Batter Up escrita por Carol Bandeira


Capítulo 48
O jogo virou


Notas iniciais do capítulo

Bom dia!

Olha eu aqui com mais um capítulo feito com muito amor!
Espero que esteja agradando quem estiver lendo.

Boa leitura!



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— Eu ainda não acredito que você não vai aceitar nenhuma proposta!

Catherine falou ainda muito impressionada com a atitude do amigo, e não de um jeito positivo. Gil somente riu e continuou a cortar seu bife.

Os dois amigos encontravam-se em um restaurante perto do estádio dos Devils, para discutir os detalhes da carreira de Gil. De início a conversa se focou nos fatos pessoais, como acontece sempre entre dois bons amigos. Foi somente quando os pratos foram pedidos e entregues que Catherine começou a tratar dos assuntos do dia.

—Gilbert... você não vai me explicar o motivo de não aceitar nenhuma das propostas? O time de NY quer você, e você aí com essa cara de paisagem?!

—Olha, Cath- Gil falou com um sorriso no rosto, após colocar os talheres no prato calmamente- Eu fiquei lisonjeado, realmente. É uma honra ter recebido esse convite deles, mas... eu pensei bem e.… não é esse o caminho que eu quero levar minha carreira, não por enquanto.

— Eu não entendo!- ela disse um pouco mais alto do que deveria, dado o número de cabeças que se virou para eles- Não era esse seu sonho, se destacar na Major League? Qual jeito melhor de se fazer isso do que jogando em um dos melhores times?!

— Sim, esse é o meu sonho. Mas eu posso alcançá-lo de outros jeitos. E você me conhece, Cath. Eu fiz uma promessa aos Devils, um contrato de quatro anos, e pretendo honrá-lo. Além do mais, esse é o nosso ano, Cath, eu sinto isso. Nós vamos chegar até a final.

Catherine ficou observando o amigo enquanto falava, e tinha que admirar sua paixão ao defender seu ponto de vista. Mas a loira não era burra, ao contrário do que se dizia por aí, e tinha quase certeza de que a opção de Gil por permanecer em Las Vegas dizia muito mais respeito a uma certa morena e  , mais recentemente, ao pai de Gil. Talvez ele sentisse que não era ainda a hora de impor as dificuldades de relacionamento à distância a ambos.

—Bem, a escolha é sua. Agora resta a mim encontrar um jeito de dispensar esse povo todo sem estragar um potencial contrato futuro.

— E você é excelente nisso, tenho certeza que conseguirá- Gil pegou seu copo de suco e elevou um pouco, em uma espécie de saudação à amiga. Catherine sorriu e balançou a cabeça. Quando Gil queria, ele sabia muito bem ser um fofo.

— Tudo bem, chega de tentar me comprar com elogios baratos. Ainda tem algo que gostaria de falar com você.

—Sou todo ouvidos.

Então Catherine falou de uma outra ligação que recebera de uma certa loja de artigos esportivos, bem famosa na cidade. Eles gostariam de oferecer um patrocínio em troca de Gil estampar umas campanhas deles na televisão.

—Não mesmo!- desta vez foi o jogador a exclamar, e a amiga observou a pele dele adquirir um tom de vermelho-vivo.

— A não, Gilbert! Essa eu não te deixo escapar! Eles estão nos oferecendo grana em troca de umas míseras fotos! Qual é o problema?

—O problema é que eu não sou galã de novela para ficar me exibindo por aí!

—Eu não acredito que você está recusando dinheiro por vergonha!

—Não é vergonha!- Gil mentiu deslavadamente, e tratou logo de arrumar uma desculpa para sua recusa- Afinal, qual interesse eles podem ter em um simples jogador de basebal?

—Não sei... talvez o fato de ser uma loja de artigos ESPORTIVOS, e você ser um jogador PREMIADO, e não prejudica nada o fato de você ser um gato- Catherine falou tudo isso com um ar displicente, como quem não disse nada demais.

Gil mirou a amiga com um ar raivoso, não encontrando uma única falha na sua lógica.

—Tá... mas tirando o dinheiro, o que eu lucro com isso?

— Bom, de começo, mais marketing... construir uma imagem pessoal é tudo Gil, e isso não ocorre só fora do campo. Não vai te machucar ter seu nome estampado em alguns lugares... e você sempre pode negociar os termos de seu contrato, não é mesmo?

—É... eu acho...

—Gil...

—Por que eu acho que você ainda não falou o mais importante até agora?

—Porque você me conhece muito bem. Estive pensando... sobre o seu posicionamento de imagem. Quero dizer, no campo você manda bem, todo mundo diz isso. Mas fora isso, ano passado não foi muito bem... você quase não aparece, não dá entrevistas e todos sabem do seu relacionamento difícil com seu pai. E eu gostaria de mudar isso... quero dizer, olha para o ano passado e me diga se é essa mesma a imagem que você quer passar. Pensa nos garotinhos que sonham em ser um jogador profissional um dia? Você é mesmo um bom modelo para eles?

**********CSI**********

As palavras de Catherine ficaram com Gil uma boa parte daquele dia. Na reapresentação do time, no treino na academia, no vestiário. E a conclusão à qual ele chegou não o agradou. Ele se comportara como um garoto, um inconsequente, a ponto de se alienar de todos os amigos. E seu relacionamento com o time também sofreu. Definitivamente, sua amiga estava certa. Ele teria que pensar em como resolver esse assunto. E a resposta veio de uma fonte inesperada.

Gil ia em direção a seu carro no estacionamento quando ouviu o barulho de um carro que não pegava e uma pessoa muito irritada. Andando mais a frente o jogador encontrou seu técnico/pai saindo do carro e levantando o capô do mesmo. Praguejou mais um pouco ao notar que começava a sair fumaça do motor.

O jogador aproximou-se do pai sem que o mesmo notasse, e disse:

— Que merda, heim!

O velho , não esperando ninguém atrás dele, tomou um susto daqueles e bateu a cabeça no capô do carro.

—Mas que merda, Gilbert! Você quer me dar um ataque do coração, hein?

Rindo da situação, o jovem respondeu ao pai:

— Nada disso, só não pude perder a oportunidade! E pensei que o senhor estivesse precisando de ajuda.

Ainda com a mão na cabeça William apontou para o carro e disse:

—Se você tiver alguma afinidade por mecânica, então preciso.

Gil não precisou nem olhar o motor do carro para saber que não teria condições de consertar o veículo.

—Pelo som que essa belezinha aí estava fazendo, tenho certeza de que ela precisa de um mecânico de verdade.

William murmurou alguma coisa sobre latas-velha e tirou o telefone do bolso. Falou rapidamente com o seguro do seu automóvel e desligou.

—Bom, vou ter de esperar o pessoal do seguro mandar alguém vir aqui.

—O senhor quer companhia enquanto espera?

—Você não tem uma bela companheira te esperando em casa?

—Não... hoje não combinamos nada juntos...- Gil segurou a vontade de perguntar se o velho tinha “alguém” o esperando em casa também. Realmente não queria essa intimidade toda com seu velho.

Pai e filho não precisaram esperar muito para o reboque chegar e logo os dois já partiam para casa no carro de Gil. O caminho, como sempre, foi feito em silêncio. Will pensava no dinheiro que teria de desembolsar no conserto do carro, enquanto Gil pensava se poderia contar com a experiência do pai para o ajudar com seu problema. E somente decidiu quando chegaram à casa do velho.

—Gil, gostaria de entrar e tomar um café comigo?

William resolveu aproveitar da boa fase de convivência com seu filho para tentar estreitar os laços com o garoto. Para sua sorte, aquele convite viria a calhar para o filho, e o jovem o aceitou de bom grado.

— Parece que isso está se tornando um hábito, não é?

Mais uma vez Gil brincou com o pai, dessa vez enquanto os dois se sentavam à mesa da sala de estar.

— Se você pode chamar dois encontros esse mês de um hábito...- devolveu o pai, também em um tom cordial.

— Exato, esta será a terceira vez que o senhor me chama para sua casa, sem contar aquela vez em dezembro. E o senhor sabe que para algo se tornar um hábito deve ser repetido 3 vezes, então- o jovem afirmou e o pai não teve porque refutar. Aquilo para ele soava como paraíso, após tanta turbulência com o filho.

—Então, Gil, alguma novidade?- Will perguntou, querendo arranjar conversa.

—Nada demais. Só que...

Gil hesitou e baixou a cabeça, admirando a xícara de café em suas mãos. O objeto era daqueles de alumínio, idêntico ao que havia em sua casa quando morava com os pais. William se dizia muito atrapalhado e preferia os utensílios domésticos em materiais que não fossem quebrados tão facilmente. Assim que William os abandonou, sua mãe trocara todo o aparelho de jantar por porcelanas. Gil tomou um gole do café e voltou o olhar para o pai. O senhor parecia entender que ele tinha algo importante a dizer e se manteve calado.

—Catherine, ela é minha agente- William assentiu, lembrando da jovem loira que vira e mexe aparecia nos treinos- Ela acha que eu pisei na bola o ano passado. Diz que talvez eu precise refazer minha imagem.

— E o que você acha disso?- William perguntou.

Ele sabia o que era lidar com agentes e com técnicos. Na verdade, qualquer pessoa que estava ligada a um jogador achava que tinha o direito de se meter na vida profissional dele, e ele bem lembrava como isso o incomodava.

 - Eu... não sei. Embora não goste da ideia de me expor para a mídia, eu entendo como isso pode ser importante para minha carreira. Mas ao mesmo tempo... eu me lembro de como é... como foi ruim para nossa família quando o senhor estava jogando... como isso arruinou...

—Gil, pare.

O jogador encarou o pai, achando que falara demais. Sabia que o passado de William não era bom, mas não achava que ele sentiria tanto a ponto de não querer discuti-lo. Mas o olhar do pai não mostrava dor, somente compreensão.

— Eu entendo o motivo de você associar a imprensa como algo de ruim na vida do esportista. Por isso eu te peço, não deixe meus erros atrapalharem a sua vida, Gil. Diga para mim, qual é o motivo de você querer ser um profissional do basebal.

A pergunta pegou Gil desprevenido. Foi tão fora da tangente que ele demorou um tempo para raciocinar.

—É....- a última pessoa a lhe perguntar isso fora o chefe de admissões em sua faculdade, e Gil era uma pessoa tão diferente naquele momento que responder com aquela resposta ensaiada já não fazia mais sentido.

—Não me diga que é para provar que você pode ser melhor que o seu velho... porque fazer as coisas só para provar para os outros que você pode é perda de tempo.

Realmente, esse foi o maior motivo para Gil chegar aonde estava agora. Ele era grande o suficiente para admitir que não era um bom motivo, assim como seu pai falou. E era esse o motivo de Gil ter agido da forma como agiu nos últimos tempos.

Só que agora ele tinha uma visão diferente. E era isso que ele precisava passar para as pessoas que se importavam com ele.

—Eu sempre gostei de jogar, o senhor sabe. A sensação que tenho quando estou no campo, é...é como se eu vivesse para executar aquela batida perfeita, sabe? Quando você pega a bola na hora exata e sente que ela vai virar um homerun...é excitante. É como seu eu tivesse nascido para fazer isso, entende? E eu não sei o que faria se não fosse o basebal. Ele é minha identidade, é o que eu sei fazer... que mais motivos o senhor quer.

William sorriu. Era isso que precisava ouvir. Porque quando era ele o jogador, ele gostava do jogo sim. Mas ele gostava mais era da atenção que o jogo lhe propiciava. As pessoas iam embevecidas falar com ele, pedir autógrafos. Chegou a um ponto que ele gostava mais de estar embaixo dos holofotes do que sentir aquela batida perfeita a que Gil mencionara. O basebal era um meio para um fim. Para seu filho, o contrário era verdadeiro. Ele amava o jogo como a um ente da própria família, e William o admirava por isso.

—Isso é ótimo, filho. E até onde você pretende levar sua carreira?

—Até o topo.

—Então ouça o que eu tenho a dizer. Se você quer chegar ao topo, não pode pegar atalhos. Vai ser difícil, você terá de abdicar de muita coisa. E terá de ouvir sua amiga também. O público precisa te conhecer e te amar. Um ídolo sempre traz gente ao estádio. Se você quiser chegar ao topo ,meu filho, tem que ter sangue nos olhos.

Gil ouviu tudo o que o pai disse e decidiu. Ele daria tudo o que era pelo esporte.  


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