Borboletas escrita por lovemhatem_


Capítulo 2
Não quero ser seu amigo


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas cheguei! We! '-'



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Ela tem postura. Anda séria, com o olhar fixo à sua frente, os braços soltos ao lado do corpo, como se estivesse numa passarela. É exatamente esse o problema. Ela parece segura demais. E este é erro. Porque ela não estava. Nem um pouco. Por dentro ela arde. Todos aqueles olhares, aquela atenção, é muito. Ela se sente constrangida acima de tudo. "O que eles devem estar pensando?", se pergunta. Obviamente ela não tem ideia, mas eles secretamente a admiram. Porque ela parece confiante. Mas ela evita olhar para os lados, porque sente o peso dos seus olhares, e isso a incomoda. Ela sente o quanto eles a olham, e seus olhos quase se enchem de lágrimas, mas ela já se acostumou a isso, então apenas finge que não vê ninguém. Você pode fingir que não vê, mas não pode negar que sente. Então ela anda rápido até o banheiro, sua pequena fortaleza, mas também onde se encontra seu pior inimigo.

Logo ao entrar, ela vê uma outra garota, então espera que ela saia, o que não demora. Ela dá passos cautelosos até o centro do banheiro. E vira-se para ele. O espelho. Sim, ela o teme mais do que tudo.

"Feia" - o reflexo diz com firmeza.

- Feia - ela repete.

Ela se mira sem expressão, avaliando cada traço do seu rosto, amaldiçoando a si mesma por ser tão ridícula. Seu cabelo repleto de cachos e tão cheio que quando era menor os colegas faziam uma éspecie de brincadeira "Ache o lápis". Era engraçado, mas a incomodava um pouco, quando eles colocavam a caneta em seu cabelo, ela praticamente desaparecia no emaranhado de cachos, e muitas vezes era preciso que ela se levantasse e sacudisse o cabelo para então o objeto cair em qualquer canto da sala. E porque ela tem que ser tão bochechuda? A tia vivia apertando suas bochechas, aquilo a tirava do sério. Do seu corpo então, nem se fala.



Mas ela afasta esse pensamento da cabeça, não pode se distrair. Suspira, arruma uma mecha do seu cabelo atrás da orelha e abaixa a cabeça enquanto lava as mãos por hábito. Mantém a cabeça baixa durante a metade do caminho após sair do banheiro, mas não resiste, acha que fica mais idiota desse jeito, então volta a olhar para frente, abrindo e fechando as mãos em seus passos largos até a sala onde ocorrerá a primeira aula. Quase desiste ao ver o professor fechando a porta, porém ele a vê a tempo, e faz sinal para que se apresse.

Ela ignora mais olhares dirigidos a si e senta na carteira de sempre, ao lado de Dalilah, sua única companhia durante todo este ano. Já estão quase na metade e Dalilah é a única que ela conversa, quase sua amiga, porém elas não se combinam. Enquanto ela é séria, distante e reservada, Dalilah é falante e bem-humorada, ama falar da vida alheia, principalmente.

- Nossa, seu cabelo está lindo hoje - Dalilah comenta enquanto olha as unhas recém pintadas.

- Ah, claro - ela responde sem ânimo e volta sua atenção para as unhas da colega. - Estão bonitas.

- Você reparou? Eu acho que podiam estar melhores, mas obrigada de todo jeito. Fez a atividade de física? Posso ver? O que fez nesse fim de semana? Fiquei sabendo que Victoria viajou para a casa de uma tia em outro país e vai ficar fora até quarta-feira, dá pra acreditar? Tudo bem que houve o feriado, mas eu não teria coragem de faltar tantas aulas... Então como ia dizendo, se o professor não fosse tão charmoso eu não entenderia nada do que ele fala, se bem que na verdade eu já nem entendo.

Dalilah contina tagarelando infinidades enquanto a outra folhea seu caderno tentando achar a nova matéria que o professor havia passado na última aula, não entende muito de física, mas se dá bem na matéria naturalmente.

Ela quase não assiste a aula, se distrai em uma das raras folhas vazias do caderno e se põe a fazer rabiscos de palavras aleatórias que juntas não tinham sentido algum, mas separadas diziam muitas coisas. Nem repara na chegada da professora de literatura. Nem quando ela pede duplas que a mesma escolhe. Quando se dá conta, uma mesa é arrastada preguiçosamente para o lado da sua, e antes que ela tenha tempo de protestar e perguntar o que está acontecendo, o garoto já está instalado ao seu lado.

- Ei, o que você está fazendo? - ela pergunta um pouco espantada.

- Tô sentando do seu lado. - ele responde em tom óbvio e a olha como se ela fosse algum tipo de doente mental. - Produção textual. Eu e você. Dupla. Juntos. Trabalho. Importante.

- Tudo bem, eu já entendi. Mas porque você? Eu não te chamei. Nem te conheço.

O garoto coça a cabeça um pouco impaciente e respira fundo.

- Eu também não te conheço, nem queria conhecer, mas a senhora aí decretou - ele gesticula para a professora.

Ela olha para a professora que lê um livro sentada de frente para os alunos e em seguida para o garoto ao seu lado.

- Então vamos fazer isso juntos - ela processa em voz alta. - Vale nota.

- Eu já disse isso.

- Ah, cale-se. Tenha mais educação.

Ele ri sarcasticamente e olha para ela com desdém o que a faz ficar vermelha e murmurar um pedido de desculpas silencioso, mas ele apenas revira os olhos, então pega o caderno e ela vê no mesmo rabiscos e símbolos irreconhecíveis, mas após pensar um pouco percebe que são letras de uma terrível, péssima caligrafia. "Letra de preguiçoso", pensa consigo mesma. Ela olha sugestivamente para ele:

- Traduza.

- Hm.. - Ele pega o caderno e demora alguns segundos para que entenda a própria caligrafia. - Um texto, redação, sei lá. Sobre a amizade. E a propósito, eu não sou seu amigo.

- Nem pretendo que seja - ela sussurra e ele a encara por alguns segundos. - Ok. Vamos começar com isso. É... Eu não sei.

- Eu sei.

- Ah é? Como? - ela ergue uma sobrancelha.

- Não, eu sei que você não sabe.

Ele permanecem em silêncio por alguns segundos e em seguida fitam o papel. O garoto se espreguiça na cadeira e suspira alto o suficiente para que ela perceba o seu desconforto, e ela pensa o quanto ele é irritável. Mas apenas pega o cardeno dele e tenta ler novamente o que ele escreveu a procura de algo mais específico, em vão. Pensa por alguns segundos, tentando se concentrar e não se irritar com o barulho que ele faz batendo os dedos na mesa, então volta-se para ele tentando parecer confiante.

- Tudo bem, eu me chamo Avalanna, e podemos ser amigos.

Ele a encara por um segundo que parece uma eternidade e quando ela está prestes a se arrepender de ter falado qualquer coisa, ele finalmente responde:

- Eu sou Gabriel, preciso passar de ano, e não quero ser seu amigo.



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Notas finais do capítulo

Desculpem qualquer erro ou se tiver ficado pequeno, eu tinha feito bem antes mas quando fui postar deu erro. Então só tive coragem pra voltar agora. Hoho. Volto com no mínimo 12 reviews.