Full moon escrita por VickSousa


Capítulo 4
Um novo começo




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As primeiras semanas de aula foram melhores do que o imaginado. O nível de ensino da Forks High School era bem parecido com o de seu antigo colégio e Victoria estava conseguindo acompanhar a classe com maestria. Conseguiu se ambientar bem com os amigos de Bella, que a tratavam sempre com muita cordialidade, em especial Mike Newton. Descobrira eventualmente que o bom tratamento do rapaz consigo se devia a semelhança física que possuía com a irmã, pela qual Mike nutria um sentimento romântico que nunca havia sido correspondido. O garoto achava que com a chegada de Victoria, teria uma segunda chance de ser notado, já que Bella ainda gostava do Cullen. Isso, por sua vez, gerava o descontentamento de Jessica, que sempre tentava ser agradável com Victoria, mas morria de ciúmes da menina com Mike. No entanto, a nova estudante não dava muita importância para o sentimento de Mike nem para o ciúme de Jessica. Gostava de ambos como amigos, mas preferia passar o tempo com Ângela e Ben, um casal pertencente ao grupo de amizades, que a tratava com a maior naturalidade possível.

Sua relação com a irmã, porém, permanecia distante e até um pouco estranha. Isso porque, mesmo tendo apresentado a caçula para seus amigos, Bella raramente se sentava com eles no almoço ou nos horários vagos. Em casa, a mais velha respondia apenas o que era perguntado e constantemente sorria sem graça para a irmã. Aos finais de semana, ela se dirigia cedo à reserva dos Quileutes, em La Push, onde morava seu amigo Jacob e só retornava à noite. Havia convidado a mais nova algumas vezes, mas ela negara educadamente. O momento mais íntimo e fraterno que vivenciaram, foi quando Bella teve um pesadelo durante a noite e os gritos de desespero chegaram até Victoria no quarto ao lado, acordando-a. A menina correu assustada até a irmã para acudi-la e quando se deparou com ela deitada na cama, encolhida e chorando compulsivamente, sentou-se ao seu lado e acariciou seus cabelos até que a mais velha dormisse. Naquele momento, Victoria percebeu que os mesmos monstros que lhe tiravam o sono no passado, perturbavam também o sossego de sua irmã. A raiva, então, se transformou em compadecimento.

Já o relacionamento de Victoria e Charlie ia muito bem, obrigada. Ambos se davam bem, conversavam sobre diversos assuntos e até mesmo assistiam algumas partidas de futebol juntos. Não que a menina gostasse do esporte, mas assistia pela companhia de seu pai. Começava a achar que finalmente havia superado os fantasmas do passado e estava pronta para um novo começo. Mal sabia a menina que, os fantasmas tinham um ótimo serviço de localização.

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Após completar um mês de mudança, Victoria começou a sentir saudades de casa, principalmente das longas caminhadas na praia que tinha com seu velho amigo. Relembrando conversas recentes com seu pai, notou que em algum momento, ele lhe dissera sobre uma praia há alguns metros da cidade e então, foi averiguar.

— Pai! – chamou a menina enquanto se dirigia a sala de estar.

— Sim, querida? - Era sábado de tarde e Charlie estava de folga da delegacia. Colocou o jornal na mesa de centro e olhou para a menina ao pé da escada.

— Um dia desses você comentou comigo sobre uma praia aqui perto, First Beach o nome se me lembro bem. Estava pensando em dar uma volta por lá.

— Ah sim, é esse mesmo o nome. Fica em La Push. Posso te levar lá se quiser.

— É muito difícil chegar lá?

— Não, só seguir as placas. São 20 minutos de carro.

— Então posso ir sozinha! Se não for um problema...

— Tem certeza de que não quer companhia? Sei que sou apenas um velho ranzinza, mas não sou tão ruim assim. – A menina sorriu e negou educadamente. – Tudo bem querida, vá com a viatura então. Tome cuidado.

A menina então colocou um casaco mais quentinho, seus tênis de caminhada e com as chaves do carro na mão, foi em direção a garagem.

Não era exatamente confortável dirigir a viatura com todos aqueles olhares para si, mas prosseguiu seguindo a instrução de Charlie. Facilmente chegou em La Push e pode perceber de imediato a diferença da reserva para a cidade de Forks. Em La Push, as casas pareciam cabanas dispostas num gramado verde escuro e havia árvores por todo o lado. Os moradores eram consideravelmente mais simpáticos e sorridentes, além de ter uma pele bronzeada de dar inveja.

Continuou dirigindo até que chegou na praia. Era completamente diferente das praias de Port Townsed mas possuía uma beleza única. A areia de coloração cinza devido as pedrinhas que se depositavam ali, era banhada por uma extensa camada de água azul escura. Ao redor, só se podia enxergar mais espécies de árvores e plantas e a estrada pela qual se chegava ao lugar. Encostou a viatura no estacionamento improvisado e se sentou num dos troncos caídos na areia. Ficou por um tempo admirando a paisagem, até que seus glúteos formigaram e se levantou para caminhar na orla.

A praia estava vazia, exceto por um grupo de rapazes jogando bola sem camisa e um outro grupo de meninas que os observavam e davam risadinhas. A primeira coisa que pensou quando notou que as meninas estavam lá apenas para paquerar os rapazes foi que era tudo muito ridículo e elas provavelmente não tinham nada melhor para fazer. Depois riu com seu pensamento azedo e notou que ela mesma não havia nada melhor para fazer, já que passava os finais de semana fazendo tarefas de casa e nesse momento andava sozinha na praia, rindo de seus próprios pensamentos.

Foi quando ajeitou seus cabelos despenteados pela súbita ventania, que percebeu a já conhecida figura parada entre árvores localizadas à frente, que marcavam o fim da First Beach e o início de outra praia. Não, pensou. De novo não, por favor. A menina parou por alguns instantes, abrindo e fechando os olhos para ter certeza de que aquilo era mesmo real. É apenas coisa da sua cabeça, síndrome do estresse pós traumático, recordou as palavras do médico. Voltou a andar em direção a alucinação para provar para si mesma que era apenas uma miragem, fruto do amor e saudade que sentia do amigo. Entretanto, quanto mais se aproximava, mais sentia medo. Os pelos de seu corpo se arrepiavam e sentia seu estômago se contorcer.

Seu córtex pré-frontal, responsável pelos pensamentos racionais, dizia para encarar a situação de frente e ir até onde a assombração se encontrava. Já seu sistema límbico, encarregado pelo instinto de sobrevivência humano, exclamava em letras garrafais: PERIGO. Tomada pelo impulso de sobreviver, deu meia volta, se dirigindo para a viatura de Charlie.

Andava atônita pela areia da praia em busca de uma saída para o estacionamento. Tinha a respiração ofegante, as pernas trêmulas e o coração disparado. Conseguia sentir o sangue pulsando para seus músculos, levando oxigênio para que trabalhassem de maneira mais eficaz. Os olhos, já cheios de lágrimas, enxergavam a praia com turbidez. Quando olhou para trás, no intuito de verificar se a figura ainda estava no meio das árvores, trombou com o que só podia ser uma árvore, de tão rígido. O impacto da colisão fora tão grande que a menina caiu de bunda no chão e por pouco não batera a cabeça.

— Olha moça, você deveria olhar por onde anda. – Disse rispidamente o homem enorme que esbarrara em Victoria. Ele também parecia distraído, como se procurasse algo. No momento em que se deu conta de que a menina havia caído, arregalou os olhos e pegou sua mão para tentar levantá-la. – Ah meu Deus, não vi que tinha te derrubado, me desculpe.

O homem, ainda sem olhar nos olhos de Victoria, fazia força para erguê-la enquanto procurava algo na mesma direção de onde a menina fugia. Quando ela já estava quase de pé, seus olhos se encontraram. Nesse momento, foi como se nada mais existisse, além dos dois corpos unidos pelo toque das mãos e o contato de seus olhos. O homem ficou estático, a encarando como se finalmente houvesse encontrado o que há muito procurava. Se não houvesse sentido a mesma coisa que ele, a menina acharia medonha a forma como o estranho a encarou por longos minutos.

Mas medo era tudo que não sentia.  O que sentia era o toque quente do rapaz, emanando um calor que se irradiava por todo o corpo da menina. E era como se aquele calor se alastrasse por cada memória vivida pela garota. De repente, todos os acontecimentos ruins, as tristezas e preocupações se tornaram indiferentes. E todas as memórias boas não pareciam nada perto daquela que estava vivendo e das que viveria junto ao dono do calor. Era como se ele fosse o sol e Victoria a terra, sendo obrigada por uma força – quase que gravitacional – a orbitá-lo até o final de seus dias.

Foi quando um uivo distante de lobo os tirou daquele devaneio, e o rapaz num descuido soltou a mão de uma Victoria que ainda se erguia, deixando que ela caísse novamente.

— E você, pelo visto, deveria prestar mais atenção no que está fazendo. – Rebateu mal humorada o primeiro comentário do rapaz. A realidade era que nem se importava em ter caído novamente, estava frustrada pela distração ter afastado o toque do homem.

— Em primeiro lugar – disse levantando-a novamente e se certificando de que ela estava em pé – foi você quem esbarrou em mim, e segundo, não é minha culpa se a senhorita não conseguiu ficar de pé.

— Você esbarrou em mim também! Está tão distraído quanto eu! E eu não teria caído se você não fosse um brutamontes. – Então a menina se deu conta das verdades de suas palavras. Não que ele fosse de fato um brutamontes, mas era ele era enorme. Tinha um corpo atlético, com braços e abdômen definidos e era razoavelmente bem mais alto que ela. E Victoria não podia negar, ele era lindo. Tinha a pele castanho avermelhada, os olhos pequenos e negros, assim como os cabelos. Os lábios não eram grandes, mas extremamente convidativos. Notou que o rapaz vestia apenas uma bermuda jeans e tênis de corrida, devia ser um dos meninos jogando bola. E estranhamente, se sentiu como aquelas garotas que os observavam.

— Não teria caído se não fosse uma magricela! Olha, eu adoraria ficar discutindo os motivos pelos quais você se esborrachou no chão. Mas tenho coisas mais importantes para fazer. Tchau, turista. A gente se esbarra por aí. – disse piscando sarcasticamente e correndo em direção as árvores.

— Ah, mas que babaca!

E pisando fundo, se dirigiu a viatura da polícia de Forks, deu partida no carro e retornou à sua casa. Ficou tão mexida com o esbarrão no homem mal educado, que nem se lembrou de ter visto a assombração de seu amigo morto por entre as folhas anteriormente.

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Jacob corria rapidamente sentindo seus membros se expandirem até que estivesse em quatro patas, e não mais apenas duas. O cheiro doce e enjoativo havia invadido as narinas de toda a alcateia, que tirava o sábado de “folga” na First Beach. Então se dividiram, e correram para diferentes lugares de onde sentiam o cheiro.

Paul, Sam acharam alguma coisa?

— Não Jake, percorremos todo a fronteira da reserva e nada. E na praia, achou algo?

—Acabei de me transformar, o cheiro está mais fraco, mas vou averiguar. Quil? Embry?

—Nada em Forks, mas o cheiro ficou muito forte perto da casa da Bella.

— Ela está segura, mas achamos que possa ter mais de um vampiro na jogada.

—Por que demorou tanto para se transformar, Jacob?

E então, um filme com os recentes acontecimentos foram exibidos na mente de Jacob e transmitidos para os donos das vozes que ecoavam em sua mente. Jacob correndo para se transformar e percorrer o perímetro da praia. O esbarrão. A linda menina com os cabelos castanho-acobreados caindo no chão. O encontro dos olhos e o soco no estômago que fora dado em Jacob pelo tão temido e inesperado Imprinting. A breve troca de farpas e Jacob saindo correndo antes mesmo de perguntar o nome do grande amor de sua vida.

JAKE! Não acredito que teve um imprinting!

—Nossa, ela é linda!

— É mesmo... não acredito que Jacob não perguntou nem o nome dela. Nunca vai achá-la novamente.

—CALEM A BOCA! – gritou Jacob em pensamento. – Não tive tempo de perguntar nada. Precisava verificar se o lugar estava seguro.

— Fez certo, Jacob. A moça irá aparecer novamente. Vocês estão destinados a ficar juntos. O mais importante era checar se o lugar estava seguro. – disse Sam, com a voz firme de alfa. – Bom, podemos voltar ao normal e ir para casa, não há perigo.

— Ok, valeu Sam.

— Nos vemos mais tarde.

As vozes foram sumindo, até que restaram apenas Quim, Embry e Jacob na forma de lobo.

É sério Jake, se não procurar essa menina pelas redondezas, eu irei. Estou apaixonado.

— Cala boca, Quil. Ele sofreu imprinting por ela, não seja burro, ela nunca vai olhar pra você – repreendeu Embry.

— Ainda não sei o que fazer sobre isso.

— Você sabe, Jacob. Precisa procurá-la.

—Mas... – pensou em Bella.

— Bella não é seu imprinting, essa menina é. Vocês foram feitos para ficar juntos. Sei que você quer encontrá-la. Não lute contra isso. Bella nunca sentiu nada por você além de amizade, e mesmo que sentisse... não é nada como imprintar alguém.

E Embry tinha razão. No momento em que seus olhos encontraram os da menina, Jacob sentiu como se nada mais nesse mundo importasse. Não era mais a gravidade que o segurava na terra, e sim o toque de suas mãos e o encontro de seus olhos. Queria poder abraçá-la, tocá-la mais intimamente e dizer o quanto seu coração pulava por tê-la encontrado. Queria estar com ela agora, sentindo seu cheiro floral e delicado, acariciando seus cabelos castanhos-cobre e admirando seu sorriso. Queria estar dizendo a ela que a partir de agora, ela era a razão de toda sua existência.

No entanto, se preocupava com sua relação com Bella. Haviam se tornado melhores amigos, mas ele sempre sentiu algo a mais. E sempre fizera questão de deixar isso bem claro. Esse sentimento, o fazia lutar com afinco para que Bella se desligasse completamente do sanguessuga. Ela já estava superando o fato de que ele a havia abandonado, só mais um tempinho e poderia criar sentimentos por Jacob. E aí, seria tarde demais para que o Cullen pudesse colocar suas garras nela novamente. Porém, Bella jamais o escolheria se ele tivesse uma namorada. Isso poderia até os afastar e entregá-la de bandeja para o sugador de almas.

— É como eu disse. Entendo sua preocupação com a Bella mas você não pode se privar de ser feliz por conta disso.

— Embry está certo, Jake.

— Eu sei. Obrigado.

E Jacob voltou para casa correndo, carregando a menina em seus pensamentos.


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