Fabula Temporis escrita por Linnet Lestrange


Capítulo 6
Capítulo 6 - Aquele com o Novo Quarto




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            Capítulo 6 – Dividindo aposentos com o inimigo.

A mulher me levou até a estátua que se transformava na escada que me levaria direto à sala de Armando Dippet, e se mandou.

Subi os degraus me perguntando o que diabos aquele homem queria comigo. E se ele perguntasse motivos da minha transferência? Coisas da minha vida pessoal? Poxa eu não tinha preparado nenhuma história ainda. Dumbledore tinha que ter resolvido isso!

Mas, bem, se eu achava que a coisa ia pegar para o meu lado, depois de ver Tom Riddle sentado na cadeira em frente à mesa do diretor eu tive certeza.

Ah meu Merlim. Dippet descobriu minha missão e vai me dedurar para Riddle, e os dois vão fazer churrasquinho de mim. Oh Merlim. Oh Merlim. Oh Merlim. Oh Merlim.

- Srta Schiffer. Está atrasada, estamos te esperando há uns bons dez minutos – disse o dedo-duro Dippet. Riddle me olhava com a sobrancelha erguida, mas sem demonstrar qualquer tipo de emoção. Talvez ele não soubesse ainda. Talvez eu ainda tivesse tempo para fugir.

- Foi mal, a Sra... hã... você sabe, aquela mulher só me chamou agora – respondi, com a voz meio tremida – Estava tomando café da manhã, trouxe esse bolinho, alguém quer? – ofereci, estendendo o bolinho para Dippet e depois para Riddle, quase sujando o nariz perfeito dele de açúcar.

Como nenhum dos dois pareceu aceitar, dei uma mordida nele.

- Sente-se, por favor, Srta. Schiffer – disse o diretor, parecendo meio chocado pelo meu uso de vocábulos como "foi mal", e pela oferta de um bolinho meio mordido.

Me sentei quase que roboticamente na cadeira ao lado de Riddle. Droga, como ele era bonito. A luz da janela entreaberta batia nos olhos dele, fazendo com que as íris azuis, normalmente escuras e frias, parecessem mais claras e... bem, com vida.

Respirei fundo e esperei Dippet explicar toda minha missão para o Mini Voldy, mas ao invés disso ele disse:

- Chamei vocês dois aqui hoje para falar do cronograma dos monitores. Está sendo preparado e estará aqui em minha sala na sexta-feira, quando vocês deverão vir buscar. Mas estejam preparados para uma carga horária pesada, este ano será bem movimentado – tagarelava o diretor, enquanto eu me encolhia na cadeira. Tinha esquecido dessa minha função de Monitora Chefe. Bem, pelo menos ele não tava me difamando na frente do Lordezinho – E tentem ficar vigilantes o tempo todo, não queremos que os eventos de um ano atrás se repitam.

Eventos?

Ah, sim! Ahh, eu sabia bem do que eles estavam falando. Fiquei sabendo da artimanha do Tom Serial Killer Riddle.

Mas, bem, pelo menos eles não sabiam que eu sabia.

- É claro – respondeu Riddle, como sempre manuseando sua voz para que ficasse em um equilíbrio perfeito entre cortês e desinteressado. Ele estava sentado em uma postura perfeita, com as mãos tranquilamente apoiadas nas pernas.

Esse cara é um absurdo, parece um boneco, até a postura dele é perfeita! Céus, eu estava sentada que nem um homem das cavernas, completamente curvada, e ele parecendo um tronco de árvore.

"É claro", aff, mas que mentiroso asqueroso.

- Que eventos? – perguntei.

Dippet arregalou os olhos, e começou a mexer nas vestes nervosamente.

- Ah se eu tivesse tempo Srta. Schiffer... se eu tivesse tempo, não hesitaria em lhe responder, mas estou certo de que você percebe que eu tenho um trabalho muito importante, eu tenho uma escola para dirigir e um encontro com o Professor Dumbledore em dez minutos que não pode esperar.

- Ah... – fiz, enquanto dava uma nova mordida no bolinho.

- Por que você não explica tudo para a Srta. Schiffer, Sr. Riddle? – sugeriu o diretor.

Há! Essa eu quero ver!

Os olhos de Riddle, que antes pareciam distantes e entediados, piscaram em alerta e se estreitaram.

- Sr, você não acha que seria melhor que ela ouvisse de alguém como o senhor...

- Oh, de jeito nenhum, de jeito nenhum. Você é o Monitor Chefe, tenho certeza que fará um ótimo trabalho – começou Dippet, feliz por ter se livrado do fardo – O que me faz lembrar de outro detalhe! Como a Srta. Schiffer é nossa nova Monitora Chefe, sugiro que vocês dividam o dormitório do Monitor Chefe. Vocês terão quartos separados, é claro, mas dividirão todo o resto.

- O quê? – piei, com mais desespero na voz do que deveria ter, quase cuspindo o pedaço de bolo que estava em minha boca.

Não é possível. Dippet deve ter minhoca na cabeça ao invés de cérebro. Como ele espera que eu compartilhe um aposento com Lord Voldemort e saia de lá viva?

Mas vou te contar, Riddle não parecia muito feliz também não. Não que desse para ler muitas expressões naquela cara ridiculamente apática, mas eu sentia que ele estava incomodado.

- Senhor, você realmente acredita que isso é uma b... – começou Riddle, mas foi interrompido enquanto Dippet se levantava.

- Já foi tudo decidido, Sr. Riddle. Já está tudo lá, preparado. Agora se me dão licença, tenho uma reunião para comparecer. Até mais! – ele foi dizendo, praticamente nos empurrando para fora. Quando ouvi a porta se fechar atrás de mim, me senti uma adolescente de quinze anos sendo expulsa de uma boate para maiores.

E, novamente, lá estava eu, sozinha e indefesa, em um corredor estreito, com o futuro Lorde das Trevas.

"Ok, certo. Você tem que se acalmar. Ele não vai te matar em frente à sala do Diretor", eu dizia para mim mesma.

Mas, puxa, era muita informação para assimilar. Dividir um dormitório com Tom Riddle? Isso me cheirava a Dumbledore.

Quando olhei, vi que ele já havia começado a andar, sem nem ao menos fingir que estava me esperando. Dei um pulinho para alcançá-lo.

- Você acha que fomos embora muito cedo? Ele parecia estar gostando tanto de nossa companhia! – brinquei, dando um sorrisinho bobo.

Mas, ao invés de responder, como faria qualquer pessoa normal, ou dar uma risadinha, ou sequer concordar, Riddle me encarou como se não me entendesse e, um segundo depois, virou as costas e saiu andando, com a capa das vestes balançando dramaticamente atrás de si, parecendo o Conde Drácula.

Wow. Isso era pra ser uma piada, pensei.

Fiquei encarando suas costas por alguns segundos, sem acreditar que alguém poderia ser tão incrivelmente grosso como Tom Riddle.

Ok, então não me responda, pensei, irritada.

- Ei! – chamei, e dei uma corridinha de novo para alcançá-lo, sem saber direito o que estava fazendo – Dippet é sempre assim?

- Sempre assim como? – ele perguntou, naquela voz completamente desprovida de qualquer emoção, sem desacelerar o passo.

- Todo tipo "oi, eu sou o máximo, vamos terminar logo a conversa para eu poder tacar vocês para fora da minha sala e continuar a me auto admirar".

Juro que por um segundo achei ter visto um sorrisinho se esboçar no rosto dele, mas quando ele se virou para me olhar apaticamente, percebi que devia ter sido impressão minha.

- Geralmente. Se você tivesse feito o favor de chegar na hora, talvez a reunião tivesse sido mais calma – ele disse, acidamente, seu olhar sombriamente investigando meu rosto – Não concorda?

- Bem, me desculpe se além de ser brilhante o suficiente para ser nomeada Monitora, eu também tenho vida social – respondi, mordaz.

Comecei a duvidar se alguma vez conseguiria manter uma conversa amigável com o Dark Lord. Sem chamá-lo de patético ou anti-social, eu quero dizer.

Ele não respondeu, apenas continuou andando. O que não foi nenhuma surpresa.

Cheguei à conclusão que devíamos estar indo para nossos novos 'aposentos', pois chegamos a uma porta onde havia um enorme quadro com um cavaleiro sentado tediosamente em um cavalo, que deveria ser o 'guardião' do dormitório, ou algo do tipo.

Riddle parou em frente à pintura, fazendo com que o cavaleiro se levantasse do cavalo e fizesse uma reverência.

- Bom dia, Sr. Riddle! – exclamou o cara.

- Sr. Cadogan – falou Riddle, friamente.

- Senha?

Riddle revirou os olhos. Aparentemente se irritava com o fato de alguém ter a audácia de lhe pedir uma senha, sendo que ele morava naquele dormitório desde quando fora nomeado Monitor Chefe.

- Tempo.

- Muito bem, bom senhor, muito bem! – declarou Sr. Cadogan, solenemente. A porta se abriu lentamente, fazendo um 'creek' irritante daqueles de portas abrindo em filme de terror.

Riddle estreitou os olhos para Sr. Cadogan e seguiu em direção a entrada, e fui indo logo atrás.

- ALTO TÁ, seu patife, alto lá! – exclamou Sr. Cadogan, tão repentinamente que eu dei um pulo de quase um quilômetro para trás e completei com um berro.

Riddle, por outro lado, sibilou alguma coisa maldosa em um tom quase inaudível, e cruzou os braços, encarando friamente o cavaleiro descontente com seus olhos azuis tempestuosos.

- Temos algum problema? – ele perguntou numa voz fumegante, que era muito assustadoramente calma para ser calma. Se é que isso faz algum sentido.

- Conduta nada cavalheira, eu diria! Nada cortês! Vergonhoso – piava Sr. Cadogan, balançando as mãos furiosamente – Damas primeiro, seu intrujão, as damas sempre entram primeiro!

Não aguentei e comecei a rir. Muito. De dar aqueles roncos de porquinho.

E, sem pensar muito, mandei:

- Então, devo ir primeiro ou você vai?

Ok, não foi a coisa mais sábia que eu já disse. Mas era uma oportunidade perfeita para fazer essa brincadeira. E eu não sou muito boa em controlar impulsos.

Riddle parecia completamente pego de surpresa pela minha piadinha, não dando tempo de pensar em alguma reação assassina, o que provavelmente me salvou.

Depois disso, nenhum dos dois tentou entrar. Ficamos em pé num silêncio ridículo, que dava até pra ouvir o som do vento vindo de uma janela próxima.

O cara, por sua vez, começou a me estudar por quase um minuto. Instintivamente, levantei meu queixo e ajeitei meu cabelo relutantemente diante de seu scan laser, e aproveitei para escaneá-lo também, tentando achar ódio, raiva, ou pelo menos irritabilidade em sua cara, mas incrivelmente achando... bem, nada.

De qualquer forma, por mais que ele estivesse demonstrando um monte de nenhuma emoção, eu sabia que ele tinha que estar pensando em alguma coisa naqueles sessenta segundos. Mas não dava para saber o quê. Não dava mesmo.

Mas dava para entender porque os outros alunos e até professores o rondavam com a maior cara de nervoso e medo.

Instintivamente meti a mão no meu bolso, encontrando minha varinha, e a segurei.

Não pude deixar de sentir um enorme alívio quando o vi dar um passo para trás, ridiculamente longe da porta de entrada, dizendo:

- Oh não, eu não sonharia em obstruir o caminho da realeza de sangue-puro, Schiffer – ele estendeu a mão para a porta – Vá em frente, eu insisto.

Tenho alguns comentários a fazer sobre isto:

a) Aonde é que ele arranja esses vocabulários?

b) Ele acabou de ridicularizar sangue-puro?

c) Será que ele decora todas as famílias bruxas que tem sangue-puro? Nem eu sabia que esse sobrenome era de uma família sangue-puro. Caramba.

- Quanta atenciosidade da sua parte – respondi, entrando.

Puxa, aquele lugar era mesmo bonitinho. Se não fosse o fato de eu ter que dividí-lo com o Riddle, que provavelmente me matará enquanto eu durmo, eu não podia pedir por lugar melhor. Logo na entrada havia um sofazinho em frente à lareira, e logo ao lado havia uma mesinha. Atrás estavam as portas que provavelmente levavam ao meu quarto e ao dele, e no meio uma porta que provavelmente levava ao banheiro.

Não, não. Espere aí. Um banheiro só?

Um banheiro só?

Só pode ser brincadeira.

Ok. Se concentre.

Tudo bem, as coisas não haviam começado muito bem entre Riddle e eu. Mas se eu realmente esperava descobrir alguma coisaremotamente interessante sobre o jovem Lord Voldemort, decidi que iria ter que criar algumas regras.

- Se liga, Riddle – disse, quando vi que ele já tinha entrado no estabelecimento – Nós vamos ter que trabalhar muito juntos esse ano, então a não ser que você queira que a gente se estrangule até o fim dos 365 dias, sugiro que a gente chegue a algum acordo comunicativo que possa funcionar.

Riddle, que não tinha parado de andar desde quando entrou na sala, parou na porta de seu quarto. Do jeito que as coisas andavam, eu estava esperando que ele me mostrasse a língua e entrasse no quarto ou algo do tipo, mas surpreendentemente ele se virou e disse:

- Schiffer, eu acredito que esta foi a coisa mais inteligente que você disse desde que nos conhecemos.

O assustador era que ele realmente parecia achar isso.

Me dirigi até a mesinha que tinha perto do sofá e me sentei ali em cima, ainda olhando para Riddle.

- Certo. Eu já consigo ver um problema. Eu sou tagarela e você não. Ok. Por alguma razão louca você me conheceu e me odiou completamente. Tudo bem. Sem ressentimentos. Consigo lidar com isso. Mas isso não nos ajuda a descobrir como tolerar um ao outro o suficiente para fazer essa escola seguir seu rumo.

Riddle não tinha se movido de seu lugar em frente à porta, mas estava agora passando a mão pelos seus cabelos negros e perfeitamente arrumados.

- Certo, Schiffer, é isso ou nada – ele explodiu, parecendo irritado – Eu não poderia me importar menos com o que você faz ou não. Entretanto – ele pausou, dando ênfase à palavra "entretanto" – Eu vou pedir para que nossa sala comunal seja usada para assuntos oficias apenas, e não para encontros sociais nos quais você aparentemente prospera tanto. Isso te satisfaz?

Esse senso de humor ridículo dele está começando a me dar nos nervos.

- Ótimo. Talvez funcione – respondi, pulando para fora da mesinha.

- Ótimo – disse o Herdeiro da Sonserina, abrindo a porta do seu quarto – Foi um prazer trabalhar com você, Schiffer. Preferivelmente, não teremos que fazer isso de novo tão cedo.

- Até loguinho! – Gritei animadamente, enquanto a porta dele fechava num estrondo – Babaca.


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