Batter Up escrita por Carol Bandeira


Capítulo 54
Amar é...


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Eu pretendia esperar e postar amanhã, como de costume, mas como me sobrou um tempinho hoje e o capítulo já estava pronto, segue aí para vocês.

Boa leitura :)



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Sara Sidle andava cabisbaixa pelos corredores do laboratório, sem prestar muita atenção no que ocorria a sua volta. Seu olhar estava vidrado no relatório que acabara de pegar de Bobby, o perito em armas do turno da manhã. Deste modo, quando passou em frente ao escritório de Avery tomou um susto ao ouvi-la chamar seu nome.

—Ei, Sara! Você poderia vir aqui um instante? Encoste a porta, por favor.

Sara gelou e já foi logo imaginando que merda poderia ter feito no trabalho para ter tal pedido feito pela chefe. A morena se sentou na cadeira em frente à Avery e deu um sorriso para a chefe.

—Como está indo hoje?

—Bem. Acabei de pegar o relatório da Balística, mas ao que parece a cápsula ficou muito deteriorada para qualquer comparação.

—Uma pena. Era a única evidência no caso?

—A única não, mas a melhor para colocarmos o suspeito na cena do crime. Temos provas em vídeo de que ele entrou no prédio armado, mas ele jura que não foi até o 6° andar, e como as câmeras foram desligadas logo após o pegarem entrando no elevador...

—Bem... infelizmente, há certas horas que o criminoso tem sorte...

—Infelizmente...- Sara concordou.

Sara desviou o olhar para o relatório em suas mãos por uns instantes, mas sentiu o peso do olhar de Avery sobre si. Imaginou o que ela queria lhe falar que a fazia ter tanta cerimônia, mas logo teve sua resposta.

— E fora o caso, como você tem passado?

—Hã... bem...

Avery encarou sua subordinada e Sara teve a impressão de que aquela pergunta não era tão gratuita quanto o que aparentava.

—Tem certeza? Porque eu notei, e seus colegas também, que você não teve uma boa semana... anda distraída e cabisbaixa...

—Eu atrapalhei de alguma maneira o andamento dos casos? - Sara ficou preocupada. Se seu humor tivesse atrapalhado de alguma maneira o seu trabalho ela ficaria muito irritada consigo mesma.

—Não atrapalhou, mas não está em sua melhor forma. Isso é visível o bastante até para os técnicos comentarem- Ao olhar furioso da jovem, Avery completou- Não se preocupe, eu os peguei cochichando no corredor, mas já os lembrei de que isso aqui é um local de trabalho e não o pátio da escola. Mas eu gostaria de saber se posso ajudar em alguma coisa, já que está evidente que não anda bem.

Sara ficou desconsertada ao saber que seu comportamento ali estava estranho a ponto de pessoas que ela nem convivia muito estarem falando disso. Era verdade que ela andava distraída a ponto de tentar entregar uma análise de sangue no laboratório de Audiovisual, mas não imaginava que isso pudesse desencadear uma reação que chegasse até os ouvidos de sua chefe.

—Não se esqueça de que antes de ser perita criminal eu fui uma psicóloga. E das boas, por sinal.

Sara sorriu para a chefe e decidiu, por que não? Se havia alguém mais apta a dar conselhos amorosos do que uma psicóloga, ela não sabia quem seria.

Então Sara contou que pedira um tempo a seu namorado, não porque não o amasse mais, mas porque ela sentia não estar em controle da situação.

— A gente combina, Avery... não posso negar..., mas o que eu sinto por ele, junto ao fato de ele estar sempre viajando... eu gosto tanto dele que... não sei lidar com isso... eu não sei se quero viver minha vida assim...quando eu o vi com aquela mulher... eu me perdi...fiquei com tanta raiva...

Avery ouviu com cuidado o relato de Sara. Levou um segundo para tentar fazer sentido do que ela disse, então perguntou.

—Sara... você acha que esta situação vai voltar a se repetir? Que você vai sempre perder a cabeça assim? Em qualquer outra situação da sua vida, em qualquer outro relacionamento?

—Não, nunca..., mas é precisamente por isso...

—Você por algum acaso partiu para as vias de fato? Você agrediu a moça que estava com ele?

—Não..., mas eu queria...queria voar para cima dela e arrancar os cabelos dela! E as bolas dele depois que descobri que ela era uma ex dele...- Sara riu depreciativamente da situação.

—Sara... precisamente, você queria, mas não o fez. E não há histórico nenhum de qualquer comportamento agressivo seu...

—Não há histórico meu, mas há na minha família... eu me lembro bem...meu pai... ele era extremamente violento com a minha mãe...dizia que a amava e que ela o fazia perder o controle... que ela o provocava... minha mãe é uma mulher muito bonita, e simpática... ela era agregadora, sabe, e as pessoas viviam a cercando... e o meu pai... ele não sabia lidar com esse jeito dela...ele perdia o controle quando minha mãe não estava por perto quando ele queria... e a raiva que eu senti, naquele instante... eu não quero viver essa estória de novo...

—Não é só porque isso aconteceu com seus pais que vai acontecer o mesmo com você...

Mas ao que parece, Sara não deu muita atenção para a fala de Avery. Agora que ela começara, todo o medo que ela sentia foi saindo de sua boca.

—Eu me sinto igual a ele nesse aspecto... desde que eu conheci o Gil, na verdade... a gente brigou tanto no início... ele me punha tão nervosa... e depois... a gente começou a sair...e eu achei que pudesse levar na boa esse aspecto da nossa relação... mas a gente fica semanas sem se ver às vezes... e quando ele está aqui eu só quero ele para mim... e é óbvio que ele não pode parar a vida dele para mim... mas eu me recinto disso, do trabalho que para ele é tão importante... e você sabe...minha mãe deixou de trabalhar para atender aos caprichos do meu pai... porque ele era egoísta e a queria só para ele... eu me sinto assim... com o Gil... eu o quero para mim... e eu não posso aceitar isso...

Sara caiu no choro logo após seu monólogo. Avery simplesmente deixou a moça chorar, e quando ela conseguiu se conter ofereceu uma caixa de lenços de papel para que ela secasse as lágrimas.

—Escuta, Sara... acredito que você está sendo rígida demais consigo mesma... eu entendo seu receio, dado o que vivenciou com seus pais... é verdade que muitas vezes repetimos certos comportamentos deles em nossas vidas, mas também é verdade que o erro deles nos ensinam tantas coisas... um grande exemplo disso é essa sua atitude de se apartar de seu namorado, no lugar de ficar com ele e machucá-lo...não vê? Você já é tão diferente dele... você é a sua própria pessoa! Os genes que eles nos passam são tão pouca coisa se comparado com tudo o mais que compõe a nossa personalidade... talvez você até seja predisposta a se enraivecer com maior facilidade, como seu pai, mas isso não significa que você terá as mesmas respostas que ele teve...

—Eu posso ter conseguido isso até agora, mas quem garante que seguirei assim? Meu pai mesmo não foi sempre assim...

—Ninguém pode prever o futuro, Sara. Eu não sei te dizer o motivo do seu pai ter agido do jeito que agiu, mas eu posso garantir que o simples fato de você se preocupar com isso já demonstra que vai ser mais difícil cair nos mesmos erros que ele... e não é justo com seu namorado, ou qualquer um que possa vir depois dele, ficar colocando em seu relacionamento um fardo que não é de vocês... ele por acaso sabe sobre isso?

—Sobre os meus pais? Sim...mas eu nunca disse ter medo de...

—De ser como seu pai?

—Sim... ele ficou tão desapontado comigo... ele disse que eu estava escolhendo para ele...

—De certa forma, foi o que você fez. E você nem deu chances de ele se defender...ele sabe como você se sente com relação a carreira dele?

—Não... eu disse, não quero ser egoísta e pedi-lo para ele desistir do sonho dele...

—E quem disse em pedir para ele desistir do sonho dele? Sara, ele precisa saber como você se sente...não tenha medo de parecer algo que você não é! Diga a ele seus receios e seus desejos, e se ele achar que pode modificar algo que você não goste sem abrir mão do que ele quer também... querida, você não é egoísta só porque deseja atenção do seu homem. É natural...só não é justo fazer dos dois miseráveis por conta de um medo do futuro... converse com ele, e você verá...

As palavras de Avery acalentaram o coração de Sara. Ela ainda tinha medo da intensidade do que sentia por Gil, mas conseguia agora ver que havia sim verdade no que sua chefe lhe disse. Ela precisava confiar em Gil e no relacionamento deles, não dando espaço para o passado, dele ou dela, afugentá-los de algo que tinha tudo para ser sensacional... ela estava pronta para falar com Gil. E só precisava esperar mais dois dias para que o amado voltasse para casa.

Último dia de jogo dos Devils em LA

Las Vegas, 5:30 am.

 

Sara acordou cedo aquela sexta-feira. Sabia que Gil teria um jogo logo cedo e que estava programado para chegar em casa para o fim da tarde. Ela não poderia ver o jogo pois estaria em seu horário de trabalho mas aquilo não era o que mais importava. Sentia saudades de seu homem e queria mais que ele voltasse logo para casa.

Com preguiça de levantar, pegou seu celular e abriu o Instagram, no intuito de ver as postagens dos Devils que perdera nesses dias. Ela rolava o feed tranquilamente, vendo as já esperadas fotos dos jogos anteriores. Em uma delas, seu namorado fora clicado no momento em que deslizava pela quarta base, garantido uma corrida para seu time. Mas foi quando clicou no perfil particular dele – criado especificamente por Catherine no intuito de “promover” o jogador, que seu sangue gelou. Pois que ali, em modo público para quem quisesse ver, estava seu amado deitado, com sua habitual cara de menino, ao lado de uma menina qualquer, que fazia biquinho para a foto e estava coladinha no jogador, que aparentava não ter roupa alguma na hora da foto. O celular deslizou de sua mão e caiu em seu abdômen, enquanto Sara tentava fazer sentido daquela foto.

******************************BATTERUP******************************

—Gilbert! Gilbert! Acorda logo, cara!

Gil despertou de seu sono pesado por seu amigo, DB, quem parecia muito preocupado com alguma coisa.

—Tá, tá, já acordei! Mas o que está havendo, hein? - Gil se levantou lentamente da cama, com cuidado para não agravar a musculatura das costas logo cedo. Ficou aliviado quando não mais sentiu as fisgadas do dia anterior, e foi então que reparou que ele e o amigo não estavam sozinhos no quarto.

—Júlia! - Gil foi tratando logo de se cobrir com o lençol que havia escorregado para o lado quando DB o sacudiu. Não queria ninguém o vendo de cuecas enquanto pudesse evitar.

—Agora você se preocupa com sua modéstia é? Grande homem!

Gil se assustou com a fala ríspida de Júlia, ela nunca o destratara antes.

—Amor...- D.B.  a repreendeu de leve, mas sua cara também não era a das melhores- Gil... no que você estava pensando, cara?!

—Do que vocês estão falando? - Gil respondeu, não gostando nada de ser acusado assim que acabara de acordar.

—Disso! - DB jogou seu celular no colo do amigo, e logo Gil pegou o objeto e viu a foto incriminadora.

—Mas que merda é essa?!- ele exclamou ao ver-se deitado com uma mulher...-Amber...

—Ah, então esse é o nome da vagabunda?!

—Jules, por favor, você não tá ajudando! - o namorado ralhou com ela.

—Mas o que é que ele queria levando uma mulher dessas para a cama? É claro que ela iria aprontar uma para ter seus 15 minutos de fama.

—Eu não me deitei com mulher alguma! -Gil se defendeu, ainda olhando sem acreditar para a foto em suas mãos, a qual a cada segundo ganhava um novo comentário, os quais não fazia questão de ler- E muito menos dei permissão para me fotografar assim! Você deve ter visto, DB, eu tomei um remédio para dor e dormi...

—Sinto muito, amigo... mas a Jules me surpreendeu com uma visita surpresa e passei a noite com ela... mas se você não entrou com ela, como é que ela conseguiu essa foto?

—Eu não sei, sei? Estava dormindo! - ao ver a cara de incredulidade de Júlia ele respondeu – Tomei relaxante muscular, daqueles que te apagam, tá? E não ajudou os copos de Whisky que tomei antes. Eu juro que não sei como ela entrou aqui, não fui eu quem convidou.

—Os outros jogadores tão falando que essa moça estava toda em cima de você ontem à noite, e que você e ela sumiram ao mesmo tempo...- DB avisou ao amigo. Enquanto confiava em Gil, DB sabia que a situação não era muito boa para o lado do amigo.

—Eu fui atender a uma ligação de Sara lá fora, depois fiquei conversando com o técnico e voltei sozinho para o quarto.

Os três pararam de falar ao ouvir o som de um celular tocando em algum canto do quarto. Júlia o encontrou e entregou a Gil, e o jovem fez uma careta ao ver o nome de Catherine no visor.

—MAS QUE MERDA VOCÊ ESTAVA PENSANDO, GILBERT!!!

—Não. Fui. Eu- Gil respondeu pausadamente e quando a amiga gritou novamente o jogador simplesmente desligou na cara dela e mandou uma mensagem, dizendo a mesma coisa que falou para DB e Jules. Como esperado, ela ligou novamente e Gil atendeu- Se for para gritar comigo eu desligo o telefone e bloqueio teu número!

—Não vou gritar...ainda... eis o que você vai fazer para limpar essa bagunça...

******************************BATTERUP******************************

A primeira parte do plano de Catherine foi fácil. Ele apagou a postagem e bloqueou sua conta temporariamente. Ela lhe disse que esperasse a poeira baixar e depois ele escreveria um texto falando o que aconteceu. O que ele imaginou ser difícil era achar a danada da garota que causara todo aquele problema e garantir que aquela foto desaparecesse.

No fim, encontrar Amber não foi difícil. Catherine sugerira mandar alguém convidar a garota para que Gil não fosse visto com ela novamente. Jules e DB se encarregaram disso, e a moça foi de bom grado até o quarto de Júlia com a mesma.  

—Olá, Gilly, sabia que você pediria por mais- a cara de pau da garota já foi logo se jogando para cima do jogador, que logo tratou de se afastar dela.

—Vamos parar com joguinhos, Amber. Nós dois sabemos que não rolou nada entre a gente. O que eu quero saber é como você conseguiu entrar lá no quarto e porquê? - ele disse enquanto a mantinha segura pelos braços, a uma boa distância dele.

A menina sorriu e mordeu os lábios, querendo ser provocativa, mas Gil estava pouco se lixando para isso. Largou a garota e deu as costas para ela por um segundo, tentando manter a compostura.

—Você sabe que eu posso te processar por violação de privacidade, não é?

—Você não faria isso por uma simples foto, não é? Afinal você me prometeu uma foto e depois me abandonou...eu só queria o que você me prometeu...

—Não era esse tipo de foto que prometi..., mas ainda assim...você invadiu meu quarto!

—Não invadi...tinha a chave...seu amigo me deu...disse que você estava me esperando, mas quando eu cheguei lá... você estava apagado...e como eu disse, eu peguei o que você me devia...

—Conte que amigo foi e eu prometo esquecer essa estória toda...

—Foi o seu segundo batedor.

—Que maravilha! Ótimo, agora, eu preciso que você apague essas fotos do seu celular.

—Porque eu faria isso?

—Porque eu não autorizei essas fotos...olha, se quiser eu tiro uma outra com você agora. Empresta o teu celular que a minha amiga ali bate.

Amber pensou um pouco mas entregou o celular a Julia, que prontamente pegou o celular e com alguns cliques apagou as fotos da memória e o devolveu a sua dona.

—Ei!

Mas Gil e Julia já se mandavam dali. Antes de partir, porém, Gil lembrou

—Se meu nome ou foto aparecer associado a você te meto um processo tão bem feito que irá se arrepender...

******************************BATTERUP******************************

DB estava escorado na parede em frente ao quarto de Júlia, esperando sua namorada e amigo saírem dali. Quando a porta abriu DB se ajeitou, mas Gil passou por ele sem lhe dirigir uma palavra. Em seguida veio Júlia e o namorado logo perguntou o que havia ocorrido.

—Não temos tempo, DB- ela respondeu já saindo atrás de Gil- Foi o Dean que armou tudo isso e tenho medo que Gil faça algo que possa se arrepender depois!

O casal saiu então à procura do amigo, porém Gil estava muito à frente deles. DB sabia que devia seguir até o refeitório, onde seu time estaria tomando café antes de seguirem para o estádio. Como era de se esperar, Gil chegara primeiro ali e DB só pode ouvir o técnico dizer uma frase antes do tumulto começar.

******************************BATTERUP******************************

—Ah, então finalmente resolveram aparecer! – Gil ouviu seu pai cumprimentá-lo, mas sua atenção não estava em seu velho. Esquadrinhou o local à procura de seu alvo e quando o viu, voltando do buffet com um prato de ovos na mão, foi logo em sua direção.

Dean pareceu não se atentar que o perigo se aproximava, mas DB sim, e foi em direção aos dois. Tarde demais. A primeira coisa que Gil fez ao chegar perto de Dean foi empurrar o jogador e gritar com ele.

—Qual o teu problema, teu filho da puta! Você acha divertido brincar com a vida dos outros!!

Dean, que acabara derrubando o prato a seus pés com o empurrão, encarara a Gil com um ar de deboche.

—Ei, Bert, pega leve! Achei que depois de passar a noite com aquela belezinha de mulher você pudesse acordar mais relaxado! Tanto estresse faz mal para...AHH

Dean levou um soco na cara e foi ao chão. O ataque fora tão inesperado que as pessoas em volta só ficaram olhando, embasbacadas, o que deu tempo para Dean se levantar e ir lavar sua honra. O que se sucedeu foi um festival de pancadarias e xingamentos, inclusive para cima de quem foi tentar separar os dois. Como eram dois homens fortes, não foi tarefa fácil, e a confusão acabou atraindo até mesmo os seguranças do hotel.

Com os dois jogadores detidos, cada um a um canto, William ficou olhando de um a outro sem saber o que faria. Era incompreensível para ele o que ocorrera ali. Ele nunca vira seu filho tão fulo quanto agora. Como pai, ele gostaria de ir até ele e perguntar o que diabos acontecera ali. Como técnico, entretanto, sabia que não poderia escolher lados da situação. Olhando mais uma vez para Gil, viu DB e uma moça conversando com o filho e tentando acalmá-lo. Assim sendo, Will foi ter com o outro jogador.

—Você, viu, professor! Ele me atacou gratuitamente! É um desequilibrado!

—Custo a acreditar que ele não tenha sido provocado, Dean... você e ele tem uma rixa conhecida- ponderou William.

—Senhor, acredito que este tenha sido o estopim- a moça que estava com DB entregou a ele um celular.

—E quem é você? - William quis saber. Não iria confiar em qualquer um ali.

—Júlia Finlay, senhor. Namorada do DB, e amiga e Gil.

Antes que William pudesse responder, o gerente do hotel veio até eles e após uma pequena discussão o time de Vegas foi orientado a se retirar do local. William mandou seus jogadores irem até seus quartos e se arrumarem para sair do hotel dentro de 45 minutos. Mas segurou Gil, Dean e DB, querendo tirar aquela confusão a limpo.

—Ok, não temos muito tempo, então serei breve. Não quero saber de motivos ou de rixas. Vocês são adultos e deviam se comportar como tal. - William começou após ouvir cada relato dos fatos- Além de mal-estar dentro do time, estas brigas mancham a reputação do clube e de vocês mesmos. Minha vontade era de proibir os dois de jogarem hoje, mas o time já está desfalcado demais. Por isso vocês vão jogar, mas não esperem que nada vai acontecer quando regressarem a Vegas. Agora vão antes que eu mude de ideia. Quero os dois aqui embaixo com o time em 15 minutos. Fui claro?!

—Sim, senhor.

—Ótimo!

William observou os jogadores irem embora, acompanhados de perto por dois auxiliares técnicos dos Devils.

— O que eu vou fazer com eles, DB?

—Não sei, senhor... mas Dean tem que ser repreendido. O que ele fez foi uma puta sacanagem com o Gil... não só manchou a imagem dele como também...

—Vamos rezar para Sara não ter visto isso...

******************************BATTERUP******************************

O ônibus dos Devils deixou os jogadores no Centro de Treinamento pouco antes das 18 horas da noite. O time havia perdido o último jogo para os Padres de LA, e estavam todos com o moral lá embaixo. William dispensou os jogadores e foi conversar com Doug, pois o gerente precisava saber do ocorrido.

Gil seguiu cabisbaixo até seu carro. Ele não conseguia acreditar como o dia tinha sido improdutivo. A derrota para os Padres era algo indigesto, mas era corriqueiro nos esportes. Não era isso que o incomodava. Só de pensar em Dean e no que ele fizera, o sangue de Gil fervilhava de ódio. Tantas vezes hoje ele se pegara imaginando as formas que poderia acabar com a raça do colega com seu taco de basebal. Talvez os colegas percebessem isso, pois não deixaram os dois um segundo sequer sozinhos...tanto melhor, Gil decidiu, ele não precisava de um homicídio para estragar sua vida, mais do que estava.

Assim, Gil se dirigiu para casa e foi com imenso alívio que encontrou o apartamento vazio. Nick estava viajando com o time de Futebol Americano, Warrick corriqueiramente passava as noites com sua nova namorada, Tina, e Jim estava em Nova Jersey, visitando os pais.

Após um banho relaxante, Gil tomou o celular em suas mãos e, com receio, discou o número de Sara. Enquanto esperava a amada atender, seu coração parecia querer saltar da boca. Ele não tinha como saber se ela vira a postagem antes de ele ter conseguido apagar. Se tivesse visto, Gil temia que Sara não respondesse a ligação.

—Gilbert!

Gil estava tão nervoso que quase deixou o celular escorregar da mão, ao ouvir a namorada responder.

—Honey, oi... eu voltei...

—Está em seu apartamento? - ao julgar pela voz de Sara, ela não parecia muito irritada.

—Sim...

—Eu saio do trabalho daqui a meia-hora... posso passar aí?

—Claro...honey, eu...

—Gil, a gente conversa mais tarde- Desligou o telefone sem mais nada falar. Gil suspirou profundamente e relaxou no sofá. Ao menos ela se dispusera a encontrá-lo.

 Aquele tempo em que ele ficou aguardando a chegada de Sara foi um dos piores de sua vida. Muito nervoso para ficar sem fazer nada, Gil resolveu tentar cozinhar algo para eles comerem. Decidiu que uma quiche de queijo e salada era o melhor que podia fazer, e colocou uma garrafa de vinho branco para gelar. Talvez se ela bebesse o suficiente poderia perdoá-lo mais rápido, não?

Estava tão distraído em seus pensamentos que quando a campainha tocou, quase quarenta minutos mais tarde, Gil se sobressaltou. Rapidamente foi abrir a porta e, como sempre, ele perdeu a fala ao ver sua amada em sua frente, após aquele tempo todo de separação.

Sara não estava muito diferente do que o habitual. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo, e ela usava calça social cinza e uma blusa de botões bege. Ainda assim, a visão dela sempre arrancava um sorriso bobo de seus olhos. Para ele, Sara era a visão mais linda do universo. Sem pensar muito, foi o que ele falou a ela.

Sara corou e desviou o olhar.

—Posso entrar, Gilbert?

—Ah, claro.

Gil deu espaço para a moça entrar na casa. Fechou a porta e ficou com uma cara de paspalho a encarando.

—Gil? Tá tudo bem? - foi quando Sara reparou em seu rosto machucado, e foi em sua direção- Mas o que aconteceu com você? Andou brigando!

—Ah...foi o Dean...mas... isso não vem ao caso agora...Sara... eu queria...

Um assovio alto veio da cozinha. Era o timer do fogão, avisando que a quiche estava pronta.

—Ah, eu fiz o jantar...só um instante que...

Gil foi até a cozinha e desligou o fogão.

—Deixa isso para lá, Gil... eu preciso falar com você.

Gil se apoiou no eletrodoméstico e seus ombros caíram. Ele esperava que pudessem ao menos trocar uma conversa amigável durante o jantar, antes de entrarem naquele assunto. Na verdade, ele estava apavorado com aquilo! Toda a coragem que tivera ontem durante a conversa com seu pai se esvaíra durante o dia.

Como se estivesse indo em direção a sua morte, Gil se virou e andou até a sala. Devagar, sentou-se no sofá e esperou que Sara fizesse o mesmo. Em vez de sentar no outro sofá menor ao lado- como ele esperava que ela fizesse- Sara se acomodou a seu lado. Não tão perto como ele gostaria, mas o suficiente para que ele pudesse sentir o cheiro do perfume dela. Ela devia ter aplicado mais uma camada antes de vir encontra-lo. Outro sinal positivo, talvez?

Criando uma coragem que ele não sentia no momento, Gil esticou sua mão e buscou a de Sara, fazendo com que a morena o encarasse.

—Honey... eu sinto muito...- ele colocou todo o seu pesar naquelas palavras. Toda a dor que ele sentira aquela semana longe dela, todo o desespero que passara ao se ver em uma foto numa posição desconfortável com uma estranha.

A reação da morena ao ouvir aquela fala foi de se retesar e largar a mão do homem. Se até aquele momento ela parecia, se não relaxada, mas confiante, agora parecia que uma sombra se apossara dela.

—Porque você sente muito, Gil?- dessa vez sua voz saiu chorosa- Não me diga que sente muito por ter...por conta daquela foto que postaram hoje?

Gil recolheu a mão que estava no colo de Sara e passou pela lateral do rosto, em um gesto que Sara associava a nervosismo. Ela sentiu uma dor imensa no peito. Não podia ser verdade... ela se recusara a acredita no que vira. Imaginou que ele teria uma boa explicação para aquilo.

—Sim...mas...honey, não é o que parece! Eu não a convidei, não dormi com ela, eu juro!

Sara cruzou os braços e se virou para o outro lado.

—Eu não quis acreditar, Griss... eu não pude acreditar que você faria isso comigo...mas – ela limpou uma lágrima que escorria em seu rosto- porque você se desculparia se não houve nada? Como é que aquela mulher foi parar lá?!

—Sara...- Gil saiu do sofá e se ajoelhou aos pés da amada- Foi o Dean... ele armou para mim...esse cara tem algum problema comigo, ele deu a chave do meu quarto para ela... honey... eu peço desculpas por te fazer sofrer por isso, mas não porque te traí... e sim porque você teve que ver isso... eu devia ter sido mais cuidadoso...

—Sim, Gil!- ela se levantou- Devia.... como é que deixou ela tirar uma foto e postar?!

—Honey... eu nem vi- ao olhar incrédulo dela ele completou- Estava com dores, então tomei um relaxante muscular, e misturei com whisky...

—Você não bebe mais...

—Sim... mas naquele dia...

Sara encarou o jogador ali, parada no meio da sala. Gil não ousou sair do lugar em que estava ajoelhado. Se preciso fosse, ele ficaria ali à noite toda, pedindo clemência por parte dela.

—Eu não vou mentir, Gil... fiquei muito mal ao ver aquela foto... mas eu quis acreditar em você... eu acredito que você não é desse tipo... se você me diz que nada aconteceu... é sua consciência...

—Eu juro...honey, eu nunca menti para você e sabe disso...

Sara se aproximou de Gil novamente e passou a mão no cabelo do jovem, depois desceu até a face dele. Sentando-se novamente no sofá ela perguntou.

—Foi por causa disso que você e Dean brigaram?

Gil pegou a mão de Sara e levou até a boca, depositando ali um beijo.

—Sim... eu não vou aturar mais ele fazendo essas merdas...

O casal se encarou naquele instante, e o desejo de unirem suas bocas podia se ver refletido em cada par de olhos. Não aguentando mais a separação, Gil aproximou seu rosto do de Sara, mas parou quando ela segurou o rosto dele com as duas mãos.

—Mas não foi somente por isso que eu vim aqui, Gil.

O jogador gemeu seu desgosto e deitou sua cabeça nas pernas de Sara.

—Honey...por favor... eu te amo... não faz isso comigo...

Sara sentiu o rosto molhado de Gil e afagou seus cabelos.

—Gil...Gil. Olha para mim, por favor...- quando ele finalmente levantou a cabeça pode ver também as lágrimas da morena escorrerem em seu lindo rosto- Gil, eu te amo, tanto... mas... eu tive medo... de não ser o que você precisa e...

—Mas isso é ridículo, Sara! Eu já te disse isso alguma vez?

—Não, mas...

—Olha... eu fiquei miserável sem você do meu lado...nada tinha graça se eu não pudesse compartilhar com você...

—Eu não tinha como saber isso, Gil... você mudou tanto esses últimos tempos... está sempre pensando no trabalho e, embora eu te apoie 100% nisso... você nem percebeu que nós ficamos de lado... e eu não quero que você escolha entre o seu sonho e eu... eu me senti tão mal com isso...eu não quero ser essa pessoa amarga e egoísta...isso não é amor, entende?

Gil não se surpreendeu com a fala de Sara. Seu pai o havia alertado sobre isso. Era até engraçado pensar que aquele homem que não conhecia sua namorada direito pudesse acertar com tanta propriedade os sentimentos dela. E por ter recebido ajuda de seu pai ele soube o que responder.

—Então se você está se chamando de egoísta, não se esqueça de colocar meu nome nessa lista aí... se você é eu também o sou... Sara, eu tenho essa tendência de... de ver o mundo somente através dos meus olhos... eu sou muito determinado com as coisas que eu quero, e posso me perder nesse meu mundo...isso é bom para mim, mas para os outros nem tanto... mas isso não significa que meus sonhos não te incluam...honey, eu nunca quis tanto ninguém na minha vida o quanto eu te quero...garota nenhuma me fez chorar, Sara, e só você me faz rir tão fácil...

—Então nós dois somos cabeças-duras?- Sara falou.

—Duríssimas... a gente se merece, não acha?- ele disse enquanto se sentava ao lado dela no sofá. Sara deitou a cabeça no ombro dele e fechou os olhos. Gil encostou sua cabeça na dela e suspirou- Você me promete que vai me falar a próxima vez que se sentir assim? Eu posso ser meio tapado para essas coisas Sara, mas nada nesse mundo me importa mais do que ter você...

—Eu prometo... se você me prometer que vai ser cuidadoso com meus sentimentos... você tem meu coração em mãos, Gil... não se esqueça disso...

Gil apertou seus braços ao redor da cintura da namorada, seu coração agora mais leve. Naquele momento, ele fez uma promessa a si mesmo, de que não mais faria sua morena sofrer...

Após a DR , o casal resolveu comer a janta preparada por Gil. Depois de tanto tempo longe , entretanto, era natural que seus corpos gravitassem para perto do outro. As mãos nunca ficavam longe demais que não pudesses acariciar uma parte do outro. O desejo de estar perto fez com que Gil fizesse Sara sentar em seu colo. Logo eles perderam o interesse na refeição, no intuito de saciarem uma outra fome.

Apesar do desejo latente, o casal tomou seu tempo para redescobrir os corpos um do outro. Fizeram amor lentamente, ali mesmo no chão da sala, em cima do tapete felpudo que a mãe de Nick certa vez colocara ali. Ficaram ali mais um tempo, com a garrafa de vinho, os corpos colados um no outro. Que o mundo lá fora explodisse, porque os dois amantes finalmente se reencontraram.


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Notas finais do capítulo

Desculpem o capítulo longo, mas é que tinha muita coisa para contar e não achei que ficaria legal separá-lo pela metade. Bjoo



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