Human Nightmare escrita por Leonardo Franco


Capítulo 23
Perdas




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CAMILLE

Martin corre na minha frente, e estamos seguindo as pegadas dos outros. Torço mentalmente para que essas pegadas sejam deles, e não de zumbis. Ele para e vira a cabeça rapidamente, observando.

– As pegadas aqui se dividem – ele diz, apontando para dois caminhos diferentes.

– Acho que devemos continuar indo reto. É o lugar que tem mais pegadas, veja – apontei para o caminho. Para a direita havia apenas dois pares de pegadas. Para frente as pegadas já eram incontáveis.

– Tudo bem então, vamos logo. Antes que mais deles apareçam.

Assim que voltamos a correr ouço vozes. Elas vão ficando cada vez mais audíveis, e logo nos encontramos com os outros. Eles estão reunidos ao redor da cerca e tem alguém ajoelhado no chão.

– Estão todos bem? O que está acontecendo? – Martin pergunta, sem esperar uma resposta para a questão anterior.

– Peter está tentando fazer um buraco na cerca. Não podemos ficar aqui esperando eles nos atacarem – diz uma menina, que eu ainda não guardei o nome. Martin concorda com a cabeça e vai até a cerca. Eu o acompanho.

Peter está usando toda a sua força para puxar um pedaço da cerca que já estava um pouco solto, mas seu esforço não traz nenhum resultado. Martin o ajuda a puxar, e alguns outros os ajudam. Logo há um buraco grande o suficiente para uma pessoa passar. Peter vai primeiro, e os outros o seguem.

Martin de repente começa a virar a cabeça rapidamente, olhando para todas as pessoas ali.

– Krista? – ele grita – Alguém viu minha filha?

Ninguém se manifesta, e agora ele está em desespero. Ele olha mais uma vez para o grupo e depois sai correndo, pelo caminho que nós acabamos de passar. Corro atrás dele.

– Martin – grito, mas ele não olha para trás. Acelero a corrida, ultrapasso-o e paro em sua frente, fazendo-o parar também.

– Eu tenho que achar minha filha, Camille... – ele começa a andar novamente, e eu pego seu braço.

– Ela sabe que a gente vai tentar entrar no prédio. Tenho certeza de que ela vai arranjar um jeito de entrar. Martin... Confie em mim. Ou melhor, confie nela. Você sabe que ela é forte.

Tenho que segurá-lo por mais alguns segundos, até que ele desiste de tentar se soltar. Ele concorda com a cabeça e nos viramos para o outro lado. Caminhamos juntos de volta para a cerca em silêncio. Ele olha para o buraco e olha para trás mais uma vez, esperando que Krista esteja bem atrás dele. Mas ela não está.

Passamos pela cerca e corremos até os outros.

Peter anda na frente, e eu o sigo de perto. Sei que ele tentará de qualquer maneira machucar Alexander se ele o vir, e eu tenho que estar perto para ajudá-lo. Martin deve ter pensado o mesmo, e segue bem do meu lado, com os olhos atentos no garoto. Todos estão tentando fazer o mínimo de barulho possível, com medo de que algum segurança possa nos ouvir.

Chegamos ao final de um muro comprido, e ouvimos vozes do outro lado. Peter faz sinal para ficarmos quietos, e todos param. Ele espia do outro lado, e quando vira seu rosto ele parece preocupado.

– Tem muitos seguranças lá. Se nós pisarmos naquele lugar, estamos mortos.

– Você acha que eles vão ser tão radicais assim? A ponto de atirar em todos nós? – pergunta a mulher que me curou, Olive.

– É quase certeza. Mas não sei como eles trabalham, então...

– Alguém quer arriscar? – pergunta outro menino baixinho, e eu quase solto uma risada, pensando que ele está brincando. Mas não está. Uma menina loira se levanta do chão, onde estava sentada, e dá um passo a frente.

– Eu vou – ela diz. O garoto baixinho concorda e lhe dá um beijo. A loira anda calmamente pelo grupo e passa pelo muro. Ouço seguranças gritando, e não consigo me conter. Ponho a cabeça para o outro lado e espio. A menina está com as mãos para cima, e os seguranças estão apontando armas para ela. Mas ninguém atira – Por favor – ela grita – Estamos perdidos, não sabemos para onde ir...

– Quem mais está com você? – grita um segurança, fazendo-a parar de falar.

– Alguns amigos. Nós estávamos fugindo e...

– Onde eles estão? – interrompeu-a de novo o segurança.

– Eles... Eles estão ali atrás.

– O que ela está fazendo? Ela nos entregou... – diz Clarke, o amigo de Olive, indignado.

– Não – diz Peter – Acho que ela quer que nos façamos de inocentes. Vai dar certo... Vamos.

Peter passa pelo muro, com as mãos erguidas.

– Saiam todos – grita um segurança.

Lentamente, todos nós saímos de trás do muro. Agora que o campo de visão está maior, vejo todo o local. É uma garagem, e vários seguranças estão ali protegendo dezenas de carros, motos, alguns ônibus e, para surpresa geral, tanques de guerra. Não sei se eles usam (ou usavam) esses tanques em guerras ou para combater os zumbis, e não sei se quero saber.

– Por favor, nos ajudem – Peter diz. Ele faz uma cara de confuso bem convincente, o que faz os guardas abaixarem as armas.

– Nós não fazemos caridade – fala outro homem, mais para trás.

– Nós só precisamos passar a noite em um lugar seguro... – começa a loira, e logo ela para. Uma porta e abre, e por ela passa o Prof. Alexander. Ele dá uma rápida olhada em nós e depois se volta para os seguranças.

– Prendam-nos, todos! Eles são inimigos!

E imediatamente nós somos jogados no chão e algemados.

Somos levados para dentro de um dos inúmeros prédios, e os guardas nos colocam de joelhos no chão. Alexander passa calmamente por nós, nos analisando um por um. Quando ele chega em Peter, ele solta uma risada.

– Olha só onde você está agora... Acho que vai ser meio difícil de cumprir aquela sua promessa de me matar, não vai? – ele gargalha e se vira de costas para nós –Traga os outros intrusos – ele grita.

Um guarda aparece por uma porta, trazendo duas pessoas com sacos na cabeça. Uma delas é claramente uma garota, e ela está tremendo. O guarda os joga com descaso no chão e sai da sala. Alexander vai até os dois e retira os sacos. Ouço Martin prendendo a respiração do meu lado. A garota é Krista, e seu olho está inchado e roxo. A outra pessoa é Luke, namorado da Krista.

Martin começa a gritar desesperadamente do meu lado. Ele se levanta e corre até Krista, mas um guarda o derruba antes que ele chegue até ela. Ele usa uma arma de choque nele, e Martin cai no chão em espasmos.

Dessa vez sou eu que grito, mas sinto mãos me prendendo no chão antes mesmo de eu pensar em correr até ele. Alexander ignora Martin no chão e vai até Krista e Luke.

– Esses dois aqui – ele fala bem alto, para que todos ouçam – Invadiram meu depósito de armas. Muito ousados. Minha ideia era jogá-los para os zumbis. Mas achei que seriam mais úteis vivos. Estava prestes a torturá-los por qualquer informação que eles pudessem me dar, quando ouvi vocês chegando. Não sei se vocês são burros ou o quê, mas agradeço a vocês por tornarem isso muito mais fácil pra mim. Agora que estão todos aqui...

Ele é interrompido e jogado no chão por alguma coisa que colidiu com ele. Percebo que é Peter, que escapou de suas algemas e o atacou. Todos os guardas se viram para eles, se esquecendo do resto de nós.

Um guarda agarra Peter por trás e o mantém preso.

– Como vai ser, Alexander? – Peter grita – Vai ficar escondido atrás de um bando de homens ou vai lutar? Isso é só entre nós dois. Deveria acabar assim.

Alexander hesita por um segundo, mas depois faz um sinal e o guarda solta Peter.

– Você acha que eu não consigo acabar com você sozinho? Você está enganado, garoto.

No segundo que ele termina de falar, Peter pula para o ataque. Ele tenta um soco direto no rosto do professor, mas este desvia e o chuta nas costelas. Peter mal cambaleia e já volta para o combate.

Os dois continuam a luta, e enquanto todos os guardas prestam atenção nos dois, começo a tentar soltar minhas algemas. Não é muito difícil, já que tenho mãos pequenas. Logo já estou solta.

Levanto-me e tento achar um jeito de soltar os outros. Um brilho me chama a atenção em um dos guardas, e vejo um molho de chaves preso em seu cinto. Pego uma faca perdida no chão e o atinjo nas costelas. Tampo sua boca com a mão para que não faça nenhum barulho, fazendo-o cair. Pego as chaves.

Um por um, vou libertando todo mundo. Porém, quando chego em Clarke, o último que ainda está algemado, um guarda percebe o que estou fazendo. Ele corre até mim e tira as chaves da minha mão. Ele acerta um soco no meu peito e eu caio para trás, bem no momento em que eu ouço um barulho alto de uma arma sendo disparada e um corpo indo ao chão.

Desesperada, olho para Peter. Ele ainda está lutando com Alexander. Procuro Martin e vejo que ele ainda está no mesmo lugar de antes. Vejo seu corpo se mexendo, o que indica que ele ainda está vivo. Enquanto ainda procuro quem poderia ter sido o atingido, ouço um grito. Olho para trás.

É Olive. Ela está olhando para um ponto a minha frente, e eu sigo seu olhar. Vejo um corpo, e uma arma ainda levantada. Toda a ação durou poucos segundos.

Clarke está no chão, sangue correndo ao seu redor. Meu coração para por um segundo, e logo depois volto para a realidade. Os outros guardas ainda estão absortos na luta, e o que matou Clarke está muito chocado com a ação, tanto quanto nós. Levanto do chão e chuto-o nas pernas. Ele cai e fica ali, sem reação. Tiro a arma da sua mão e me viro para os outros.

– Me ajudem – digo, para ninguém em particular. Logo após isso, derrubo outro guarda perto de mim. Os outros começam a atacar silenciosamente os homens distraídos, e logo só resta a luta no meio do círculo.

Alexander mostra cansaço, enquanto Peter se mantém forte. Alguns de nós gritam incentivos, mas Peter os ignora e continua lutando. Quando Alexander vê que está perdendo, ele dá um passo para trás e puxa uma arma de seu cinto. Ele a aponta para Peter.

– Acabou, Peter. Você já era – ele diz. Levanto minha arma e a aponto para Alexander, ao mesmo tempo em que Olive e um outro garoto também fazem o mesmo.

E os próximos segundos ocorrem tão lentamente que parecem horas. Ouço várias armas sendo disparadas ao mesmo tempo, e não sei quem atirou primeiro e quem foi atingido. Abaixo a cabeça instintivamente, e os tiros cessam. Levanto a cabeça, mais uma vez procurando por corpos no chão.

Alexander está deitado de bruços, com um buraco atrás da cabeça e sangue jorrando para todos os lados. Antes de me deixar sentir aliviada, o pânico me corrompe.

Peter também está no chão, com um buraco de bala em sua testa.


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