Amor À 19 Vista escrita por RoBerTA


Capítulo 7
Pepinos verdes e voadores, pecaminosidade e garfos


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que demorei, mas postei! (avá) O que acharam da capa? Boa leitura ^^



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Fecho o livro com um suspiro de satisfação. Nossa, como esse Jace é muito bom. Não canso de ler e reler onde ele aparece em Cidade dos Ossos, um de meus livros favoritos. Quem me dera se existisse alguém assim...

Olho a hora no celular, sem deixar de ver o plano de fundo, uma foto minha e da Lana, quando estávamos no acampamento de verão. Era ainda de tarde, portanto eu fiquei com uma vontade esmagadora de ir para fora, ao ar livre. Deus, eu simplesmente amo o verão!

Catei um roupa qualquer, fazendo um lembrete mental para arrumar as malas, antes que acabasse as férias com a vovó. Dessa vez, tomei o cuidado de escolher roupas íntimas admissíveis, e à prova de desastre.

Enquanto tento fazer um rabo de cavalo maluco no cabelo, digo para minha vó que vou dar uma voltinha, tendo o cuidado de não olhar muito diretamente e por muito tempo para seu novo top verde limão e neon. Agora entendo quando dizem para a gente não mentir. Acontece coisas como essas. Que te traumatizam por toda a vida.

Opto pelas escadas, pensando em como seria bom se Rafael estivesse ali, para que eu pudesse jogá-lo escadas abaixo. De repente me sinto infantil, não só por esse pensamento, mas também por estar evitando o elevador. Caramba, quem teme um elevador? Fora eu, é claro.

Quando chego ao térreo, dou um meio sorriso para André.

— Ei André, você sabe de algum lugar legal para eu ir? E que seja perto, de preferência.

— Tem uma lanchonete ao ar livre, pertinho daqui. É só virar a esquina e seguir pela direita. Os milk-shakes de lá são pecaminosos, de tão bons.

Uau, ele acabou de chamar uma comida inofensiva de pecaminosa. Acho que vou dar um crédito para ele. Provavelmente é a idade.

— Ok, valeu.

Quase esbarro com aquele chato do outro vizinho da vovó, com seu poodle de focinho empinado.

Tomara que caiam numa vala. Não que isso seja possível, mas vale a pena imaginar a cena. Malvada? Só o suficiente.

Após seguir pela direita, vejo a lanchonete. Pepinos verdes e voadores. Sem brincadeira, é esse o nome. Nem quero saber quem é o dono.

Enquanto chego mais perto, minha indignação pelo nome começa a ser substituída pelo fascínio, ao observar as mesinhas do lado de fora, colocadas desalinhadas e sem planejamento, simplesmente soltas. A lanchonete tem um tom de verde abacate que geralmente eu não gosto muito, mas parecia, naquele momento, apropriada. Garçonetes andavam de lá para cá, atendendo os clientes, que não chegavam a ser muitos, mas também não poderiam ser confundidos com poucos.

Já ia imaginando o que pedir, quando um grupo de garotos chamou minha atenção, por dois motivos óbvios. Primeiro, Rafael estava lá, e eu o reconheceria em qualquer lugar. Segundo, e mais humilhante, eu tropecei numa cadeira vazia da mesa deles. E o pior, é que dessa vez a culpa era exclusivamente minha. Enquanto ia de encontro ao chão, agradeci a todos o seres divinos e formas de vida extraterrestres por não estar de vestido ou saia.

— Você tá bem?

Olhei para um garoto ruivo com algumas sardas que o deixava fofinho que estava me encarando de forma preocupada.

— Hnm... Acho que não quebrei nada.

— Ótimo. — Ele abriu um sorriso ofuscante, sem exagero. O garoto tinha cara de quem sorria por qualquer coisa e a qualquer hora.

Rafael estava me olhando com cara de “bem feito pra ti”, o que me deixou fula.

— Essa é a garota de quem falei. — Quando seus amigos olharam para ele com aspecto de ponto de interrogação, ele acrescentou – A Barbie.

Aaaaah! Eu não creio que ele espalhou o episódio do elevador. Que cretino.

Seus três amigos me olharam com pena.

Foi o ruivinho quem falou.

— Deve ter sido horripilante.

Hã? Foi constrangedor, e não horripilante. Parece que alguém esta assistindo a muitos filmes de terror por aqui.

— E quem é você? — Indaguei para o garoto de sorriso ofuscante.

— Eu sou Romeu, e você, quer ser minha Julieta?

Fiz minha melhor cara de “fala sério” e ergui uma sobrancelha para Rafael, questionando a sanidade de seu amigo.

— Pelo menos ele não falou o do garfo.

— Garfo? — Perguntei confusa.

O dito cujo nome parecia ser Romeu, limpou a garganta e tomou fôlego, olhando na minha direção.

— Ela tinha que perguntar... — Alguém resmungou.

— E aí gatinha, por acaso você tem um garfo?

— Não...? — O que era para ser uma afirmação, se transformou em uma pergunta. Ele era chapado?

— Agora você pergunta ‘por quê?’. —Alguém sussurrou para mim, como se estivesse ensinado uma criança a usar pinico.

Rolei os olhos.

— Por quê?

— Porque eu estou dando sopa.

Olhei em volta, esperando que me dissessem o que falar em seguida. Para minha surpresa, foi Rafael quem falou.

— Pergunta agora se não seria uma colher.

Eu estava realmente travando aquele diálogo? Sim, eu estava. Naquele dia provavelmente meu QI decaiu consideravelmente. Mas como sempre digo, se estou no fundo do poço, por que não tentar encontrar o outro lado?

— Não seria colher?

O tal Romeu deu um sorriso que iluminou seu rosto. Parecia uma criança que recebera a notícia de que o Natal havia chegado antes.

— Porque sou difícil — ele falou triunfante.

Fala sério. Juro que tinha vontade de pegar o canudinho da Coca-Cola dele e enfiar no nariz do cretino.

— E agora? — Perguntei, sentindo a TPM aflorar.

— E agora você diz que me ama, a gente se casa, tem uma dúzia de filhos, duas de netos e três de bisnetos. E teremos um felizes para sempre!

Olhei séria para ele.

— Você andou cheirando alguma coisa?

Ele pareceu magoado.

— Gata, se estou drogado, é de amores por você!

Fala sééério!!!

— Poupa-me, você nem saiu das fraudas ainda.

Ele fez cara de quem ia chorar. E eu fiz cara de quem ia matar alguém, dai ele ficou com cara de medo, enquanto Rafael ficava com cara de idiota. Espera, tem uma falha aí. Rafael é idiota, o que torna impossível sua cara ficar de idiota, já que ele sempre teve cara de idiota, porque essa é a cara dele. Alguém além de mim ficou confuso com todas essas caras?

— Romeu, seja sincero e diga que você só que ver a calcinha da Barbie dela.

— Cala a boca, metido.

Ele fez um negócio esquisito com as sobrancelhas. Argh. Acho que mudei de ideia em relação a quem ficaria com um canudinho entalado no nariz.

— Me faz calar.

Rafael me olhou em desafio. Calculei quantos telespectadores poderiam estar assistindo a cena que viria a seguir. Acho que valia pena.

— Ei, garçonete! Me traz um milk-pecaminoso-shake de chocolate. Com bastante calda.

Primeiro eu iria me alimentar, depois colocaria meu plano maléfico em prática.

Todos, inclusive a garçonete oferecida-da-saia-minúscula me olharam como se tivesse um chifre multicolorido brotando da minha testa extremamente seduzente.

— Tão olhando o que?

Todos, menos os quatro mosqueteiros — não seriam três? — desviaram a atenção de mim, fulminados pelo meu olhar horripilante.

Como a única mesa vazia estava muito longe dali, me sentei na cadeira que me deu um tombo alguns minutos antes.

— Então, será que vai chover?

Os quatro me olharam como se eu fosse idiota, e o próprio reluzente sol parecia rir de mim. É, deprimente, eu sei, mas o que dizer quando não se tem mais assunto?

— Será que é possível se afogar na chuva?

Naquele instante criei uma simpatia pelo ruivo — Romeu — após ele ter dito algo tão estupido quanto o que eu disse.

— Acho que a Adelina seria capaz.

— Adelina? Que raios de nome é esse?!

Olhei para um infeliz, que infelizmente era muito gato, só pra constar, tentando decifrar o que ele quis dizer com aquele comentário ridículo. Adelina é um nome muito lindo, e ai de quem me contradizer. Pergunte para Kate, aquela megera que disse que meu nome era estranho igual a dona dele. Aposto que ela ficou uma semana com dor nos cabelos.

— Qual é o teu nome?

Rezei para que o nome dele fosse ridículo ou que no mínimo rendesse um bom apelido.

— Steve.

Merda. Ops, acho que pensei algo inadequado.

— Uma garota pode se chamar de Steve, portanto não venha falar do meu.

— Mesmo se eu tivesse nome de garota, o resto ainda seria de homem.

Ok, isso foi tenso.

— Chega, vocês dois. Estou ficando com dor de cabeça.

Olhei para Rafael, que parecia irritado.

— O que é, Rafa, só você pode brigar com ela, é isso?

— É, Rafa, o que foi?

Ele deu de ombros.

— Sua voz é enjoada.

— Obrigada.

— Não foi um elogio.

— Eu sei. Aliás, você já ouviu falar da ironia?

— Parem, está todo mundo olhando.

Finalmente o quarto mosqueteiro abriu a boca pra falar alguma coisa. Ele devia ser um nerd, ou algo do gênero. Seu modo de falar, sua roupa, sua postura, seu penteado, tudo apontava isso. E devia ser engomadinho também. Por que raios ele andaria com Rafael, Steve e Romeu?

— E daí, que se dano todo mundo. Eu pensei que você iria tentar mudar.

— Às vezes é difícil acreditar que pertencemos a mesma prole.

Eu que o diga. Steve e o nerd-ainda-desnomeado não eram nem um pouquinho parecidos.

— Prole? Isso é um tipo de cola?

Quatro pares de olhos se fixaram em um Romeu confuso. Ele podia ser fofo, mas certamente não era inteligente.

— Aqui está.

A garçonete se abaixou com a bunda virada para Rafael enquanto colocava a pecaminosidade encarnada na minha frente.

Oferecida!

— Será que você poderia ir um pouco para o lado? Seu bumbum está tapando o sol.

Tive que ria da cara dela, que parecia ter passado do chão. Ela saiu vermelha e praguejando de lá.

— Olhe a boca suja!

Eu precisava ter dito isso, era um impulso que vinha do fundo da minha alma.

Recebi um dedo médio disfarçado em resposta.

— Acho que ela tá zangada.

Fiz cara de inocente. Ou pelo menos tentei.

— Adelina?

— Hnm?

— Quer ir na minha festa de aniversário na terça?

— Por que não?

Sorri para Romeu, imaginando que Rafael estaria lá.

— Por que sim? Você mal o conhece.

Lanço um olhar de desprezo para Rafael.

— E por isso quero conhecê-lo melhor. Algum problema?

— Sim, não quero que meu amigo ande com esse tipo de garota.

— Que tipo de garota?

A essas horas já estava segurando com força o copo do milk-shake, tendo a lúcida impressão de que nem chegaria a provar da pecaminosidade.

— O seu tipo de garota.

E dá-lhe milk-shake voador, voando diretamente na cara dele.

Mas era óbvio que ele não deixaria barato, jogando o suco de morango em mim, deixando minha blusa transparente. Acalmem os nervinhos, que dessa vez nada de indevido com peças intimas à mostra aconteceu.

E sabe o que foi mais legal ainda? Não sei de onde vieram, mas de repente o céu estava cheio de nuvens, não muito grandes, mas pelo jeito o suficiente. Começou a chover uma chuva fina. Catei uma nota de dinheiro do bolso e joguei na mesa.

— É, parece que no fim das contas acabou chovendo. — Me virei para ir embora, mas parei, virando apenas a cabeça – e Romeu, pode apostar que eu estarei lá.

— Mal posso esperar.

Dessa vez meu sorriso é lançado diretamente para meu inimigo de espírito, coberto de chocolate. Olhando ele assim, sabe que parece bom. Mas só parece.

Alguns clientes entram na lanchonete, e poucos ficam na chuva. E eu vou embora, sentindo olhos perfurarem minhas costas.

E por mais incrível que pareça, eu, com suco de morango tingindo minha camiseta, completamente molhada pela chuva, com a bunda doendo pelo tombo, com um pouco de ultraje e raiva e recém pisado em um poça de lama, estava feliz.

Realmente feliz.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram?