Batter Up escrita por Carol Bandeira


Capítulo 47
Bandeira branca


Notas iniciais do capítulo

Toc,toc,toc
Tem alguém aí?
Espero que sim
Boa leitura!



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Apesar de não estar muito feliz de estar na cidade do pecado, o jovem estava alegre de ter a mãe como companhia. Assim que vira seu filho, a senhora o encheu de beijos e abraços, mostrando preocupação com o pé do machucado. Após assegurar a mãe de que já estava curado, os dois seguiram viagem. O plano era deixar as coisas de Betty em casa e após isso, o destino final seria um restaurante elegante, onde eles encontrariam Sara e surpreenderiam Betty com o presente de Natal antecipado de Gil. Ingressos para o show de natal do Cirque de Solei. Após o evento, eles iriam assistir à missa do Galo, como era de costume de sua mãe. Gil mal poderia esperar para ver a cara de surpresa de sua mãe.

Foi somente quando os dois chegaram em casa e Gil depositou as malas da mãe em seu quarto- ele dormiria no quarto de Brass- que puderam conversar. E foi aí que Gil reparou em algo curioso. Sua mãe estava nervosa. Com o que ele não sabia, mas podia muito bem adivinhar. Afinal, ela estava igualzinha assim no ano passado. E a razão de seu nervosismo estava também em Vegas.

Em vez de ficar nervoso, como era de habitual, Gil tomou as mãos da mãe nas suas, deu um beijo nelas, soltou-as e indagou:

“Então, mãe... você tem falado com meu pai ultimamente, não é?”

O assombro da senhora com a pergunta do filho se refletiu em seu rosto.

“Como...como você sabe? Vocês tem se falado fora do clube, também?”

Gil teria achado graça de ver a mãe se enrolando com os gestos das mãos. Era difícil de acontecer, deixá-la nervosa assim. Mas o assunto era sério, e o jovem não gostou nada do que a mãe entregou com a fala dela.

“Não, mas ultimamente, toda vez que eu te vejo nervosa é porque tem relação com ele!” Se os gestos nervosos de Gil não mostravam sua contrariedade, bem, o rosto dele contorcido numa carranca não deixava dúvidas a Betty que ela havia se complicado para o lado do filho. Mas a senhora também não deixaria por menos.

“ Se eu fico nervosa por mencionar seu pai pode apostar que é por sua conta! Você sempre se contraria ao falar dele!”

“Por que será, mãe?!”

Tudo o que menos queria era se alterar com sua mãe, ainda por cima por causa de William. Então Gil passou as mãos no rosto, suspirou fundo, e só então respondeu a mãe, que o observava com ares de preocupação.

“Desculpe-me por isso, mãe... eu e William... bem, não somos os melhores amigos do mundo, mas já aprendi a aceitá-lo novamente em minha vida” Gil descansou as mãos, deu uma risada forçada e levantou os ombros “Eu só não gosto de ouvir você falar dele... acho que ele não merece seu perdão...”

Betty, os olhos marejados ante a última fala do filho, passou as mãos no ombro de Gil e deu nele um longo abraço. O jogador relaxou nos braços da mãe e encostou o rosto no pescoço dela, ficando os dois um minuto assim, só curtindo o abraço de que ambos sentiam tanta falta.

Assim que saíram do abraço Betty fez questão de olhar nos olhos de Gil e falar:

“ Eu entendo sua posição, querido, de querer me proteger... mas eu te juro, não há nada que possa me ameaçar em minha relação com seu pai... nós nos falamos semanalmente, sim. Mas é mais para meu benefício do que o dele. Afinal, ele sabe mais da sua vida esses últimos meses do que eu...se você ao menos telefonasse mais...” Betty alfinetou o filho, querendo provocar um sorriso no momento tenso.

Gil deu um meio sorriso. Desde que saíra de casa para frequentar a faculdade sua mãe reclamava de receber poucas notícias do filho. Não era agora que iria parar, ele sabia.

“ Falando sério, mãe. Não posso te impedir de falar com o velho, se é isso que a senhora quer... mas o que está te deixando nervosa hoje? Tem algo que eu precise saber?”

Em sua cabeça, já imaginava o pior. Sua mãe iria dizer que resolvera dar uma segunda chance para William e que viria viver em Vegas com ele.

“Ok...você sabe como essa época do ano é importante para mim, como católica. É uma época de comemorar o nascimento de um ser benevolente, uma época para ser comemorada em família. E, tendo em vista tudo isso, bem, eu gostaria de saber se há espaço no seu coração para deixar as desavenças de lado e convidar seu pai para passar o Natal com a gente.”

Gil nada falou. Ele simplesmente baixou a cabeça e a balançou negativamente.

Betty fez Gil novamente levantar a cabeça e, ao ver o sofrimento nos olhos do filho disse:

“Tudo bem, Gil... eu não quero fazer nada que vá te tirar a paz. Eu vou tomar um banho e me arrumar para encontrar a Sara. Em quanto tempo saímos?”

Confuso com a resposta da mãe, Gil olhou o relógio e disse que tinha uns quarenta minutos antes de precisarem sair. A senhora deu um beijo no filho e se retirou para o quarto.

Gil ficou a observar a mãe se afastar, novamente com um peso no peito. Não era do feitio dela desistir das coisas facilmente, ao menos quando o assunto era importante para ela. Pensou então no que ela lhe dissera, sobre a época do ano e como esta era importante para ela. Gil realmente não queria fazer desfeita para a mãe e estragar o feriado que a senhora tanto amava. Resolveu então ligar para sua namorada. Ela o ajudaria a ver uma luz para aquela situação.

Assim, quando ele e Betty se reuniram novamente na sala, Gil elogiou a elegante roupa de sua mãe e lhe deu talvez o melhor presente de natal que ela podia querer.

 “Mamãe... eu pensei melhor sobre o que a senhora me pediu. Se for realmente importante para você, pode convidar meu pai para o Natal.”

  “Gilbert... você sabe que eu não pediria isso se não o fosse...”

 “Eu sei... embora não entenda... mas isso não vem ao caso. Mas veja bem, eu faço isso por que te amo muito, não por ele. E dito isso, não me peça para ser a pessoa a convidá-lo. Eu já falei com a Sara, os avós dela não se importam de pôr mais um lugar à mesa para o almoço de natal...só há um problema. Eu e Sara queríamos fazer uma surpresa e... compramos ingressos para o show do Cirque du Soleil, na véspera de Natal. Mas ele não poderá ir com a gente, não há ingressos.”

Assim que terminou de falar sua mãe se jogou em seus braços e o encheu de beijos. Gil sorriu e apertou a mãe contra o peito. Ele amava aquela senhora, não havia nada que ele não fizesse por ela. Incluindo aturar seu pai no Natal.

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O dia 25 de dezembro amanheceu friorento, e Gil só fez se aconchegar mais na cama e se enroscar em sua namorada. Ainda cansado, Gil alcançou o celular que deixara no criado mudo antes de ir dormir, vendo que ainda era cedo. Eles não precisavam sair de casa antes do meio-dia, e seu pais só chegaria ali as 11 hs. Havia ainda o detalhe de abrir os presentes embaixo da árvore, mas Gil já não ligava muito para isso. Afinal, que homem em sua sã consciência preferiria presentes ao aconchego do corpo da mulher que amava?

Decidindo então por ficar na cama, Gil devolveu o celular ao móvel e voltou a deitar, abraçando a namorada com cuidado. A jovem acordou com o movimento, e se virou, encostando o rosto no peito do namorado.

—Hummm, que horas são?

—Ainda cedo, honey- ele beijou o topo da cabeça dela- volte a dormir.

—Tá...

O casal adormeceu novamente e Gil só acordou duas hora mais tarde, com um cheiro delicioso vindo de algum lugar da casa. Gil reconheceu o cheiro na hora, e seu estômago roncou. Eram os biscoitos de gengibre de sua mãe. Agora sim aquele dia estava se tornando mais um natal! “Mas antes disso” Gil pensou, e começou a beijar levemente o pescoço de Sara. Ele observou a jovem se mexer, roçando-se inocentemente em seu nada inocente namorado.

Gil esperou a morena abrir os olhos para lhe beijar a boca e fazer com que ela deitasse em cima dele.

—Bom dia, meu amor!

—Dia, Gil. Feliz Natal!

Sara beijou o namorado docemente, mas o homem logo aumentou a temperatura do beijo. Sentindo o desejo de Gil , Sara logo acordou e respondeu de acordo. Gil já estava com as mãos por debaixo da camisola da namorada quando Sara também sentiu os maravilhosos cheiros da cozinha, e se lembrou de quem também estava na casa com eles. Foi a deixa para ela praticamente pula de cima de Gil.

—Gilbert! Sua mãe! Esqueci completamente!- ela sussurrou enquanto ajeitava a camisola.

Se não estivesse com uma dolorosa ereção, Gil teria achado graça da reação pudica de Sara.

—Amor, vem cá... ela não vai escutar nada. É surda!

Gil falou enquanto puxava Sara para si, sem nem se importar com o tom de voz.

—Eu sei, mas mesmo assim!

—Mesmo assim o que?

—Eu não vou fazer isso com ela aqui... ela vai saber!

—E daí, Sara?- Gil não aguentou e teve que rir- Você não vai fazer “isso”? Amor, quantos anos você tem?

—Não zoa comigo, Gilbert! Eu sei que ela sabe que a gente... a gente transa, tá ok?- ela ficou ruborizada com a fala, fazendo com que Gil risse mais ainda- Mas eu não acho certo , é falta de respeito!

Agora Gil parou de rir legal.

—A não... Sara, pera aí... a mamãe vai passar a semana toda aqui com a gente. Você tá querendo dizer que enquanto ela estiver aqui...

Sara afirmou com um movimento de cabeça.

Gil se jogou na cama e gemeu.

—Você não espera que eu acorde todo dia assim né, e não tenha nada para me aliviar!- Gil apontou para a ereção que ainda mantinha por sob a cueca que usava.

Sara olhou para onde o namorado apontou, e teve que desviar o olhar. Ela queria sacanear ele por ter rido dela, mas somente de olhar para aquele volume ela já sentia uma pontada no ventre.

Seu namorado, que não era bobo nem nada, percebeu a situação e tentou usá-la a seu favor.

—Bem, já que é assim... vou ter que cuidar disso da velha forma solitária.

Gil levantou da cama e começou a retirar o pijama quentinho que usava, bem na frente da namorada. Ao retirar a cueca, ele se virou para ela e disse.

—Vou tomar um banho. Sozinho...

E se dirigiu ao banheiro.

—Filho da .....

E foi atrás do namorado exibicionista.

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De banho tomado, o casal foi a procura da matriarca da família, que se encontrava a mesa da sala, com uma xícara de café fumegante e o jornal do dia. A mesa estava toda posta, com variadas comidas e bebidas.

 “Uau, mãe! Isso aqui tá parecendo aqueles cafés de novela!”

“Feliz Natal, meu querido! Eu sei o quanto você gosta das nossas tradições, então tentei trazer um pouco delas para Las Vegas”

Gil sorriu e puxou a mãe para um abraço apertado. Depois foi a vez de Sara fazer o mesmo. E se Betty havia reparado nos cabelos molhados do casal, não falou nada, para alivio de Sara.

 A pequena família curtiu o café juntos, sem pressa. Gil comeu por demais e depois foram até a árvore de Natal trocarem presentes. Betty ficou surpresa com a linda echarpe de seda com que Sara lhe presenteara, e a morena ficou comovida com a paisagem do Píer de São Francisco que Betty pintara para ela.

   Nem a chegada de William acabou com o bom humor de Gil. O homem tinha assistido a Missa do Galo com eles na noite anterior, e Gil o tratara como sempre, com cordialidade. O homem chegou trazendo mais presentes, recebendo em coro palavras de “não precisava” tanto de Gil quanto de sua mãe. Mesmo assim, ele entregou a Betty e a Sara pequenos embrulhos e a Gil ele fez menção de entregar, porém se reteve. Ao ver aquilo, Sara puxou Betty pela mão até a cozinha, achando por bem dar espaço aos dois.

— Era para eu ter lhe dado isso aqui no seu aniversário de 18 anos... é uma tradição na família sabe... era para eu ter te levado para acampar, eu, você, uma garrafa de Whisky, uns charutos... coisas idiotas, sabe...

 William estendeu o embrulho para Gil, que o pegou . Era uma pequena trouxa de couro, e dentro continha um canivete suísso.

—Foi de seu tataravô, que passou a seu bisavô.... você entende a linhagem não é? O material é bom... sempre útil de se ter consigo...

  -Obrigado, William... mas eu não tenho nada para você...

   -Só de ter me aceitado aqui já é um presente, Gil.

 -Ok... eu vou guardar isso aqui e vou me arrumar. Daqui a pouco partiremos para a casa da Sara.

 E deixou William sozinho na sala, desejando que uma vez o filho pudesse abrir o coração para ele novamente.

Quando a família Grissom chegou à casa da família Ollaf foram recebidos com muita festa. Logo Papa Ollaf já puxava William para uma conversa sobre baseball, aparecendo com uma bola um tanto gasta, que ele dizia ser de um jogo que ele assistira de William, a qual ele pedira para assinar.

 -Ótimo- Gil resmungou- Agora William vai ficar se achando...

  -Bem, tal pai, tal filho...

  Gil se virou e viu Greg, encostado na parede atrás dele. O jovem não estava nada satisfeito que a família de Grissom tivesse invadido sua casa.

  A vontade de Gil era responder ao moleque, mas sabia que aquela não era a hora nem o lugar para isso. Vendo que não ganharia resposta, Greg deu de ombros e se mandou dali, e Gil foi procurar a namorada, que estava conversando com um outro homem o qual Gil nunca vira pessoalmente, mas sabia que era por fotos..

—E você deve ser o Gilbert- cumprimentou Steve, o irmão de Sara.

—Em carne e osso- os homens trocaram um aperto de mão e após isso Gil passou o braço pela cintura de Sara- Fico feliz em te conhecer, Sara só tem coisas boas a dizer de você.

— E isso me surpreende!- Steve brincou, deixando claro que a velha dinâmica de implicância entre irmãos se aplicava também naquele relacionamento.

 E apesar de ter por companhia duas pessoas com quem não se dava bem, Gil conseguiu passar uma tarde de Natal agradável ao lado das duas famílias. Ele esperava que aquela reunião animada fosse um presságio para seu futuro com Sara.

Assim, ao final do dia Gil foi embora com seus pais, deixando a namorada na casa para aproveitar sua família, que iria embora no dia seguinte. A pedido de sua mãe, Gil a deixou em casa primeiro e foi levar o pai em casa. Assim que ficaram os dois sozinhos William já tentou uma conversa.

 - Achei a família de sua namorada encantadora.

  -Eles são legais.

   Silêncio.

 - Eu me surpreendi quando você me apresentou como seu pai, hoje cedo.

  -Por quê? Afinal, você o é.

  -Deve ser porque você insiste em me tratar como um estranho...

   William viu o filho segurar o volante com força antes de responder

  -Deve ser porque você se tornou um estranho para mim.

  -Touché... sempre bom com as palavras, não é Gil?

  -Nem sempre...

 William se cansou das respostas monossilábicas do filho e só se prestou a dar instruções do caminho o resto do trajeto. Foi somente quando chegaram a sua casa que voltaram a se falar.

   -Muito obrigado, filho. Por ter me permitido participar do seu Natal.

   -De nada- Gil respondeu sem olhar diretamente para seu pai.

    William respirou fundo e disse

   -Até mais, filho- e foi em direção a sua porta. Quando não escutou o motor do carro liga, entretanto, ele se virou novamente e viu seu filho na mesma posição em que o deixara.

  -Você quer entrar, Gil? Parece que tem algo a me falar.

 Gil fez que sim com a cabeça e seguiu o pai até sua casa. Era um pequeno apartamento no térreo. Consistia apenas de uma sala, quarto, cozinha e banheiro.

  -Não é muita coisa, mas sendo somente eu...

 Gil continuou calado, as mãos no bolso da calça. William foi até a geladeira e retirou duas garrafas de cerveja, entregando uma ao filho e se sentando no sofá.

Gil abriu a garrafa em sua mão e deu um grande gole. Havia tanta coisa que gostaria de dizer ao pai, mas sua garganta seca não o permitia falar.

— Minha mãe esteve muito feliz hoje...

—Eu também estive feliz... e tive a impressão de que você também se divertiu.

—É... foi bom...

—Gil... por que não me diz o que está em sua cabeça?

—Você não está tentando reatar com a minha mãe, não?

—Se por reatar você quer dizer nosso casamento.. não, não estou. Não vou mentir, Gil, eu gostaria muito que sua mãe me aceitasse assim, novamente. Mas também estou muito feliz de poder tê-la como amiga.

Gil não gostou de ouvir aquilo, mas tinha de admitir que o pai fora corajoso ao falar com tanta franqueza. E Gil queria também falar com franqueza com o pai. Queria lhe dizer que estar naquele ambiente tão família, com várias gerações de pais e filhos, vendo-os interagir... Geralmente, ao estar com a família de sua namorada, Gil sentia um vazio ao pensar que por muito tempo não teve aquilo com seu pai.  Mas hoje, ele tinha os pais ao lado, e eles interagiam com ele e com os pais de Sara.... aquilo mexeu com Gil de uma maneira que ele não pensou ser possível. Era uma sensação de completude que ele não sentia há muito tempo. Mas ele não sabia como por tudo aquilo em palavras.

— William... pai... eu não...  eu ... gostaria de pedir desculpas pelo meu comportamento... o senhor errou mas... ficou no passado... eu quero construir um futuro bom para mim, e se o senhor quiser... quero sua presença nele...eu nunca pensei que fosse dizer isso mas... sinto a sua falta.

Pronto. Não havia mais o que dizer. E dada a reação de seu pai, fora o suficiente. O homem tinha lágrimas nos olhos e um pequeno sorriso no rosto.

Aquele fora sem dúvida o melhor Natal de sua vida.  


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