2012 escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 8
Mais pistas




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No capítulo anterior, Ângelo começou a distribuir as pistas para a turma, deixando Cebola e Mônica com a pulga atrás da orelha.  

- Ai Titi, você não muda mesmo, viu?
- Que foi? Eu só estava perguntando as horas pra moça.
- E por acaso o relógio tava dentro do decote dela? Grrrr! E depois você não entende por que eu não quero reatar o namoro! Vê se cresce, tá bom?

Ela saiu dali bufando de raiva, deixando-o parado na fila do cinema. “Droga, fala sério! a Aninha é ciumenta demais, assim não dá!” como não tinha mais companhia, ele resolveu sair da fila e procurar outra coisa para fazer.

- Ô Ângelo! Tá fazendo o quê aqui?- ele perguntou surpreso ao ver Ângelo andando por ali.
- Nada demais, só dando um rolé. E você?
- Eu também. – ele respondeu omitindo a discussão que tivera com a Aninha minutos antes.

Os dois passaram perto de uma loja de produtos esportivos e Titi se deteve para olhar alguns itens na vitrine.

- Caramba, olha só esses tênis! E olha esse preço também, credo! Aquela camiseta ali é mesmo irada! – ele foi falando enquanto olhava avidamente os itens expostos, desejando poder ter cada um deles.
- É mesmo, cada coisa bacana!

Dentro da vitrine, entre os produtos, havia também um cartaz falando sobre as olimpíadas de Londres. Aquela loja estava oferecendo um sorteio de duas passagens para quem fizesse compras acima de duzentos reais. Ângelo então falou.

- Até que seria legal ir as olimpíadas...
- Sei lá... se fosse em um país cheio de praias, até que eu ia gostar de conhecer umas gatinhas legais. Mas Londres? Dizem que chove lá todo dia!
- Tem muitos pontos turísticos...
- E mulheres que vestem que nem freiras. Coisa mais sem graça!

O rapaz balançou a cabeça, impressionado em como Titi só pensava em garotas. Pobre Aninha...

- Só acho que a abertura dos jogos ainda tá longe.
- Vai ser em julho. Daqui a uns, deixa eu ver, quatro meses?
- É.
- Tá perto.
- Mas eles bem que poderiam adiantar, não acha?

O outro estranhou.

- E por quê?
- Pode ser que em julho não dê pra fazer os jogos, é isso. Então eles deviam adiantar tudo para o povo poder aproveitar.
- E por que não daria pra fazer os jogos em julho?
- Porque... er... ah, olha só aquelas garotas!

A cabeça do Titi virou-se imediatamente para a direção onde Ângelo apontava e seu rosto se iluminou na hora!

- Rapaz, tem cada gatinha que só vendo! Valeu, cara!
- Pois é. Eu vou nessa, tenho umas coisas para fazer. Divirta-se!
- Pode crê!

Titi ajeitou as roupas, passou a mão nos cabelos e foi até elas com o andar confiante, estufando o peito para ressaltar os músculos e fazendo sua melhor cara. Com alguma lábia, ele conseguiu convidar uma delas a tomar um suco e bater um papo. Era uma bonita moça de cabelos pretos com mechas coloridas que o encantou na hora.

Os dois foram conversando até a lanchonete e ele estava até satisfeito por Aninha ter ido embora. Pensando bem, talvez não fosse o momento para reatar o namoro. Com tantas garotas bonitas para ele conhecer, tantas conquistas, tanta coisa para aproveitar... por que ele iria querer ficar amarrado a uma namoradinha de infância? Não, era hora de trocar de ares. Variar um pouco não fazia mal a ninguém. A Aninha podia muito bem esperar e ele tinha certeza de que era pouco provável que ela fosse arrumar outro namorado. Apesar de tudo, ele sabia que ela ainda estava apaixonada.

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Ele percorria as ruas, saltava obstáculos e fazia várias manobras com sua bicicleta sentindo-se o cara mais radical do mundo. Além do parkour, andar de bicicleta era um dos seus esportes preferidos.

- Ô Ângelo, tá filmando tudo aí?
- Fica tranqüilo que eu não tô perdendo nada!

Cascão continuou com as pedaladas enquanto Ângelo o seguia pelo alto, segurando a filmadora. E não é que aquele rapaz era mesmo bom nos esportes? A única habilidade esportiva de Ângelo era voar, coisa que ele fazia muito bem. Pedalar, andar de skate ou praticar outros esportes não era sua praia.

- Esse vídeo deve ter ficado muito da hora! Deixa eu ver!

Ângelo lhe entregou a câmera para que ele pudesse ver tudo no pequeno visor enquanto vibrava com sua performance.

- Você é mesmo muito bom nisso. Já pensou em pedalar em trilhas, parques e locais mais acidentados?
- É mesmo, véi! Até que seria legal. Só que por aqui não tem nada disso.
- Ah, é. Uma pena. Na Chapada dos Guimarães é que tem trilhas incríveis. Você iria adorar.
- E onde fica isso?
- Em Mato Grosso.
- Quê? Tá longe demais! Eu não tenho como ir pra lá não!
- Também tem a Chapada dos Veadeiros que fica em Goiás.
- Cara, por que você só tá indicando lugar longe?
- A distância pode valer a pena. Nesses lugares você pode fazer rapel, canoagem, rafting, andar de bike pelas trilhas...
- Caramba, aí deve ser legal mesmo. Só que falta dindin para fazer uma viagem dessas.
- De repente, você pode acabar conhecendo esses locais mais cedo do que imaginava. Fique de olho nesses dois destinos.
- ???

Ângelo saiu voando dali antes que Cascão tivesse a chance de perguntar alguma coisa. “Que estranho, o que deu nele tão de repente? Deixa pra lá. Acho que vou dar uma pesquisada na net sobre esses dois lugares. Quem sabe algum dia eu não junto uma graninha e vou pra lá?”

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Carmen estava com seus pais no aeroporto da cidade, atentos as pessoas que saiam da plataforma de desembarque carregando malas e sacolas. Com eles, estava um empregado que seria encarregado de carregar a bagagem. 

- Ali estão eles! – a moça apontou, indicando um casal e um garoto que parecia ter seis anos.
- Sejam bem vindos, estávamos preocupados com vocês! – Afonso saldou os recém chegados
- Santo dio! Aquilo lá está uma loucura! Se você quer ir para a Europa, não vá para a Itália!

O menino correu na direção de Carmen, pulando em seu colo.

- Oi, meu xodozinho, como vai?
- Oi, Carminha! Você canta pra eu dormir? Mamãe não sabe cantar.
- Claro que canto, meu lindo!
- Ele vive me pedindo para cantar aquela música, mas não fica a mesma coisa. Ele gosta quando você canta.

Todos foram para o carro da família Frufru que já os esperava e Afonso fazia perguntas ao seu irmão no meio do caminho.

- Engraçado, sempre pensei que esse vulcão já fosse ativo.
- Sempre foi, só que dessa vez está pior! – Evandro falava com um leve sotaque italiano adquirido após quase dez anos morando na Itália. – esse vulcão está soltando muitas cinzas e você sabe que o Fabinho tem asma e isso faz mal a ele.
- Acha que vai durar muito?
- Espero que não. Deve ser apenas um alarme falso.

Carmen levava o menino no colo e ia brincando com ele distraidamente sem prestar atenção na conversa. Aquilo aparentemente não a incomodava. Era bom mesmo passar um tempo com seu primo preferido.

- Carminha, você tem DVD de desenho em casa? – o menino perguntou.
- Eu vou alugar quantos você quiser, xodozinho. Assim que a gente chegar em casa, eu corro para a locadora, tá bom?
- Oba! E vou querer assistir comendo pipoca doce também!
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- Ai, que medo desse filme, viu? Por que o Ângelo recomendou ele pra gente?
- Agora eu fiquei bolado com isso! Você reparou que no filme os terremotos foram começando aos poucos até ficar aquela doideira?
- Reparei, Cê. É isso que tá dando medo!
- É... de repente o Ângelo só sugeriu esse filme por coincidência, sei lá. Mas que é estranho, é!

Mônica tirou o DVD do aparelho e colocou de volta na embalagem.

- Por que a gente não vai na locadora pra devolver de uma vez? Aí a gente dá uma volta pra esfriar a cabeça. Esse filme me deixou com uma coisa tão ruim no peito!

Cebola concordou sem dizer nada. Mônica não era impressionável e ele ficou pensando se aquela coisa ruim no peito que ela dizia ter não significava algo.

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- Tá aqui. Duas bombas de chocolate, uma marta-rocha, 250g de biscoitos e três croissants. Você tá com fome hoje, heim! Olha o pecado da gula, rapaz!

Ângelo deu uma risada enquanto pegava sua compra sob o olhar curioso de Magali. Tudo que envolvia comida sempre interessava a moça.

- Eu reparei que tem uns pedreiros trabalhando na padaria...
- Pois é. Apareceram algumas trincas por aqui também. Pouca coisa, mas o pai resolveu arrumar para não ficar pior.

Magali parou de prestar atenção na compra de Ângelo quando Quim lhe deu um pedaço de bolo de chocolate que tinha acabado de ficar pronto.

- Hum... Delícia! Aceita, Ângelo?
- Não, obrigado. Vou lanchar daqui a pouco.
- É de chocolate.
- Mesmo? Legal! Grande invenção dos maias!
- Não, quem criou o chocolate foram os astecas.
- Na verdade, o chocolate foi cultivado primeiro pelos maias. Das suas sementes eles faziam uma bebida amarga que era temperada com baunilha e pimenta que na crença deles eliminava o cansaço. Eles chamavam de xocoatl.
- Éeeee? Nossa, eu pensava que era criação dos astecas!
- Os astecas adotaram o chocolate depois que foram dominando os territórios dos maias. Você pode pesquisar mais depois se quiser. Sabia que eles usavam as sementes de cacau como moeda de troca? Dez sementes valiam um coelho e cem sementes de boa qualidade podiam comprar um escravo.
- Gente! Essas sementes valiam muito mesmo!
- Não se esqueça de pesquisar mais sobre os maias. Vai descobrir muitas coisas interessantes.

Ele foi embora com suas compras, torcendo para que Magali seguisse mesmo sua dica. Mesmo sabendo que o foco principal dela seria a alimentação, podia acontecer de ela acabar esbarrando nas profecias maias e era isso que ele queria.

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- Qual DVD a gente vai alugar agora?
- Ah, do jeito que eu fiquei bolada com aquele último, acho que vou querer uma comedia. Nem precisa ser comedia romântica, pode ser um filme bem engraçado. Aí você vê.
- Hum... tem muitos filmes bons aqui e... vixe! – Cebola levou um susto e ao olhar para onde seus olhos apontavam, Mônica assustou-se também.
- Carmen? O que houve? Tá passando mal?
- Eu? Claro que não, por quê?
- Sua cara... é... tá branca!
- Ah, isso? É que eu estou usando protetor solar fator 100. Acabei de comprar lá na farmácia da esquina.
(Mônica) – Credooo! Precisa disso tudo?
- O Ângelo falou que precisa.
- ??? – os dois olharam para ela com cara de espanto, sem entender nada.
- É que ele falou pra tomar cuidado com o sol, então eu estou me prevenindo, né? Ele é anjo, vive lá no céu e deve saber melhor do que a gente dos perigos do sol.
(Cebola) – O Ângelo falou que o sol vai ficar mais forte?

- Ele falou sobre coisinhas, bichinhos saindo do sol, sei lá!

Os dois levaram um susto. Do que aquela criatura estava falando?

- Carmen, o que o Ângelo te falou, exatamente? – Cebola perguntou tentando arrancar alguma informação a mais.

A loira tentou pensar um pouco, o que para ela costumava ser cansativo, e procurou relembrar a conversa que tivera com o anjo.

- Foi tipo blábláblá cuidado com o sol, blábláblá aumento de sei lá o quê, blábláblá e esses bichinhos. A única coisa que eu entendi foi que preciso passar bastante protetor solar para não estragar minha pele perfeita!

Os dois balançaram a cabeça impressionados com a burrice daquela garota que não era sequer capaz de guardar uma simples conversa.

(Cebola) - E quando foi que o Ângelo disse isso?
- Agora a pouco. Ele tinha ido a padaria do Quim pra comprar algumas coisas e a gente se encontrou no meio do caminho. Agora eu preciso ir. Meu priminho chegou da Itália (minha família é chique demais, não é?) e eu estou alugando um DVD para ele.

O filme de comédia acabou tendo que ficar para depois. Os dois se olharam e não foi preciso falar nada para tomarem a decisão de irem a padaria do Quim. No meio do caminho, Cebola foi falando.

- Se o meu palpite estiver certo, o Ângelo deve ter falado alguma coisa pro Quim e talvez para a Magali.
- É mesmo. De repente, ele andou falando outras coisas pro resto da turma também. Melhor a gente perguntar. Será que ele está querendo nos dizer alguma coisa?
- É bem provável! Se for isso, então temos que ir juntando todas as pistas pra saber o que é.
- Nossa... eu ainda sinto aquela coisa ruim no peito.

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- Ramona!

A moça continuou podando uma roseira fingindo não ouvir o chamado da sua mãe.

- Ramona, larga isso agora e venha até aqui.

Ao ver que não tinha mais como ignorar, ela largou o que estava fazendo e atendeu de má vontade.

- Que foi, mãe?
- Arrume suas coisas. Nós vamos viajar.
- Pra onde?
- Para uma dimensão muito especial. Você vai gostar.
- Hã? Assim tão de repente?
- O que foi? Precisamos de umas férias em família, certo? Seu pai está a caminho e todos iremos juntos!

O rosto da moça se iluminou.

- Papai está vindo? Que bom!
- Isso mesmo. Então trate de arrumar suas coisas. Nós iremos dentro de uma semana.
- Ah, bom! Então eu vou poder me despedir do Nimbus!
- NÃO! – ela levantou a foz e depois reduziu o tom – Quer dizer, será uma viagem curta, não se preocupe com isso.
- Ah, mãe! Eu não posso ir sem me despedir do meu namorado, né?

Viviane ficou preocupada, com medo de que sua filha interagisse demais com os amigos do namorado e acabasse descobrindo o que não deveria.

- Primeiro arrume suas coisas, depois você se despede dele.

O rosto de Viviane não mostrava a alegria de quem ia fazer uma viagem com a família e Ramona logo ficou desconfiada.

- Mãe, por que a senhora tá tão nervosa?
- Eu... er... Arrume suas coisas e não fique me fazendo perguntas. É uma ordem!

Quando sua mãe falava naquele tom, Ramona tinha aprendido que o melhor era obedecer. Depois daria um jeito de ir ver Nimbus para se despedir dele. Se a viagem era curta, não haveria problemas. Ela logo voltaria para ele.


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Notas finais do capítulo

Só pra esclarecer, eu não sei os nomes dos pais da Carmen, então eu inventei. Se eles tiverem nome e alguem souber, pode falar que eu troco.
Ah, e o filme que Cebola e Mônica assistiram foi 10.5 - O dia em que a terra não aguentou.