Amor À 19 Vista escrita por RoBerTA


Capítulo 2
Prazer em conhecê-lo, Gorlei


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ^^



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Estava sentada diante de uma mesa coberta de cupcakes. Tinha de todas as cores, sabores e tamanhos. Escolhi o maior, com uma grande quantia de chocolate. Tudo parecia estar acontecendo em câmera lenta, enquanto o aproximava de minha boca. Tão pertinho... quando por fim ele estava perto o suficiente, abri minha boca e...

Triiiiiiiiiim.

...o despertador tocou.

Pulei da cama resmungando. Por que eu sempre acordava na parte boa?

Algo chamou minha atenção. Pelo canto do olho vi um papel rosa ao lado da cama. Me aproximei para ver o que era.

“Querida,

vovó foi no Clube do Tricô; volto antes das quatro.”

T."

Olhei para o relógio. Eram uma e meia. Senti minha barriga roncar. Fui para a cozinha a fim de saquear a geladeira.

Quando cheguei na frente dela, vi outro bilhete.

“Deixei lasanha para você. Esquente no microondas.”

No balcão tinha um prato com papel alumínio em cima, pelo menos acho que é assim que se chama aquele negócio prateado.

Com a fome sendo a minha maior motivação, coloquei toda a minha preguiça de lado e pus o prato no microondas.

Sentei no sofá e esperei. De repente, o microondas começou a fazer um barulho esquisito, e tinha um cheiro de... Queimado?!

— Merda!

Corri em direção ao microondas ao mesmo tempo em que a porta se abriu. Qual era a regra nº 1 mesmo? Microondas + alumínio = desastre.

— Tereza?

Olhei para ele. Como aquilo entrou aqui?

— Ei! O que você está fazendo aqui!?

Coloquei as mãos na cintura e tentei parecer intimidadora mesmo estando com pantufas de coelhinhos, e uma camisola do Piu-Piu. Amarela, é claro.

Me encarou como se eu fosse louca, e talvez eu seja mesmo. E por acaso isso é da conta dele?

Antes que o abominável abrisse a boca para me dar uma resposta malcriada, seus olhos pararam no microondas.

Sua reação foi engraçada, primeiro arregalou os olhos, depois foi correndo até lá, e puxou a tomada.

— Sua maluca! Você podia ter posto fogo aqui!

Revirei os olhos, como se o fato de eu ter corrido o perigo de morrer carbonizada fosse normal.

— Nesse caso... – me abaixei em frente a um balcão e tirei lá de dentro um extintor — era só usar isso.

Eu preciso deixar muito explicito que o que ocorreu a seguir, dessa vez, não foi proposital.

Tentei meio que demonstrar o que eu faria, para parecer real, e é claro, mostrar que não sou a incompetente que ele pensa que sou. Devo ter apertado em algum lugar, ou algo do gênero, pois de repente parecia que o extintor estava possuído. Do nada, ele começou a soltar aquele pó de origem duvidosa bem na cara do ser.

Eu juro que não foi de propósito, porém, se eu me sinto culpada, aí é outra história.

Sua expressão era a de alguém chocado.

— Eu vim aqui, te fiz um favor, e é assim que me agradece?

— Foi sem querer!

Enquanto o resto de aborto falava, eu fui me aproximando até estar diante dele. E agora, quando tentei mostrar minha inocência, ergui as mãos. Consequência? Deixei o extintor cair. No pé dele.

— Ai!

Tudo bem, agora eu me sinto culpada. Mas é obvio que não iria demonstrar isso.

— Deixa de agir feito uma menininha mimada e ficar choramingando. Aposto que nem doeu.

O olhar dele era indecifrável.

Mentira, só faltava o garoto babar de raiva. Ao invés de ficar assustada, tive uma súbita vontade de rir. Eu sei, não sou normal. Sempre que me machuco, ou a situação fica realmente crítica, tenho vontade de rir. Às vezes até consigo evitar, outras, bem...

Eu esperava, sei lá, muitos xingamentos, mas no lugar disso, fui brutalmente ignorada. Regra nº 1 sobre mim: detesto ser ignorada.

O Ken, quero dizer... Rafael, se encaminhou mancando em direção à porta, quase tropeçando no tapete.

Sem nem dizer tchau, saiu e fechou a porta atrás de si. Demorei um segundo para compreender o que ele fez. Segundo suficiente para correr em direção à porta.

Parei no corredor. Estava tudo em um silencioso silêncio.

Trágico.

Senti minha barriga protestar com fome.

Depois eu cuidaria daquele sujeitinho.

Saí rápido do corredor, antes que alguém me visse de pijama. Tradução literal para alguém: o vizinho fofoqueiro da minha vó. Nunca vi um velhinho — nem tão velho assim — tão fofoqueiro. Sempre o primeiro a descobrir algo e o último a não contar. Numa cidade pequena assim, ele era praticamente essencial para manter todos informados sobre todos. Não pegaria nada bem se ele me visse de camisola — mesmo uma tão grande — fora de casa.

Por que, de tantas pessoas, era justamente ele com aquele poodle metido cor-de-rosa a ser o vizinho da vovó? É, ela não tinha sorte com vizinhos. Deveria ir visitar um pai de santo.

Sem ter coragem para ver os restos mortais da lasanha, abri a geladeira em busca de uma comida rápida. Peguei o suficiente para fazer um sanduíche — não posso me gabar dos meus dotes culinários, não mesmo — e arranjei também um suco sei lá do que.

Comi o mais rápido que consegui e depois lavei a louça que sujei. Olhei apreensiva para o microondas decidindo que a lasanha-nem-tão-boa-assim poderia esperar mais um pouco.

Catei na minha mala bagunçada e ainda não desfeita uma camisa branca, com uma calça jeans. Tomei um banho bem demorado e revigorante enquanto pensava em como me livrar daquela ex-lasanha e atual gororoba. Eis que uma ideia de origem demoníaca surgiu em minha mente perversa. Ei, nunca disse que era santa.

Terminei o banho e me vesti. Tentei secar o cabelo, mas desisti, deixando ele meio molhado. Calcei uma sapatilha vermelha e fui encarar o monstro do microondas. Mente criativa a minha, não?

Era tão ruim quanto havia imaginado.

Parecia uma lasanha-zumbi. Tinha uma cor meio preta, meio marrom, e meio cinza. E o perfume... argh.

Fiquei tentada a jogar tudo no lixo; o microondas, a gororoba, e o resto. Espera, que resto?

Como não saía fumaça, deduzi que estava frio. Pelo menos nisso acertei.

Peguei aquilo com cuidado, e o mantive longe de mim o máximo que consegui. Cheguei na porta e abri ela com o cotovelo. Nem me pergunte como, sou ninja.

Parei em frente ao esconderijo do inimigo. De novo, com o meu precioso cotovelo, toquei a campainha.

Esperei, esperei, esperei e...

Esperei.

Até que finalmente a porta foi aberta.E lá estava ele, ainda com alguns indícios do pequeno incidente ocorrido mais cedo.

Sorri malignamente para ele.

— Surpresa.

E realmente pareceu surpreso, para a minha surpresa. E mais surpreso ainda ficou quando joguei Gorlei sobre ele. Pois é, eu senti uma necessidade extrema de batizar a ex-lasanha.

Tadinho, agora sim iria ter que tomar banho.

Qualquer um se perguntaria por que eu fiz isso. Ou não, mas preciso fingir que tenho um motivo para listar minhas motivações. (Amo fazer listas).

1º Ele me ignorou.

2º Ele nasceu, por mais que nisso, não tenha tido culpa.

3º Eu estava de TPM. Ou pelo menos é essa a desculpa que uso.

4º Eu realmente precisava de um inimigo para me distrair.

5º Sou bipolar, lembra?

Pobre Rafael, parecia estar se esforçando para se controlar. Com os olhos fechados, e a expressão branda, respirava de modo regular. Porém seus punhos o traíam. Estavam fechados, prontos para socar algo.

Dessa vez eu tinha 100% de certeza que seria xingada de todas as formas possíveis. Novamente, ele me surpreendeu.

Abriu os olhos calmamente. Me encarou, e falou com uma voz aveludada, que fez com que meus pelos eriçassem.

— Bem-vinda à Terceira Guerra Mundial.

E fechou a porta na minha cara, a qual fiquei encarando atordoada.

Decidi que meu tempo era precioso demais para ser gasto com aquela porta indiferente.

Terminei de lavar o prato onde estava o Gorlei. Sentei no sofá pensando. Pensando em como ganhar aquela guerra, é claro. Finalmente uma boa diversão!

Esperei minha avó chegar, e quando chegou, perguntei como havia sido seu dia.

— Ótimo!

Interessante, pensei, como um dia pode ser definido com uma única palavra.

Por sorte, ela não perguntou nada sobre a lasanha, ou o microondas estar tão limpinho — óbvio que eu não ia deixá-lo daquele jeito miserável, né?

Assistimos a um filme juntas, e depois do café, com direito a alguns cupcake, fui para a cama.

Lá, continuei planejando minha tática de guerra.

A última coisa que me lembro de ter visto antes dormir, foram aqueles olhos azuis.

Ou seria um sonho?


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