Fabula Temporis escrita por Linnet Lestrange


Capítulo 5
Capítulo 5 - Aquele com os Novos Amigos




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Capítulo 5 – Amigos da onça (ou melhor, serpente)

Logo depois de ouvir aquelas palavras saindo da minha boca, me arrependi veementemente.

Quero dizer, puxa, eu tinha realmente me esquecido o quão vulnerável eu estava naquele corredor escuro e deserto.

"Ele vai me matar, ele vai me matar, ele vai me matar", era só o que minha mente era capaz de repetir.

Meus olhos estavam grudados na mão que segurava a varinha, que ele balançava calmamente, com os braços ainda cruzados, atenta a qualquer sinal de que ele iria me lançar um grande e gordo "Avada Kedrava".

Resolvi, então, olhar para seu rosto, que agora estava inexpressivo. Quando fiz a pergunta, contudo, notei outro flash de pânico passar pela sua cara constantemente apática, e foi aí que eu comecei a achar que ele ia me matar.

– Era o nome da minha cobra de estimação que morreu neste verão – ele respondeu, com a maior naturalidade do mundo, que quase fez com que eu mesma acreditasse.

– Oh – fiz, sem saber direito o que dizer – Sério? Puxa, ter cobras de estimação na nossa idade é meio patét... – comecei, mas deixando a voz morrer. Acho que chamar o Lorde das Trevas infanto-juvenil de patético não é lá uma idéia muito formidável.

– O quê?

– Super legal. Isso que eu ia dizer.

Ele ergueu uma sobrancelha, enquanto eu começava a me levantar.

Notei que qualquer movimento que eu fazia ele avaliava intensamente, como se estivesse achando que a qualquer momento eu poderia ter visões e desmaiar de novo.

Quero dizer, eu acabei de me fingir de vidente que visualizou seu "apelido" do mal, ele deve estar, no mínimo, pirando.

Esperei ele falar mais alguma coisa, mas só continuava me encarando com aqueles olhos acizentados profundos. Quando eu senti que meus miolos estavam começando a explodir com isso tudo, falei:

– Bem, boa noite então! Au revoir – E me mandei.

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Quando botei o pé no salão comunal da Sonserina, todos os olhares se viraram em minha direção. Aparentemente, nem os cobrinhas tem o costume de andar por aí no castelo depois do jantar sem permissão.

– Se perdeu, Beauxbatons? – Ouvi uma voz masculina perguntar alto, gerando risadinhas.

O pessoal da década de 40 certamente tem muito senso de humor.

– Na verdade, sim – respondi, de repente me sentindo uma gazela cercada por leões enormes de trinta cabeças. Aqueles sonserinos decididamente não tinham caras muito simpáticas. Eram quase mais assustadores do que o Voldemort em miniatura.

– Não liga pra ele, é só o Devon – disse uma garota com a maior cara de loira burra do universo – ele está com inveja por você ter sido nomeada monitora. Ele almeja este cargo fervorosamente, ficou uma fera quando o perdeu para o Santo – explicou a menina, mas eu continuava completamente perdida.

"Almeja", "fervorosamente", "fera"?

Que tipo de vocabulário era este?

E quem diabos era o "Santo"?

Antes que eu pudesse abrir a boca para resmungar qualquer coisa, o tal Devon se levantou de onde estava.

Merlin, se eu soubesse que os homens da antiguidade possuíam tamanha beleza, eu já teria vindo pra cá antes.

Devon era um garoto de provavelmente uns 1,90 m de altura, mas não 1,90 m desengonçados, e sim majestosamente sensuais, com um peso bem distribuído. Ele tinha cabelos loiros numa cor quase ouro, que eram cuidadosamente jogados para trás, e os lábios finos e bem desenhados estavam crispados em desdém.

– Dippet sabe que eu sou mais do que indicado para este cargo, e agora o oferece para a novata francesa? – resmungava, enquanto se aproximava e parava bem na minha frente, me encarando da cabeça aos pés com os olhos cor de amêndoa.

– Se você fosse tão indicado, ele teria te oferecido. Mas não ofereceu, então é só sentar e chorar, e dar licença para eu poder ir dormir – disse, sem noção nenhuma do perigo.

A loira-burra do meu lado fez um "oh" discreto, e de repente notei que agora todos tinham realmente parado de fazer o que quer que fosse que estavam fazendo para observar a situação.

E aí minhas pernas começaram a tremer.

Quero dizer, eu passei toda a minha vida de colegial tentando ser o mais invisível possível. Estou falando sério, eu era uma total figurante. Puxa, posso ter entrado na Armée, arrasar como espiã, ter enfrentado alguns mal-encarados com tranqüilidade, aceitado essa missão dos infernos, mas quando se trata de estudantes adolescentes com os hormônios totalmente fora de controle e prontos para encontrar uma nova vitima cuja vida eles almejam fervorosamente arruinar, eu fico completamente aterrorizada.

E normalmente todos colaboravam com meu status de invisibilidade. Mas, agora, aqueles serpentinos imbecis estavam me botando mais em evidencia do que eu certamente gostaria.

Devon abriu a boca para começar a dizer algo, com o cenho tão franzido e a veia nas têmporas pulsando tanto que ele estava parecendo um desenho animado meio bizarro.

E aí, antes que ele dissesse algo, eu saí andando em direção a uma das duas escadas que havia no meio do salão.

Não que eu estivesse fugindo nem nada, só estava querendo evitar, você sabe, uma situação chata.

Aparentemente, o fato de eu ter ignorado o bonitão era bem chocante, pois todos ali me encaravam com uma cara de pura surpresa. Tentei não reparar, andando firme até a escada, com a loira-burra vindo atrás.

– É a escada da direita! – ela indicou, baixinho.

– Ah, obrigada – falei, indo em direção à escada certa dessa vez. Fui subindo, com ela ainda em meus calcanhares. Cheguei no dormitório, onde rapidamente encontrei a cama que continha minha mala ao seus pés. Fui andando, apenas vendo aquela sombra loira atrás de mim.

– Sou Charlotte – loira-burra se apresentou – Charlotte McNair.

– Oi – respondi distraidamente, enquanto procurava meu pijama no malão.

– E o seu nome, qual é? – perguntou a cachinhos dourados. Suspirei. Tudo que eu queria era dormir. Puxa, é pedir muito?

– Sou Katherine, ou Kate, ou K, ou Kiki, o que você quiser, não me importo muito – respondi, mal prestando atenção ao que eu dizia, sorrindo ao ver meu pijaminha azul de seda enterrado no fundo da mala.

Charlotte riu, perguntando:

– Posso mesmo te chamar de Kiki?

Funguei.

– É claro – respondi, dando de ombros, enquanto ia para o banheiro do dormitório trocar de roupa. Voltei, com Charlotte sentada em cima da cama, como se me esperasse para uma longa e chata conversinha feminina. Ignorei, coloquei meu tapa-olho de dormir e me joguei na cama, enfiando a cara embaixo do travesseiro.

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– Bom dia, Kiki! – ouvi uma voz esganiçada exclamar, bem próximo ao meu ouvido.

– Vai se ferrar – grunhi, virando para o outro lado. Já mencionei que não sou uma pessoa que gosta de ser acordada?

Charlotte riu, e eu voltei a dormir.

– Você vai perder o café! Você não pode perder seu primeiro café em Hogwarts, tem quitutes deliciosas!

Ok, certo. Esta foi a gota d'água. Não dá para discutir com alguém que diz coisas absurdas como 'quitutes'.

Levantei bruscamente da cama, fazendo com que Charlotte desse um sorrisinho vitorioso. Me arrastei até o banheiro e me enfiei na primeira roupa que vi dentro do meu malão, e desci de pantufas mesmo.

– Animada para o seu primeiro café? Você vai adorar, estou certa disso! – ia piando a Charlotte, enquanto eu tentava fingir que não ouvia.

Se não tiver aquele suco de abóbora diabólico talvez eu adore mesmo.

Chegamos no Salão Principal, que já não estava mais tão cheio, e nos sentamos na parte da sonserina.

Quando olhei para a mesa, entendi sobre o que a Charlotte estava falando. Tive que me segurar para não botar um pouco de tudo no prato.

Você sabe, se eu conseguir terminar essa missão e ser a heroína do mundo e tudo mais, não dá pra ser uma heroína gorda.

– Ora, ora. Achei que não fosse ter coragem para sair do quarto – ouvi uma voz arrastada dizer atrás de mim, logo na hora que eu ia enfiar um bolinho cheio de açúcar na boca. Olhei para trás e dei de cara com Devon, que me olhava cheio do ódio, e tossi.

Me perguntei brevemente se Dumbledore não tinha errado, e se na verdade não era Devon que ia se tornar um lorde das trevas. Porque aquele cara me fazia tremer. Sério.

De qualquer forma, a tosse fez com que o açúcar voasse para minha cara, fazendo com que eu parecesse mais patética do que provavelmente já estava. Com as pantufas e tudo o mais.

– Adorável – zombou o demôniozinho em forma de Mister Sonserina – Acho que temos uma conversinha para terminar, Beauxbatons.

Ai puxa vida. Eu não mereço.

Pelo menos eu podia agradecer por duas coisas: Tom Riddle não se encontrava naquela mesa, e nem o suco de abóbora. Talvez Merlin ainda gostasse de mim. Um pouquinho.

– Não sei do que você está falando – respondi, cheia de açúcar na cara. O que provavelmente tornava meu tom muito menos ameaçador.

– Eu acho que você não está entendendo... – começou Devon, se aproximando - ... a gravidade da situação.

Gente. Ele acha o que, que ta num filme de gangster?

– "Eu acho que você não tá nhé nhé nhé" – imitei, fazendo uma voz fina idiota.

Ok, ninguém declarou que precisava ser uma discussão madura.

– Eu ouvi isso – grunhiu ele.

– Eu falei alto.

A veia na têmpora dele começou a pulsar de novo. Ele se aproximou mais ainda quando alguém disse:

– Srta. Schiffer?

Olhei para o lado, notando que toda a mesa da Sonserina estava nos encarando. Senti minha bochecha corar enquanto olhava para a mulher que havia me chamado, que era provavelmente uma professora, ou uma aluna com sérios problemas de envelhecimento precoce.

– Oie, sou eu – respondi

– Diretor Dippet pediu para que eu te levasse ao escritório dele, agora mesmo.

Sorri. Salva pelo gongo.

– Claro! Já estou lá, segure as pontas só um segundinho, vou só pegar esse bolinho para terminar de comer – disse, enquanto pegava o bolinho açucarado.

Antes de me levantar, olhei para Devon, que parecia altamente propício a cometer um assassinato a qualquer momento.

A mulher assentiu com a cabeça e foi indo na frente, enquanto eu saía da mesa.

– Por que você saiu de Beauxbatons, afinal? Deveria ter ficado na sua terrinha – rangeu Devon.

– Expulsa por excesso de uso de magia negra – menti, dando um sorrisinho falso – Até logo!

E, pela segunda vez, fui embora antes que ele pudesse dizer algo.


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