~um mês depois~

-Vocês vão o quê?- berrou Lily, fazendo todo o Três Vassouras olhar em nossa direção. Ela balançou a cabeça- Dominique, você está doida.

-Por quê? Qual o grande problema, Lils?- perguntei, mexendo meu copo de cerveja amanteigada.

-Todos os problemas!- gritou, de novo, Lily.

-Definitivamente, preciso de algo mais forte- reclamou Molly, com a cabeça entre as mãos se estivesse morrendo de dor de cabeça- Você enlouqueceu. Completamente.

Eu revirei os olhos enquanto ela chamava um garçom. Sinceramente, esperava uma recepção melhor da notícia do meu casamento por parte das minhas supostas amigas e prima. Tudo bem, era meio insano. Era meio diferente. Mas era perfeito.

-Okay, vamos recapitular...

-Não tem o que “recapitular”, Roxanne. Eu e o James vamos nos casar daqui a exatamente quarenta e oito horas- repeti, pelo que parecia a décima nona vez em menos de dez minutos, olhando o relógio.

-Esse não é o problema!- continuou gritando Lily.

-E qual é o grande problema, Lílian Luna?- perguntei, irritada.

-O problema é que vocês vão casar a, tipo, uns mil e quinhentos quilômetros  de distância! No Brasil! Por que o Brasil? Esquece essa pergunta. Se fosse a Rose e o Scorpius eu até entenderia...

-Ei!- protestou Rose, mas foi ignorada.

-...Tio Rony provavelmente tentaria assassinar o pobre Scorpius no altar, mas nããão! Quem vai pegar um avião até o outro lado do oceano é meu irmão maluco e minha amiga, que agora considero igualmente maluca!- ela parou para respirar

- Sério, Dominique, isso é loucura. - opinou Molly, engolindo sue uísque de fogo.

Como elas podiam estar sendo tão chatas? Não podiam estar nem um pouco felizes por mim?

-Estou ficando arrependida de contar a vocês- reclamo, me encostando à cadeira e observando todas discutirem muito alto por alguns minutos- Okay, agora chega! Posso saber por que não estão nem um pouco felizes por mim? Hein?

Elas param de gritar. Eu respiro fundo, tentando me controlar para não gritar com elas novamente.

-Desculpe- murmura Lily, olhando para baixo- Estamos felizes por vocês, mas...

-Só queríamos estar lá- completou Roxanne.

-Posso arranjar passagens- comento, dando de ombros- Qual é, James é o “o maior artilheiro deste século”.

-Por isso mesmo- começa a sempre repórter Rose- A imprensa iria adorar isso, e toda a família iria querer arrumar tudo...

-E é esse o problema, Rose. Bem, pelo menos um deles. Nenhum de nós quer isso- protesto, ainda balançando meu copo- Só queremos algo simples, mas é claro que uma família desse tamanho não aceitaria isso- suspiro, olhando todas elas- Eu realmente queria vocês lá, sabem disso. Mas não dá. E nem ousem dizer isso a mais ninguém.

-E seus pais?- pergunta Molly, cruzando os braços.

-Nem sonham com isso- respondo- meu pai ia enlouquecer, e principalmente não ia ser bom contar depois do jantar de hoje...

-O jantar de hoje? O que tem o jantar de hoje?- pergunta a sempre desligada Molly.

-O jantar na casa de Teddy e Victorie...- começo, ela fala um “ah é” e para variar alguém tem que interromper.

-Ah, meu Merlin! Não me diga que Victorie...

-Francamente, Rose, você e Molly disputam pelo cargo de mais desatualizadas! Todas já sabemos que ela está grávida- explicou Lily, irritada- Eles nem são tão novos assim...

É,  ela tinha mesmo que tocar nesse assunto. Maldita Lily e sua boca grande. Roxanne arregalou os olhos na mesma hora, mas foi Rose que se pronunciou em meio ao silencio em que aquela mesa se submeteu:

-Dominique, vocês não são, hã, muito novos?

-Não.

-Claro que são! Vocês ó tem 23 anos!- ela disse, deixando aquele aparelho trouxa, celular, tocando e depois ignorando a chamada- Vocês não podem fazer isso!

-Não é nossa culpa você estar enrolando o pobre Malfoy- todas encararam a sempre sincera Roxanne. Às vezes acho que ser criada por Tio Jorge não fez bem para ela. Rose fica vermelha de raiva.

-Se ela já aguentou querido irmão mais velho até hoje, está mais do que claro que eles se amam e se suportam- opinou Lily Luna, e eu a encarei, mas ela estava com um olhar sonhador- Pensando bem, é até romântico.

-Diz a garota que minutos atrás gritava que eu era uma louca- eu disse, e Lily deu um sorriso sem graça;

-Você é bipolar- confirmou Molly, olhando seu relógio- Bem, não adianta discutir com a Dominique mesmo, ô loira teimosa. Tenho que ir, encontrar o Fred sabe...

-E eu tenho que trabalhar- suspirou Rose, enquanto Lily dizia um “workaholic”- Tchau para vocês.

-Eu tenho que supervisionar uma entrega aqui na Gemialidades de Hogsmeade- Roxanne se levantou e saiu.

Antes que Lily começasse algum assunto (ela sempre começa), James entrou sorridente.

-Oi, Nicki- ele disse, me abraçando por trás- Oi, Lily.

-Oi, mala- cumprimentou Lily e eu ri.

-E então?- ele perguntou, mais para Lily do que para mim.

Ela riu, parando de olhar o cardápio:

-É uma péssima ideia, mamãe e papai vão te matar, Tio Gui vai te matar e Tia Fleur vai te matar.

-E ninguém vai matar a Dominique?

-Claro que não, nós não vamos deixar isso acontecer.

-Boa irmã, a minha. - ele resmungou, sentando ao meu lado e sem soltar minha mão- Ei, Lily, não conte a ninguém.

-Não vou contar. Prometo- ela diz, se levantando e pegando a bolsa- Agora deixa eu ir embora antes que comece a melação.

-Olha quem fala, “Lilindinha do Huguinho”- James disse, rindo, e Lily ficou vermelha e saiu o mais rápido possível, não sem antes responder.

-Isso é muito antigo, James! Se o Anthony ouvir isso...

Ficamos algum tempo em silêncio, olhando um para o outro. James é alto, musculoso por causa do quadribol e segundo as revistas “uma versão muito melhorada de Harry Potter”, o que fazia meu sogro (pois é) bufar de raiva. Tinhas os mesmos cabelos pretos sempre bagunçados, mas olhos castanhos esverdeados indecifráveis, na maioria das vezes. Além de não usar óculos.

-O que foi? – eu pergunto, depois de mais algum tempo, arrumando o cabelo- Tem alguma coisa errada?

-Você provavelmente vai me matar...- ele começa, rindo e mexendo na varinha, a mesma mania desde o sexto ano em Hogwarts.

-Fala logo.

Ele sorriu, se aproximando:

-Eu te amo.

Amor é ridículo mesmo. Eu sempre vou quase derreter e me transformar numa poça de gordura quando ele diz isso. Apesar de nunca saber o que responder, além de “eu também”. Esses momentos merecem algo mais especial, como na primeira vez que dissemos isso um para o outro. Totalmente clichê. Estávamos no quarto dele, ouvindo as Esquisitonas tocarem na festa de formatura, dissemos juntos e rimos.

Bagunço seu cabelo, outra coisa que nunca vou me cansar de fazer:

-Eu amo esse sorriso.

Ele sorri ainda mais:

-Só isso?

-Eu amo você, seu idiota.

Ele ri ainda mais, depois de me beijar mais uma vez.

-O sentimento é recíproco, loirinha.

Ainda bem que dessa vez ele não usou o “loira burra”. Ser a única loira (junto com Victorie) na família gera coisinhas como essa. É irritante.

Eu me levanto.

-Tenho que ir. O jantar hoje, lembra?

Ele assente.

-Bem, não queria estar no lugar do Teddy.- ele bagunça ainda mais os cabelos- Vai para casa?

-Vou, e você vai para a sua casa- respondi, tentando me soltar, mas não adianta nada- Sério, James.

Ele ainda ficou me encarando por algum tempo, enquanto eu saía do Três Vassouras imensamente feliz.