Assim que eu acordo, meu primeiro movimento foi ver que dia era em meu celular. Suspiro aliviado quando vi que era a mesma data de ontem e suspiro aliviado, nada passara de um sonho então, certo?

 Levanto da cama, tentando apagar de minhas memórias a imagem ensangüentada de Aimi na avenida. Troco de roupa e saio, indo novamente ao parque onde sabia que ela me esperava.

 Ela estava no mesmo balanço que eu havia sonhado, exatamente do mesmo jeito. A repetição da cena me deixou atordoado e estranhamente com uma sensação ruim. Depois de um tempo parado ali, ela me olha, sorri e acena, me chamando.

...Conversamos sobre exatamente os mesmos assuntos do sonho, tirando pelo fato de meu desconforto. O que era aquilo, afinal?

 O gato preto sobe em seu colo, e nós falamos a mesma coisa sobre as estações. Assim que o gato pula de seu colo, ela levanta para ir atrás.

 ...Não, de novo não.

Se Deus havia decidido me dar uma segunda chance, não iria deixá-la ir embora assim.

 Seguro seu pulso e ela olha para mim, confusa.

- Vamos andando com calma atrás dele. É perigoso correr por ai.

 Ela parecia me questionar com o olhar, mas aceitou. Andamos até a avenida, o máximo que nossos olhos conseguiram acompanhar o pequeno gato. Aimi vira a esquina, ao mesmo tempo que vejo as pessoas da rua olhando e apontando pra cima. Olho também. Um prédio em construção. Vejo que a máquina que colocava as barras de ferro está meio atrapalhada.

 E então aconteceu de novo. A única coisa que pude fazer foi olhar, chocado enquanto a cena se passava quase em câmera lenta na minha frente.

 Primeiro, a barra de ferro se soltando da máquina e indo em sua direção. Segundo, esta mesma barra caindo em suas costas e lhe atravessando, enquanto o sangue espirrava na calçada, em mim, e nas pessoas ao seu redor, enquanto você caia no chão, novamente sem vida.

 Eu tremia. Eu tremia enquanto pela segunda vez, meus olhos se enchiam de lágrimas.

Como isso pode acontecer? O que está havendo aqui?!

 O cheiro do seu sangue me deixava atordoado enquanto as sirenes eram ouvidas, e as pessoas iam para o mais longe possível dali.

 Eu tenho que estar sonhando.

- Não é um sonho. – Eu ouvi uma voz igual a minha falar.

 Olho para o lado e vejo o ‘’eu’’ vermelho de ontem. Ele apenas dá um sorriso metido de canto, enquanto antes que eu pudesse raciocinar empurrou-me, me fazendo cair no chão e perder a consciência.