Full moon escrita por VickSousa


Capítulo 2
Mudança de ares




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Guardava o último par de meias no bolso lateral de sua mala. Ainda não acreditava que deixaria a cidade onde cresceu, Port Townsend, para morar com seu pai na também chuvosa Forks, que ficava do outro lado da península de Olympic. Deu uma última olhada em seu quarto, agora quase sem decoração, e decidiu abrir mais uma vez a caixa surrada de papelão que ficava em cima do guarda-roupas. A caixa havia sido outrora um embrulho de presente. Agora, guardava uma série de memórias das quais a menina não queria esquecer.

Com a caixa em mãos, sentou-se na beirada da cama e encarou o vazio. Ainda era doloroso remexer aquelas lembranças. Contou até três, respirou fundo e enfim retirou a tampa azul do recipiente. Ali dentro, dispostos de maneira desorganizada, estavam fotos, presentes, recordações de eventos especiais, cartas antigas e uma blusa velha. Todos aqueles objetos, e até mesmo o cheiro que exalavam, tocavam na ferida mais profunda de sua alma. A estranha morte de seu melhor amigo Will.

Sua mãe a havia proibido de levar a caixa consigo na viagem. Dizia que aquela seria uma mudança não só de casa, mas também de vida. Deveria deixar para trás os fantasmas do passado, assim como a culpa, arrependimento e a tristeza que carregava dentro de si desde o dia do acidente que quase lhe tirara a vida. No entanto, sua mãe nada havia falado sobre não poder pegar alguns objetos que ali residiam. Retirou a correntinha de prata – o presente que Will lhe dera em seu último aniversário que passaram juntos – e a foto mais recente dos dois. Depositou a fotografia em sua mochila verde e prendeu a corrente em seu pescoço.

— Vamos, querida! Já está pronta? – gritou sua mãe do andar debaixo, tirando-a da bolha de melancolia que aquelas memórias a colocavam.

— Já sim. Estou indo! – guardou a caixa no lugar de sempre, pegou suas bagagens e se dirigiu ao carro de sua mãe para dar início à viagem até sua nova moradia.

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A viagem de Port Townsed para Forks não era nem um pouco cansativa. Apenas duas horas dirigindo pela rodovia US 101. No volante do Corsa Sedan 2002 estava Miranda, dirigindo a 80 km/h, levando seu precioso tesouro – sua filha Victoria – para morar com o pai.  Miranda era uma mulher de meia idade, com rugas de preocupação no rosto, um sorriso deslumbrante e profundos olhos azuis. Seus cabelos castanhos caíam em cascatas sobre seu ombro. Era uma mulher espirituosa, de bem com a vida e alegre. Nunca havia se casado e detestava qualquer tipo de compromisso. Sua filha, agora com 17 anos, fora fruto de uma noite luxuriosa com o pacato Charlie Swan, xerife de polícia de Forks, que na época buscava consolo para seu casamento fracassado. Embora não tivesse nenhuma intenção de firmar compromisso com o homem, jamais se arrependeria do envolvimento que tiveram, era seu sonho ser mãe. E Charlie, por mais reservado e teimoso que fosse, era uma boa pessoa e um bom pai.

Agora, Miranda enfrentava um dos maiores desafios de sua vida: deixar sua filha em outra cidade para passar uns tempos com o pai. Seu coração doía por se distanciar de seu pequeno tesouro, mas sabia que isso ajudaria a filha a enfrentar o momento difícil que estava passando. Seu coração de mãe não conseguia mais suportar a dor que havia nos olhos de sua prole. Por isso, resolveu que a deixaria com Charlie, na esperança de que um novo lugar e novas pessoas, pudessem devolver o sorriso à menina.

A mulher observou de canto de olho a garota sentada no banco do carona ao seu lado. A adolescente estava com o rosto apoiado na mão cujo braço se escorava no vidro do carro e mantinha seus doces olhos castanhos voltados para o horizonte. Seus lábios, que outrora foram de um tom rosado hipnotizante, agora estavam meio esbranquiçados; os cabelos – assim como os de sua mãe - caíam em cascatas sobre os seus ombros, no entanto, os fios castanhos da menina se incendiavam no sol, assumindo um tom mais arruivado. Ainda que sua pele estivesse pálida e seu rosto abrigasse olheiras roxas e profundas, a menina ainda possuía o encanto de uma boneca de porcelana, confeccionada nos mínimos detalhes.

— Estamos quase chegando! – disse a mulher com uma falsa animação. A garota voltou os olhos para a mãe, abriu um sorriso fraco e voltou a encarar o vazio. Iria sentir falta de sua menininha, pensou Miranda.

Enquanto adentrava os limites de Forks, Victoria se preparava mentalmente para se despedir de sua mãe e encarar o fato de que agora moraria com seu pai e sua meia irmã, Isabella. Não que não se dessem bem, mas viveu tantos anos com sua mãe que temia a mudança repentina. Passava tão pouco tempo com a irmã – que também evitava ao máximo passar os verões com o pai – que não fazia ideia de como ela estava agora. E tinha um certo receio em descobrir.

 O caminho até a casa de Charlie era curto, passava pela Forks High School e pelo centro da cidade onde havia alguns restaurantes e hotéis. Como se alguém fosse querer se hospedar nesse fim de mundo, pensou a menina. Ainda que Port Townsed também fosse uma cidade pequena, conseguia ser maior do que Forks, além de ter vista para o mar, o que fazia de sua cidade natal mil vezes mais atraente e aconchegante que sua nova moradia.


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