As ondas cobriam o corpo de Miguel a todo momento, as lagrimas caiam do meu rosto no mar abaixo de nós. Sentir algo no meu nariz e tudo foi ficando preto e eu estava ficando cada vez mais tonta.

Pov Miguel

Cair daquela altura no mar não me afetou nem um pouco, nem a dor dos machucados nem a agua gelada poderia ser pior do que ver Caíque leva-la e eu não poder fazer nada, me senti incapaz, e com ódio de mim mesmo, escutar a risada demoníaca de Caíque enquanto a levava foi o pior som que pude escutar.

Fiquei boiando esperando que a onda me levasse pra areia e depois de um tempo foi o que ela fez, me arrastei pra areia e deitei ali para descansar mais um pouco.

Abri os olhos e percebi que já havia escurecido, o céu estava negro hoje, e sem nenhuma estrela. Andei até a gruta onde estávamos e lá abri minhas asas, ali eu tinha certeza que ninguém veria nada, voei até o mais alto do céu, até que as nuvens cessassem e a grandeza  daquele lugar ficasse a vista, estava como sempre foi o céu pros humanos é um lugar de liberdade, com grama verde e cheiro bom, mas na verdade não passava de um lugar com cheiro de anjo e luzes de asas para todos os lados, de u  ponto de vista até poderia dizer que é bonito, mas não como nos filmes e novelas, quem me dera se fosse.  Voei até onde ficava o único que poderia me ajudar, o único que me traria Isadora de volta viva e bem.

- Meu Rei.- fiz reverencia pra ele.

- Diga meu filho.- ele disse com a voz calma de sempre.- o que lhe traz aqui se o que você escolheu foi a terra?

- Venho lhe implorar ajuda.- cai de joelhos a seus pés chorando.

- Levante-se e me diga que se possível lhe ajudarei.

- Eles a levaram, eles levaram a menina que me apaixonei, a menina pela qual larguei o céu.

- Quem a levou?

- Caíque a levou, não sei pra onde, por isso te imploro, sei que o Senhor pode ver onde ela está.

- Eu sei que você sabe meu filho, você sempre foi um dos mais inteligentes anjos, sempre um dos meus mais queridos, mas por você ter deixado o céu não posso lhe entregar essa informação, você só poderia ter acesso a vida de um humano se fosse resignando anjo da guarda dele.

- Por favor, eu lhe imploro, me deixa salvar Isadora. - as lagrimas que escorriam do meu rosto já se cessavam.

- Me perdoe meu filho, mas não posso fazer isso.

- Faço o que for preciso para salvá-la, se assim for eu viro anjo da guarda.- eu viraria um anjo da guarda se fosse necessário para salvá-la, eu viraria o que fosse pra saber que ela está bem.

- Miguel estou achando que está brincando comigo, quantas vezes você já pediu pra descer e pra subir? Se essa for sua escolha, ela será eterna.

As lágrimas tornaram a ficar nos meus olhos, dessa vez elas deixavam minha visão turva e eu precisava dar uma resposta rápida e sabia, Ele a esperava ansioso, eu a amava demais Isadora para deixa-la sozinha na terra, mas também tinha medo que esse mesmo amor a matasse.

- Me desculpa, mas vou correr o risco de tentar salvá-la.

- Vai voltar pra terra meu filho?

- Sim.

- Seu amor por essa menina chega a ser egoísta, você ta arriscando a vida dela para poder ficar ao seu lado, se ela morrer sabe que não te aceitarei de volta.

- Sei que não,  se ela morrer eu morro junto, eu a amo.- falei com toda sinceridade do mundo.

- Não é fácil pra um anjo morrer.

- Eu descubro um jeito.

Desci mais rápido do que subi, eu precisava achar Isadora o quanto antes, se eu demorasse poderia encontra-la morta.

Procurei em cada canto da cidade, em cada casa, hotel, mercado, farmácia, hospital vazio, fui em cada terreno baldio que tinha em Saquarema até em Araruama eu cheguei a ir e nada de Isadora, o pouco poder de localizá-la havia me levado a uma pequena floresta no meio das duas cidades, entrei no meio da floresta escura com tudo, o único barulho q se ouvia era do meu tênis no chão e do vento nas arvores.

Senti o clima gelar e as arvores se eriçarem.

- Não vai ser tão fácil assim acha-la, anjinho.

- Caíque.- rosnei.- Onde ela está?

- Calma e a nossa antiga amizade, nosso laço fraterno, onde está?- ele falou rindo alto e me arrepiando.- Você sabe que sou mais forte e rápido que você.- ele sussurrou na minha nuca.- Nunca vai achar Isadora.- ele gritou na floresta e desapareceu nas arvores.

Continuei andando pela floresta, o dia já estava ficando claro, eu estava com fome, sede, cansado e com sono, me encostei por um tempo na arvore mais próxima e cai no chão, as lagrimas que não pararam nem por um momento enquanto a procurava ainda estavam ali, não sabia que era capaz de ter tanta lagrima em mim, sequei-as por fim e levantei para procurar mais, andei até um riacho que tinha ali e avistei uma cabana antiga e mal construída atrás do riacho, com muito esforço e dor botei minhas asas pra fora e voei ate a pequena cabana. Cheguei lá guardei minhas asas novamente e abri a porta que rangeu, botei um pé pra dentro com cuidado, poderia ser uma armadilha de Caíque, andei ate o centro do recinto e fiquei de pé ali tentando ver se tinha algum rastro de que Isadora havia estado ali. Peguei o papel amaçado que estava no canto da sala, e li meu poema, ela esteve ali com certeza, mas não havia sangue, nem sinal de luta nenhuma. Uma porta no final do corredor me chamou a atenção, guardei o poema amassado no bolso e fui até essa porta.

- Isadora?- sussurrei.

- Hm, hm.- escutei e abri a porta com tudo, Isadora estava sentada em uma cadeira com a boca amarrada e com os pés e braços também amarrados, corri até ela e desamarrei tudo, ela me abraçou fraca e vi que ela estava presa a mais uma coisa, ela olhou pra agulha no seu braço, foi então que percebi, ele queria matá-la devagar, ele queria que eu corresse atrás, o ódio que eu estava dele me deixava nervoso, arranquei a agulha do braço de Isadora e ela gritou de dor.

- Me desculpa meu amor, mas preciso tirar você daqui rápido. - peguei ela no colo e sai daquela cabana.

Voei com Isadora nos braços ate a minha casa, deitei ela na cama e ela estava fraca com os olhos fechados, a respiração dela era devagar, e o coração quase não pulsava.

- Você não pode me deixar Isadora, por favor. - chorei com a cabeça dela em meu colo.- Não me deixe, eu preciso de você, sem você aqui não vou ser nada, eu poderia ter te salvado eu devia ter aceitado a oferta de ser um anjo da guarda e te salvar, mas me desculpe eu não consegui pensar em te ver viva, mas não poder tocar mais em você, me perdoa.- beijei os lábios gelados dela.

- Vo...você fez a e...es...colha certa, eu não, não supor...taria viver se...sem você.- ela falou gaguejando e engolindo em seco, fechei os olhos e senti as mãos pequenas e macias dela no meu rosto, abri novamente os olhos e a vi sussurrar.- Eu te amo pra sempre.

Ver os olhos de Isadora se fechando foi a coisa mais dificil da minha vida, não ouvir mais a respiração dela foi o pior dos piores silêncios, eu não sobreviveria nem mais um dia se não pudesse ter ela comigo.

- Não teria sentido viver no céu sem você ao meu lado.- recitei aquele ultimo trecho uma ultima vez pro amor da minha vida.- Não teria sentido viver em lugar nenhum.- passei minhas mãos pelas bochechas dela e a abracei forte por uma ultima vez.