Amor À 19 Vista escrita por RoBerTA


Capítulo 3
Almoço dos sonhos. É você, ironia?


Notas iniciais do capítulo

Ei, o que vocês acham do nome Adelina?? Enfim, boa leitura! ^^



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Acordei revigorada, depois de longas horas de sono. Não me lembrava de ter sonhado, e talvez por isso me sentia tão disposta.

Saí da cama como um furacão. Não havia nenhum bilhete à vista. É, hoje Gorlei não teria um irmão.

Se possível, esse pensamento me deixava ainda mais feliz e radiante.

Como o dia parecia agradável, coloquei um vestido simples com cores em tons de laranja e vermelho. Calcei a mesma sapatilha de ontem e fiz uma trança no meu cabelo, após domá-lo com a escova.

Lavei meu rosto e escovei meus dentes.

Praticamente saltitava de alegria para a cozinha.

Algo me fez parar antes mesmo de processar o que meus olhos viam.

Rafael.

Ele estava sentado junto a um homem com talvez uns quarenta anos. Tinha um cabelo castanho escuro e um sorriso sincero. Parecia legal. E os olhos, bem, eram iguais aos dele. Talvez fossem parentes. Junto a eles estava a minha vó, rindo de forma espontânea. Parecia muito feliz.

Quando me viu, alargou ainda mais o sorriso.

— Joseph, essa é minha neta, Adelina.

O homem — Joseph — virou para mim.

— Muito prazer, estava ansioso para conhecê-la. Sua avó falou muito de você.

Ele estendeu a mão para mim. Sem pensar muito, a apertei.

— Esse é meu sobrinho, o Raf...

— Já nos conhecemos. — Respondo rapidamente.

Ele parecia surpreso.

— Bom, fico feliz que sejam amigos.

Resisti ao impulso de cair na gargalhada. Olhei para Rafael, que estava com uma expressão comicamente esquisita. O que só contribuiu para minha vontade de rir. Sem perceber, na tentativa de não rir, e parecer idiota, acabei me engasgando com minha própria saliva, parecendo uma lesada.

Agora quem parecia roxo de vontade de rir de mim, era o ser antropolóide. Sim, eu sei, essa palavra provavelmente não existe.

A tosse cessou imediatamente, enquanto lançava um olhar irritado pro meu nêmesis, e recebendo olhares preocupados da minha avó e do tio do infeliz.

— Está tudo bem, querida?

— Sim vó, acho que me assustei com alguma coisa destituída de beleza.

Lancei uma olhar especulativo em direção ao ser. Ou ele não notou, ou fingiu que não notou. Garoto irritante.

— Então, vamos almoçar?

Foi só então que a ficha caiu. Eu mais ele, na mesma mesa. Isso não ia dar em boa coisa.

Sentamos na mesa da seguinte ordem: minha vó numa ponta e Joseph na outra, eu e Rafael no meio, de frente um para o outro.

Em cima da mesa havia um vaso com margaridas amarelas, as minhas favoritas. Fitei-as com toda a admiração que sentia, e tal olhar não passou despercebido pelo ser.

— Você parece gostar dessas flores Rafael observou.

— Nossa, você descobriu a América — zombei.

Vovó não pareceu entender a essência da frase.

— Não foi Cristóvão Colombo quem descobriu a América? — Ela perguntou com o cenho franzido.

Acho que depois vou ter que explicar para ela o que é ironia.

— É, acho que sim.

Eu disse depois, não agora.

A sala foi dominada por um silêncio absoluto. Acrescente também à lista: não gosto de silêncio.

— Eu amo amarelo.

Olhei diretamente para ele quando falei. Falei por querer quebrar o silêncio, ou por pura sinceridade, quem sabe?

Ele me olhou surpreso, abriu e fechou a boca duas vezes. Quando por fim parecia que finalmente diria alguma coisa, seu tio tomou à dianteira.

— É uma cor muito agradável, de fato.

Concordei com um aceno e coloquei um pedaço de brócolis na boca.

Enquanto mastigava, vovó e Joseph começaram a conversar sobre o tempo. Que assunto mais miserável!

— Então, Tereza, eu pensei se você e sua neta gostariam de fazer um piquenique no sábado. Acho que ela ainda não conheceu o parque central. Tenho certeza de que ficará encantada. Principalmente com todas aquelas flores e seus tantos tons de amarelo.

Joseph deu uma piscadinha pra mim. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, minha avó aceitou o convite com muito entusiasmo.

Olhei para meu prato, ou melhor, para o mini tomate no meio dele, e me lembrei de uma certa vez em que tentei espetar um tomate e ele voou na cara de Lana.

Uma ideia surgiu.

Mirei o tomate, por assim dizer, e espetei, ou melhor, quase espetei, porque ele pulou do meu prato em direção ao alvo.

Infelizmente o alvo estava com um copo na mão, cheio de suco de uva. Quando o tomate voou, Rafael se desviou com uma velocidade incrível. E acidentalmente proposital, jogou o conteúdo do copo em mim.

Me senti como um pintinho molhado. Só que tingido de roxo.

— Óh Adelina querida! Me perdoe, foi um infeliz acidente!

Algo no seu meio sorriso dizia exatamente o contrário de tudo que ele disse. E sua voz fingida, me fez querer pular em cima dele e matá-lo.

Forcei um sorriso amigável.

— Não se preocupe, não foi nada de mais, — exceto que foi — amiguinho.

Joseph e vovó nos olharam chocados, mas depois de perceber que não havia uma guerra — ainda — pareceram tranquilos, e até um pouco contentes com nossa suposta amizade.

Está certo que foi culpa minha isso ter acontecido, fui eu quem joguei o tomate nele primeiro. Eu sabia? Sim. Eu admitiria? Não.

Mas isso teria um troco.

Dei um chute em sua perna. E antes que ele pudesse reclamar, me levantei e empurrei meu prato, colocando-o atrás da jarra de água. Eu chamaria o que aconteceu em seguida de efeito dominó. A jarra foi para frente, e cheia como estava, a água se espalhou pela mesa, indo parar principalmente no colo de Rafael.

Pronto, agora éramos um casal de pintinhos molhados.

Eu queria tirar sarro da cara dele, mas ao invés disso, coloquei uma expressão de culpa e as mãos sobre a boca.

— Meu Deus! Eu não queria!

Minha avó pareceu acreditar em mim, então apenas balançou a mão em um gesto de indiferença.

— Não se preocupe, eu limpo, agora vá se limpar e se trocar.

Rafael parecia que ia explodir de raiva. Seus olhos diziam isso. Sua postura, não.

Joseph limpou a garganta.

— Acho melhor irmos. O almoço estava ótimo — ele se virou para mim — lamento o vestido, compraremos out...

— Não se preocupe com isso, — levantei a mão de forma diplomática — caso contrário, eu também deveria comprar uma calça e uma cueca para Rafael.

O dito cujo nome é Rafael olhou para mim.

— Ela está certa, afinal, foi tudo um acidente.

Joseph concordou com a cabeça, relutante.

— Então, nos vemos daqui a dois dias? No parque?

— Com certeza! Mal posso esperar!

Claro que a sem noção que falou isso fui eu. Mas só porque estava decidida a me vingar. E o lugar parecia — parece — perfeito.

— Nos vemos lá então — Rafael olhou para mim de tal forma, que eu tinha certeza de que seus pensamentos refletiam os meus.

Apenas sorri para ele.

Quando por fim saíram, corri para o banheiro. Tomei outro banho, dessa vez mais rápido. Substituí o vestido por uma bermuda jeans e uma regata branca, calçando a sapatilha. Refiz a trança e saí do banheiro segurando o vestido manchado.

Vovó Terezinha já havia arrumado tudinho. Até a louça estava lavada.

Velhota ninja, pensei.

— O que faço com ele? — Balancei o vestido para ela.

Vovó apontou para um canto.

— Ponha no tanque. Eu resolvo isso.

Concordei com a cabeça e fiz o que ela pediu.

Quando voltei, Terezinha estava sentada no sofá, tomando chá e assistindo televisão.

— Por que você não vai dar uma volta? Conhecer a cidade e tentar fazer mais amigos?

— Sim, volto logo, então, até depois.

Catei meu celular no balcão ao lado da entrada.

Peguei o elevador que atormentava meus pensamentos. Quando cheguei no térreo, fraguei um Rafael animado conversando com uma garota ruiva. Bom, talvez conversar não seja o termo correto.

Eles estavam se beijando.

Algo me incomodou naquela visão, provavelmente pena por aquela pobre garota.

De repente, tive uma ideia genial.

Já tendo desistido de sair a passeio, subi de novo, resolvendo ler um pouco para passar o tempo. Porém, um pensamento não me abandonava.

Quem perdoaria traição?


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