Yosuke POV

Era um dia de verão. Apesar de ser um dia bem quente, estava nublado.

Levanto da cama, e olho meu reflexo pela janela. Meu cabelo loiro acinzentado estava bagunçado, e meus olhos castanhos estavam meio vermelhos por eu não ter conseguido dormir direito pelo barulho insuportável dos grilos à noite.

Troco de roupa, e saio de casa. Apesar de ter apenas quatorze anos, eu já tinha liberdade o suficiente pra sair de casa sem avisar. E andando nas ruas esburacadas e cinzentas, caminho calmamente até o parque onde sempre podia ver você. E sentada no balanço de sempre, lá está.

Seu cabelo preto curto voava enquanto você balançava para frente e para trás, sorrindo. Pude ver que seus olhos azuis estavam fechados por causa do sol cegante de hoje.

– Aimi! – Eu a chamo, fazendo olhar pra mim. Ela acena com uma das mãos, e eu vou até ela, sentando no outro balanço.

Conversamos por um tempo, e não tardou a aparecer um gato preto e pular em seu colo. Ela sorriu surpresa enquanto acariciou o gato aninhado em seu colo.

– Sabe, eu meio que odeio o verão. – Você disse, ainda fitando o felino peludo em seu colo – O calor me incomoda...

Eu sabia disso. O que eu não sabia sobre você? Nós crescemos juntos, além de você ser a garota que eu gosto.

– Eu também. Eu gosto mais da primavera. – Eu disse, sabendo que essa era sua estação favorita. Você sorri pra mim, fazendo-me corar um pouco.

E então o gato pula de seu colo, e corre. Você vai atrás dele, e eu de você, mas paro quando vi que o sinal da avenida que o gato atravessou estava amarelo. Eu tentei gritar para te avisar, mas era tarde demais. Você estava no meio da rua quando o sinal ficou vermelho. Havia um caminhão em alta velocidade vindo até você. Eu não consegui me mover.

E veio o baque. Seu sangue pintou a rua, enquanto eu não conseguia pensar em mais nada.

Isso não pode estar acontecendo...

...Não pode ser! Isso não pode ser real! Eu tenho que estar sonhando!

De relance, do outro lado da rua, pude ver um outro eu vermelho, sorrindo. Mas o mesmo sumiu quando o olhei de novo. Eu estava atordoado demais pra pensar em qualquer outra coisa que não fosse Aimi e seu corpo morto ali, em minha frente, e a multidão se formando em volta, juntamente com um caminhoneiro desesperado pela culpa. E enquanto mais e mais pessoas chegavam, o meu mundo ia desabando debaixo de meus pés...