—Sara, aqui!

Sara ouviu uma voz conhecida gritar seu nome e se dirigiu até a mesa onde estavam seu primo o Morgan Brody. A morena adorava ver os dois juntos, pois era óbvio a atração da loira pelo jovem a seu lado. Sara só não tinha certeza se Greg correspondia o sentimento ou não, mas a julgar pelos últimos meses, os dois passavam uma grande quantidade de tempo juntos.

—Oi! O que estão fazendo aqui fora? Não é hora de aula? - ela perguntou enquanto Greg puxava uma cadeira para a prima sentar.

—O professor de Química Inorgânica está em um Simpósio- foi Morgan quem respondeu- Mas deixou uma porrada de trabalho!

Ela apontou para a papelada em cima da mesa de vidro. Os garotos estavam no pátio interno, ocupando uma das mesas da cafeteria da faculdade, tentando pôr ordem no trabalho passado pelo dito professor.

Sara deu uma espiada no conteúdo do trabalho e sorriu.

— Eu até curtia química, mas meu forte é Física aplicada. Se não eu ofereceria ajuda a vocês.

—Sem problemas, Sara! - respondeu Morgan.

— E você, o que faz aqui? Sua pós-graduação já não terminou? - Greg emendou.

—Sim. Mas eu me inscrevi em um curso de extensão, sobre Linguagem de Sinais.

—Querendo impressionar a sogra ou o namorado? - Greg quis saber.

—Ninguém! Eu só quero poder ser capaz de conversar com Betty sem ter que recorrer a Gil.

Até porque seria difícil recorrer a seu namorado para qualquer coisa nesses últimos meses. Desde o início do ano Gil adotara uma nova postura com relação a sua vida de atleta. Se Sara o achava um profissional dedicado quando começaram a namorar, agora Gil elevara a categoria dedicação a um novo patamar.

Seu namorado tinha passado a investir em um regime alimentar rigoroso. Ele já não comia mal, mas em seu cardápio nos dias de folga eram regrados a alimentos gordurosos e álcool. Não mais. E aliado a um condicionamento físico puxado, ela nunca o vira em melhor forma. Ele confidenciara a ela uma noite que nunca tivera uma musculatura tão delineada, o que vinha ajudando em seu desempenho em campo. Com sua ajuda, os Devils conseguiram uma invejável marca de 20 jogos de invencibilidade num total de 25 partidas.

A rotina dele se tornara tão apertada que Sara estava quase solicitando a ajuda de Catherine para marcar uma hora para encontrá-lo. E quando conseguia uma horinha do dia para eles, o namorado não conseguia parar de falar em técnicas e estatísticas do jogo. O filme preferido dele ultimamente? Os jogos de seu próximo adversário, para que pudesse analisar as melhores táticas de jogo.

Assim, mesmo sendo uma namorada compreensiva e entendendo o quanto o basebal era importante para ele, Sara estava cansando disso e olha que só se passaram três meses!

—Ah, eu queria tanto fazer esse curso! - Morgan comentou- Mas a minha grade está complicada demais para tentar fazer mais uma matéria.

—Se quiser eu posso te ensinar, Morgan. Quero dizer, eu preciso mesmo treinar...

— E o melhor jeito de aprender é ensinando, não é? Eu adoraria !

—Mas porquê, você não vai treinar com o seu namorado, Sara? Ele deve ser fluente já .- Greg perguntou, curioso que sempre era para saber do caso da prima com o tal jogador.

 -Ah... ele mal tem tempo, Greg. Tão ocupado com os Devils...

—Verdade, você namora o Grissom! Sempre me esqueço!- Morgan falou, mas Greg não pode deixar de notar no tom triste de sua prima ao falar do namorado.

—É, Morgan... ela namora a estrela do momento de Vegas. Mas ao que me parece nem tudo está tão bem entre eles...

Sara não gostou nada de Greg ter tocado no assunto na frente de Morgan, e já foi se levantando sem ao menos pedir algo para beber.

—Olha, se você vai começar com a implicância, eu...

A explosão de Sara sobressaltou os outros dois, mas Greg logo se recompôs e impediu a prima de sair segurando a alça da bolsa dela.

—Espera aí, Sara... eu só me preocupo com você! Deveria ter escolhido outro jeito de me expressar, é certo, mas...eu te conheço, você tá precisando desabafar... você pode falar comigo, e com a Morgan também. Eu confio nela, e ela é ótima nos conselhos.

Sara de um puxão na bolsa para tirá-la da mão de Greg mas ainda assim não saiu. Ela encarou o primo com uma expressão séria.

—Prometa que não vai ficar de implicância com o que eu disser? Que não vai falar mal do meu relacionamento?

Sara pensou que era maluca em cogitar falar de seus problemas amorosos logo para Greg, mas afinal, com quem ela poderia conversar? As mulheres com quem ela era mais próxima também eram amigas de Gil. Ela não conseguia se imaginar reclamando do namorado para Cath ou Julie sem isso chegar a ele. E ela não queria aparecer como alguém que não queria apoiar seu homem, mas tinha medo de ser exatamente essa a imagem que passaria caso comentasse isso com as garotas. Entretanto, ela precisava urgentemente desabafar.

—Ok- ela se sentou novamente e fez sinal para um garçom, pedindo uma água e um brownie. Tinha a sensação que o açúcar seria necessário nesta conversa.

—Ok... eu amo o Gil... amo muito. Esses dois últimos anos com ele foram ótimos. Nós tivemos nossas desavenças e tal, mas... eu sentia que ele queria superar sabe, que ele estava ali junto comigo. Mas agora...- Sara parou de falar ao sentir vontade de chorar. Ela não sabia o porquê de estar tão emotiva esses dias, geralmente ela era bem forte- Agora ele está mais convicto do que nunca em ganhar essa temporada. Tá treinando tanto, tanto... e ele parece estar me deixando de lado e eu... eu detesto esse sentimento de ... eu não sei, será que dá para ter inveja de um esporte?

Sara deu uma risada forçada, querendo ao menos modificar o tom de sua fala, mas não surtiu efeito.

—Eu não quero impedi-lo de seguir os sonhos dele, sabe..., mas... eu só queria ter certeza de que esse sonho dele ainda me inclui, porque parece que ele está se afastando cada vez mais de mim.

—Ah, Sara... sinto muito que esteja passando por isso- Morgan falou em um tom baixo, mas caloroso.

Greg ficou um momento calado, querendo racionalizar dentro de si todo o sentimento que nutria por aquela situação. Ele podia dizer que se sentia vingado, por todo aquele tempo que passou tentando mostrar a ela que Gil era um ser egoísta, não digno de namorar uma moça tão legal quanto ela. Mas prometera a prima, então tentou escolher com cuidado as palavras que usaria.

—Olhe, Sara. Eu acho bem legal o fato dele estar se dedicando tanto. Isso é essencial para os atletas de alto rendimento come ele. Dito isso... ele não está errado em se dedicar. Se ele não conseguir brilhar agora, bem, as carreiras de atletas terminam muito cedo não? Ele tá fazendo o que precisa fazer, e acredito que cabe a você decidir se é isso que você quer para a sua vida. Se ele é o homem certo para você e vice-versa.

Sara escutou a conversa toda de cabeça baixa. Ela entendia o que o primo queria dizer. Mas não queria acreditar que o relacionamento dela poderia ser analisado de maneira tão clínica.

—Nossa, Greg! Sempre achei que você fosse mais romântico!- Morgan logo interviu- Tá certo que a Sara pode olhar por esse lado, mas eu não acho que as coisas são assim, tão preto no branco. Você disse que ama o Gil, não é mesmo, Sara?

—Ah... sim, eu o amo.

—E ele, você acha que ele te ama?

—Sim... ele não é de dizer muito, mas eu sinto que sim... ao menos, sentia.

—Então, é isso. Se ainda há amor, há esperança. Fale com ele, Sara. Perca esse medo de confronto que muita gente tem. Diz a ele tudo o que sente. E pergunte aonde ele quer chegar, e se ele vê esse futuro junto com você? Sabe, às vezes a gente fica tão imerso sobre os nossos problemas e nos esquecemos de olhar para os lados. De ver que tem gente ao nosso lado, pronta para nos ajudar. A gente só precisa buscar- ela terminou a fala dando uma piscada de olho para a morena.

—Gente... muito obrigada por ouvirem e pelos conselhos- Sara não sabia bem o que falar, a não ser agradecer. Ela precisava processar tudo aquilo, e agradeceu quando o garçom voltou com o pedido dela.

—Hummm, esse brownie parece uma delícia. Moço, traz um para mim?

Sara sorriu com o jeito de Morgan, e percebeu que Greg também olhava a amiga com um riso no rosto. O grupo de amigos então partiu para uma conversa mais amigável enquanto desfrutavam dos doces. O clima da conversa ficou mais ameno até Sara se levantar para ir embora, dizendo que precisava deixar os dois voltarem ao trabalho.

Ao dar um abraço em Greg ela falou bem junto ao ouvido dele, para que Morgan não ouvisse.

—Acho que você devia chamá-la para sair- deu um beijo nele e se foi, sem ao menos esperar para ver o rosto do primo se tornar um impressionante vermelho-escarlate.

CSICSICSICSICSI

Gil voltou para casa tarde da noite, cansado, mas satisfeito com mais um bom dia de treino. Seu time teria uma sequência de jogos em casa, e a venda de ingressos atingira seu ápice. Logo o time todo se esmerava para honrar à torcida.

Ao abrir a porta da sala e encontrar o cômodo vazio, Gil estranhou. Geralmente a essa hora seus amigos estavam todos amontoados ali, comendo qualquer besteira e jogando conversa fora. O jogador então se dirigiu a seu quarto e não pode deixar de soltar uma exclamação ao ver sua porta. Alguém achara engraçado pegar cada foto publicitária em que ele aparecera e colar em seu quarto.

O fato de Gil estampar algumas capas de jornais e revistas sempre fora alvo de zoação naquela casa. Os meninos aumentaram a brincadeira, entretanto, quando Gil também começou a participar da campanha de uma ou outra marca relacionada ao esporte. E a prova estava ali, em sua porta. Vários recortes de Gil, hora em seu uniforme, hora fazendo merchand de uma bebida isotônica.

Enquanto observava a “arte”, os culpados saíram todos do quarto de Nick, e este último aproveitou para tirar uma foto de Gil naquele momento.

—Mas que lindo, Gil! Não sabia desse seu lado narcisista!

—E eu não sabia do seu lado palhaço!- Gil caçoou- Qual é, gente! Não sabia que vocês se importavam tanto comigo a ponto de gastar dinheiro atrás de fotos minhas em revistas!- devolveu o jogador em um  momento de inspiração.

—Ei, isso tudo foi ideia do cowboy ali!- Jim disse ante a provocação- Eu não sou desses de ficar babando atrás de homem!

—Não vi você reclamar até agora- Nick rebateu, todos de bom humor.

—E você, Rick? Achei que fosse mais maduro que isso?- Gil falou, apontando para o amontoado de recortes atrás de si.

—Tem horas que é mais fácil concordar do que fazê-los mudar de ideia.

—Ok, ok. Agora que já riram as minhas custas, quem vai me ajudar a tirar essa porcaria daqui?

De repente, todos os amigos lembraram-se que tinham coisas urgentes a fazer e sumiram dali mais rápido que o diabo foge da cruz. Gil praguejou um pouco e , resignado, foi retirar as imagens de si da porta.

“Até que eu saí bem nessa aqui...” ele pensou ao retirar a primeira foto. Mas nunca iria admitir isso na frente de Nick, é claro.

Até o momento Gil não estava ligando muito para esse aumento de publicidade que ganhara. Ao menos ele não vira nenhuma reportagem negativa com seu nome. tais campanhas. Até mesmo para fotos nas redes sociais, seja a pessoal ( por insistência de Catherine ele agora tinha conta no Instagram) quanto profissional. O setor de marketing dos Devils estava apostando alto na popularidade de Gil, e o requisitava sempre que queriam passar alguma campanha. O jogador só agradecia de não estar passando por tudo isso sozinho, visto que os outros jogadores também estrelavam tais campanhas.

Claro que ele podia muito bem passar sem tudo isso. Aquelas sessões de fotos tiravam dele um tempo precioso, no qual ele podia muito bem estar treinando ou então aproveitar com sua namorada. Pensando nisso, Gil percebeu que não falara com ela o dia inteiro. Ele decidiu que ligaria para a morena assim que tomasse seu banho. Talvez eles pudessem fazer algo juntos amanhã após o trabalho dela...

CSICSICSICSICSI

Gil estava esparramado na cama , tentando negociar por telefone para que sua namorada fosse assistir ao treino deles do dia seguinte quando Warrick entrou apressadamente no quarto de Gil, assustando o jovem.

—Gil, desculpa interromper, mas você tem que ver isso!

—Sara, só um instante- ele pôs a mão no bocal do celular e respondeu- Agora não, Rick. Tô ocupado, não vê?

—Mas é importante, cara. É sobre o Ian...

—Hã? Sara, só um instante, eu já te ligo.

Desligou o celular e levantou da cama de súbito, preocupado com a cara de Warrick.

—O que está acontecendo, cara?

—O Ian, cara... ele se envolveu em um acidente de carro.