Mergulhei em um sono sem sonhos, apenas sombras negras dançavam ao meu redor enquanto minha mente finalmente se rendia à exaustão. Gritos espalhavam-se pelas manchas desfiguradas ao meu redor, e eu não saberia dizer se seus ecos se propagavam pela realidade ou se eram apenas frutos de minha imaginação inconstante.

Como um sussuro comecei a escutar uma voz distante me chamando, o som familiar aumentou até que eu percebesse que a pessoa gritava meu nome atropeladamente, as sílabas misturando-se enquanto ela tentava me acordar.

Senti algo chacoalhar meus ombros, e meus olhos abriram-se assustados no mesmo instante. Olhei ao meu redor, sendo recebida pela mesma escuridão que reinara em meus pensamentos sonolentos, à minha frente um garoto de cabelos escuros segurava meus ombros, encarando-me com preocupação.

– A luz se extinguiu! - ele disse, e no mesmo instante todas as minhas memórias que lutavam tanto em voltar chegaram aos meus olhos, lembrando-me do local horroroso em que eu estava, com seres que adoravam o cenário negro que me engolia.

Levantei-me rapidamente, minha mente totalmente alerta quando comecei a ouvir uma remessa alta de risos maldosos correndo ao nosso redor. Peguei minha lanterna, mesmo pensando que aquela pequena luz não seria capaz da multidão que me encarava vingativa naquele negrume.

– Estamos ferrados - Mikael disse o óbvio, enquanto vários Nightwalker corriam em sua direção em passos rápidos e furtivos.

Comecei a iluminar os seres a minha volta freneticamente, mal vendo suas faces deformadas e raivosas quando a luz os atingia. Eu só queria me livrar de todos aqueles pesadelos, mesmo que tal ato parecesse impossível diante da longa plateia de olhos prateados que me aguardava.

Senti uma garra gélida se curvando sobre meu pescoço, virei a lanterna para a criatura mas ela não mostrou sua fraqueza característica, apertando seus dedos sobre minha garganta de modo a começar a rasgar minha pele em longos caminhos vermelhos sem hesitar. Olhei por sobre meu ombro, identificando a careta petrificada que escondia o Nightwalker escarlate que me atacara momentos antes.

Seu sorriso deformado era iluminado fracamente pela lua, desenhando uma sutil linha prateada por sua expressão, deixando-o ainda mais sombria. Um grito de socorro subiu à minha garganta, porém antes que meu pedido pudesse propagar-se pelo ar frio, o Nightwalker tapou minha boca com a outra mão, transformando toda minha tentativa de chamar Mikael em meros murmúrios contra sua pele avermelhada.

Eu me debatia contra suas ações, porém minha força não mostrava efeito sobre a criatura. Em meio à minha luta, encontrei os movimentos instintivos do humano que lutava pela vida como eu. Mikael olhou para mim em um instante que os Nightwalkers à sua volta pareceram lhe dar uma trégua, seus corpos rastejando morimbundos ao seu redor, planejando o próximo ataque.

Mesmo com a pouca luz que tínhamos no local, pude notar o medo em seu rosto, enquanto a impotência avalassadora tomava conta de suas ações quando ele vira que agora não conseguiria me ajudar. Meu fim já estava selado sobre a garra negra coberta de escarlate que machucava meu pescoço.

Tentei transmitir a gratidão que eu sentia por tudo o que Mikael havia feito por mim naquele último momento que nós tinhamos, enquanto minha boca sussurrava um desculpe inútil impedido pela mão do Nightwalker que trancava o som que minha voz poderia ter.

Ouvi um grito assustado perfurar a noite, e perguntei-me irritada se não existia som melhor que aquele eco agoniante para marcar como a última melodia que eu escutaria antes de minha morte. Percebi assustada um movimento crescente e nervoso entre a massa de pesadelos que nos encarava, o Nightwalker que me segurava tornou seu aperto mais fraco pela surpresa do momento, porém antes que eu pudesse ver nisso minha chance de fuga a garra novamente tomava conta de minha garganta, enquanto o pesadelo aproximava-me de seu rosto.

– Não tão longe, querida - a criatura sussurrou contra minha pele, o tom gutural de sua voz trazendo um pânico crescente por meu corpo.

O Nightwalker afastou a mão que apertava minha boca e no mesmo momento que eu entreabria meus lábios secos para tentar gritar, o pesadelo deu-me um golpe forte na nuca, fazendo toda minha visão tornar-se negra e embassada, enquanto um abismo cada vez maior espreitava minha mente, engolindo lentamente meu raciocínio.

Senti meu corpo cair pesadamente no chão, enquanto gritos e urros assustados misturavam-se à voz de um garoto familar que tentava gritar meu nome.