O ano que começara muito mal para os Las Vegas Devils parecia ter virado para a melhor. O time, considerado como azarão pela maioria dos comentaristas de esporte, fizera uma incrível sequência de 10 jogos de invencibilidade. A cidade estava em polvorosa com o sucesso de seu time nativo e a maioria dos treinos agora ganhavam cobertura nos jornais da cidade. Gil, ao lado de Ian, era um dos mais assediados, o que deixava o jogador contrariado.

— Eu não te entendo, Gil- comentou Jim uma noite, quando seu amigo reclamava de sua sina ao se ver novamente como assunto da Gazeta Esportiva- Não era você quem queria ser um jogador tão famoso quanto seu pai? Bom você está no caminho certo.

Jim jogou o jornal em cima do amigo e saiu da sala. Ele estava saindo com uma mulher que conhecera no trabalho, e a julgar pela felicidade do amigo, as coisas estavam dando certo para ele.

Gil pegou o jornal e o folheou. Ele também iria sair hoje, mas tinha que esperar Sara chegar. Parou na sessão de esporte, a qual tanto o incomodava e olhou para a foto que estampava a matéria. Era ele se preparando  para rebater uma bola no treino. Sabia que Jim estava certo. Se ele queria refazer o caminho do pai, fazendo melhor do que o velho fizera, era óbvio que enfrentaria os mesmos problemas.

A bem da verdade, Gil nunca dera muita atenção a esse lado obscuro da fama em seus planos. Quando pequeno ele não entendia muito bem o porquê dos seus pais brigarem tanto, afinal eles escondiam muita coisa do filho. Mas ele hoje sabia que a invasão da privacidade da família sempre fora um motivo de contenda dos pais. E agora ele estava levando os mesmos problemas a sua vida. Gil já até podia ver sua mãe lhe dizendo, “ eu te disse”. Seria bem dado, o jovem sabia. Teimoso que era, porém, Gil resolveu não dar mais atenção a isso e somente jogar seu jogo.

Um tempo depois Jim se despediu e abriu a porta, e do outro lado encontrou Catherine. A loira parecia bem triste, e Jim deu nela um beijo, um abraço e a empurrou para Gil. Seu amigo era melhor equipado para lidar com as crises dela, e ele tinha compromisso.

Quando Gil percebeu o estado de Cath logo largou o jornal para lá e trouxe a loira para se sentar do seu lado.

—Ei, Cat- ele enxugou as lágrimas do rosto dela- o que está havendo?

—Ah, Gil!- e desatou a chorar em seu ombro.

Somente depois de se acalmar que ela conseguiu contar que havia brigado feio com Eddie. Na mesma hora Gil teve vontade de estrangular sua amiga. Eddie foi o motivo para os dois terem se conhecido. Gil ajudara Catherine a se livrar dele em uma briga num bar. Infelizmente para Gil, Catherine não deixava de ver o rapaz. Eles tinham uma espécie estranha de relacionamento, com muitos altos e baixos. Naquela ocasião Eddie estava drogado e totalmente fora de controle. Mas Catherine jurava que desde então ele não tocara mais em droga nenhuma e nem levantara a mão para ela. Gil não entendia o porquê de Cath se sujeitar a um relacionamento desses, mas ela dizia que o amava... e todos sabiam que o amor é cego, e muitas vezes burro. Então os dois amigos tinham um acordo. Ela não contava sobre Eddie e Gil não perguntava. Até aquele momento.

— Mas o que foi que esse babaca fez com você agora?

Gil perguntou, já nervoso, mas só fez Catherine chorar mais. Nesse momento Warrick entrou na casa com Sara. Os dois estavam trabalhando juntos em mais um ensaio fotográfico.

— Ei, o que está havendo aqui?- Warrick quis saber. Estava preocupado, pois nunca vira Catherine chorar daquele jeito.

Gil sussurrou o nome de Eddie, e Rick entendeu. Sara não sabia muito bem o que fazer. Ela não conhecia esse tal de Eddie e também não tinha muita intimidade com Cath. Warrick, por sua vez, foi se sentar ao lado dos amigos e, com algum esforço, conseguiu fazer a loira soltar de Gil, permitindo que o jogador pudesse se levantar e dar um beijo em sua namorada.

— O que houve com ela?- Sara quis saber

— Problemas com o “namorado”- o jeito que Gil cuspiu falando a última palavra fez Sara franzir as sobrancelhas.

— Ele não é mais meu namorado! Aquele traste!- Catherine gritou, e Warrick quase levou a mão ao queixo. A loira deu uma cabeçada nele quando foi se levantar, mas estava tão irritada que nem percebeu.

— Finalmente você pôs um pouco de juízo na sua vida!

— Não começa, Gilbert! Não preciso de sermões! Preciso de vodka e um suco de laranja!

E lá se foi a loira até a cozinha, como se ela estivesse em casa. Warrick e Gil trocaram olhares, tentando decidir quem iria atrás dela. Como todo homem que se preze, resolveram decidir por um clássico “pedra, papel ou tesoura”. Para desespero de Sara, eles pareciam sempre escolher a mesma coisa.

—Tá bom, tá bom, eu vou!- Sara nem esperou para ver o que eles diriam. Dando as costas aos dois crianções ela resmungou- Homens...

Na cozinha, a modelo encontrou Catherine já tomando um grande gole de seu drink. Sara se sentou em um dos banquinhos e Catherine indicou a garrafa de vodka com a cabeça, perguntando sem palavras se ela queria se servir.

— Não obrigada.

A loira então bebeu todo o resto da bebida e começou a preparar outra. Sara ficou impressionada, afinal não era um copo de shot que ela estava servindo.

—Cath, talvez não seja a melhor ideia...

— Isso não é nada... estou bem...ou melhor, vou ficar assim que terminar isso.

—Ok... se é assim que você quer

Sara observou a jovem beber mais um pouco do drink e depois depositá-lo na mesa.

—Não é assim que eu quero...mas eu preciso de algo para aliviar a pressão, sabe? Merda do Eddie....me fazer ficar assim....- Catherine respirou fundo e bebeu mais um pouco.

Neste momento Gil entrou na cozinha, tendo sua consciência pesado por jogar sua namorada naquela estória. Catherine olhou feio para Gil e continuou a beber. O jogador chegou perto de sua namorada e perguntou baixinho:

—Honey, você se importa se a gente ficar por aqui? Não quero deixar a Catherine sozinha neste estado.

Sara respirou fundo. Ela gostaria de ficar sozinha com seu homem, mas simpatizava com as dores de Catherine. Também já tivera seu coração partido e era ótimo poder contar com amigos nestas horas.

— Ah, não- Catherine se meteu na conversa antes mesmo que Sara pudesse responder- Não vou aceitar que não se divirtam por mim! Vão, se divirtam! Não, melhor! Levem-me junto! Eu preciso dançar, ver gente!

O casal trocou um olhar...eles não tinham programado sair para dançar. Seria uma noite tranquila, um jantar e cinema. Uma sessão romântica para aflorar os sentimentos. Mas pelo visto isso não iria acontecer.

No fim, Catherine arranjou para ela, Gil, Sara e Warrick saírem para dançar numa boite chique em um dos cassinos da cidade. Sara comentou como aquele lugar era difícil de entrar. Ela sabia, pois, a maioria de seus colegas de profissão comentavam isso. Gil sabia, porém, como sua amiga era bem relacionada, e como quando colocava algo na cabeça era difícil fazê-la mudar de opinião.

Ao chegarem ao local o grupo foi dirigido para a área vip, e servidos em uma mesa com champagne. Catherine foi servindo seus amigos e brindando a vida. Logo em seguida a jovem loira desapareceu por entre as pessoas do lugar. Gil estava extremamente preocupado. Catherine já havia bebido demais antes de entrar ali, e do jeito que estava era presa fácil para qualquer cara, com más intenções ou não.

Vendo que a noite deles ia de mal a pior, Warrick intercedeu

—Gil, deixa que eu fico de olho nela, vai dar atenção para sua namorada... já estou acostumado a lidar com os beberrões

—Rick, você não sabe como essa menina dá trabalho quando está assim...

—Nada com que eu não saiba lidar.

Gil estava tentado a aceitar. Fazia um bom tempo que não passava um tempo de qualidade com Sara. Ele estava seco por uns carinhos, mas ainda assim sua consciência pesaria se deixasse sua amiga na mão.

— Não me olha com essa cara, Gilbert!- Sara logo disse ao ver o olhar do namorado para ela- A amiga é sua, se não quiser deixa-la a decisão tem que ser sua!

Gil fez um bico, suspirou e decidiu

—Tá certo...mas se precisar é só me ligar.

— Ok, divirtam-se!

Warrick foi logo engolido pela multidão e Gil se virou para Sara.

— Desculpe-me por isso, honey...

— Fica tranquilo- ela disse enquanto passava os braços pelo pescoço dele- Amigos são para isso- deu um selinho nele, e logo Gil correspondeu o beijo- Você sabe que não ficaria triste se você quisesse ir atrás dela, não é?

—Confio em você....mas também, precisamos de um tempo para nós.

O casal então foi à pista de dança para tentar aproveitar a noite. De vez em quando Sara sentia o olhar do namorado percorrer o lugar, a procura de seus amigos. Após umas duas horas, vendo que nada de ruim parecia se passar, Gil e Sara resolveram deixar a boite em favor de continuar a noite na casa de Gil. A essa altura eles teriam o apartamento só para eles. E como eles aproveitaram o resto da noite!