Alguma coisa quente caía sobre meu rosto, uma voz cálida chamava por mim.

Devagar, muito devagar, abri os olhos.

-Cris! - Gabriel gritou.

Os braços dele, trêmulos, abraçaram meu corpo. Por um segundo, não consegui respirar.

-O-o que aconteceu? - murmurei, quando a dor lascidante me atingiu.

Gabriel se afastou de mim, seus olhos outrora confiantes estavam tomados pelas lágrimas.

-Seu idiota! - a voz dele estava alta, e tão brava que achei que ele nunca iria me perdoar - Por que se jogou na minha frente quando o Lince disparou aquela arma? Por que?!!

Olhei para meu corpo, finalmente vendo o mar de sangue que saía de mim.

-Ah... - falei, tão baixo que talvez ele nem tenha me escutado - Me desculpe.

Gabriel se levantou. Ele respirou fundo antes de enfim de virar para mim.

-Consegue se levantar? Você não pode ficar perdendo sangue desse jeito.

Forcei meus pés a ficarem de pé, Gabriel se tornando o fiel apoio a meu lado.

-Tenho umas amigas que moram aqui perto - ele disse, assim que saímos do beco escuro - Vou te levar até elas agora.

Eu, sem conseguir ter forças para dizer mais nada, apenas continuei caminhando ao lado dele, naquela rua deserta que pouco a pouco se enchia de poças de sangue.

-Marine, Bella? - Gabriel disse urgente, quando tocou a campainha de uma pequena casa de madeira.

Fechei os olhos, ouvindo os passos apressados dentro de casa. Não demorou até duas garotas abrirem a porta e seus olhares curiosos analisarem nós dois.

-Gabriel! - uma delas gritou, a voz alta ferindo meus ouvidos.

-Preciso da ajuda de vocês - Gabriel respondeu, me empurrando para dentro de casa.

-S-sangue... - ouvi a segunda delas dizer, se afastando de mim.

-Leve ele para o quarto - a loira, a primeira a falar, murmurou firme. Parecia que elas sabiam mesmo o que fazer.

Me deitaram na cama, e nesse mesmo instante veio um borrão a cobrir meus olhos. Eu podia piscar, esfregar os olhos, mas de nada parecia adiantar.

-Fique quieto - disseram para mim, uma mão macia segurando com força meu braço.

Mesmo com meus fracos protestos, desabotoaram minha camisa e a tiraram de mim. Jogaram alguma coisa na ferida perto do meu estômago, eu gritei, a dor parecendo me entupir de torpor.

-Cris! - Gabriel falou, decepcionado. Suas mãos me seguraram firme, para que eu não conseguisse fugir - Deixe elas cuidarem de você, ok?

Sacudi a cabeça, como se pedisse desculpas.

-Parece que o tiro foi só de raspão - uma das vozes femininas disse, aliviada - Ele vai se recuperar logo.

Mas foi então que eu notei que, mesmo depois que cuidaram do feriemento e me deixaram descansando ali, alguma coisa eatava errada. Parecia minha respiração, não sei, porém alguma coisa dentro de mim lentamente estava indo embora.

Tateei os bolsos com cuidado e, não achando aquilo que procurava, com assombro a verdade caiu sobre mim.

-G-gabriel - falei, a primeira lágrima caindo de meu olho e queimando minha pele - Eu esqueci, eu esqueci...

Não fui capaz de dizer, a palavra ficando presa em minha garganta como se fosse uma pedra.

-O que esqueceu? - Gabriel se ajoelhou a meu lado, sua voz preocupada querendo me ajudar.

-A fita vermelha - meus olhos agora me traíam, cobertos de lágrimas que eu não queria que ninguém visse - Eu esqueci no beco.