Devemos nos comportar com os nossos amigos do mesmo modo que gostaríamos que eles se comportassem conosco.

Aristóteles

– Capítulo Setenta e Um –

As Voltas que o Mundo Dá

Já havia se passado dois dias desde o natal, todos os alunos já haviam voltado para Hogwarts. Desde tal dia, Melanie estava se sentindo um pouco deprimida, mas, nada que afetasse sua satisfação em estar passando mais tempo com Josh, pois, Alícia ainda não havia voltado como os outros.

Melanie e Josh passaram a manhã e um pouco da tarde retirando a decoração de natal dos corredores e salas do quinto ao sétimo andar, o restante ficou por conta dos outros monitores.

– Cansei – disse Melanie após o longo dia. Ela se jogara no chão sobre a neve.

– Do que? Você só ficou me olhando!– Josh a provocara se sentando ao lado da amiga.

– Nem vem. Eu te ajudei a recolher todos os enfeites das árvores. Você ainda estaria trabalhando nisso se não fosse por mim.– ela sorriu e fechara os olhos convencida.

Josh riu e a responderia, mas uma coruja passou por eles soltando uma carta no colo de Josh. Era apenas um bilhete e dizia: "Meu trem está atrasado. Só chegarei a Hogwarts amanhã. Com amor, Alícia".

– O que é?

– A Alícia só chegará amanhã.– Josh disse encolhendo os ombros. Guardou o bilhete no bolso e se deitou ao lado de Melanie na neve.

– Aconteceu alguma coisa?

– O trem dela atrasou. – disse Josh naturalmente – Nada de mais.

Os dois suspiraram. O assunto morria sempre que chegava em Alícia. Talvez Melanie já suspeitasse qual era o real motivo da timidez.

– O que você tem?– Josh perguntou.

– Do que está falando? – Melanie perguntou confusa.

– Você está vermelha. – disse Josh a encarando – Tá pensando em quê?

– Em nada! – Melanie riu sem graça. Desviou o olhar do de Josh por alguns segundos e depois voltou a o encarar. A ponta de seu nariz estava vermelha, uma graça.

– Eu tenho uma coisa pra você. – disse Josh retirando um pequeno embrulho do bolso – Eu ia te dar no natal, mas, você parecia chateada.

– Ah Josh! Obrigada – agradeceu Melanie abrindo o embrulho, dentro de uma caixinha havia uma medalha com formato de coração, Melanie o apertou e o coração se abriu, revelando uma foto de duas crianças se divertindo no jardim de Hogwarts.

– Foi tirada no nos...

– No nosso primeiro ano... quando nos conhecemos. Obrigada, é lindo. – disse Melanie sincera.

– Você pode trocar a foto se quiser. – disse Josh e Melanie balançou a cabeça negativamente.

Josh suspirou, e Melanie sabia o que isso significava. Ele desabafaria.

– Acho que a Alícia vai terminar comigo no fim do ano letivo.

– E por que ela faria isso? – Melanie perguntou com uma pontada de ânimo.

– Ela foi fazer o teste ontem, para o time de quadribol. – ele respondeu chateado – Eu sinceramente acho que ela vai passar e... e que não vai querer ficar administrando horários pra viajar e vir me ver, visitar a família...

– Você deve estar chateado. – disse Melanie cuidadosa.

– É... eu devia mesmo... – ele ri – Eu adoro Alícia, gosto de estar com ela... ela me faz rir... mas não acho que vou sofrer tanto. Bom... você sabe por que...

Melanie desviou o olhar de Josh e corou novamente, dessa vez não pela timidez, mas, se sentia envergonhada por ter ficado feliz pela possibilidade de Josh perder a namorada.

– Tenho certeza que você não vai ficar muito tempo sem arranjar outra. – disse Melanie demonstrando apoio. – As garotas gostam de ter ao lado delas namorados bonitos, fiéis e inteligentes como você.

– Enquanto algumas gostam de “bad boys”. – ele comentou.

Melanie suspirara e eles ficaram em silêncio. Ela acreditava que sempre teriam esses momentos desde o dia em que soube que Josh a amava, momentos silenciosos e constrangedores. Embora certos comentários, a fizessem lembrar-se de Blake, não doía mais como antes, mas, voltavam com uma pitada gostosa de saudade dos momentos que passaram juntos.

– Mel, eu não quis fazer com que se lembrasse dele. – disse Josh se desculpando – Não foi por maldad...

– Mel adivinha! – Andrew surgira do nada e parecia afobado e alegre ao mesmo tempo.

– Droga Andrew! – disse Melanie sobressaltada – Avisa quando for gritar.

– Desculpe. Mas eu tenho que te contar. – disse Andrew animado – A Rose acordou.

– Normalmente quando as pessoas dormem, elas acordam Andy – disse Melanie sarcástica e Andrew cruzou os braços, aborrecido.

– Quero dizer que ela acordou depois do desmaio que teve. – explicou Andrew – Eu te contei que ela ficou desacordada.

– Deve ter contado, mas, eu não prestei atenção. – disse Melanie indiferente se levantando e Josh a seguiu.

– Mel... é a sua prima. – disse Andrew chateado – Estão fazendo exames e tem uma grande chance de ela ter melhorado.

– Que bom pra família dela. – disse Melanie dando de ombros – Se me dão licença, vou tomar um longo banho e descansar.

Andrew e Josh observaram Melanie andar em direção ao castelo com passos largos e decididos.

– Nunca pensei que a Mel fosse tão rancorosa assim. – disse Andrew suspirando.

– Releva. – disse Josh suspirando também – O Blake foi o amor da vida dela e... ela sente falta e culpa a Rose por isso.

Andrew se virou para Josh e o avaliou por um momento.

– Eu nunca me dei conta, do bem que você faz pra minha irmã.

***

Após seu banho, Melanie colocou uma roupa qualquer e deitou em sua cama. Seus pensamentos foram nos últimos dias que passara com Josh, e Melanie se pegou sorrindo. Josh e ela sempre foram muito amigos e era normal que Melanie gostasse de ficar com ele, mas, por algum motivo a amizade estava diferente, não para pior, mas, algo mudara.

Melanie pegou o caderno de Blake que ela sempre deixava debaixo do travesseiro e o folheou. Parou em uma das músicas que ele compôs, uma nostalgia tomou conta de seu corpo e falta do piano se fez presente, independente de tudo, ela queria voltar a tocar.

– Eu prometo que o seu nome será lembrado Blake. – Melanie disse pra ela mesma beijando uma foto dele em seguida. – E que as suas músicas serão conhecidas.

Ela suspirou e devolveu o caderno para seu lugar de origem, em seguida pegou a medalha que Josh deu a ela e abriu para ver a foto de quando eram pequenos. Melanie deu um sorriso triste e se lembrou do momento que tiveram debaixo do visco.

– Quem diria. – disse Melanie balançando a cabeça – Como o mundo dá voltas... ai que droga...

***

– Como ela está? – Harry perguntou apressado quando ele e Astória chegaram ao hospital.

– Ainda está em observação. – Draco respondeu – Mas existe uma grande chance de ela ter se recuperado.

– E a Hermione e o cabeça de fósforo? – Astória perguntou recebendo uma olhar de censura de Draco e Harry – Desculpa, é a força do hábito.

– Eles estão com os curandeiros. – Draco respondeu – Gina está na cafeteria – disse Draco olhando para Astória.

– Obrigada. Eu sei quando não sou bem vinda. – disse Astória girando os olhos e seguindo em direção à cafeteria.

– O que houve Malfoy? – Harry perguntou quando Astória se afastou.

– Eu sei que é uma péssima hora. – disse Draco – Mas Josh terá de assumir a herança em poucos dias e eu queria resolver tudo logo.

– Sem problema. O que eu preciso fazer? – Harry perguntou.

– Só assinar alguns documentos. – Draco explicou – Eu vou enviá-los pra sua casa, assim você pode ler.

– Ok. Mas, não é só isso que você queria falar. – disse Harry.

– Você tem razão. – disse Draco suspirando – Olha eu sei o quanto gosta da Rose, pois, é filha do seu melhor amigo...

– Draco fala logo, por favor. – Harry pediu.

Draco se surpreendeu por ouvir seu primeiro nome saindo da boca de Harry, mas, continuou.

– Existe uma grande chance de ela se recuperar, mas... – ele respirou fundo – Alguma coisa aconteceu, não sei exatamente o que... os curandeiros disseram que alguma coisa na mente dela entrou em atrito e...

– E...?

– Uma parte do cérebro ainda não responde. – Draco terminou – E talvez ela fique em estado vegetativo.

Harry sentiu como se o chão desaparecesse e de repente caísse em um precipício, era como receber um banho de água fria. Não era possível que a sua pequena Rose fosse terminar de tal forma.

– Potter eu sinto muito. – disse Draco o mais solidário possível – Eu também estou mal com isso.

– Por mais que Rose tenha feito coisas ruins... não é justo – Harry disse com a voz fraca.

– Eu preferi te dizer longe da Astória porque não queria que ela se chocasse – explicou Draco – Ela ainda está amamentando e eu não sei dar notícias ruins.

– Astória é mais forte do que eu Draco. – disse Harry com um sorriso fraco. – Como estão Rony e Hermione?

– Como o esperado. – disse Draco – Inconsoláveis, mas, eles têm esperança que o tratamento contorne a situação.

– Hugo já sabe? – dessa vez fora Astória quem perguntara e Draco se sobressaltou ao ouvir a voz da mulher a suas costas.

– Ele sabe que Rose acordou. – explicou Draco reparando que Gina estava com ela – Mas é melhor que ele permaneça em Hogwarts sem mais notícias.

– Não é justo com a Hermione e o cabeça de cenoura. – disse Astória suspirando – Temos que fazer alguma coisa Harry.

– Nós não podemos fazer nada. – disse Gina – Está tudo nas mãos dos curandeiros e do tratamento deles.

– Quando se tem dinheiro às portas se abrem. – disse Astória pomposa – Vou falar com a minha irmã Daphnne, ela mora nos Estados Unidos e tenho certeza que pode nos indicar um expecialista de lá.

– Eu já fiz isso. – disse Draco girando os olhos e Astória lhe lançou um olhar mortal – O que nós podemos fazer é esperar Astória.

– Então vou procurar outros recursos. Vamos falar com os medibruxos Harry. – disse Astória puxando Harry pela mão.

Gina respirou fundo.

– Que gênio, não entendo como Harry se adaptou. – comentou Gina.

– Eu disse que Astória era mimada. – disse Draco dando de ombros – Mas ela tem um bom coração.

– Ao menos quer ajudar, mesmo que do jeito dela. – disse Gina cansada – Você poderia levar Hermione pra casa? Ela precisa descansar, e eu vou ficar um pouco mais com o meu irmão.

– Sem problema.

– Ok. – disse Gina com algumas lágrimas nos olhos – Meu amor, você acha que devemos contar a Melanie?

– Eu pensei nisso, mas... acho que ela está muito abalada ainda com a morte do Blake. – disse Draco pensativo – Talvez seja melhor esperar um parecer dos medibruxos.

– Tem razão. – disse Gina lhe dando um beijo. – Nos vemos depois.

Draco observou sua esposa voltar à sala de visitas e respirou fundo. Quando que os problemas acabariam?