Levantei o dedo e o professor me olhou.

- Já terminei, posso começar?

- Vai lá Isadora.

Olhei pra Miguel e ele largou a caneta na mesa e me olhou nos olhos, mordi os lábios e ri.

- Bom vou ler 10 coisas que eu odeio em você, mas eu mudei, porque ela fez pro menino que ela ama e eu fiz pro que eu amo.

“1. Odeio o modo como fala comigo e como me protege.

2. Odeio como dirige nos pegas pra me deixar vencer. – o vi se balançando de rir na cadeira, sorri e continuei.

3. E odeio seus incríveis olhos azuis e como eles me hipnotizam

4. Odeio o modo como você diz amar meu cabelo, mas me chama de leãozinho.

5. Eu odeio que você entre em meus sonhos todas as noites.

6. Eu odeio como você sempre se arrisca pra ficar comigo.

7. E odeio quando você esconde as coisas de mim.

8. Eu odeio quando está sempre do meu lado e odeio mais ainda quando não está.

9. Eu odeio quando você some e me deixa preocupada.

10. Mas eu odeio principalmente não conseguir te deixar, odeio o fato de não conseguir te odiar e odeio também tanto te amar.”

Sorri ao terminar e olhei pra Miguel que me olhava sorrindo, todo bobo e com vergonha, o professor sorriu e bateu palmas.

- Parabéns Isadora, ficou bem legal e engraçado.- ele disse sorrindo, sorri e fui me sentar.

Cada um leu seu poema e tinha  uns bem legais, outros nem tantos, Miguel leu um muito bonito e disse que não mudaria nada e que tudo que se passava no poema se passava na vida dele, umas partes ele me olhava, o nome do poema era “Escolhas” na hora que o professor perguntou o nome do autor, Miguel corou um Pouco e falou que ele havia escrito, meus olhos se encheram de lagrimas e ele sorriu pra mim.

- Parabéns Miguel, é muito bonito, espero que escolha a coisa certa.- ele disse e me olhou depois deu uma gargalhadinha.

A aula de educação física foi queimada meninas contra meninos. Queimei três vezes Alan e me queimaram cinco, não sou muito boa em esportes. Quando terminou tomei meu banho e encontrei Miguel fora do vestiário me esperando, ele estava segurando uma jaqueta de couro preta e com os pés na parede, meu anjo parecia mais um deus grego. Dei um beijo na nuca dele e ele me puxou pra frente dele me beijando.

- Ta cheirosa.- ele falou cheirando e depois beijando minha nuca.

- Você também.- falei.- Quero fazer uma coisa.- disse sussurrando no ouvido dele, ele me olhou sorrindo malicioso.

- O que você quiser.- eu ri do jeito que ele falou, doido para que eu chamasse ele pra um motel.

- Vamos lá por trás da gruta? Quero que você recite seu poema pra mim, só pra mim.- ele pegou minha mão com uma cara não mais tão animada.

Chegamos na gruta e ele me ajudou a passar pela brecha da pedra que tinha ali, sentamos na pedra mais distante que tinha, ele pegou o papel meio amassado em sua mochila, se aconchegou atrás de mim na pedra e passou os braços pela minha cintura, eu estava segurando o papel pra ele, para que ele pudesse me segurar e me abraçar melhor. Ele começou a recitar o poema mais lindo que já havia escutado em toda minha vida.

- Em umas vidas escolhemos o amor.

Noutras a vida sozinha.

Numa vivemos a felicidade e em outra a tristeza.

Em uma somos pobres em outras somos ricos.

As escolhas nós fazemos, as consequências nos dão.

As consequências são ruins e dolorosas,

Mas as escolhas valem a pena.

As consequências boas deixam tristeza e com ela a solidão.

Como eu poderia escolher uma coisa que me deixa sem você?

Como eu poderia viver um dia sem seu sorriso empolgado e seu olhar cativante?

Como eu conseguiria voar se não tivesse você em meus braços?

Não teria sentido viver no céu sem você ao meu lado.

Ele acabou e eu me senti voando foi então que eu percebi que meus pés não estavam mais no chão. Olhei ao redor e tudo era maravilhoso, o mar daqui de cima o céu parecendo mais perto, Saquarema pequenininho lá embaixo, tudo era lindo, o bater das asas de Miguel era como musica pra mim, alto e ritmado, meus pés estavam soltos no ar, tentei olhar pra ele, mas não consegui, eu não parava de sorrir, apertei a mão dele e acho que o senti sorrindo, ele beijou minha nuca e voou mais pra cima comigo, admito que desse um pouco de medo, mas eu sabia que ele estava me segurando, me aconcheguei mais nele e abri meus braços, me senti livre, senti como se eu estivesse voando, foi uma das melhores sensações da minha vida, eu estava tão dispersa que quando Miguel me virou e me deixou de frente pra ele, olhei suas incríveis asas pela primeira vez, fiquei maravilhada com elas, eram imensas e muito brancas, elas brilhavam junto com o sol, ele me segurou apenas com uma mão e eu fiquei um pouco mais tensa, ele passou a mão livre no meu rosto e sorriu pra mim, ali pela primeira vez eu o vi de verdade, aquele era o Miguel, e mais do que nunca eu tive certeza que o queria comigo pro resto da minha vida. Passei a mão no rosto dele e dei um selinho nele, ele pareceu endireitar as asas e me segurou novamente com os dois braços, seu rosto chegou perto do meu e ele me beijou, o beijo foi suave e calmo, sem pressa, parecia que ali não faltava o ar e beija-lo era o que me manteria viva, queria prolongar o beijo por muito tempo.

Algo bateu forte em Miguel, ele me segurou com força e olhou pra trás. Vi Caíque vindo depressa pra cima da gente, Miguel olhou pra mim apreensivo ele não sabia o que fazer, olhei pra ele com medo e senti nós dois descendo depressa, muito rápido, chegamos no chão e ele me botou sentada. Antes de ele abrir a boca Caíque aterrissou atrás de nós.

- Ora ora, o anjinho mostrou a verdadeira face, não sabia que o todo poderoso permitia isso.- ele gritou pra Miguel, mas desviou o olhar de mim para o céu.- Você sempre foi o protegido, o preferido dele né, não me surpreende ele te deixar ficar com a humana e com suas asas.- ele gritou mais ainda me assustando.

- Caíque aqui não é lugar pra isso, podemos discutir isso em outro lugar.- falou Miguel calmo.

- Porque tem medo da sua pobre humana ficar mal?- Miguel olhou feio pra Caíque que estava me olhando com o olhar bem irritado, fiquei com medo e me encolhi, peguei o poema de  Miguel e segurei no meu peito.

Miguel deu um soco em Caíque, parecia saber o que ele pensava, Caíque o golpeou forte fazendo cair pra trás, ele estava vindo em minha direção, quando Miguel se jogou em cima dele derrubando os dois no chão, as asas de Caíque já estavam pra fora, era imensas e de um branco amarelado lindo, a de Miguel era um branco meio azulado, isso diferenciava os anjos do Céu e do Inferno. Caíque deu um chute em Miguel que jogou ele no mar.

- Nãooooooooooooooo.- gritei correndo até a pedra mais próxima.