Kit Black: Viajantes De Mundos escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 18
Remember




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Abstinência...
Poucas pessoas conseguem abster-se de algo completamente, não é verdade? Os viciados surtam se tirarem-lhe as substâncias que são sua ruína. Não compreendem que as medidas que os familiares tomam são para o seu bem.
Não, eu não vou contar nenhuma história de uma pessoa com esse tipo de problema... deixárei-las com sua privacidade. Agora, voltarei no tempo... para onde tudo começou... para o dia em que a vida de Nicolas começou a se transformar em um arremedo de inferno.
Mas, de que ele precisou abster-se, irão perguntar...
Nicolas Black teve de abrir mão de sua própria felicidade... para salvar sua irmã caçula...
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17 ANOS ATRÁS;
EM ALGUM LUGAR DE SYBELLE:

Leah passou as pontas dos dedos pelos cabelos e tomou mais um gole da cerveja que tinha em mãos. Ela estava do lado de fora de sua estalagem favorita, sentindo o vento bater contra seu rosto e dispersar suas mechas. Provavelmente iria chover... ela podia sentir a umidade no ar, e algum pingo esparso que caia em seu rosto ou braço. O dono do lugar lançou a ela um olhar curioso, perguntando-se que raios de mania era aquela que a moça tinha de ficar do lado de fora sempre, mesmo debaixo de chuva... tinha certeza que não era por ser antissocial... ela era muito querida em meio aos outros frequentadores. E pelas lendas, era uma guerreira experiente. Uma especialista, a bem dizer... e mestra em despistar.
Talvez tenha sido isso o principal motivo para o que aconteceria a seguir... talvez tenha sido só coincidência... definitivamente, não dava para se ter certeza.
–Leah... uma tempestade está se formando... como acha que vão pensar se uma das minhas clientes for encontrada doente depois de passar a noite aqui.
–Eu passo muitas noites aqui, e na maioria delas, quando está chovendo, eu fico da mesma forma... piscou para ele. Não é como se eu fosse morrer...
–Certo... faça como quiser. e voltou para dentro, onde estava quente e principalmente, seco. Ela não se moveu. Apenas abriu um sorriso condescendente. Estava pensando em coisas muito mais importantes.
Primeiro de tudo, já haviam começado a chegar as noticias de que a primogênita da atual geração dos Black havia perdido a cabeça... e não era de uma forma literal. A partir dai, começavam a vir outras histórias mais estranhas ainda... lendas relacionadas a destruição e a uma menina... que nem havia nascido ainda. Ela achava que não, pelo menos...
Algo de muito ruim estava se levantando... e não demoraria para começar a causar estragos...
Em meio a esses pensamentos sombrios, e enquanto virava mais uma vez a caneca para beber de seu conteúdo, ela ouviu um barulho um pouco adiante... agora realmente estava chovendo, gotas gordas e pesadas caindo em sua cabeça. Se ela ligava, não deu sinal nenhum disso. Um movimento instantâneo fez com que fossem puxadas pelo menos três adagas de seu esconderijo e as manteve preparadas, presas entre os dedos das mãos... mas o que saiu das sombras não era nada do que poderia imaginar.
Era um garotinho... não deveria ter mais que seus dez anos de idade... e de fato não parecia ser uma criança abandonada, apesar de parecer extremamente cansado, e ter alguns cortes pelo corpo, prova de que passara por algum tormento para chegar ali. Os cabelos eram negros... os olhos, esverdeados... e ele segurava algo entre os braços pequenos, o qual ela demorou um pouco pra identificar.
Um recém-nascido. Era isso o que ele trazia. Perfeitamente embrulhado em uma manta com uma cor que puxava para o arroxeado, não dando para se ter certeza de seu sexo. Foi o que ela conseguiu divisar com seus olhos aguçados, antes que o menino em questão oscilasse e começasse a despencar.
Lyah se adiantou... ela correu a seu encontro, com receio da criança cair, mas para sua surpresa o garoto se recompôs a tempo. Ele deixou-se escorregar pela parede, respirando com dificuldade. E desta vez ela conseguiu chegar até ele e o amparar.
–O que aconteceu... vocês estão bem?
Era o tipo de pergunta idiota que qualquer um faria, mas não tinha muito o que se dizer... enquanto ela tentava recoloca-lo em pé para leva-lo a estalagem, o garoto começou a se manifestar.
–Minha... minha irmã... eles queriam mata-la...
–Por que haveriam de querer matar um bebê? ela moveu apenas o suficiente da manta para ver o rosto da criança em questão, e constatar que ela estava intacta. Suspirou, voltando a escorá-lo o máximo que conseguia.
–Vamos... vamos pra dentro...
Sentiu que ele estava ficando mais pesado, e segurou a criança antes que ela caísse, já que seu protetor havia de fato desmaiado desta vez... Leah acomodou-a em um dos braços com certa dificuldade, não estava acostumada a segurar crianças... Mas não sabia se conseguiria carregar o garoto, por mais magro que fosse... então levantou a voz num pedido urgente para o dono da estalagem mais uma vez. E ele imediatamente apareceu, pois não estava acostumado a ouvir aquele tom, ainda mais vindo dela... ao ver a situação, levou a mão a boca, chocado demais para falar, mas rapidamente se pôs a ajudar. A ultima frase que surgiu de sua boca antes que todos entrassem foi algo parecido com isso:
–Pelos Deuses, Leah... você só se mete em problema...
De fato, ela tinha que concordar... mas não fazia a menor ideia do tamanho da confusão em que se meteria dessa vez...
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TEMPOS ATUAIS;
EM ALGUM LUGAR NO ESPAÇO TEMPO:

Ambos abriram os olhos, notando que tinham finalmente terminado a primeira viagem... por mais curta que fosse, não era uma situação agradável... Kit estava com uma aparência meio verde e ruminava consigo mesma. Nicolas não parecia muito melhor, embora teoricamente já estivesse acostumado. Os dois deixaram-se sentar no chão com certo cansaço, e se entreolharam.
–Bom... estamos começando...
–Hora de trabalhar...
–É...
Mais alguns segundos se encarando.
–Vamos a uma estalagem?
–Ótima ideia...
Levantaram-se de imediato, e começaram a caminhar sem ter um rumo definido. A cidade onde tinham chegado parecia saída da idade média, com exceção de algumas engenhocas que claramente pertenciam a uma época posterior. Um pouco adiante, descobririam que estavam numa cidade conhecida como Mystic Falls. Muito conveniente a princípio, mas isso não durou nada. Na primeira esquina que chegaram a virar, Kit quase foi arrastada por uma verdadeira onda que perpassou por metade da rua. Ela ainda estava resfolegando -e pingando- com uma expressão assustada quando a autora do acidente entrou em seu campo de visão. E sua aparência não era nada comum.
O olho direito era da cor do céu de um dia de verão. O esquerdo assumia uma cor forte de sangue, vermelho-viva. Seus cabelos prateados eram presos no penteado de dois coques -ambos completamente desalinhados no momento- e a roupa que utilizava a fazia lembrar uma nobre. Era um belo vestido, azul e detalhado de branco, com inúmeros babados, e os dois tiveram de se perguntar como ela conseguia lutar com aquilo.
Porque era exatamente o que estava fazendo... seu oponente apareceu vindo de trás de um prédio, os cabelos negros fazendo contraste com o dia claro. Ele tinha olhos de vampiro... assustadores olhos vermelhos, que fizeram Kit gelar de imediato, ou talvez tenha sido só o seu sorriso pisicopata. A pele pálida não ajudava em absolutamente nada, ainda mais quando ele fez menção de atirar a gadanha -sim, uma gadanha, e ela era no minimo bizarra- contra a mulher que havia aparecido primeiro.
Quando Kit fez menção de se mover para tentar parar a agressão, uma terceira integrante chegou para bailar. Ela também tinha seus cabelos prateados, mas estes eram realmente grandes, e estavam soltos. E só tinha um olho, azul gélido. Onde deveria estar o segundo, um tapa-olho negro surgia, maculando sua bela face. Quanto a sua vestimenta, era terrivelmente... curta. Contrastava bastante com os outros dois nesse quesito, a bem dizer. Mas tudo isso seria esquecido quando a dita cuja começou a atirar no rapaz de cabelos negros, que desviou. A mulher de olhos desiguais teve que se atirar no chão para não ter a cabeça separada do pescoço, e quando se levantou seu olho vermelho brilhava de uma forma realmente mortal.
–Tu realmente me irritas-te desta vez, Deathday... vou tirá-lo daí de dentro nem que seja a ultima coisa que eu faça...
–Nós sabemos muito bem que isso não é facil assim, né, irmãzinha... -a outra mulher, a de tapa-olho, argumentou, enquanto recarregava sua pistola e voltava a mirar.
–Vadias ingratas, acham mesmo que podem me exorcisar? Sério? É alguma piadinha de mal gosto? Porque se for pensar bem, eu não sou o pior daqui, sou??
Kit preferiu não esperar que o diálogo chegasse a um ponto crítico e se soltou de Nicolas, juntando todo o ar nos pulmões para gritar com toda a potência humanamente possível. -Parem!
Ela não havia reparado que estava transformada quando fez tal coisa, o que pareceu ajudar mais ainda na falta de reação do trio quando este se virou ao memso tempo para olhá-la.
–De onde surgis-te, fedelha? -foi a pergunta da primeira, a que exibia uma heterocromia marcante. Sua face não demonstrava nada além de indiferença.-E o que é...
–...isso ai na sua cabeça são orelhas? - a do tapa-olho franziu a sobrancelha, visivelmente confusa.
–Tsc... uma gata-vira-lata apareceu pra acabar com a nossa diversão... estava tão interessante... -seu olhar pisicopata deitou-se sobre Kit, antes que ele reabri-se o sorriso. -Então, quer fazer parte do nosso show de horrores? Posso começar arrancando suas orelhas, elas vão ficar elegantes no salão do Castelo Darkness.
Logicamente ela não queria. Negou quase de imediato com a cabeça e juntou a pontinha dos dedos indicadores. -Er... não era minha intenção atrapalhá-los... é que estamos a procura de uma certa coisa... -na verdade, sabia que não tinha motivo quase nenhum para ter interrompido, a não ser a vontade de parar com aquela loucura. Iris ficaria profundamente zangada se soubesse que estava interferindo nas dimensões assim que botou o pé em uma nova. -D-desculpem-me... preciso apenas de uma informação.
Talvez por os visitantes em questão serem tão interessantes, o trio pareceu decidir que não deveriam matar-se por enquanto, e a moça de tapa-olho deu um passo a frente, balançando a mão de maneira metódica para os outros dois.
–Vocês ai, esperem um minuto... já terminaremos nossas pendências. -um sorrisinho debochado cruzou mais uma vez seu rosto. -Nenhum dos dois é capaz de manter uma conversa civilizada...
–Ora, francamente... -a outra colocou as mãos na cintura. -Escutar isso logo de ti...
–Quem precisa de língua quando se tem uma foice para retalhar? -Deathday apoiou a gadanha nos ombros, com uma expressão de puro tédio. -Ande logo com isso.
Indiferente a ambos, a moça tirou um cigarro do bolso, colocou-o na boca e o acendeu. Só depois de terminar tal movimentação, finalmente fitou Kit. Ela ainda era menor que a mesma... a jovem estava desacostumada a abaixar o olhar para falar com alguém. -E então, garota-gato... o que posso fazer para te ajudar?
–Er... -ela mordeu o lábio inferior, abaixando as orelhas e junto com as mesmas, a voz. -Eu sei que é uma pergunta tipo... muito estranha, mas você não viu por ai uma joia... um rubi com poderes especiais?
A mulher soltou uma baforada de fumaça e um segundo depois já estava rindo de uma maneira zombeteira. -Não dá pra ser um pouco mais específica? Deve haver milhões de apetrechos assim por ai...
–Bem que eu queria... -ela se sentiu meio estupida por um segundo. -a única forma que encontrei de chegar mais perto é rastreando, mas mesmo assim é quase impossível...
A outra coçou a cabeça com a mão livre e deu outra tragada, pensando por algum tempo. Logo após, abaixou o tom de voz e chegou mais perto, como se fosse contar algum segredo. -Está vendo minha mal-humorada irmazinha ali... -e fez um sinal para a garota igualmente baixa e de olhos distintos. -ela não é nem um pouco agradável, mas a garotinha que toma conta do castelo dela em seu lugar pode ser mais útil... pergunte a ela, talvez saiba...
–Mas não é certo, né?
–Ahn, venhamos e convenhamos, não seria nem se eu lhe entregasse uma caixa repleta deles... mas quem sabe não acabe achando uma pista... agora, se me dão licensa... -virou-se novamente para os outros dois, estralando os dedos das mãos de maneira ameaçadora.- tenha um demônio pra exorcizar... foi bom dialogar com você... nos encontramos por ai...
–Obrigada...
Quando a jovem pensou em responder mais alguma coisa, sua interlocutora já havia recomeçado a briga do outro lado, e achou melhor, para seu próprio bem, não interferir uma segunda vez. Trocou uma vez mais um olhar com Nicolas e os dois quase que de imediato puseram-se a procura do dito castelo... só descobririam quem eram aqueles três e o motivo do problema bem mais tarde.
Como bem dizem... cada coisa a seu devido tempo...
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TEMPOS ATUAIS;
MUNDO REAL:

Leah descobriria que, por mais que tivesse as melhores intenções quando tomou certa decisão, a 17 anos atrás, elas ainda assim repercutiriam de maneira desagradavel no presente. Foi com verdadeiro desconforto que sua visão periférica captou um chevrolet cobalt prateado dar um cavalo de pau e estacionar de maneira nada segura na calçada do lado oposto ao que estava. Levou a mão a cabeça, segurou a ponte do nariz e contou mentalmente até dez... já sabia que seria insuficiente.
–Leah...! Onde diabos você enfiou as meninas!? Não recebo notícias da minha filha a semanas!
Ela apenas enfiou um dedo na orelha, como se isso fosse capaz de abafar o som. -Não foi você que mandou-a sozinha para cá, pra começo de conversa?
–É obvio que não! Acha que sou retardado? Ela só veio na frente...
–Você não sabe de coisa alguma...
A própria, a bem dizer, havia tido um pequeno surto, ainda mais por saber a identidade real que a dita filha possuia. Mas ao recolher algumas informações -dentre elas, as de um certo mago, vindo da França- ela conseguiu se acalmar. Apenas um pouco.
É claro que sabia o risco que estava correndo, afinal não era apenas Alyson que sumira. Ela ingenuamente levara duas garotas menores de idade junto com ela. Sem contar que o pai de uma delas era uma pedra -aliás, uma rocha- em seus sapatos.
–O que quer dizer com isso, empregada-de-alta-patente?
–O que você ouviu, caçador-de-folga.
Estavam ambos nesse interim, onde faíscas voavam pelo ar e palavras maldosas se chocavam, quando Elliot chegou, uma expressão perturbada no olhar, que logo deu lugar ao ceticismo. -Suas filhas desaparecidas e os dois ficam brigando pelo título de macho alfa...
Leah de forma alguma era um macho, mas quando batia de frente com seu rival -pai da melhor amiga de sua filha- fatalmente acabava descendo de seu salto. Ela desviou a atenção para o filho primogenito deste e levou a mão a boca, tossindo para desfarçar.
–Naoco deve estar a caminho...
–Naoco acabou de chegar... -a própria disse, chegando por trás deles, como se fosse uma assombração... ela era a mais alta dali, altura esta que a irmã não puxara nem de longe, e tanto os cabelos como os olhos eram identicos ao de Sacha... tinha menos que trinta anos, mas era meio impossível ter certeza de sua idade além disso. No presente momento a careta que fazia não ajudava em nada. -Então, o que foi que eu perdi? Ah, sim, claro... as meninas sumiram! -cruzou os braços, obviamente irritadiça, batendo os pés violentamente no chão. -Qual dos dois vai me dar um bom motivo para isso, hã?
James não parecia nada propenso a responder a pergunta, enquanto sua arqui-inimiga pessoal apenas suspirava de modo cansado. -Todos vocês, se acalmem, okay?? Está tudo bem.. eu acho...
Já esperando uma provável explosão de algum dos lados, Elliot apenas levantou a mão, como quem pede licensa pra falar. -A ultima vez que vi minha irmã ela tinha pego o jato... não especificou exatamente para onde ia, mas disse que voltava em quatro dias... o que obviamente não aconteceu.
–Isso não foi quando eu estava por aqui...?
–É claro, James... -ele acenou com a cabeça de maneira breve. Por desentendimentos anteriores, Elliot nunca chamava-o de pai. Se isso mudaria ou não com o tempo, era um mistério. -Por isso imaginei que não deveria avisá-lo, já que o senhor deveria encontrá-la ainda antes de mim...
–Espere ai... O aeroporto deve ter os registros de viagem.
–Já olhei isso também... eles foram para a Inglaterra. Stonehenge.
James parecia uma chaleira prestes a explodir. Mas Leah apenas levou uma mão a boca e riu... e isso o fez ficar ainda mais irado. -que diabos é engraçado aqui?
–Ah, vocês realmente não sabem nada, nada... aquele é o melhor lugar de todos...
–Para que? -Naoco interrompeu, erguendo uma sobrancelha.
–Para transportar-se a outra direção, oras... a tia Leah tem toda a razão. -a voz viera um pouco mais distante, uma voz perfeitamente conhecida. Cloe adiantou-se até eles, os cabelos cacheados presos em um rabo de cavalo bem alto, seguida por uma Sacha que tropeçava em meia duzia de buracos no asfalto. -Não foi nossa intenção preocupá-los. As coisas sairam completamente de controle.
Houve um pequeno espaço de tempo silencioso, e logo após uma comoção. Primeiro alívio, depois constatação de que as duas estavam bem e mais tarde veio o sermão.
–Que diabos as duas estavam pensando?? Vocês enlouqueceram de vez? Por onde andaram...
As perguntas iam se sucedendo aos montes, e Cloe não viu outra auternativa do que contar a verdade nua e crua... a narrativa despertou confusão e indgnação da parte dos familiares, assim como um certo toque de ceticismo. Aquilo era impossível. Completamente impróvavel. E então Leah se intrometeu a seu lado... e contou a sua parte da história...
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17 ANOS ATRÁS;
EM ALGUM LUGAR DE SYBELLE:

Nicolas ainda estava dormindo na cama, com várias compressas de água por perto, uma em espeical na testa. O bebê estava aninhado em seus braços, e parecia disposto a puxar suas mechas de cabelo soltas. O nome dela era Kit Black, uma criança fadada a desgraça desde seu nascimento... o jovem que era seu irmão falara algo sobre a mãe ter morrido no parto, e então pouco tempo depois Haradja, a herdeira dos Black, completamente fora de si agora, mandara seus servos buscá-la, para então poder executá-la, já que a professia proclamada antes do nascimento da menina dizia que ela poria fim ao império de caos da irmã. Obviamente, algumas coisas ela teve de ligar por conta própria, pois o garoto estava fraco demais para diálogar por muito tempo. A questão mais urgente era manter ambos a salvo... era isso que deveria ter feito. Mas Leah hesitava.
Porque sabia muito bem que mais ninguém estaria pensando no que ela pensou naquele isntante... e isso mudaria tudo. Sua vida, seus hábitos, seu mundo... e ainda sabia que não tinha muita opção. Seus olhos focavam o menino adormecido, ainda pensativa. A cadeira de balanço que estava sentada, com seu movimento leve, acabava por deixar o bebê sonolento, e logo ele se aninhara e começara a dormir...
A chuva batendo nas telhas acabou por deixá-la da mesma forma. Quando deu por si, descobriu qe havia cochilado. Piscou com força, movendo sua atenção para a cama... vazia a princípio. Ela não entendeu de imediato, seu cérebro sonolento demorando para pegar no tranco... e então se lembrou.
Teria saltado da cadeira se não tivesse um bebê de poucos dias nos braços. -Nicolas? Onde você está?
Ela virou-se completamente, a procura. E então o viu. No lado oposto do quarto, observando com certa melancolia infantil a chuva que descia em torrentes do céu. -Seres está chorando...
A mulher ergueu seu rosto e sentiu um calafrio percorrer sua espinha. -Isso é apenas o início.
–Eu tenho algo a pedir... eu sei, é egoista da minha parte, mas não vejo outra forma. -os olhos claros dele piscaram e voltaram-se para ela. -Você é nossa única esperança. -houve um minuto de silêncio, antes que ele continuasse: -Tire Kit daqui... proteja a minha irmã... leve-a para tão longe que Haradja não consiga encontrá-la.
Não ficou chocada com aquilo, nem um pouco... na realidade, já imaginava algo assim. Estava realmente pensando em tal coisa antes de adormecer. -Dizendo isso... sabe que esse mundo não é mais seguro por enquanto, não é?
–É por isso... que sei que estou sendo egoista ao pedir... -ele abriu um sorriso tão amargo que parecia impossível de pertencer a um menino daquela idade. -Eu pensei em uma outra dimensão... o Mundo Real, na realidade.
Leah manteve-se em silêncio, pesando os prós e os contras. Sabia que o tempo havia chegado ao fim. E que se não ajuda-se, não haveria mais ninguém para fazer tal coisa. Ninguém deixaria Diamante para sobreviver no Mundo Real por pelo menos duas decadas. Foi com certa ansiedade que ela respondeu, uma decisão na qual apostaria tudo. -Eu a levarei... ainda esta noite. Haradja não colocará a mão em uma celula dessa menina.
–Obrigado... não tem ideia do tamanho da minha divida.
–Você poderá pagá-la quando estivermos lá e...
–Eu não irei...
Involuntariamente, ela abriu a boca para protestar. Como, por Ajax, ele não iria? Isso não fazia sentido... fazia?? Mas antes que ela conseguisse juntar palavras para argumentar, ele continuou. A criança de dez anos, pequena e aparentemente indefesa, falou com o tom mais decidido que ela já vira em muitos anos.
–Eu não irei. Eu tenho vergonha de não poder protegê-la, por ser fraco. Eu me tornarei forte... forte o suficiente para proteger vocês duas. Com o tempo, minha irmã terá a ideia de procurar no Mundo Real, e quando o fizer mandará todo o tipo de ser que estiver disponível...
Ele respirou profundamente para juntar ar nos pulmões e terminou: -Sou eu que vai mantê-los afastados... confie em mim. Quando esse dia chegar, eu estarei pronto.
Não teve como não se sentir tocada com isso. Leah chegou mais perto e o abraçou ternamente, bagunçando seus cabelos um pouco. -Você é um bom menino... que os Deuses o guiem e o protejam em sua jornada...
Algum tempo depois, ela já estaria a caminho, deixando nas sombras a cidade para não chamar a atenção indesejada. E o resultado de tanto sacrificio e esforço se veria 17 anos depois...
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TEMPOS ATUAIS;
MUNDO REAL:

Leah calou-se por um tempo, esperando de maneira quase ansiosa a reação dos outros... provavelmente não seria nada boa...
–Então Kit... não é sua filha? -era o tipo de pergunta retórica que Sacha era capaz de fazer, no entanto não foi da boca da mesma que veio, e sim de uma Cloe absolutamente chocada.
–Não é... ela sequer é completamente humana. O sangue imortal pesa muito em suas veias. Mas... -ela abriu um diminuto sorriso. -Eu acabei amando aquela pequena encrenqueira como uma.
–Nicolas... Nicolas é... -como ela não pensara nisso antes? Era tão obvio. A aparência dos dois, a ligação invisível, mas tangível. Ela se enganara em conceber apenas uma parte da história, porque imaginava que Kit de fato era filha de Leah. Se não considerasse esse fato, poderia ter chegado a tal conclusão bem antes. E agora sabia que os dois irmãos estavam sozinhos em algum lugar no tempo-espaço, completamente perdidos...
Tentando salvar o mundo que sua irmã mais velha tentava destruir.
Observou o pai, ainda em estado de descrença. Ele era daquelas pessoas que só podiam ver para crer. Sabia disso desde sempre. Seu irmão, Elliot, tinha puxado este mesmo lado. Podia ver em seus olhos a impossibilidade da situação. O quanto incrivel aquilo era, mas impossível. Cloe mordeu o lábio inferior, fazendo os olhos passarem por toda a rua. E então murmurou para si mesma, as mesmas palavras que dissera sempre para iniciar sua mutação.
–Amrof ariedadrev ahnim ertsom. -um brilho familiar a ela percorreu seus membros, e mais uma vez ela remexeu as orelhas de lobo e uma calda peluda, obviamente deixando os adultos em questão pasmos. Com exceção de Leah. Esta foi até ela e mexeu em suas orelhas brevemente, como se certificasse que elas eram físicas.
–Ora, ora, o que temos aqui! Ahn, mas eu deveria ter imaginado. -fez algumas contas nos dedos. -Ha...
Ela foi atirada para o lado por um James claramente eufórico. Mas ao notar que aquilo não era uma atitude muito paterna, este se controlou. Tossiu e sorriu-lhe, afagando sua cabeça. -Minha pequena inteligente... quando foi que ficou tão observadora hein?
Cloe apenas ergueu uma sobrancelha, mas preferiu escutar o resto do que ele tinha a dizer.
–Você já é bem velha pra decidir o que fazer. Se isso significa que prefere lutar em outro mundo... eu só quero que fique bem. Não irei te obrigar a nada.
–Que diabos de pai você é afinal? -ela o abraçou, e sentiu-se ser apertada com muita força -um verdadeiro abraço de urso.
–Um que te ama?
–Tá... como quiser. -ela ficou ligeiramente corada com a situação. Sacha ainda estava olhando a cena quando levou um breve soquinho na cabeça.
–Hei, pirralha... se não voltar inteira eu faço picadinho de você...
Antes que a sessão vamos mandar nossas meninas para um mundo qualquer de muito bom grado, obrigada continuasse, houve um protesto vindo do outro lado deles.
–Esperem... -Leah cortou-os, e estava bem livida. -E minha filha? -estava pouco se importando com o fato de ser de sangue ou não. -Onde Alyson... Kit está?
–Está tão longe que não dá pra se alcançar...
–Viajou. Para o terceiro mundo... como era mesmo o nome?
–Mundo da Imaginação. -Cloe continuou após ser cortada pela amiga ruiva. -Está cruzando dimensões ao lado do irmão. Ninguém sabe onde pode realmente estar...
Leah respirou profundamente, levando uma mão a cabeça. -Ele vai contar. Queria poder prever qual será a reação dela.
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–Eu sei, eu sei. Foi um tiro no escuro.
–No escuro? Acho que nós dois sabiamos no que ia dar.
–Seria fácil demais. -Kit concordou com a cabeça, sentando-se em uma calçada. Eles tinham ido até o castelo Lindberg, de fato, mas não encontraram nada além de uma menina irriquieta que se auto-denominava Dancer. Ela de fato fora prestativa, mas a bússula continuava a apontar para muito além da caixa de rubis que esta lhes arranjara. Até ficar completamente louca, girando nervosamente de um lado a outra, e Kit chegar a conclusão que não estava naquela dimensão. Mas partir no exato momento seria muito cansativo, ela precisava se recuperar do ultimo feitiço. -Queria que uma vez na vida as coisas trabalhassem a meu favor.
–Acho que esperar algo assim é bem inocente da sua parte.
Ela apenas resmungou em resposta, desviando os olhos. -Vamos procurar um lugar para passar a noite.
–É uma boa ideia. -Nicolas ajudou-a a se levantar e caminhou na frente, enquanto a menina cutucava de leve Draco para oferecer-lhe um pedaço do que parecia ser batata. O dragão mordiscou o petisco e voltou a se enrolar em seu pescoço. A garota voltou sua atenção a seu almoço improvisado, arrumado dentro de uma pequena combuca, e levou uma garfada a boca. Aparentemente não lhe incomodava o fato de ter de comer andando, embora seu acompanhante tenha se abstido de fazer tal coisa. Ele parecia um pouco mais soturno nas ultimas horas. Via-o olhar um mini-calendário que trouxera consigo algumas vezes, como se esperasse por algo já marcado.
Mas ele não falou nada com relação aquilo, de forma que manteve-se calada. Agora, este virava-se para lançar um comentário a ela. -batatas? Ele não é um dragão?
–Aparentemente ele é vegetariano.
–Pelos Deuses... nada é simples se tratando de você.
–Ora. Olha só quem fala.
–Deve ter assinado uma clausula dizendo que até o seu bichinho de estimação tem um parafuso a menos.
–Sem graça você... -ela fez um bico e continuou seu caminho, enquanto ele apenas a seguia, rindo consigo mesmo.
–No entanto... tem bem a que puxar, não é?
Ela ou fingiu não ouvir, ou não entendeu o que ele falara, e assim ambos seguiram seu caminho, em direção a uma pousada que pudesse os abrigar.
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Os dias se passaram. Cloe e Sasha haviam retornado para a sede -não sem muita choradeira da parte de quem ficou para trás- e Ken, obviamente, já havia sido solto. Talvez tenham chegado a conclusão que ele não poderia mais seguir a namorada depois de tanto tempo. Ele não estava nem um pouco feliz, mas não tinha direito de reclamar.
A grande surpresa do dia bateria a porta da sede e quase cairia por terra. Mitaray e Hiei voltaram para a sede quase mortos de cansados, mas voltaram... era noite, e Iris atendera o toque, dando praticamente de cara com os dois. Por ser extremamente rapida de raciocínio, imediatamente já estava resolvendo tudo para deixá-los o mais confortáveis que podia. Agora estavam deitados cada um em um sofá, devidamente acomodados e explicando a situação pela qual passaram e como haviam sobrevivido.
–O resto da tropa que tiramos de lá foi levada para a capital. Pelos meus calculos Hera ainda ficará um bom tempo aprisionada. -Mitaray ia dizendo, antes de ver uma Kira fula da vida aparecer do outro lado da sala, fechar ainda mais sua expressão e ir ter com eles.
–Onde diabos vocês estiveram? Querem nos matar de preocupação? E porque não explicaram as coisas antes...
Ele não parecia em estado de discutir e suspirou. -Nós sentimos muito... querida. -tentou puxá-la para mais perto sem muito sucesso e remexeu-se para ficar numa posição melhor. -Não houve outra forma.
Kira fez uma careta de desagrado profundo mais se aproximou da mesma forma, postando-se do lado dele e tendo sua cintura envolvida pelos braços dele. -Perdoe-me, anjo.
–Vou pensar no seu caso. -no entanto, a carranca diminuiu consideravelmente.
Hiei jogou o braço por cima do rosto. -O amor é lindo... onde estão os outros?
Ele mal falara e a sala já estava cheia, com pessoas chegando de todos os lados. Salem descera do laboratório, feliz por vê-los relativamente bem. Ken também viera do andares superiores, morrendo de sono, mas ainda capaz de fazer uma piadinha. -O bom filho a casa torna, não é? Vocês demoraram.
–Houve uns contratempos... hei, lobinha, que saudades estava de você! -Hiei comeu a frase pela metade, observando Cloe e a amiga, que também chegavam no local. A primeira ergueu uma sobrancelha e abriu um sorriso. -Haha... vou fingir que acredito.
–Hum... está faltando alguém. -o rapaz de cabelos cinzentos ergueu-se um pouco. -Kit... onde ela está? -ele tinha criado um laço muito forte com a garota, apesar de tudo... teve um certo receio de que tivesse ocorrido algo sério a ela.
O silêncio se expandiu, até que Iris abrisse a boca. -Ela está no Mundo da Imaginação... com o irmão mais velho.
–Com... o irmão? -ele piscou, tentando unir as peças, sem muito sucesso. -Ela tem um irmão?
–Eu acho que perdi alguma coisa...
–Nicolas... o Senhor do Palácio de Granito, é irmão de Kit. Ele é um Black.
–Foi um choque para nós também... -alegou Cloe, fitando a expressão atordoada dos Caçadores. Com palavras pequenas e de maneira sucinta, como era de seu estilo, ela contou a verdade dita pela boca de Leah.
–Por que... ninguém disse isso antes? -Hiei bateu as mãos na perna, passado. -Nós somos sempre os ultimos a saber!
–Não to acreditando que logo você está falando isso, sério... -Cloe protestou. -Claro, vocês dois foram completamente sinceros com a gente.
–É completamente diferente a situação.
–Se vocês não se acalmarem vou pessoalmente trancafiá-los nas masmorras e só vou soltá-los quando a Kit voltar! -Iris protestou, cruzando os braços. -Comportem-se. Eu não estava em posição de revelar tal coisa... fiz uma promessa. -sentou-se na ponta do sofá mais próximo, ignorando os protestos de Hiei. -Nicolas é o fundador da Equipe... ele a criou com o propósito de atrasar Haradja o máximo possível. Isso foi a dez anos. Eramos jovens. Achavamos que seria possível mudar algo.
–Foi essa a razão de eu ter me juntado a causa. -Crós abriu um misero sorriso. -Os outros integrantes vieram depois.
–Por isso... a casualidade do sobrenome de Kit combinar com o da equipe. Nicolas sendo o fundador... de alguma forma ela guardou seu nome na memória...
–De qualquer forma, por que diabos ele virou o que é hoje? O Senhor do Palácio?
–Ele parecia realmente muito pra baixo quando os dois foram embora a dias atrás...
–Nicolas imaginou que deveria contar a verdade nessa viagem, ou surtaria...-Crós comentou, olhando para o teto. -Ele tem medo... muito medo. Teme que Kit não aceite essa situação de uma forma boa. Colocando-se no lugar dele, é até compreensível. Seu pai sumiu. Sua mãe morreu... Sua irmã mais velha, Haradja, ficou completamente louca, e deseja destruir o mundo. A única familia que sobrou, a única que ele ama, além dos amigos que fez, é a irmã...
–Não explica porque ele deixou a equipe pra começo de conversa...
–Ele foi forçado! -uma ruga de estresse começava a surgir no rosto da anfitriã, elatava prestes a explodir. -Dois anos se passaram após a fundação da equipe, todos estavam reunidos, menos Dayana... no Palácio de Granito, o antigo Senhor alegou que precisaria deixar o cargo. Mas tinha um porém... descobrimos que ele era espião de Haradja... o pior é que ele também sabia da existência de Kit. Um dia, ele chantageou Nicolas para ficar em seu lugar... por quê? Assim ele matava dois coelhos com uma cajadada só. Ele sairia do palácio, pois já estavam começando a desconfiar dele, e também tirava nosso lider. Nick não estava em posição de recusar, porque se o fizesse a execução da irmã seria automatica. Ele teve de aceitar e se separar de nós. Quando ele deixou-nos, eu assumi seu lugar como líder da Equipe Black, e nenhum dos outros o perdoou por isso... eles não poderiam entender. Não sabiam a história. Quando houve o ataque e eles morreram, Nick se culpou.
–Desde então, ele nunca mais viu a irmã... a não ser naquele dia no qual ele veio morar aqui. -concluiu Crós.
–Nossa, que barra... -comentou Kira consigo mesma, desviando os olhos para o chão. -Mas... o que houve com o traídor? Aquele que Nicolas ficou no lugar?
–Eu o matei. -Iris falou como se fosse a coisa mais normal do mundo. -Transpassei-o com uma espada, no mesmo dia em que Nick subiu ao cargo de Senhor... -deu de ombros.
Hiei se encolheu, ficando o ma´ximo possível longe dela. -Assustadora, você...
–Ahn, isso explica o porquê da Kit se dar bem com ele. -Mitaray opnou, voltando a se deitar direito no sofá, não parecendo que levantaria tão cedo.
–Kit se dá bem com Deus e o mundo... -Kira se acomodou ao lado dele, passando os dedos pelos seus cabelos. -É por isso que todos nós adoramos ela.
   
Os dois já haviam mudado de dimensão novamente. Uma chuva fria pingava, caindo pelos cabelos de Kit e escorrendo até seu corpo... o choque transparecia em seu rosto, deixando-a completamente sem reação. A sua frente, o irmão observava, calado, a espera de uma resposta. O mundo parecia cinzento ao seu redor, ainda mais olhando nos olhos da caçula. Eles estavam arregalados. Ele não tinha certeza de como seria a situação depois de contar a verdade. Havia imaginado todas as opções, e pedira aos Deuses que ela entendesse. Mas aquele silêncio estava matando-o.
–E...então esse tempo todo... -ela ensaiou uma frase e logo parou, erguendo seus olhos. Não sabia o que dizer. Por que toda vez que estava na frente dele não sabia o que dizer? Poderia ser os segredos, as mentiras que ouvira a vida inteira despedaçando seu pequeno mundo interior?
–Eu omiti e fiz com que todos mentissem pra você. Eu não tive escolha alguma. -deu alguns passos, ficando bem perto dela, de forma que tinha que abaixar a cabeça para vê-la. -Talvez eu seja um monstro pior que nossa irmã.
–Você sacrificou... seus amigos... sua vida, por mim. -ela engoliu em seco. As lágrimas riscaram sua face, misturando-se com a água da chuva. -Como... como eu posso te odiar por isso?
Ele abriu a boca, mas não conseguiu articular nenhum som.
–Nós só temos um ao outro não é? -o choro aumentou de intensidade. Ela deitou a cabeça no peito dele, passando os braços por seu corpo. Era um abraço molhado, mas nada incomodo. Ele abaixou o corpo para conseguir retribui-lo, de forma que a garota ficasse aconchegada em seus braços.
–Você é tudo que eu tenho agora. Não vou mais te abandonar, okay?
–Não me abandonou... -ela engoliu o choro e forçou uma risada, Graças a você... eu conheci pessoas incriveis. Eu agradeço... agradeço de todo o coração, maninho. -era uma situação triste, saber do passado, do que acontecera com sua verdadeira mãe. Mas de uma forma estranha se sentia melhor do que quando descobrira que Haradja e ela dividiam o mesmo sangue. Ele era alguém que conseguiria lidar.
Ele era seu irmão. Nunca seria capaz de esquecer, ou pagar, tudo o que devia a ele.
Sentiu-o afrouxar um pouco o abraço e lhe estender a caixinha que comprara a tantos dias antes, quando ainda estavam em Sun Guardian. Ela segurou-a e a abriu, vendo o que havia dentro. Era uma pequena pulseira, nada muito exagerado, com pigentes em forma de luas e gatinhos. -Não sabia exatamente se iria gostar. Feliz aniversário, pequena...
Não conseguiu deixar de sorrir. Praticamente saltou em cima do irmão, e os dois cairam no chão molhado. Na duvida, use omo: se sujar faz bem...
–Obrigada maninho... por tudo.
Uma promessa silenciosa se fez aquele dia: um nunca deixaria o outro. Eles estariam sempre juntos. Para o bem ou para o mal.


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