Kit Black: Viajantes De Mundos escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 19
Nenhum Lugar é invulnerável Parte I


Notas iniciais do capítulo

Demorei um século pra postar, eu sei, eu sei... perdoem-me...
Fiquei sem internet... é um inferno, mas fazer o que...
Tenham uma boa leitura.



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Quando se cruza dimensões extremamente diferentes, é comum que o sentido de “tempo” se distorça... enquanto as pessoas de Diamond contavam um mês desde o aniversário de Kit, esta já havia feito seis meses de viagem. Aquilo era bom e ruim ao mesmo tempo. De fato, as situações pelas quais passara iam deixando-a mais capaz, mais confiante de si mesma. E ela conhecia pelo caminho pessoas incriveis, dispostas a ensinar muito mais...

Porém, o tempo estava passando depressa demais para ela... sem saber ao certo a diferença de um mundo a outro, não tinha ideia do que poderia estar acontecendo em seu lar. Isso a incomodava mais que tudo. A duvida cruel, se haveria um lugar ao qual retornar...

O mundo no qual estavam desta vez era praticamente idêntico ao mundo Real. Lugares e países eram igualmente divididos, mas parecia ter havido algum acidente grave... alguns portais para os mundos inferiores foram abertos, e monstros haviam atravessado, causando caos e terror a raça humana. Sabiamente, ela manteve sua aparência felina sobre controle. E o seu dragão escondido sobre o casaco grosso que usava. Draco havia crescido bastante, e já conseguia mandar pensamentos aos outros com facilidade. Assumindo uma “forma de bolso”, não era dificil deixá-lo fora das vistas dos curiosos. Ele não tinha perdido a mania de se enrolar no pescoço de Kit como se fosse enforcá-la...

–Hum... não to gostando disso... -a garota passou os dedos pelo pescoço, disfarçadamente. Não que houvesse muitas pessoas para reparar. As ruas estavam desertas. Pelos cálculos de Nicolas, deveriam estar em algum lugar do Brasil. Sua irmã suspirou mais uma vez, cansada. -Nick... a quanto tempo estamos aqui?

–Eu diria que... uns três dias.

–Não acha que já podemos ir para o próximo?

–Você anda muito impaciente. A agulha ainda está parada... quando começar a girar vamos saber que estamos no lugar errado, e então cortamos a dimensão novamente. E você também não pode ficar gastando seu sangue toda hora, sabia?

–Você fala demais... -ela protestou em um tom desgostoso.

–Eu apenas zelo pela sua segurança, já que você é incapaz de fazer isso por conta própria... -ele fechou os olhos, e no segundo seguinte já colocava a mão em sua cabeça, fazendo força para ela se abaixar. Estavam atravessando um bairro semi-destruído por algum tipo de explosão recente, pelo visto, e a garota foi escondida, assim como ele, atrás de um amontoado de destroços.

–Ai... que diabos você pensa que está...

–Shiu... -levou um dedo a boca e parou, erguendo minimamente o corpo para olhar através de uma brecha. Do outro lado vinha um trio de seres distintos, encabeçado por uma garota de cabelos aloirados e olhos em tom lilás. A próxima coisa que Kit reparou foram nas roupas sombrias -nas quais um sobretudo se destacava- e nas orelhas obviamente pontudas. Seria ela uma elfa? Não poderia ter certeza daquilo. Sua presença era diferente de qualquer coisa que já havia sentido. Perfeito equilíbrio entre o bem e o mal.

Era como se a jovem andasse na corda bamba entre o Céu e o Inferno.

–Sarah... se os Darks passaram por aqui...

–Sim, eu sei... vai ser dor de cabeça para o resto do dia... -ela respondeu a sua acompanhante, uma vampira. Nicolas sentiu Kit estremecer quase de imediato ao constatar aquilo. Mas fora isso, não emitiu um som sequer. Concentrou-se na ultima integrante, também feminina, mas com uma obvia carranca de quem não estava se divertindo nada. Aquela parecia ser a única humana de fato dali. Andava armada dos pés a cabeça: havia um arco atravessando seu tronco, uma aljava com flechas fazendo-lhe par. No cinto, se juntavam algumas granadas, adagas e até mesmo o que parecia ser uma pistola.

Ela estava indo pra guerra??

Tanto faz... o trio passou por eles sem os notar, e virou em uma esquina mais a frente. Os irmãos se entreolharam por alguns segundos e sairam de seu esconderijo improvisado, recompondo-se.

–Tinha uma vampira ali...

–É, eu vi...

–Tinha uma vampira...

–Eu reparei. Sorte nossa que os seus ferimentos já se fecharam.

–Tinha uma vampira! E se ela resolver voltar?! -Kit tinha entrado num estado de pânico, o que o fez respirar profundamente, virá-la à força para o lado que seguiam -totalmente oposto ao que o trio havia tomado- e empurrá-la com as palmas das mãos.

–Precisas realmente controlar essa sua vampirofobia...

–Falar é fácil.

–Claro, claro... vamos indo, talvez encontremos alguma pista.

–Nicolas...

–Fica fria. Você é meio-gato, não um feicho de capim.

Os dois seguiram discutindo por mais alguns metros a frente, o que involuntariamente chamou a atenção do segundo grupo, que voltou para observar a cena. A garota de orelhas pontudas franziu o cenho. -O que eles fazem aqui?

–Fiquei sabendo que chegaram Ceifadores de Dimensões aqui a três dias... poderiam ser eles?

Houve um estalar baixo vindo da boca dela. -Deixe-os pra depois... já temos problemas suficientes por hora. -virou-se novamente, girando uma espada de lâmina esbranquiçada entre os dedos. -Se causarem confusão, suas cabeças irão rolar.

–Mas... tecnicamente você não pode matar humanos, não é?

–Eles não são... não completamente, pelo menos. E sempre há outras maneiras de neutralizar sem precisar matar...

   

Mitaray estava na cozinha, massageando levemente as têmporas com os dedos indicadores. Desceu seu olhar para a xícara de café intocada. Sua mente estava inquieta a alguns dias. Algo que pensara depois de ouvir o relato de Iris.

A execução dos antigos integrantes da Equipe Black. Embora tenha sido investigado desde o inicio, ninguém chegou a prova alguma, e os avanços de Haradja tornaram impossível uma investigação mais detalhada. Mas em um ponto todos estavam de acordo.

A Sede não havia sido invadida. Seja lá quem fosse que estava por trás das mortes, era de dentro. Foi convidado a entrar. A questão era saber quem era essa pessoa.

Seus pensamentos pararam por um instante ao ver a namorada entrar no cômodo. Ela não parecia estar de bom humor. Na realidade, desde que ele voltara sua paciência estava beirando a anulação total.

–Ah... você já está aqui? Café não vai fazer com que pense mais rápido numa solução... mesmo que tome-o o dia inteiro. -retirou a xícara das mãos dele e tomou um gole, fazendo uma careta ainda mais feia. -Blargh... conhece uma coisa chamada açúcar?

–Eu conheço. Mas é inútil nessa situação. -ele não parecia zangado, mas mesmo assim pegou a xícara de volta, tomando um grande gole.

–Algum problema?

–Um maior que o outro. -fechou os olhos por alguns instantes, apoiando recipitáculo na bancada. Com a mão agora livre, tocou gentilmente o queixo dela, fazendo com que o olhasse. -Ainda estás chateada, não?

–Com o que eu ia ficar chateada? -franziu o cenho ainda mais, o que não ajudou em nada seu argumento.

–Ahn, que adorável. Quer mesmo que eu diga os motivos? Sabe-os mais que eu mesmo.

–Sei que você é um egoista, foi embora no meio da noite para não ter de nos encarar... e aqueles segredos? Não podia ter me contado antes? Você sequer é humano?

–Eu sou humano. Segredos são feitos para serem mantidos. E... -abaixou o corpo, de modo que os olhos de ambos ficassem na mesma altura. -Não sou egoísta. O fato de proteger as pessoas que amo não me torna completamente o oposto disso?

–Você serve à Morte, não ao Amor.

–Eu sirvo àquela que me devolveu a vida ao invés de tirá-la. Minha vila foi arrasada por um maremoto. Minha família foi dizimada.

Ela piscou os olhos, ignorava completamente essa parte da história. O rosto dele estava bem mais sério que o normal. No entanto... se estava zangado, era impossível saber. -Mitaray...

–Por favor, sem palavras de consolo. Eu igualmente sei o que aconteceu à sua família. Sabes muito bem que palavras são vãs.

A loira não fez mais que deixar os braços penderem. Não tinha como refutar, e odiava quando não conseguia ter uma resposta na ponta da língua. Detestava perder um duelo verbal. Não havia nada a se fazer.

–Eu voltei. Eu estou aqui, na sua frente. Se andei todo esse caminho de volta, não acha que tive uma boa razão?

–Por eles...

–E por nós. Retornei por ti, acima de qualquer coisa. -ele repetiu, mantendo o contato. -Eu estou aqui, na sua frente. O que quer de mim?

Houve um momento de hesitação da parte dela, antes que chegasse o corpo um pouco mais pra frente para encostar sua boca na dele. -Eu tenho você. Já é o suficiente.

Ele puxou-a para si, enlaçando-a num abraço apertado. Um breve sorriso curvou os cantos da sua boca. -Hum... pensei que ia ter de fazer uma performance ainda melhor...

Aqueles dois eram assim, afinal. Uma garota bipolar, um rapaz extremamente gentil, mas com uma facilidade imensa de fazê-la se irritar...

–Ora seu...

O xingamento foi cortado pela metade com um som familiar de alguém tocando a campainha. Mitaray franziu o cenho, fazendo cálculos mentais. Sua boca se comprimiu numa linha ténue, e ele pegou Kira nos braços -a base de protestos veementes da parte dela- dirigindo-se de imediato para a entrada.

–Hei! O que?

–Preciso verificar algo...

–Pode verificar algo me deixando no chão!

–Perdoe-me, milady, a senhorita estava muito zangada comigo nesses ultimos dias, não quero mais perder tempo precioso ao seu lado. -estreitou os olhos, ainda com aquele meio sorriso.

–Está obviamente me sacaneando. -fechou a expressão mas agarrou um pouco mais firme o pescoço do mesmo. Quando chegaram ao salão de entrada, ele colocou-a no chão com cuidado e moveu sua atenção para a porta.

–Espere... não é...

–Sim. A própria. -ele fez uma mesura cortez com a cabeça, embora Kira tenha reparado numa certa tensão em seus olhos. -Seja bem vinda, Sabrina...

A fadinha abriu um sorriso transparente, como se não fosse nada de mais, e fez questão de pousar sobre a cabeça de Hiei, aquele que fora atendê-la. -Oi, pessoal! Estava com saudades...

   

O elfo ainda não conseguia acreditar no que havia ouvido...sua ligação com Iris estava bastante ruim, e havia uma interferência inexplicável forçando-a a cair. Mas ele conseguiu entender o suficiente para ficar preocupado.

–Suas investigações apontam para alguém de dentro, mas isso não faz sentido. A pessoa não cometeria suicídio... os cinco...-ele ouviu ela engasgar do outro lado da linha, mas depois de algum tempo se recompôs. Por algum motivo Iris evitara usar o video de seu comunicador, e ele já imaginava o porquê. -Que seja... mas tenho certeza que não poderia ser nenhum deles. Taylor foi a primeira... Pandora, a ultima... ela não faria isso... ainda mais com Aaron...

–É tocante, eu entendo a situação, mas havia alguém, isso é inegável. E a sede é intransponível... mesmo que tivessem forçado a entrada, nós saberíamos. E tem outra coisa... -ele remexeu em alguns papéis e parou com um em frente ao rosto. -Pode ter sido hipnose. Ou algum tipo de controle mental. Possessão também está na lista. São muitas possibilidades, Iris... tu não podes simplesmente ignorá-las...

Alberith sentiu-se mal em dizer aquilo, mas era uma verdade absoluta. Um dos cinco deveria estar sob controle, transe ou algo que o valha e começado a chacina. Todos os que tinham permissão irrestrita para entrar na Sede Black além deles estavam ocupados no teste de admissão. Nicolas estava na estrada mas houve confirmações de seu hálibi. Ele estava ficando sem opções. Claro que havia a possibilidade de alguém ter visitado-os, mas... tinha que ser alguém de extrema confiança para que deixassem-no entrar com o contingente reduzido...

–C-certo... continuarei as investigações... -houve uma pausa do outro lado da linha, ele pensou que a semi-fada havia começado a chorar, mas não era bem isso. Ela parecia estar falando com alguém. Pensou ter ouvido a voz de Ken responder de imediato. -Eu não sei, acho que ela está um pouco estranha.

–Queria saber por onde ela andou esse tempo todo...

–Estava desaparecida desde o teste?! Isso tem tempo demais, Iris!

–Sim, eu sei... por isso achei estranho. Espere um minuto, já vou até lá. Francamente essa história está muito estranha... -Al voltou a ouvi-la falar consigo, e pelo seu tom desconfiado parecia que havia ocorrido algo muito estranho. -Desculpe-me. Temos uma visita.

–Uma visita? Pensei que não era qualquer um a entrar na sede...

–Não é qualquer um. Sabrina voltou.

“Sabrina... a fadinha que nos acompanhava algumas vezes?”

Ele franziu o cenho, se equilibrando na cadeira que estava sentado com uma certa dificuldade. “O que ela faz lá?”.

–Certo. Ligarei mais tarde. Vou pesquisar mais a fundo. -sua voz saiu um pouco mais preocupada do que pretendia. -Iris. Tome cuidado...

–Entendido. Desligando...

A comunicação se perdeu e ele voltou a se encostar, tentando relaxar por alguns segundos. Com Nicolas fora, o elfo era forçado a reportar-se à Iris diretamente. O que ela julgava necessário, passava adiante para o Imperador. Era um meio muito ineficaz, mas ele simplesmente não podia chegar ao Palácio de Granito alegando querer ter uma audiência com Erom. A Guarda já tinha problemas com ele só de se referir ao Senhor Nicolas...

Piscou, passando o punho nos olhos para coçá-los. Estava ficando cansado daquilo. Aquela investigação não parecia levar a nada. E só podia se dedicar a ela porque Haradja, sem razão aparente, havia parado seus avanços. E isso só parecia ser bom. Se tratando da Lady Infernal, qualquer coisa boa vinha com alguma armadilha escondida. Estava com certo receio de saber o que viria desta vez.

Escondida...

Ele voltou-se tão rapido que sentiu algum osso da suas costas se distender. O que uma fada faz na Sede Black? Ainda mais depois de ter sumido por mais de meses? Uma urgência foi invadindo seu corpo de tal forma que ele foi forçado a retomar a comunicação com a Sede. A troco de nada.

As linhas de comunicação estavam cortadas...

O Inferno estava prestes a recomeçar.

   

A jovem definitivamente não sabia o que tinha feito para irritar a rival. Ela não se lembrava de ter sido grossa ou indelicada. Também não usara a palabra aberração, pois era completamente contra esse tipo de preconceito.

Então por qual motivo havia uma mestiça vindo em sua direção e brandindo uma espada? Kit Black não fazia a menor ideia.

Aconteceu que houve um segundo encontro entre o trio de garotas e ela. Uns dois dias após o primeiro incidente. Ela amaldiçoou Nicolas pela enésima vez por ter perdido tempo ali. Aquela briga podia ter sido evitada.

–Não tinha como eu saber disso... a culpa não é minha que você seja um imã para problemas. -cruzou os braços e ergueu sua atenção para a líder do grupo, a garota de aparência estranha. O fato de Kit se encolher atrás dele ao ver a vampira do outro lado ainda deixava-a mais suspeita ainda.

–Hei... eu não mordo... só gente ruim. Você não é ruim, é? -ela abriu um sorriso tão largo que fez a outra se encolher ainda mais.

–Mas... é isso que estou tentando dizer...

–Uma dupla de Ceifadores chega e três dias depois o Livro dos Mortos é roubado. ´uma coincidência e tanto. -Sarah, a garota de olhos lilases, argumentou, seu pé batendo ritmamente no chão. -Espero que vocês dois tenham uma boa desculpa para me dar.

–Mas estou procurando um rubi, não um livro... a menos que esse domo tenha uma capa incrustrada de pedras-preciosas, não vejo porque eu haveria de roubá...

–Aha! Então você admite que roubaria se fosse esse o caso.

–Não... eu hipótese alguma... -ela suspirou. Definitivamente aquilo não ia acabar bem. Nicolas tomou a palavra novamente.

–Esperem, vocês não estão entendendo... só precisamos de um certo rubi. Não estamos interessados em qualquer outra coisa.

–Tsc... cada vez que tentam melhorar parecem mais culpados.

–Ora, Sarah, você também tá de péssimo humor... não sabia que mestiças tinham tpm. -a humana protestou, fitando o céu. -Deixe-os ir... deve ser obra dos Darks...

–Er... mestiça? -Kit mexeu as orelhas de gato, ela já havia se transformado por via das duvidas. -Tipo... como assim?

–Filha de um anjo com um demônio. Mas não é educado, nem prudente, dizer isso perto dela... ainda mais quando está perto do dia “D”.

–Existe essa possibilidade? -Kit ergueu os olhos para o irmão, momentaneamente esquecendo do resto.

–Vai saber...

–Pensei que anjos e demônios não tinham sexo definido... então como...

–Ah... que tal a gente fazer esse tipo de pergunta depois? -ele notou pelo canto dos olhos que a expressão da mestiça estava se transformando para algo realmente assustador.

–Mas... mas... -pra quem não acreditava em anjo pra começo de conversa, aquela era uma conversa bizarra. -Ela parece uma elfa ou algo assim... não se assemelha com uma impossibilidade natural...

Okay, pensando bem, talvez tenha sido isso que a deixou brava. No mesmo instante Kit teve que desviar de uma bola de energia negra que viera em sua direção.

–Ah, pronto... eu avisei que não era uma boa época pra falar disso perto dela...

–Boa sorte, menina-gato... vai precisar. -a vampira mandou um sinal de beleza com a mão. Nick, se recuperando da primeira investida, fez menção de tirá-la dali, mas a mestiça já havia saltado entre os dois, apontando a espada para o pescoço da garota no processo.

–Vocês não vão a lugar nenhum...

–Hei... espere! Ela não teve a intenção...

–Não se intrometa. -o olhar que a jovem lançou a ele causou-lhe uma préssima impressão. Por um instante, pensou que ela poderia matá-lo com um golpe só. Ele trincou os dentes, sustentando-o o máximo que podia. -Não vou deixar que machuque a minha irmã.

–Está tudo bem. -dessa vez Kit argumentou, tocando a lâmina e afastando-a do seu pescoço. -O erro foi meu. Sinto muito se a ofendi.

–Você não faz a menor ideia do que é nascer com esse fardo. -a espada fez um movimento em arco e desta vez estava apontada para o seu coração. -Desculpas não me servirão neste momento... lute comigo e eu decidirei se volto atrás ou não.

A outra empalideceu, dando passos para trás. -Não... eu não quero brigar...

–Você não tem mais essa escolha... -Sarah voltou a mover a espada, dessa vez para machucar, e Kit desviou o corpo para o lado. Ela viu de relance alguns fios de seu cabelo flutuarem até o chão. Saltou mais uma vez para trás, usando de sua agilidade felina, e no minuto seguinte já havia retirado os leques metálicos que ganhara tanto tempo atrás de Francis, usando o da esquerda para parar uma outra investida da rival, e o da direita para atacá-la imediatamente, acertando seu ombro. Ela saltou para trás, um filete de sangue escorrendo pelo ferimento, no entanto não parecia estar preocupada com isso. Nem um pouco.

–Hum... você é rápida... mas com esse tipo de arma não vai conseguir causar dano a mim. -a ferida começou a cauterizar automaticamente, e segundos depois não havia nada ali, a não ser os resquícios de sangue.

–Ah... droga... -a indignação tomou conta da voz de Kit enquanto ela protestava. -Você também é imortal!?

–Você não deveria estar preocupada por ter ferido ela? -o irmão colocou a mão na face, balançando a cabeça de um lado para o outro. -Não tem jeito mesmo...

–Ela não pode ser ferida por arma humana pois é um ser sobrenatural... no entanto, por ser filha de um anjo com um demônio, também tem invulnerabilidade a maior parte das armas demoniacas/celestiais... o que significa que... -a vampira ia dizendo, antes de ser cortada por sua outra parceira.

–É praticamente invencível.

–Hei, vocês duas... parem de falar como se eu não estivesse aqui! -ela voltou sua atenção para Kit. -Basicamente é isso. Vamos parar de perder tempo com os detalhes...

“Ela é muito empolgada...” constatou a menina, ajeitando sua postura. “Mas eu definitivamente não queria participar disso...”

Viu quando um brilho transcendente tomou conta da rival, e quando se dispersou, esta estava vestindo uma armadura branca, que cobria principalmente o busto, os braços e as coxas, estas com uma saia metálica. Um meio-elmo emoldurava seu rosto, fazendo-a lembrar uma valquíria. Em uma das mãos estava a mesma lâmina branca de dias atrás, cuja empunhadura tinha o formato de asas abertas. Não era exatamente toda essa magnificência que chamava a atenção, mas sim as asas que cresceram nas costas dela. Gigantescas, empenadas e negras como a escuridão. Não houve tempo para racionalizar o significado daquilo tudo. Ela já partira pra cima de Kit que, pega de surpresa, mal conseguiu parar o primeiro golpe da espada. A pressão que a outra causava forçava seu corpo para trás, mas os leques conseguiam absorver boa parte da força, de modo que ela conseguia se manter no lugar.

Entretanto...

Kit sentiu algo enrolar-se em sua perna, caiu, sendo puxada por qualquer coisa que não conseguia enxergar bem. Focando-se na área de sua canela, onde sentia o aperto, conseguiu ver o que parecia ser um fio cumprido com uma seta na ponta. Não... era uma...

–Calda? -ela não havia reparado antes porque o par de asas chamara completamente sua atenção para eles, mas Sarah também tinha uma calda. Xingou a si mesma por ser tão distraída, cravando um dos leques no chão e parando o deslizamento. O segundo bateu com força contra o membro extra da mestiça, fazendo-o se desenrolar. Viu mais uma vez a espada chegar por cima, visando acertar sua barriga, e girou o corpo, rolando no chão. O leque que estava solto saltou em sua mão para fazer um corte no rosto desprotegido da outra, mas não seria de diferença alguma naquela situação. Enquanto o novo corte se dissolvia, Sarah já preparava um contra ataque, usando sua mão livre para bater a cabeça da outra violentamente no chão.


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