IV- Pensamentos

Embora fosse sábado e não tivesse que trabalhar naquele dia, Agatha acordou bem cedo e foi até a empresa. Precisava se desculpar com o sr. Suvens antes que fosse tarde demais. De certa forma ela sempre fora orgulhosa, e ter que pedir desculpas para alguém era algo ridículo na opinião dela, mas estava realmente precisando daquele emprego, não podia jogá-lo fora por causa de Rafael.

Agatha chegou a empresa pouco mais de 08h e o senhor Suvens prontamente a atendeu. '' Pelo menos Rafael não está aqui'', pensou ela, enquanto sentava-se na cadeira a frente da mesa do seu chefe.

A conversa entre os dois durou menos de meia hora, Ricardo disse que o emprego ainda era dela e passaram alguns minutos conversando sobre o tempo passado, até que ele fez uma pergunta, que o deixava realmente curioso:

-Por que foi embora tão de repente, Agatha?

-Prefiro não falar sobre isso.

-Tudo bem por mim, mas devo admitir que todos sempre tivemos essa curiosidade, principalmente Rafael, sabe...ele mudou muito desde que você foi embora.

-Como eu falei, prefiro não falar disso, mas se me der licença já vou indo, tenho que comprar a mobilia para o meu novo apartamento.

Eles se despediram como velhos amigos e Suvens não pode deixar de reparar que Rafael não fora o único que mudara, Agatha já não era mais a garotinha ingênua que fora a anos atrás.

''O tempo passa mais depressa do que a gente imagina.''- pensou ele, antes de começar a reorganizar uns papéis.

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Rafael acordou e a primeira coisa que fez foi olhar as horas: 08h55min. Suspirou pesadamente para controlar a raiva. Ele nunca acordava antes das 11h aos sábados e domingos, mas naquele dia, por um milagre, ali estava ele, acordado como nunca. Acabara de ter um sonho estranho com ela...Agatha. Ela aparecia na sua porta e o beijava, mas então ela evaporava e por mais que ele procurasse e chamasse não conseguia encontrar ela novamente.

Tinha pensado que a presença da Kate na noite anterior o fariam esquecer ela, e realmente fez, mas depois que Kate foi embora, seus pensamentos se voltaram, inevitavelmente para a senhorita Jeicks.

Não adiantava, depois que acordava não conseguia voltar a dormir, então preferiu se levantar, tomar um banho, arrumar-se e sair para dar um passeio pela cidade até a hora do almoço. Afinal, enlouqueceria se ficasse mais um minuto deitado se lembrando de sua ex.

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Agatha estava cansada, fazia tempo que não caminhava tanto assim. Mas pelo menos havia conseguido comprar todos os móveis que precisava para sua casa. Eles seriam todos entregues a tarde e naquela noite, finalmente, ela teria uma cama para dormir.

Estava faminta, não comera nada a manhã inteira e estava morrendo de fome agora. Caminhou pelas ruas em busca de um restaurante de seu agrado até que encontrou um, serviam buffet livre e ela logo se serviu.

Estava apreciando a refeição, tinha que admitir que a comida do lugar era excelente, o único problema foi a pessoa que se aproximou sorrateiramente por trás dela e falou:

-Só pode ser piada não é? - Agatha virou-se rapidamente ao ouvir aquela voz e lá estava ele, Rafael, parado bem atrás da cadeira dela com um prato na mão.

-O que ta fazendo aqui? - Perguntou ela, com a verdadeira intenção de ser mal educada.

-Eu almoço aqui seguidamente e sempre me sento nessa mesa então...você está invadindo meu espaço. - Disse ele com tanta delicadeza quanto ela.

-Você quis dizer que você sentava nessa mesa, pois agora eu estou sentada e não tem chance alguma de eu permitir que você sente aqui.

-Acredite criança, eu quero sentar aqui tanto quanto você quer que eu sente, mas não tem outro lugar, então, vou ficar aqui mesmo. - Dito isso ele se sentou na cadeira de frente para Agatha, sabia que ela se irritaria com ele, principalmente por ele ter se sentado sem pedir permissão, mas ele tava nem ai, queria mais é que ela saísse daquele lugar e o deixasse em paz.

Diferente do que ele havia imaginado, Agatha não falou nada, nem sequer o olhou. Ignorou-o completamente, continuou agindo como estava antes dele chegar. Mesmo que não quisesse admitir, aquilo o irritou muito.

-Qual é Agatha, é criança demais para conversar comigo.

-Não sou criança Rafael, então pare de me chamar assim. E pelo contrário, sou adulta o suficiente para te ignorar, se eu fosse a criança que era a anos atrás estaria fazendo um escândalo agora. - Ela falou tudo isso olhando diretamente nos olhos dele e Rafael não pode deixar de notar que ela realmente havia crescido, não apenas fisicamente, mas mentalmente também. Antes ela não conseguia manter uma conversa séria fitando ninguém, agora não apenas fazia isso, como tinha um olhar penetrante, que daria medo em alguém que não a conhecesse, mas de algum modo ele sabia que lá dentro, por trás daqueles belos olhos castanhos, havia todo calor, amor e a mesma menininha que havia anos atrás. Não encontrando resposta para a fala dela, preferiu ficar calado. - O que foi?

-O que? - Perguntou ele, confuso.

-Por que não respondeu? - Ele ficou quieto. - Não acredito que eu, Agatha Jeicks, consegui calar Rafael Suvens, quem diria. - Enquanto falava ela ria, mas não era um riso verdadeiro, era pura ironia.

-Apenas não quero gastar minha saliva com você. - Respondeu ele, rispidamente.

-Tanto faz o que você diz, mas eu sei da verdade. - Disse ela, empurrando o prato para o lado e fazendo menção de se levantar.

-Espere. - Falou ele, antes que se arrependesse.

-O que foi?

-Eu queria...conversar com você. - ''Não sei porque disse isso.'' , foi o pensamento instantâneo dele.

-Não temos nada o que conversar Rafael. - Ele abriu a boca para falar algo, mas no último minuto mudou de ideia e acabou por falar algo completamente diferente.

-Tem razão, não temos nada o que conversar. - Agatha se limitou a assentir e se retirou da mesa, indo até o caixa para pagar a conta e querendo nunca ter entrado ali para almoçar.

Enquanto caminhava pelas ruas para voltar a seu apartamento seus pensamentos estavam longe, na não tão longe assim. Estavam apenas centrados em uma única pessoa: Rafael.

Todos sempre disseram que eles tinham tudo para serem o casal perfeito, desde que eram apenas amigos todos elogiavam eles como casal, e ela concordara, por um longo tempo ela concordara com todos que falavam isso. Ela amara Rafael da forma que jamais amara outro homem. Sim, houvera outro...não apenas um, mas vários. Mas nenhum deles a fizera se esquecer de Rafael e ela nunca quisera iludi-los, então sempre terminava seus relacionamentos.

Chegou em casa no mesmo instante que o caminhão com suas compras estacionava na frente do apartamento. '' Pelo menos terei algo com o que ocupar minha mente.'', pensou ela.