Kit Black: Viajantes De Mundos escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 20
Nenhum Lugar é invulnerável/Parte II




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Distante dos olhos de Sabrina, o restante da Equipe Black confabulava na Sala dos Computadores. Iris parecia muito mais preocupada que o seu normal. Ela andava de um lado para o outro, mordendo com certa força o polegar. Os outros começaram a imaginar se ela não acabaria sem a ponta do dedo até o final do dia. -Não estou gostando disso... isso é ruim...

–Por que simplesmente não a prende como fez comigo, só pra ter certeza? -Ken ainda estava zangado com relação àquele episódio, mas isso não tirava sua razão.

–Você quer que eu prenda uma fada de dez centímetros em uma cela? Acha que isso faria alguma diferença?

–Se está tão incomodada com isso deveria tentar algo.

–Crós deu a ela aquele elixir que eu pedi... a essas horas deve estar adormecida. -lançou um olhar de viés para o mago. -Não é?

–Gente de pouca fé... -o feiticeiro cruzou os braços. Efeito garantido. Ela praticamente estava apagada quando a levamos para o quarto.

–Bem, isso deixa-nos livres para pensar por algum tempo. -Mitaray alegou com sua voz baixa, enquanto afiava a foice entre seus dedos com cuidado. -Se ela sofreu algum ataque psiquico ou foi sequestrada e foi feita uma lavagem cerebral... isso pode nos causar problemas futuros.

–Temos que arranjar uma maneira de prendê-la definitivamente. -Cloe batucou seus dedos no braço do sofá. -Depois tentar reverter o dano... seja ele qual for.

–Eu não vi nada diferente da sua atitude de sempre... mas vai saber né... -o outro caçador bocejou longamente. -acho melhor dar uma olhada na pequena polegar lá em cima. -apressou-se a levantar-se, mas acabou desequilibrando por causa do cansaço excessivo. Não foi o suficiente para cair, mas seu corpo abaixou o suficiente para ficar bem perto de um vaso de plantas ao lado do sofá em que estava. Entreabriu os lábios, olhando fixamente para aquele ponto, o que obviamente fez com que os outros se juntassem a ele.

–Qual o problema...?

–Ela não bebeu. -sua mão propositalmente derrubou o vaso, deixando que um liquido de cor esverdeada corresse e se empoçasse no chão logo abaixo.

Ken pareceu perceber alguma coisa, pois mais que imediatamente se atirou em direção as escadas. -Não deve estar mais no quarto.

Não demorou muito para que os outros o acompanhassem. -Sendo assim...

–Eu estava pensando... todos falavam que não tinha cabimento tudo o que aconteceu a menos que um dos cinco tivesse assassinado os outros e depois deixado-se morrer. Mas... -ele engoliu em seco e deu uma guinada para a direita, em direção a porta do quarto que a fada estaria. Abriu-a com um só movimento. -Mas havia Sabrina o tempo todo. E ela não estava conosco na hora do teste. Alguém chegou mesmo a perguntar por ela...

–Fui eu. -Sacha parou também e olhou para dentro. Nem sinal de Sabrina, embora isso não fosse uma surpresa. -Mas não cheguei a ver ela sair.

–Nenhum de nós, pelo visto... seria facil ela chegar até aqui e entrar. Ninguém desconfiaria. Ela é uma elemental, pode viajar com o vento...

–Reidh notaria...

–Reidh estava em reunião... -cortou Mitaray. -Ele não podia desviar sua atenção.

–Mas por que? Eu pensei que ela era amiga de vocês... -A ruiva arfou, voltando o corpo para sair da porta. Estava arfando, afinal não era conhecida por ter um bom desempenho fisico.

–Ela era... -Iris pareceu finalmente recobrar-se de sua mudez, e desta vez foi ela mesma que liderou a corrida até os andaressuperiores. -hipnose, lavagem cerebral... podiam te-la pego bem antes e implantado alguma senha ou outro meio de reação... um sinal para atacar. -ela não estava em seu normal... o polegar que antes mordia agora deixava um rastro escasso de sangue.

–Cassie. -a voz de Crós fez com que todos parassem e voltassem a ele. Sua expressão era dolorosa de se ver. -Como a Deusa menor que é... teria poder suficiente para manter uma hipnose a distância... pela música...

–Kira... verifique a nossa comunicação com o exterior.

Prontamente ela retirou um comunicador e tentou entrar em contato com Alberith, sem conseguir. Tentou uma sgeunda vez, depois repassando para o Palácio de Granito. -As linhas de comunicação estão cortadas...

–Outra vez não...

–Temos de achar aquela pequena traidora antes que seja tarde... -as palavras morreram. A fadinha inocentemente flutuava no meio do corredor, batendo as asas agilmente e ainda mantendo aquela expressão incoente de antes. Iris sentiu vontade de esfolá-la.

–Ah... mas eu estou bem aqui, não estão vendo?

–Renda-se, Sabrina... sabemos de tudo. Já chega de encenação. -Mitaray apontou a lâmina de sua foice para ela, de forma ameaçadora. Mas a criatura não fez mais que rir.

–Ahan, ahan... eu sabia que isso ia acontecer, só não sabia que eram tão lerdinhos... -bateu as palmas das diminutas mãos, ainda com aquele sorriso infantil. Os pés tocaram o chão e ela jogou os braços para cima, fechando os olhos. -Como pode ser? Todos aqueles que tem amigos são fracos em detectar uma traição... a não ser Taylor. Ela ´pareceu desconfiada desde que eu cruzei aquela porta... mas cercá-la foi facil. Ela não teve tempo de ver a lâmina cortar sua artéria. Ninguém tem receio de um ser frágil como eu. Certo?

Iris cerrou os punhos tão fortemente que começou a ferir sua própria mão. Suas asas apareceram para depois se contrair, tomando impulso para alçar vôo, antes de Mitaray a segurar pelo pulso. -Pare... ela está hipnotizada. Se a machucar nesse estado se sentirá culpada depois.

–Vamos apenas prendê-la por hora. -Crós deu dois passos a frente, preparando um feitiço, provavelmente algo para impossibilitar seus movimentos, mas a fada não estava com medo algum.

–É tarde demais. Vocês não podem me pegar. Ele já acordou.

–Quem é ele?? -Sacha ergueu seus olhos para Hiei, que estava imediatamente ao seu lado, e a puxou para trás.

–Pensei que a sede era protegida por magia.

–E é... ela não pode ter trazido ninguém. -o mago arregalou os olhos, parando o encanto pela metade. -Não acredito nisso. Ela invocou alguma coisa aqui dentro...

–Isso não me soa nada bom...

O edíficio tremeu de maneira violenta, e o chão abaixo deles se rachou em inúmeras partes para dar passagem a tentáculos. Não, não eram tentáculos. Olhando bem, era mais como trepadeiras, uma planta gigantesca, tomando boa parte da mansão, em especial a que eles se encontravam. Ela se enrolava nas vigas e obras de arte, e seu centro ficava um pouco mais atrás do corredor. Quem olhasse bem poderia ver uma boca escancarada esperando que algum desavisado fosse puxado até ela.

–Planta Carnívora Gigante? -Cloe engoliu em seco, levando a mão para a cintura e puxando seu chicote, afinal ela sempre estava preparada, embora na teoria a Sede Black fosse impenetrável. Ken e Sacha não tiveram a mesma sorte. Os dois estavam desarmados. Iris, que lutava utilizando um par de saís, também estava impossibilitada de fazer alguma coisa naquele instante.

–Temos que chegar até as armas, ou não vamos durar muito.

–É pra isso que temos um feiticeiro no time, não é?

–O feiticeiro em questão não faz milagres acontecerem. Vamos indo... -eles giraram nos calcanhares, mas a passagem estava bloqueada por mais uma saliência da planta, que ondulava para cima e para baixo, e não estava disposta a deixá-los passarem. Kira, aproveitando a deixa para se transformar, calculou o tempo necessário, e ignorando os protestos do resto da equipe, se lançou para frente, saltando por cima do “tentáculo” quando este abaixava. Lançou um olhar vitorioso para trás, rindo de maneira debochada.

–Fácil como tirar doce de... -sua voz falhou. Ela percebeu que havia encostado o ombro nu em outra ponta da criatura monstruosa, e sentiu como se sua energia fosse drenada a partir dali. De modo muito rápido e instântaneo, suas forças se esvairam, e ela foi ao chão.

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Al sentiu quando as energias negativas tomaram conta do lugar em que estava. O sentimento de urgência fez com que pegasse seu habitual arco e prepara-se uma flecha, apontando-a a frente. Das sombras, começaram a surgir pequenos demônios de aparência grotesca, cujos membros eram de tamanhos diversos, nunca ficando completamente simétricos. Algumas cabeças eram menores, outras maiores, alguns tinham duas ou até três cabeças, o que tornava dificil a locomoção, e de alguma forma eles ainda vinham na direção do elfo.

As Deformidades não eram o melhor dos orgulhos de Ajax. Eram a prova viva de que até mesmo os Deuses eram capazes de errar. Havia um verdadeiro questionário dos outros quatro Grandes perguntando o porquê dele deixar aquelas criaturas vivas. Talvez até mesmo o cruel Deus das Trevas fosse incapaz de destruir uma criação sua, por mais desagradável e vergonhosa que fosse...

Os monstros deformados continuavam a vir em sua direção, como zumbis a procura de um cérebro. Alberith chgou cada vez mais para trás, e sentiu a janela bater contra as suas costas. Num movimento rápido, girou o corpo e passou pelo vão aberto que esta deixava, caindo no ar, de uma altura de pelo menos cinco andares. Em pleno ar, seu olhos procuravam uma árvore o mais perto posível dele. Ao encontrá-la, puxou uma flecha especial, com um fio resistente amarrado a ela, e se ajeitou para atirar no alvo que encontrara. A flecha varou o tronco, e ao sentir que a corda esticava para baixo, à pouca distância do chão, ele jogou o corpo para frente, separando com a mão livre uma segunda flecha. Tocou a sola do sapato em um tronco mais distante e rapidamente cravou a flecha extra nesse, mantendo-se assim preso. Seu movimento seguinte foi saltar de galho em galho, cada vez mais para baixo, até chegar novamente ao chão. No entanto, haviam mais Deformidades ali.

–Hum... vocês querem realmente brincar, não é?

Vozes se sobrepuseram numa intensa algazarra, embora ele não pudesse identificar as palavras. Mas ele conseguia imaginar a mensagem.

Não se intrometa.

Ou você vai

Ser detruído...

Ele já estava acostumado a receber ameaças mesmo. Puxou duas flechas da aljava e preparou-as, apontando-as para os que estavam mais perto. E disparou. Uma sucessão de tiros foi desencadeada, tão rápidos que aqueles seres, por terem pouca habilidade, começaram a cair como peças de dominó. Mas a quantidade compensava. Logo o elfo estaria sem flechas para usar, e teria de partir para a briga corpo-a-corpo ou fugir.

Ninguém espera que um atirador nato tenha muita habilidade em lutas, sem sua arma. Esse é um erro bem comum. Subestimar o adversário a ponto de não levar em consideração coisas impensáveis. Não foi dificil para o ágil Alberith nocautear boa parte daqueles que o cercavam, saltar por cima de alguns para sair do centro das atenções e usar literalmente as cabeças deformadas como passarela.

“Preciso chegar à sede...”

Seus olhos passaram através dos demônios e ele continuou a carreira, apertando o passo e deixando-os para trás. -Tentem marcar outra hora, preciso ir...

Seu humor não era abalável, mas um pressentimento ruim começava a crescer em seu peito... pediu aos Deuses que a história não voltasse a se repetir...

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O aperto em seu peito foi suficiente para que ela recordasse que ainda estava num campo de batalha. O golpe na cabeça tinha deixado-a completamente atordoada. Pelo menos desta vez não havia perdido completamente a consciência. Ela conseguiu erguer o rosto com dificuldade, e inspirada por uma raiva que não sabia ter, mirou um soco no rosto da adversária, fazendo-a erguer o corpo. Sua outra mão procurou algo pra se apoiar, e acabando por achar as penas negras, puxou-as com bastante força. Isso pareceu de fato ferir Sarah, mas do que os socos ou os cortes. Ela recuou, batendo as asas, com uma obvia expressão de dor. -Vai se arrepender disso, pouca-sombra...

“Ela tem tempo de me xingar de algo tão banal?”

Kit levou a mão até a cabeça, que latejava bastante. Uma segunda explosão de escuridão voou em sua direção, desta vez acertando em cheio. A poeira que foi levantada com o impacto não demorou nada a se dissipar, e Kit já mantinha um escudo protetor a volta do seu corpo. Ela o desfez com um movimento e já estava correndo novamente, com uma espada recém-materializada em mãos. Saltou, passando por cima dela, e tentou um golpe pelas costas, acertando uma parte das asas novamente. Desta vez, porém, Sarah deu uma estocada para trás, girando boa parte do corpo... e a luta terminou assim.

A coluna de Sarah fora transpassada na altura das asas. Embora ela pudesse recuperar-se, aquele ferimento era extenso demais e estava localizado em um ponto fraco. Seu corpo parou de se mover, com a coluna central parcialmente fraturada.

Kit caiu para o seu lado também, com a espada da rival atravessando seu flanco direito. O ultimo movimento que conseguiu realizar foi retirá-la, e então também caiu. Não conseguiu manter-se de olhos abertos...

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Mitaray havia cortado boa parte da planta com um golpe só. Ele se sentia terrivel por deixar Kira aos cuidados do irmão, mas sua arma era a única útil para abrir caminho por enquanto, não tinha outra opção. Quanto mais desciam, mais agressiva ficava a planta, entrelaçando e bloqueando caminhos, rachando o chão, desequilibrando-os. Precisavam sair dali o quanto antes, ou não resistiriam.

–Ela vai ficar bem? -foi a pergunta de Sacha, que vinha logo atrás.

–Ficará... ela só perdeu praticamente toda a energia. Temos que ter cuidado para que essa coisa não toque nossa pele, ou teremos o mesmo destino.

–Já sei o que posso fazer...

–O que, Crós?

–Vou selar novamente a Sede, desta vez por dentro. Isso pode dar cabo instantaneamente dela. Mas vamos ter que chegar ao centro, e vocês terão de me dar cobertura. É uma magia complexa demais...

–Bom, se vai funcionar, podemos fazer um esforço a mais... -Iris alegou naquele tom baixo de quem está intimando que dê certo.

Eles conseguiram chegar ao local central, que condizia com a sala das máquinas. Hiei, vindo na retaguarda, trancou a porta atrás de si e eles olharam em volta. Era uma das poucas salas intactas, mas não seria por muito tempo. O teto já deixava cair pedaços de esboço, sinal de que a planta estava precionando por cima. Crós se posicionou no meio do local e começou a fazer preparativos. Com uma mistura de ervas que deixava uma cor arroxeada e luminosa, começou a fazer desenhos no piso, com extrema velocidade. Depois passou para as paredes. A porta começou também a ser forçada. Mais pedaços do teto começavam a despencar, e os tentáculos vegetais começaram a descer por ali. Mitaray se adiantou, junto do amigo, para mantê-los afastados. Eles se desfaziam cada vez que a foice os cortava, mas sempre eram substituídos por novos.

Crós já recitava seu feitiço no centro do símbolo no chão, tentando agilizar o máximo que poderia sem causar um mal funcionamento. Uma barreira temporária estava por cima do grupo, mas ele não conseguiria mantê-la ao mesmo tempo que juntava energia para o selo. Os golpes começaram a chover sobre ela. Como um chicote enorme com várias pontas, a planta demoniaca alvejava a barreira sem dar trégua. A cúpula começou a rachar em vários pontos, e então se estilhaçou, reduzindo-se a nada.

Ken sentiu tarde demais seu corpo ser envolvido. Tentou se soltar, mas o aviso vindo de Mitaray o fez parar.

–Não! Vai ficar sem energia nenhuma desse jeito! -o movimento seguinte do mesmo fez com que o dito tentáculo se desfizesse, mas o estrago já havia sido feito. O rapaz estava sem boa parte da sua energia. Outro tentou enroscar-se em Cloe, mas esta, já prevenida pelos acontecimentos anteriores, deu um passo para o lado, abaixando-se, e logo Hiei já empalava a coisa, prendendo-a no chão.

–Crós... anda logo!

Ele não podia responder e parar a ladainha sem nexo que saia de sua boca, mas o olhar que lançou a Iris em resposta foi o suficiente para ter uma ideia dos seus pensamentos no momento. A sala tremeu mais uma vez. Parecia que a planta iria tomar aquele cubículo inteiro... e então o feiticeiro bateu as mãos, mudando finalmente de posição, agachando-se e espalmando ambas sobre o centro do emblema. A energia arroxeada se expandiu a partir dali, tomando todo o aposento em instantes, e depois extrapolando as barreiras materiais. Paredes, pisos, vigas, nada era suficiente para conter o encantamento, que enquanto cobria a sede aos poucos ia evaparando as partes da criatura que ficavam em seu caminho. Poucos minutos depois, um rugido bestial foi ouvido, vindo do segundo andar. Estava morto... no entanto, a sede sofrera danos terríveis. Boa parte do segundo andar havia sido destruída. Uma das alas havia desabado completamente.

Enquanto o grupo deixava-se descansar um pouco, respirando com certo alívio, aquela sensação ruim voltou a crescer. Kit estaria em perigo? Onde ela andaria? Os pensamentos foram interrompidos por outro receio, ainda mais imediato. O alarme da sala dos computadores apitava freneticamente, e uma voz masculina e robótica ecoava pela mansão semi-destruída.

–Auto-destruição confirmada. Auto-destruição confirmada. Cinco minutos para a implosão.

–Mas que diabos...

–Por que raios esse lugar tem um sistema de auto-destruição, alguém pode me explicar!? -Sacha praguejou por si mesma desta vez. As peripécias do dia não fizeram muito bem ao seu senso prático.

O grupo já se reorganizava para deixar o local. Mitaray desta vez pegou Kira nos braços. Hiei apoiava Ken, ajudado por Crós. Iris ficou na retaguarda desta vez, e foi ela que respondeu a pergunta. -Isso é a última cartada, caso a mansão fosse invadida. Com todas as informações que temos aqui dentro, deixar algum servo de Haradja colocar as mãos nelas seria letal para o Reino.

–Quem iria imaginar...

–Cale a boca, Hiei.

–Três minutos para implosão. Três minutos para implosão.

–Já entendemos, máquina estúpida. -Hiei quase tropeçou em um escombro, mas se equilibrou a tempo de evitar que os outros caissem. Estavam quase chegando... só um pouco mais...

–Vocês não sairão daqui. Esse é o fim. -Sabrina apareceu bloqueando a saída mais próxima deles. Procurar qualquer outra seria suicídio. A fadinha estava de braços cruzados, e uma barreira menor que a que Crós podia criar, mas igualmente poderosa, separava todos eles da porta.

–Chega! Se fizer isso você vai morrer também, não percebe?

–Eu sei. Mas não me importo.

O silêncio momentaneo foi quebrado pelo aviso final do computador central. Um minuto para a implosão. Não houve tempo para pensar. Não houve tempo para nada. Um segundo depois, Iris, já portando um par de saís -afinal, havia arrancado-as da parede enquanto passavam pelo são destruído- já estava em frente a ela.

–Que os Deuses me perdoem por isso... -ela estocou, mirando o busto. Antes que a diminuta fada desse o ultimo suspiro, poderia jurar que havia agradecimento em seus olhos.

Não havia tempo para choque... as portas foram abertas, dando passagem. Iris lançou um último olhar para trás, para a casa que havia ajudado a construir e aumentar, o lar que havia acolhido-a por tantos anos...

De algum lugar ouviu-se três bipes agudos. Houve a implosão, varrendo tudo a seu alcanse, fazendo o prédio inteiro ruir. A Sede Black, o impenetrável quartel-general, a fortaleza mais poderosa de toda Diamond, foi ao chão.

   

Não lembrou-se do sonho que tivera, só daquela sensação melancólica, como se houvesse perdido algo muito valioso para si. Agora já conseguia sentir as pontadas novamente. Isso era bom, afinal realmente achara que havia morrido desta vez. Mas agora acordava numa maca, parecia estar num hospital. Tentou levar a mão ao ferimento, mas ela estava bem segura do lado da cama. Havia sido amarrada? Não... não era uma corda que a segurava. Eram dedos.

–Nick... por quanto tempo eu dormi?

–Uma semana. Eu estava preocupado, mas disseram que você estava apenas se recuperando. A anestesia foi muito forte.

Kit fez uma careta. Forte ou não, a dor estava voltando, e ela não era nada agradável. -E a garota... Sarah?

Moveu sua cabeça para o lado para o irmão entrar em seu campo de visão. Ele estava com profundas olheiras. Bem capaz de não ter pregado um olho sequer durante o tempo que estava velando por ela.

–Ela se recuperou um pouco mais rápido que você. Mas parece que não teremos mais problemas com isso... não é, Sarah?

Viu quando ele girou a cabeça para falar com alguém. Seguindo essa direção, conseguiu ver apenas o topo de uma cabeleira aloirada. Precisou erguer um pouco o corpo -o que lhe causou mais uma pontada de dor- para vê-la direito. Sem um arranhão que fosse, como era esperado. E parecia um pouco mais amigável do que da vez anterior.

–Finalmente essa fase passou. Acho que é isso que as humanas chamam de ficar de TPM. -ela fez uma careta. -Embora a minha só aconteça uma vez por ano. Minha fase demoniaca não é algo bonito de se ver. Foi sorte nossa luta ter acontecido apenas dois dias antes.

Kit franziu o cenho. Não entendia coisa alguma do que a outra estava tentando dizer.

–Bem, me explicaram as coisas enquanto eu esperava você acordar. -Nicolas fez questão de começar a falar. -Sarah é a única mestiça daqui. Mas aparentemente lhe foi dada uma “dádiva”. Em um dia, mais ou menos no meio do ano, se transforma completamente em demônio. No final, em um dia específico, ela é um anjo. Parece que nós dois tivemos o azar de chegarmos aqui às vésperas do dia “D”.

Dia “D”. Ela ouvira as parceiras de Sarah debatendo isso no dia que lutaram. O “D” era de demônio,então. Seu azar parecia não dar trégua nunca... tossiu, soltando a mão do irmão para colocá-la sobre o flanco. Ela tinha sido uma adversária dificil. Se já era boa assim, imaginava como seria quando a mestiça estivesse completamente centrada, e não agindo por impulso.

–Mas francamente, você me deu dor de cabeça, pouca-sombra. Já fazia um bom tempo desde que me deixaram desacordada assim pela última vez. -ela não parecia rancorosa da situação. Kit pensou que ela deveria ser bipolar, o que fazia muito sentido.

–E quanto ao livro?

–Ahn, aquilo... ainda não foi encontrado. -a outra tremeu de maneira breve as orelhas pontudas. -Já tenho uma ideia de quem esteja por trás disso, porém. Existem agentes duplos em todo lugar. -deu de ombros de uma maneira vaga e estendeu a mão para Kit segurá-la. -Sem ressentimentos? Nicolas me explicou a situação de vocês.

Pegou a mão que a outra estendia e a apertou. -É bom começarmos de novo, talvez?

–Sou Sarah Alarian. Filha de um general angélico com um demoniaco. Mestiça, obviamente bipolar, membra atual da força conhecida como Angels. -isso explicava muitas coisas. Kit assentiu com a cabeça, sorrindo.

–Kit Black. Meio-imortal. Imã para problemas e Ceifadora de Dimensões.

–Ahn... eu prefiro chamar de pouca-sombra. Ou quem sabe. -fechou os olhos, levando a mão ao queixo. -Gatinha-meio-a-meio?

–Não tem jeito mesmo... -Kit suspirou. Seria uma longa reabilitação, pelo visto...

Aquele fora o mundo em que a dupla ficou por mais tempo. A jovem ficou mais quatro dias recuperando-se do golpe e restabelecendo sua quantidade normal de sangue para que pudesse enfim voltar a cruzar as dimensões. Mas havia algo a mais atrasando seu tratamento. Ela sabia que o irmão sentia o mesmo. Aquela impressão de que havia alguma coisa errada. Sabia que deveria se apressar. Quando recebeu a noticia que seu corpo estava realmente curado, apressou-se em arrumar os preparativos para a viagem. A bússula havia surtado novamente, sua agulha girando e apontando para várias direções diferentes, a prova concreta que não havia nada ali. Era melhor resolver aquilo o quanto antes.

A ultima a despedir-se deles foi Sarah. Ela estendeu para eles duas penas negras, oferecendo uma para cada, enquanto falava. -Não sei se elas funcionarão em dimensões diferentes, é provável que não. Quando precisarem de ajuda, pensem em mim. Eu saberei imediatamente.

–Sim... mas e se não funcionar?

–Estarão por conta própria. -houve um breve dar de ombros. -Mesmo assim estarei torcendo por sua vitória. E mesmo que não funcione... são o símbolo da minha amizade.

–Amizade, é?

Sarah revirou os olhos. -Mas não abusem da sorte. Não saio distribuindo elas pra qualquer um. -estendeu a mão para segurar a de Nick, e depois a da irmã deste. -Boa sorte.

–Nós tentaremos...

–Obrigada por tudo, Sarah. -a jovem fez uma meia mesura e só então ficou satisfeita, começando a se afastar. Quando chegaram a um ponto onde logo não poderiam mais ve-la, viram esta acenando para eles.

Algum tempo depois chegaram em um local amplo o suficiente para fazer o ritual. Já em um mundo diverso, este com características mais mágicas, quase alienígenas -Kit deve ter contado pelo menos três luas no céu- houve uma parada e um longo silêncio.

–Vai dar tudo certo não é?

–Sim, vai sim. Vamos ter fé. -ele deu a mão para a garota, e ambos caminharam em direção ao desconhecido.


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