Kit Black: Viajantes De Mundos escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 26
O cerco se fecha/Parte I


Notas iniciais do capítulo

Estamos na reta final! Uhu, Yeah!
Mais uma vez explicando, como os capítulos ficam enormes no meu word eu geralmente posto eles aqui por partes, se não fica super cansativo de ler tudo de uma só vez.
Obrigado a todos os guerreiros que me acompanham e que chegaram até aqui. Kisses



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Foram duas semanas preparando-se para a catástrofe. No décimo quarto dia, os integrantes da Equipe Black, já recuperados de seus ferimentos, foram chamados às pressas para comparecer ao Palácio de Granito. Cansados, famintos e desarrumados, eles se reuniram na Sala do Computador Central. Não era um bom lugar para se estar.

O lugar fervilhava, com guardas e serviçais rodando de um lado para o outro... uns pareciam extremamente tristes... outros, em pânico completo. Kit se perguntou intimamente se Haradja finalmente tinha deixado seu quartel-general. Ela não poderia estar mais certa...

–O que houve aqui?

–Precisaremos de um grupo que siga para Vadolfer. -começou Iris, teclando insistentemente no computador a sua frente. Tanto ela quanto Nicolas estavam no Palácio antes da convocação, e foram ambos que passaram a mensagem. Enquanto fazia a cadeira dar uma guinada para trás e girava para observar seus subordinados, eles podiam notar certa tensão em suas maneiras. -O resto de nós ficará aqui.

–Mas o que diabos aconteceu!? -revoltou-se Kira, aproximando-se um pouco mais. -É Haradja?

–É o exército inteiro. A frente de Gaia finalmente alcançou o centro de Vadolfer, e o resto do contingente está vindo direto pra cá. Com Haradja à frente. -Nick não parecia melhor que Iris. Na realidade, poderia se dizer que ele tinha visto mais uma chacina em sua vida. Esfregou os olhos, com olheiras profundas.

–E o Imperador, o que está fazendo numa hora como essa? -o silêncio envolveu o recinto após as palavras de Ken. Houve alguns comentários em baixo tom, antes que Nicolas respondesse, em um tom contido.

–Assassinado... encontramos o corpo pela manhã.

–Hemorragia. Deixaram-no para morrer.

Kira estalou a língua, tentando encontrar palavras para reverter o próprio choque. -Como diabos alguém entra no Palácio de Granito e mata o Imperador assim? Cadê a segurança desse lugar!?

–O assassino estava infiltrado em nosso meio. Nem saberíamos quem é, se o próprio não tivesse mandado uma mensagem dizendo para procuramos nosso Imperador.

Ken pressionou os punhos com muita força ao ouvir isso. -Driguem... é bem a cara dele.

Iris desviou o olhar para a tela novamente. -A mensagem chegou junto com o aviso de invasão imediata. Isso é um ultimato. Nós não temos tempo para debater, temos que enviar a equipe para Vadolfer e nos organizar AGORA.

Kit não pôde fazer mais que assentir com a cabeça, e por ser um membro da equipe de campo, se preparou para ser chamada, mas logo as suas esperanças murcharam quando a semi-fada continuou, impassível: Hiei, Mitaray, Ken, Crós e Kira... vocês vão...

–Mas... espere... e eu? -apontou para si mesma, indignada, afinal era do grupo desde que adentrara a Equipe Black. Kira não parecia ligar que estava sendo tirada de seu posto, até porque ela iria bater em alguém do mesmo jeito.

–Você fica! -Nicolas e Iris disseram ao mesmo tempo, sem que qualquer um deles tenha tirado a atenção do que estava fazendo.

–Sua prioridade é Haradja, não é? Seu lugar é aqui.

Kit manteve-se segurando a mão esquerda, por algum motivo ela não tinha se curado completamente desde a explosão. Marcas negras a envolviam completamente, e não conseguira se livrar delas. Em silêncio, abaixou a cabeça e assentiu brevemente. -Como desejar...

O grupo selecionado para partir teve pouco tempo para se preparar... os ânimos estavam exaltados. Aquele clima de batalha final atacava os nervos, o suficiente para qualquer um titubear, mas... todos já estavam preparados para aquilo. Cedo ou tarde, a guerra estouraria. As despedidas desta vez não foram demoradas. Aqueles que ficaram desejaram sorte... os que partiam se preocupavam ainda mais. Mas não havia tempo pra isso.

Não havia tempo para nada...

Aqueles que ficaram no Palácio podiam sentir a pressão do medo que Haradja trazia, mesmo sem sequer ver suas tropas. Parecia que o mundo havia silenciado, ou apenas estivesse prendendo a respiração. Os minutos se arrastavam. A comunicação com o grupo de campo foi perdida. E aquela sensação de que estavam sitiados foi aumentando velozmente, até que os gritos de guerra começaram a chegar do lado externo. Ouvia-se uma canção rosnada e maligna, que não tinha muito conteúdo além do próprio ódio, tão semeado por aqueles que discordavam da paz.

Fuja, fuja, eu vou te atacar.

Corra, corra, derramaremos seu sangue.

Enlouqueça, enlouqueça, seu tempo chegou ao fim.

Venha rastejar, entregue-nos sua cabeça.

–Olha, eles sabem fazer música. -Iris lançou um olhar cético a frente, quebrando o silêncio momentaneamente... as câmeras flagravam o amontoado de assassinos e demônios, a postos.

–Muito comovente, mas... onde está Haradja?

–E Cassandra... ela também não se encontra. -Nicolas pessoalmente via um enorme problema nesse fato, porque Cassie era a pior criatura que poderia vir ao encontro deles, desde o começo. Sem dúvida estaria armando algo por trás dos panos, e eles aprenderam da pior forma possível a temer esse “algo”.

–Não vai ser bom se pegarem a gente aqui dentro, de qualquer forma... -Cloe argumentou, passando os olhos pela massa demoníaca que se aproximava. -Temos que sair, ou seremos esmagados.

–Sim mas... a superioridade numérica vai pender pro lado deles...

–Hum. Os civis já foram evacuados?

–Estão no lado norte da cidade, mas se não resolvermos isso logo, vão acabar chegando até eles.

Nick fez a espada deslizar para fora da bainha. -Certo... vamos sair.

–Não estou gostando disso... -resmungando baixinho para si mesma, Kit seguiu o irmão de perto.

Os representantes da Equipe Black que ainda restavam e uma boa parte dos guardas se dirigiram para o lado de fora... as ruas tão polidamente esculpidas e desenhadas agora estavam vazias. O memorial à paz que o Reino trazia seria posto abaixo com facilidade. Enquanto percorriam aqueles poucos metros, os corações pareciam prestes a parar de bater. Aquilo era uma guerra...

Pelas ruas vazias nas quais apenas poeira dançava, as duas hordas se encontraram. Não houve aquele momento pré-batalha, onde os líderes trocavam palavras. Tão pouco existiram quaisquer dizeres fadados a cair na memória. O primeiro choque foi violento, a ponto de fazer a terra estremecer...

Kit Black definitivamente não queria entrar no meio de uma batalha daquela magnitude, mas não é como se tivesse tido escolha... quando deu-se por si, estava cercada por todo o tipo de coisa ruim que poderia imaginar. Então ela arregaçou as mangas, respirou fundo e começou a bater. Seus ataques eram precisos, enquanto ela trocava de uma foice para uma espada, e da lâmina para uma pistola, mudando de perto para longe com extrema facilidade. Saltou, usando literalmente as cabeças de demônios como chão particular, aproveitando para chutar alguns, e enquanto o fazia, materializou desta vez uma lança, a qual usava para perfurar os corpos mais perto. Ela não parava um minuto sequer, sabendo que se o fizesse, estaria morta.

Nicolas e Iris estavam de costas um para o outro, tendo de lidar com inimigos vindos de todas as direções. O primeiro abaixou no ultimo momento, desviando de um golpe que visava seu pescoço, no qual a semi-fada girou imediatamente, preenchendo o espaço vazio com a lâmina de seu “sai”, que atravessou a carne do atacante. Girou novamente, saltando por cima de uma lâmina que vinha em sua direção e desferindo na cabeça de seu portador um chute, enquanto Nicolas cortava suas pernas. Eles sem duvida formavam uma boa dupla, um complementando o golpe do outro. Agora estavam uma vez com as costas encostadas. -Nada de sua irmã ainda...

–Ela anda bem desinformada, se acha que seu exército sozinho pode fazer todo o estrago.

–Essas coisas fazem estrago suficiente, maldição... -enfiou o sai no rosto de mais um demônio, fechando a guarda. -Vamos tentar segurar o máximo que conseguirmos.

Um pouco mais distante desse grupo, estavam Cloe e Sacha. Poderia se dizer que estavam passando por bons bocados, mas não seria uma afirmação muito verdadeira, afinal... Draco estava com elas. Ele fazia churrasquinho de qualquer um que chegasse muito perto... os demônios e seres sob o comando da Lady Infernal iam caindo um após o outro, alguns com flechadas, outros partidos ao meio pelo chicote -mais afiado que antes- de Cloe. E o que restava se transformava em cinzas com muita facilidade.

–Quem foi que disse que um dragão não era uma boa ideia?

–Acho que foi o Crós...

–Crós sendo chato como sempre... -o protesto da ruiva foi interrompido por uma criatura realmente alta, poderia ser um gigante ou algo que o valesse... antes que pudesse usar de suas asas para esquivar, ele já havia imobilizado-a, segurando-a pelo tronco, como se não fosse nada mais que uma bonequinha de pano. A movimentação lhe causava vertigem. A bocarra do gigante começava a chegar mais perto, desesperadoramente perto demais.

“Ele vai me comer...”

Aquela perspectiva lhe trouxe lágrimas aos olhos... talvez até agora não tinha percebido o quão perigosa era a situação em que havia se metido. Não queria morrer... tentou chutar e se revirar, sem muito sucesso... e quando estava perto o bastante para sentir o bafo dele, sentiu que a pressão afrouxava e o monstro deu um uivo de dor... vendo seu corpo cair, seu instinto de sobrevivência falou mais alto e ela abriu as asas, ficando no ar... tinha algo errado com o gigante em questão... ele estava... sem um dos braços...

–Nunca lhe disseram que não se deve brincar com a comida? -um vulto estava parado em frente ao monstro, ao lado do braço decepado do mesmo. A arma que fizera o estrago, uma lâmina denteada e sem duvida alguma bem diferente, brilhou no campo de batalha, enquanto mais demônios chegavam para atacá-lo. Ele se livrou de seus oponentes com maestria, retalhando-os numa velocidade alucinante... quanto ao gigante, este finalmente deixou de queixar-se do membro perdido e decidiu vingá-lo... agora os dois se encaravam...

Cloe chegou ao local mais perto da ruiva nesse impasse, montada em Draco e utilizando sua armadura negra, aquela mesma que usara no dia do teste. O chicote estalou para derrubar um demônio que tentava pular para agarrar Sacha, e logo ela puxou o braço, fazendo-o enrolar-se a volta de si mesmo. -Preciso realmente de uma arma mais útil... Sasha, você está bem? -deu a mão para que a outra segurasse, e ela deixou-se cair nas costas do dragão, descansando as asas.

–Quase fui comida... e você ainda pergunta se tá tudo bem!?

–Continua bem inteira na minha opinião... então sim.

Ela não teve tempo pra retrucar, vira com espanto cada vez maior o corpo enorme do gigante ser repartido em milhares de pedaços. -Quem é esse cara afinal?

–Que... -A moça de cabelos cacheados olhou para a mesma direção. Observou o vulto, principalmente a espada... -Dente de Dragão.... A Lâmina Amaldiçoada de Gelo e Fogo.

–Significa o que?

–Aldeon... eu já ouvi falar dele... é um dos Guardas Reais...

–Moças... se não for incomodo e sem querer atrapalhar o diálogo, mas se pudessem descer aqui seriam de grande ajuda... -um par de olhos gelidamente azuis ergueu-se para observá-las, e a resposta foi automática: -Sim, Senhor!

Kit sentiu como se algo a houvesse agarrado em pleno ar, o que a fez lembrar-se de uma ave de rapina capturando um roedor... foi extremamente rápido, ela mal teve tempo de raciocinar a razão daquilo... uma sombra desceu dos céus, uma sombra de asas enormes e demoníacas, e uma mão pálida e firme segurou seu ombro no momento em que saltava de cabeça em cabeça, buscando se juntar aos outros.

–Onde pensas que vai?

Aquela voz... Kit conseguiu girar o pescoço apenas o suficiente para ver seu rosto, pintado com uma expressão diabólica digna de sua alcunha. Sentiu que agora estava em queda livre, e não era só impressão...-Harad...

Mal tinha começado a pronunciar o nome e sentiu-se afundar no chão de concreto. O aperto diminuiu, mudando o ponto de pressão para que seu rosto continua-se semi-enterrado no chão... Kit bateu a parte de trás da mão em alguma parte do corpo da irmã, o que a fez largá-la momentaneamente. Talvez tenha acertado a cara dela. Conseguiu se recuperar, e no mesmo momento partiu para o ataque, o que de fato não era muito útil...

Afinal, Haradja era imortal. Cada pancada, arranhão, compressão, ferida se curava, e o contra-ataque era, na grande maioria das vezes, arrasador. Kit se sentia brigando contra uma estátua de metal, sabendo que por mais que ela batesse, mais machucaria a si mesma e menos dano daria no objeto. Era frustrante, a situação mais frustrante pela qual já passara... e a mais perigosa. Ela precisou correr em direção a um beco e escalá-lo para se livrar da perseguição implacável da irmã. Mas de que adiantava, se a outra tinha asas?

–Francamente, sua fedelha imberbe... eu esperava muito mais de ti. Pare de bancar um rato e venha me enfrentar cara-a-cara!

Haradja agora alçava voo, fazendo aqueles que estavam abaixo se vangloriarem, e também se desesperarem. A sorte desses últimos é que ela estava ocupada tentando recapturar Kit.

–Kit, Kit, Kit... onde seu futuro cadáver se escondeu, hum!?

Deixou os pés tocarem a telhado de um prédio e sentiu o cheiro de batalha adentrando suas narinas, o ar estagnado passando pelos seus pulmões. Aquela sensação era revigorante. Era pra isso que ela estava ali. Para trazer vingança àquela ralé imprestável de Diamond, aqueles hipócritas que se diziam tão bons, mas eram incapazes de compreender um transtorno bipolar ou estender a mão para alguém que tenha surtado. Aquele mundo patético onde Deuses eram absolutos mas não faziam droga nenhuma para ajudar quem quer que fosse. Eles não se importavam...

Pessoas que viviam e morriam, eles não se importavam.

Ela ia ensiná-los a temer... ela iria levá-los ao desespero mais profundo que pudesse, e depois os enterraria vivos.

Afinal... tem coisas muito piores que a morte.


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