metido em algum problema?
Eu comecei me preocupar, mas no fundo sabia que não adiantaria nada! Mike sempre se metia em encrenca e escapava. Então, tava tudo certo.
– Porra! Tá pegando fogo! – Bia gritou quando eu sem querer encostei a palheta de madeira na tocha.

Fred:
Sábado, dia da festa. Finalmente.
Eu tinha tudo planejado: a festa seria um sucesso. Bebidas, música e garotas.
Tudo que um cara poderia imaginar. Tudo sairia perfeitamente bem.
– Acorda, caralho! A gente tem que pegar as bebidas do depósito. – eu estava de boxers, com cabelos bagunçados e de meias, tentando acordar Hazz que babava no travesseiro.
– Calma, to indo. – Harry se limitou a dizer isso e voltou a fechar os olhos. Esse cara tava de brincadeira, só pode.
– Eu vou chamar mais uma vez, e se você não levantar...
– TO INDO! – ele se levantou puto. Sua cueca samba-canção cheia de estrelinhas sorridentes me fez ter ataque de riso.
– Você ainda usa essa merda? - apontei pra cueca ridícula dele. Harry me deu dedo e foi até o banheiro. – Como você ousa chamar os seus amigos de bichas usando uma merda dessas?! – gritei e bati na porta do banheiro.
– Não fode. Me deixa tomar banho! – disse com voz de sono.Saí e fui me arrumar.

Júlia:
Acordei coçando os olhos e soltando um bocejo gostoso.
Levantei a cabeça, sentindo uma forte dor. Olhei pra o lado, tinha bebido demais na noite passada. As sete garrafas de cerveja denunciavam isso.
Merda.
Minha blusa dos The Doors me engolia e eu só estava de calcinha. Olhei em volta percebendo a bagunça que eu tinha deixado na noite passada. Minha mãe ia brigar.
Levantei-me. Vi o cinzeiro perto da janela cheia de bitucas de cigarros, algumas no chão também. Tive até um susto quando vi que havia queimado – acho que sem querer – o edredom preto cheio de notas musicais brancas. Outra coisa pra minha mãe brigar, legal.
Decidi, antes de tudo, tomar banho porque eu estava podre.
A água quente relaxa meus músculos me fazendo dar pequenos suspiros. Sério, eu estava tensa, minhas carteiras de cigarro que o digam.
Eu me afundava no meu próprio problema, eu não queria dividir Fred com ninguém, mas tinha medo de tê-lo pra mim e isso me corroía.
Eu sou tão orgulhosa que chego ao ponto de sentir dor só de pensar em me rebaixar e pensar que precisava de Fred, e precisava agora.
Mas aí era que tava o problema todo que eu criei, eu não queria chegar lá e dizer o quanto eu tava mal, e o quanto eu estava arrependida de ter acabado a nossa pseudo-relação. Aquilo tava me matando.
– E ainda tem a droga da festa. – disse pra mim mesma saindo do box do banheiro.
Parecia que eu podia ver tudo. Fred e Rachel se agarrando no meio da festa e eu, no meu quarto, curtindo minha solidão regada a cigarros e cerveja.

Fred:
Batia meus dedos no volante ao som de Coldplay. Harry ao meu lado usava seus inseparáveis óculos escuros e cantava junto com a música.
– Sinto que essa festa vai ser épica. – falou quando a música havia acabado.
– Se vai ser eu não sei, só sei que vou deixar meu zíper aberto pra criar expectativas. – Harry riu junto comigo.
Nosso carro estava lotado de garrafas de cerveja, vodka e uísque. Passei sobre um quebra mola e as garrafas bateram entre si, fazendo barulho.
– E a Rachel vem, né? - senti uma certa acidez em sua voz.
– Vem, acho que vamos ficar. – falei – Você não gosta dela?
– Sei lá. Ela sempre foi sem sal. – Hazz como sempre, foi direto. – Mas não sou eu quem vai pega-la. então...
– Sempre tão amável. – revirei os olhos. Já estávamos na esquina da nossa casa.
– O que será que os caras estão fazendo? - ele ignorou o que falei e perguntou.
Chegamos em casa . Guto estava com uma vassoura na mão e Davi com um pano.
– Milagres existem. – joguei minhas mãos pro alto, agradecendo – Obrigado Senhor por esse milagre!
– Idiota. – Andrelli quase ia dando uma vassourada em mim. –Já que os espertos foram comprar as bebidas, decidimos arrumar as coisas por aqui. Mas não pensem que vão ficar aí sem fazer nada! Peguem alguma coisa e limpem lá fora e a piscina também, ela tá podre. – ele ordenou e pela primeira vez tive medo de Guto.
Eu não mencionei a nossa casa por fora. Tínhamos uma parte externa, onde ficava a piscina, o bar – onde mais tarde íamos colocar um mini palco – e algumas mesas com guarda-sol.

Júlia:
– Tem certeza que você não vai? - Sophia perguntou pra mim. Todas elas estavam no meu quarto já arrumadas. Sophia usava um short boyfriend com blusa branca e uma xadrez por cima. Beatriz usava uma blusa preta dos Beatles que deixava um dos seus ombros aparecendo, sua legging era preta também r ficava legal com seu All Star branco, já Cris tava vestindo uma blusa branca com os dizeres “Just art”, calça rasgada e um sapato de couro.
– Tenho, gente. Não ia ser legal mesmo eu estar lá... – me enrolei mais nas cobertas. Não tinha feito nada o dia todo.
– Se você quiser, a gente fica. – Cris disse, me surpreendendo. Eu sabia que ela queria mais que tudo ir nessa festa e ficar com Hazz, mas ela ficaria por mim, se eu pedisse. Uma fofa.
– Não, quero que vão e curtam a festa dos populares! – eu dei um sorrisinho pensando que nunca imaginaria elas numa festa dessas.
Cris fez carinho no meu rosto e se levantou.
– Vamos meninas? - pegou sua bolsa em cima da minha escrivaninha. – Qualquer coisa ligue. E quando eu digo qualquer coisa é qualquer coisa mesmo! – ela riu. Abaixou-se pra dar um beijinho na minha bochecha e falou – Eu ainda tenho esperança de te ver lá. – ela sussurrou no meu ouvido e ficou ereta logo em seguida.
– Tchau, meninas! – elas se despediram de mim e se foram.
Ia ser uma longa noite.

Fred:
So hold me close and say three words like you used to do, dancing on the kitchen tiles... Yes you made my life worthwhile. So I told you with a smile... It's all about you. It's all about you baby!– nós estávamos fazendo o show de abertura da nossa festa. A casa já estava cheia e as pessoas estavam indo à loucura.
Demoramos mais uma hora até acabar o show sob aplausos de uma galera já alta e divertida.
Tirei minha correia da guitarra e saí do palco seguido dos meus amigos.
O negócio era que a gente ainda estava na parte externa, estávamos começando a beber. Guto já estava contando suas épicas piadas, fazendo todo mundo rir. Estávamos na terceira garrafa de cerveja até que Davi viu uma loira muito da gostosa passar.
Guto olhou pra mim com um olhar de luxúria.
– ESSA É GOSTOSA! – gritou e nós nos olhamos envergonhados. Andrelli nem se abalou. – Vou até lá e fazer o corre pro Fred que tá precisando. Agora, se ela quiser o Andrelli aqui, não posso fazer nada. – e saiu. Ri do meu amigo e da sua atitude de me arranjar uma garota, coisa que eu podia fazer sozinho.
– Oi. – uma menina sorridente e linda falou. Bem sugestivo Rachel aparecer nessa hora.
– Oi Rachel. – dei o meu melhor sorriso. Estendi meus braços para abraçá-la. Seus cabelos estavam cheirosos e suas mãos acariciavam minha nuca.
Eu estava gostando daquilo.
– Fred, vamos falar com um galera, voltamos já. – Hazz me avisou e saiu com Davi indo até a churrasqueira.
E então, fiquei sozinho com ela.
– A gente pode entrar? Tá frio aqui. – falou manhosa me fazendo pensar em coisas nada boas. Levei-a para dentro que estava cheio e com música alta.
– Hey Maia! Puta festa, cara! – um cara da escola me cumprimentou perto da porta de vidro. Dei um high-five agradecendo e o mandando curtir como se o mundo fosse acabar hoje.
Todo tempo Rachel segurava minha mão enquanto eu falava com os convidados. Ela era simpática, bonita e cheirosa! O que um cara poderia pedir mais?
– Quer beber alguma coisa? - perguntei preocupado. Ela assentiu e fomos pra cozinha.
A cozinha estava cheia também, novidade – só que de amigos.
Os caras estavam lá com Bia, Sophia e Cris. Todos juntos, mas não juntos. A não ser por Bia e Davi, que finalmente estavam se pegando.
Ao ver o olhar estranho de Cris pra Rachel, eu imediatamente, tirei sua mão da minha fingindo que ia pegar alguma bebida.
– Oi, meninas! – falei animado e elas me responderam – Por que tanta isolação? A festa é lá! – apontei pra porta fechada que levava pra sala onde tinha um DJ brother nosso tocando.
– Tá bom aqui! Perto das bebidas... E depois, lá tá cheio de gente e to esperando uma pessoa... – Judd falou piscando pra mim e eu já sabia quem seria essa tal pessoa.
– Hm... Vou lá pra fora. – olhei pra Rachael – Conversar um pouco.

Júlia:

“A vadia tá aqui.”


Cris me manda essa mensagem.
Eu já sabia quem tava por lá. Rachel.
Meu coração deu um nó tão grande que senti lágrimas imediatamente irem pros meus olhos.
Porra, eu não queria ficar em casa enquanto uma vadia tomava o meu lugar e o meu cara! Sério, eu tinha perdido uma das melhores chances de gostar de alguém e isso pode parecer um tanto quanto brega, mas queria sim, ficar com ele e amá-lo.
Eu tava nesse nível. Eu queria porque queria ficar com ele e não me importava porra de orgulho nenhum!
Se pra ser feliz e ficar com o cara que eu gosto eu teria que passar por cima do meu orgulho, então que assim seja!
Abri meu armário pegando um vestido preto, uma camisa listrada, minhas botinas de guerra e um chapéu preto.
Eu iria pra festa.


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