2012 escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 57
Morte ou morte




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No capítulo anterior, o reencontro de toda a turma começou muito bem e terminou com Cascuda acusando os amigos do Cascão de forma injusta e cruel. Finalmente Carmen resolveu seguir o conselho da D. Morte.

19 DE JULHO DE 2012

09:00

Quando viu seu namorado conversando com aquela mocinha fresca da cidade, Rosinha estava pronta para ter um ataque de ciúmes e até dar uns tapas na cara dela. No entanto, ao ver seu aspecto, a moça acabou mudando de idéia. Ela só chegou mais perto para ouvir o que os dois conversavam e escutou Chico dizendo.

— Óia, eu acho qui ocê tá cismando atoa.
— Cismando nada, isso tudo virá abaixo e não vai sobrar ninguém. Escuta o que eu tô te falando! Pega sua família e foge daqui! Avisa pra todo mundo!
— Ara, o que tá acontecendo? – Rosinha perguntou assustada com a conversa.

Chico ficou meio sem jeito por ter sido pego conversando com outra garota.

— Num é nada não, Rosinha, nóis só tava proseando sobre umas coisa...
— Proseando nada, eu estou avisando! Vocês não sabem o que vem acontecendo com o resto do mundo? Dos terremotos? Já perdi uma amiga por causa de um terremoto! E ontem a noite fiquei sabendo que os pais de outro amigo meu também morreram!

Os dois ficaram em silêncio.

— Vocês não estão vendo? Pessoas estão morrendo por causa desses terremotos, coisa que não acontece aqui no Brasil! Me escutem por favor e fujam!
— E pru quê sua famia ainda tá aqui? – Chico perguntou desconfiado.
— Porque eles são burros e não acreditam em mim! Acham que tudo está normal e não está! Meus amigos e suas famílias foram todos para o Mato Grosso, era pra lá que a gente devia ter ido.

Apesar de um tanto espantados com a notícia, eles não acreditaram que algo de tão grave estava acontecendo. Apesar dos tremores que houve na região, ninguém se feriu gravemente e tudo parecia normal. Por que eles deveriam acreditar numa mocinha histérica e mimada?

Como não podia ficar fora por muito tempo, Carmen resolveu ir embora antes que seu pai lhe desse outra bronca e tirasse o carro. Foi com certo alívio que eles viram o carro ir embora. apesar de parecer boa pessoa, já estava ficando cansativo conversar com ela porque sempre ficava repetindo as mesmas coisas.

— Coitadinha... eu acho qui ela num regula muito bem não! – Chico falou balançando a cabeça.
— Agora que você falou... ela parece meio maluca mesmo! Fim do mundo? Eu heim! O padre Lino sempre fala que do dia e da hora ninguém sabe, então eu não vou ficar com medo só porque essa patricinha falou umas besteiras.

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— Onde fica isso mesmo? – Sra. Frufru perguntou quando o marido falou sobre a localização da festa do prefeito.
— Fica no Grotão da Mata.
— ???
— Fica a duas horas daqui.
— Longe desse jeito? Que horror! Eu não quero ir de jeito nenhum! Detesto viajar nessas estradas de terra.
— Calma, querida. A viagem será cansativa, mas valerá a pena. Dizem que a fazenda do prefeito é a mais linda da região e nessa festa irão pessoas importantes da alta sociedade! Até o governador do estado estará presente!

A mulher se interessou.

— Mesmo?
— Claro! Também estarão lá vários repórteres das colunas sociais de revistas importantes! Aposto que eu poderei até conseguir bons negócios!

O rosto dela se iluminou na hora. Aparecer nas colunas sociais era uma das coisas de que ela mais gostava.

— Então eu preciso escolher meu vestido, jóias, sapatos, bolsa... ai! Tenho que ir ao cabelereiro para hidratar meus cabelos e fazer uma limpeza de pele! Esse salaozinho mixuruca da vila não é lá grande coisa, mas acho que deve servir.
— Faça isso, querida! Quero ver você bem linda e maravilhosa para impressionar todo mundo! Ah, e a família toda foi convidada, até as crianças.

Ela fez um muxoxo. Levar Felipe e Luísa tudo bem. Eles sabiam se comportar quando queriam e por serem campeões mundiais de patinação, sempre conseguiam atrair a ateção por onde passavam. O problema era Carmen, que de uma hora para outra tinha se tornado rebelde e desobediente, muitas vezes fazendo com que eles passassem vergonha na frente dos outros. O que tinha acontecido? Ela sempre fora a filha linda e perfeita da qual se orgulhavam e agora tudo o que eles queriam era mantê-la longe de todos para evitar quaisquer vexames.

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— Intão ela falô qui os anjo di asa negra tão por essas banda!
— Anjo di asa negra? Cruiz credo! Essa moça tá variando mermo, coitada. Deve di tá querendo chamá a atenção.
— É?
— Craro! Quando ocê era piqueno, vivia inventando umas história de saci, onça i otras coisa. Tudo pra chamá minha atenção!

Ele deu um sorriso meio sem jeito com a revelação da sua mãe. Suas histórias não eram apenas para chamar a atenção. De vez em quando ele se envolvia em situações bem inusitadas e sempre que ia contar para alguém, ninguém acreditava.

— Pru quê a sinhora acha que ela qué chamá a atenção?
— Acho qui esses pessoar rico num dá atenção pros fio, deixa tudo pras babá. Eles acha qui só precisa dá dinheiro e brinquedo e num iduca as criança. Aí dá nisso.
— Faiz sentido.

Cotinha terminou de pegar os ovos das galinhas e Chico continuou consertando o telhado do galinheiro.

— Ocê num acha mió isperá o seu pai?
— Eu tô quase cabando. Só arrumá essa viga e pronto. Essas tremida da terra atrapaiaram o teiado.

O rapaz ficou pensativo por um tempo e Cotinha perguntou.

— O qui foi?
— Óia, eu num sei se querdito nessas coisa di fim do mundo, mais...
— Mais o quê?
— A sinhora num acha istranho esses terremoto qui tá dando nessas banda? Nunca foi anssim não!

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— Uma festa? Que tudo! Eu tava doida pra ir numa festa mesmo! – Luisa bateu palmas quando ouviu dos seus tios sobre a grande festa de gala que eles iam ter naquele fim de semana.
— Isso mesmo, querida! Nós iremos amanhã de manhã e ficaremos o fim de semana inteiro!

Todos vibraram, exceto Carmen que não parecia muito empolgada em ir para um local tão afastado considerando as dificuldades que eles poderiam enfrentar para fugir.

— O que foi, filhinha? Você não está empolgada? Nós vamos passar um fim de semana inteiro numa fazenda ma-ra-vi-lho-sa! Você poderá usar suas lindas roupas e aquele lindo vestido na hora da festa!

Ela deu de ombros, nada empolgada com a idéia.

— Eu não tô com espírito pra festas, mãe. Nem sei se a gente devia ir!

Ela se assustou.

— Como não? Enlouqueceu? A festa vai estar cheia de pessoas da alta sociedade, nós temos que ir!
— E por que eles iam querer vir pra tão longe?
— Não faça perguntas, apenas se arrume e fique bem linda!
— Eu não quero ir. Vou ficando por aqui mesmo. e acho que o Fabinho também não devia ir.

Mirian pensou um pouco e acabou concordando.

— Ai minha nossa, o Fabinho é sensível demais, não pode viajar muito tempo de carro senão enjoa! E nessa festa eles podem servir muita coisa que ele não pode comer!

Sra. Frufru tentou acalmar a amiga.

— Ele pode ficar aqui com a babá, não se preocupe. Mas todos nós iremos.
— E vão deixar o pobrezinho para trás? Quem vai ficar aqui com ele?
— Não se preocupe, Carminha! Ele vai poder ver televisão e brincar com seus brinquedos.

Carmen não estava com um bom pressentimento quando aquilo. Deixar seu primo sozinho com a babá era muito arriscado. E se desse um terremoto e a mulher saísse correndo deixando-o para trás? Aquilo era um problema. Ela não queria que ele fosse, mas também não queria deixá-lo ali sozinho. A solução era seus pais deixá-la ficar com ele, o que parecia bem difícil.

Sua mãe continuou falando sobre a festa, as roupas que cada um ia usar e como eles deviam se comportar e ela não ouvia nada, aquilo não a interessava mais. Felipe só queria saber se aquela garota de quem ele estava gostando ia comparecer e Luisa queria levar seu novo namorado.

“Hum?” sua atenção foi atraída para a janela quando ela viu um dos emissários da morte lhe acenando. Aquilo era realmente estranho já que nenhum deles falava com ela e nem respondia as suas perguntas.

— Carminha, onde você pensa que vai? Nós temos que conversar sobre nossas roupas para a festa!
— Depois, mãe! Eu tenho que ver uma coisa!

Ela ignorou as reprimendas e chamados da sua mãe e correu para fora. O emissário voou até o jardim, entre uns arbustos e ela o seguiu curiosa para saber o que ele queria.

— Me siga.
— Como é?
— D. Morte falou que você deve presenciar algo.

Ele saiu dali voando e depois voltou-se para ela e falou.

— Vai precisar do carro. Anda logo que não temos muito tempo.
— Já tô indo!

Mais do que depressa ela correu para a garagem e pegou o seu carro ardendo de curiosidade.

Quando ela saiu da garagem, Felipe e Luisa apareceram afobados.

— Carminha, o que deu em você? A tia tá te chamando!
— Depois, Luisa! Agora eu preciso fazer uma coisa. A gente se vê!
— Ô, peraí! Já foi... caramba, o que deu nela?
— Nem faço idéia, Lipe. Mas o tio vai ficar uma fera, ah se vai!

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Carmen foi dirigindo pela estrada seguindo o emissário que voava rapidamente e sem olhar para trás. Sorte sua a estrada ser deserta e não ter engarrafamento.

Na casa do Chico, ele continuava consertando o telhado e conversando com sua mãe sobre os acontecimentos dos últimos meses. De certa forma, ele estava mesmo um pouco preocupado com os tremores de terra, mas Cotinha achava que era algo passageiro e sem grandes conseqüências.

— Será qui a gente num divia ir pra casa do primo Zeca por um tempo?
— Bobage, fio! Num inventa moda qui tá tudo bem aqui.
— Se a sinhora diz...

Ela estava saindo do galinheiro com o cesto de ovos quando sentiu o chão tremer, fazendo-a deixar cair tudo no chão. Não foram só os ovos que caíram no chão e sim todo o galinheiro tinha desmoronado. O pequeno barraco já estava fragilizado por causa dos tremores dos últimos meses e acabou não agüentando mais um tremor.

— Chico? Ai minha nossa sinhora! Fio!

A mulher gritava aflita tentando tirar as tabuas do caminho para chegar ao seu filho.

Ela também tinha percebido o tremor e até parou o carro por uns instantes. Quando parou, ela dirigiu rapidamente até a casa do Chico, onde o emissário tinha entrado. A primeira coisa que ela viu foi que o galinheiro tinha desabado e Cotinha tentava entrar de todo jeito enquanto gritava o nome do filho.

— D. Cotinha, o que foi?
— Ai, moça! O meu fio tá lá dentro!

O emissário flutuava sobre os escombros e Carmen sentiu uma coisa ruim.

— Vamos tirar essas tábuas daqui, eu ajudo!

Elas foram tirando tabuas e vigas de madeira até encontrarem o rapaz desmaiado com um grande ferimento na cabeça.

— Chico! Ai Deus do céu! Fio!
— Espera, a gente tem que tirar ele daqui!

Com muita dificuldade, elas conseguiram tirar o rapaz inconsciente dos escombros e levá-lo para o carro. Cotinha sentou-se no banco de trás com a cabeça do filho em seu colo e Carmen dirigiu rapidamente para a vila.

— Tem hospital na vila? Alguma coisa?
— Tem um posto di saúde. Hospitar mermo só na cidade! Ai, meu fio!

Por sorte a vila não ficava muito longe dali e elas conseguiram encontrar o posto de saúde, que ficava praticamente no centro. Com a ajuda de alguns rapazes, elas tiraram Chico do carro e levaram para dentro do posto para ser atendido pelo médico.

— Hum... deixa eu ver... o ferimento foi feio e acho que teve traumatismo craniano, mas eu teria que tirar radiografia pra avaliar melhor.
— Intão faiz isso, dotô! – Cotinha pediu já chorando.
— É que... bem... a máquina está quebrada e o prefeito ficou de mandar consertar e até agora nada.
— Eu não acredito! – Carmen falou revoltada. – Pra ficar dando festinhas na fazenda ele tem dinheiro, mas não pode equipar o posto de saúde? E agora, como a gente faz?
— O jeito seria levá-lo até a cidade mais próxima onde tem um hospital, só que nós não temos ambulância!
— Então eu levo de carro!

O médico balançou a cabeça.

— Moça, vocês nem deviam ter trazido ele aqui do jeito que vocês fizeram, mas eu entendo que não teve jeito. Agora, se vocês levá-lo de carro até a cidade, vai piorar o estado dele.

Carmen ficou andando de um lado para o outro. O emissário da morte estava ao lado do corpo do Chico e ela teve ganas de arrastá-lo para longe dali. O que aquela baranga estava pretendendo com aquilo? Era mesmo para salvá-lo ou só para ver sua morte? O que fazer?

— Aqui, vocês não podem chamar um helicóptero? Eu pago, minha família é muito rica!

O medico a olhou como se ela fosse louca e respondeu.

— E-eu nem sei como conseguir isso, moça! O que posso fazer é ligar para a cidade vizinha e pedir uma ambulância!
— Ótimo, faz isso!

Ele foi até o telefone e seu rosto logo mostrou grande preocupação.

— Está mudo... parece que o tremor de terra afetou as linhas telefônicas!
— Usa o meu celular!

Após alguns minutos falando no celular, o médico desligou muito desapontado.

— O qui foi dotô? Eles num vão mandá a ambulância?
— Não é isso, senhora... acontece que para a cidade mais próxima só tem uma única estrada. Por causa do tremor de terra, houve um grande desmoronamento e a estrada ficou totalmente bloqueada.
— Valha-me nossa sinhora! Ajuda o meu fio!
— Não podem chamar uma ambilancia da cidade? – Carmen perguntou.
— São quase três horas de viagem, moça...
— Antes tarde do que nunca. Por favor, pelo menos tente!

Como não podia fazer muita coisa pelo rapaz, o medico ligou para um hospital da cidade grande que ele sabia que podia atendê-lo. Carmen aguardava torcendo as mãos e de olho no emissário para que ele não fizesse nenhuma gracinha.

— Eu sinto muito...
— Eles num vão mandá ninguém buscá meu fio?
— Vão, mas a ambulância só irá chegar por volta das cinco da tarde...
— Como é que é? Mas não é nem meio dia!
— É que eles estão sobrecarregados por lá também. Parece que os terremotos na cidade aumentaram muito. Eles falaram que vão tentar, mas não há nada garantido. Só nos resta rezar e esperar.

Cotinha abraçou Carmen e começou a chorar em seu ombro, desolada pelo que tinha acontecido com seu filho. Quando Tonico chegou, ela caiu nos braços do marido com o pranto redobrado.

— Tonico... o nosso fio tá muito mar! Eu num sei o que fazê!
— Carma, mué! Vai dá tudo certo, eu sei qui vai!

Carmen assistia tudo com o coração partido quando seu celular tocou. Era sua mãe furiosa no outro lado da linha.

— Carmen Frufru! Volta para casa agora mesmo!
— Agora não, mãe. – ela saiu do posto e explicou tudo o que tinha acontecido, deixando a mulher escandalizada.
— Como é que é? Você levou um bando de mortos de fome no nosso carro limpinho? Eu não acredito! Você ainda me mata, criatura!
— Mãe, era uma emergência! Ele estava muito ferido e precisava ser socorrido na hora!
— Que chamassem a ambulância!
— Não tem ambulância aqui porque o prefeito gasta todo o dinheiro com essas festas idiotas e não sobra nada pro posto de saúde!
— Isso não é problema nosso! Você não devia ter levado essas pessoas no nosso carro! Volte para casa agora mesmo e nós vamos ter uma longa conversa. Onde já se viu uma Frufru andando por aí com esse bando de favelados que...

O sangue subou a sua cabeça, ela trincou os dentes com raiva e gritou para o celular.

— Quer saber? Vai pro inferno, tá legal? – e desligou o telefone antes que sua mãe tivesse tempo de responder alguma coisa. Por que seus pais tinham que ser daquele jeito? Por mais que fosse fútil, ela pelo menos tinha um coração e era capaz de se sensibilizar com o sofrimento das outras pessoas.

Um vento frio bateu em seu rosto, fazendo com que sua pele se arrepiasse e ela adivinhou na hora do que se tratava.

— Não fale comigo porque ninguém pode me ver e pensarão que você é louca. Apenas escute.

Carmen fez que sim com a cabeça.

— Seu amigo não irá sobreviver. Sinto muito.

Ela ia falar algo e se conteve. D. Morte continuou.

— Esse é o último aviso. As coisas por aqui irão piorar.

Uma idéia surgiu e Carmen levou o celular ao ouvido e perguntou em voz baixa.

— Não dá pra salvá-lo? Por favor! Os pais dele estão sofrendo muito! Eles vão mandar uma ambulância, pode ter jeito ainda!
— Sim, você está certa.
— Estou?
— Se ele for socorrido, terá uma chance. No entanto, há várias implicações. Foi por isso que eu te chamei aqui.
— Eu? E que eu posso fazer?
— Escolher.

O rosto dela empalideceu.

— Espera! Você quer que eu escolha se ele vai morrer ou viver?
— Não. Ele vai morrer de qualquer jeito. O que você deve escolher é quando, se agora ou mais tarde.
— M-mas você disse que ele tem chance!
— Em uma situação normal sim. Mas não estamos em uma situação normal. Tudo isso virá abaixo nos próximos dias. Na verdade, isso aqui não irá durar até segunda-feira.
— Tão rápido assim?
— Exato. E na cidade a situação será pior. Pense bem, pirralha. Se esse rapaz for levado a cidade, seus pais irão junto.
— E?
— Enquanto o filho estiver no hospital, eles não saíram do lado dele. Então tudo irá desmoronar.
— E eles vão morrer, não vão?
— Sim. Mas se esse rapaz for levado agora, os pais dele ainda terão uma chance de sobreviver.
— Como? De que jeito?
— Você saberá mais tarde. Uma coisa de cada vez. E então, o que você decide?
— Isso não é justo! A morte aqui é você, não eu!
— Sei disso. Quero apenas ver como você irá lidar com essa questão.

Carmen começou a chorar aflita por causa da situação. Como ela ia decidir sobre a vida do rapaz? Ela tentou pensar. Se o deixasse viver, ele poderia ser socorrido e levado para a cidade. Só que todos seriam mortos pelo terremoto. Não haveria nenhuma chance de eles escaparem?

— Olha, de repente ele pode sarar rápido e eles então podem fugir e...
— O caso dele é grave. Esse rapaz terá que passar por uma cirurgia e para isso terá que ficar alguns dias no hospital. Surgiu um coágulo no cérebro dele por causa da pancada e houve traumatismo craniano.
— Essa não!
— Se eles forem, irão todos morrer. Mas se esse rapaz for levado agora, os pais dele terão uma chance.

Ela fechou os olhos com força, ficou em silêncio por alguns segundos e falou com um fio de voz.

— Eles vão mesmo ter uma chance?
— Sim. E o seu primo Fábio também.
— O que tem ele? – ela perguntou alarmada.
— Se esse casal se salvar, seu você e primo se salvarão também. É só o que eu posso dizer agora.

Diante daquilo, Carmen não teve outra opção.

— Então tá. Se for assim... mas por favor, não deixa ele sofrer não!
— Prometo que serei rápida. Você tomou a decisão certa.

A morte sumiu dali e Carmen voltou para dentro onde o casal esperava junto ao corpo do filho. Ninguém ali viu nada, somente ela pode ver a morte trabalhando e tirando a vida do rapaz. Eles só perceberam que alguma coisa tinha acontecido porque o corpo dele tremeu um pouco. E tudo acabou.

— Chico? Fio? Ai Tonico do céu! Ele num tá respirando!
— Deixa eu ver! Minha nossa sinhora! Eu vou chamá o dotô!

O médico veio rapidamente, checou o batimento cardíaco do rapaz, a pulsação e anunciou totalmente desolado que não adiantava fazer mais nada por ele. Chico estava morto. Cotinha teria caído no chão se Tonico não a tivesse segurado e Carmen assistiu o casal chorando desesperadamente a morte do filho.

— Tomara que você esteja certa! – ela sussurrou para D. Morte que estava passando perto dela levando o rapaz.
— Eu sempre estou certa. Fique atenta. Você ainda terá que tomar outra decisão muito importante.


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