Full moon escrita por VickSousa


Capítulo 1
Prólogo




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O relógio do automóvel marcava 11:15 PM enquanto a menina dirigia nervosamente pela estreita rodovia WA 305 em direção à pequena cidade de Port Townsend. No banco do carona, Will Waters, seu melhor amigo, falava de maneira empolgada sobre as músicas que poderiam tocar juntos no próximo final de semana. No entanto, Victoria não conseguia prestar atenção em nenhuma das palavras proferidas pelo rapaz, seus pensamentos vagavam por assuntos muito mais urgentes.

Victoria Swan e Will Waters eram amigos desde que o rapaz havia iniciado as aulas de música com a mãe da menina, Miranda, que havia se encantado pelo dom do menino com os acordes do violoncelo e resolvera apresentá-lo à sua filha, uma exímia pianista mirim. Ambos tinham cerca de 8 anos. Desde então, os dois se tornaram confidentes inseparáveis, vivendo juntos todos os encantos da infância, desafios da adolescência e agora se preparavam para adentrar na vida adulta. Porém, há algum tempo, a menina não se contentava apenas com a amizade do rapaz. Queria mais. Estava perdidamente apaixonada por seu grande amigo, mas tinha medo de que esse amor pudesse estragar o forte vínculo de amizade que possuíam.

Planejara a viagem de um dia à Seattle justamente com a intenção de declarar seu amor por Will. Victoria sabia como o menino amava sair da cidadezinha em que viviam em busca da tecnologia e das atrações que a maior cidade do estado de Washington possui. Contudo, não havia sido capaz de proferir uma palavra ao garoto que evidenciasse suas segundas intenções. Já estavam na estrada há cerca de uma hora, voltando para casa e sentia que se não contasse a ele antes de chegarem, não conseguiria mais se declarar.

— E então? – disse Will acordando a menina de seus pensamentos.

— Desculpe... o que estava dizendo mesmo? Estava focada na estrada. – Mentiu.

— Perguntei o que você acha sobre tentarmos tocar alguns clássicos. Caramba Vic, você está incrivelmente aérea hoje.

— Desculpe Will... Na verdade, tem uma coisa que ‘tô querendo falar com você há algum tempo. – O estômago da menina se revirava em sua barriga.

— Ahh, não vai me dizer que se cansou de tocar comigo. Ou que decidiu seguir carreira solo. Ou pior, vai me trocar por um outro violoncelista qualquer! – exclamou numa falsa indignação.

— Não, não é nada disso. – disse aflita.

— O que é então? -  Nesse momento, a mente de Victoria se embaralhou e as palavras sumiram de sua boca. Suas mãos suavam e seus lábios se abriam e fechavam como alguém que ponderava se ia falar ou não. – Desembucha, Victoria. Estou ficando preocupado. É algo ruim?

— Não! Quer dizer, talvez...Er, depende de você. – Um ímpeto tomou conta da menina e ela enfim começou: - Bom, Will, há um tempo venho sentindo isso e pensado em te contar, mas fiquei com medo da sua reação... Não é algo fácil de se dizer e poderia mudar nossa amizade para sempre... Sabe como é né... Não controlamos as coisas que sentimos...

Will observava a amiga falar reticente e começava a ter uma ideia do que ela iria dizer.

— Fala logo, mulher!

— Está bem. William Waters, estou apaixonada por você. Tentei ignorar, esquecer, sufocar esse sentimento, mas infelizmente, não consegui. Sou muito feliz sendo sua amiga, mas há algum tempo, passei a te ver com outros olhos. Não sabia como dizer isso e planejei a viagem de hoje para poder me declarar, mas não consegui. Por isso estou dizendo agora. Você não precisa me corresponder nem nada, mas eu precisava expor esse sentimento. É isso. – A menina cuspiu as palavras de maneira séria enquanto olhava para frente, encarando a estrada. Tinha medo de olhar para o lado e encontrar a rejeição nos olhos do amigo.

Alguns minutos se passaram, o rapaz permanecia estático no banco do carona. Não esboçava nenhum tipo de sentimento em seu rosto e Victoria temia ter colocado um fim em sua amizade mais antiga. Quando finalmente teve coragem para encarar Will, pode observar seus lindos olhos verdes fixos na estrada e seu maxilar um tanto quanto rígido. Aos poucos, ele foi abrindo um sorriso tímido, expondo uma fileira de dentes brancos perfeitamente alinhados, que deixou o coração de Victoria ainda mais rápido e esperançoso. Então, o menino abriu a boca para responder.

— Vic, eu.... – Começou encarando os olhos cor de chocolate da menina e em seguida voltou-se para a escura rodovia novamente – Eu, eu... CUIDADO!!!!

Mas já era tarde demais. Quando voltou seus olhos para a estrada, a garota deparou- se com uma figura humana parada há poucos metros de seu carro. Afundou o pé no freio e girou depressa o volante para o lado direito. Movido pelos súbitos comandos, o carro tombou em direção à encosta, caindo pela ribanceira abaixo.

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Quando finalmente convenceu suas pálpebras a se afastarem, tudo estava de cabeça pra baixo e fumaça saia pelo escapamento de seu Peugeot 2006. Sua cabeça estava pesada e sentia uma dor lacerante em seu braço esquerdo. Como se não bastasse, também sentia um líquido quente e viscoso escorrendo por seu rosto e por diversas outras partes do seu corpo. Sangue. O banco do carona, surpreendentemente vazio, também estava manchado com o mesmo líquido. Ao tocá-lo com mão direita, lembrou-se que há poucos minutos, seu melhor amigo ocupava o lugar agora vago.

—Will – Sussurrou. Parecia que todo o seu organismo doía pelo simples abrir e fechar de sua boca. – Will, onde está você? – Conseguiu dizer um pouco mais alto. O desespero começava a tomar conta de seu ser e parecia que até mesmo esse sentimento, fazia seu corpo doer. – Will, por favor, onde você está? – Tentou gritar, mas sua voz embargada pelo choro não atendia aos comandos de seu cérebro. Resolveu então, que deveria sair do carro para procurá-lo. Sem sucesso, tentou mexer as pernas. Estavam presas na carroceria do carro, agora totalmente destruída e amassada pelo impacto do capotamento. Tentou puxar as pernas com as mãos, mas uma lasca de vidro enorme havia perfurado profundamente seu braço esquerdo e a cada vez que fazia força com os membros superiores, seu corpo inteiro se contorcia de dor.

Foi então que, com o braço saudável, empurrou a porta do carro afim de que pudesse vasculhar o local com os olhos, em busca de seu melhor amigo. Para sua surpresa, a porta deslizou com facilidade e pode observar que o carro estava num estreito pedaço de terra localizado entre uma mata íngreme e pouco iluminada, devido as luzes que vinham da estrada, e a Baía da liberdade, situada na cidade de Pouslo. Já havia transitado pela rodovia tantas vezes, que reconheceu o lugar facilmente. Se deu conta de que o carro devia ter caído na encosta e capotado pela mata, parando poucos metros antes de cair na baía. Por pouco não estava afogada.

— VIC! Você acordou! –  Victoria se assustou, reconhecendo a voz de William saindo da mata e vindo em sua direção. Ainda que mancasse a perna esquerda e tivesse sague por todo seu rosto e em sua roupa, Will parecia num estado bem melhor que o da menina presa nas ferragens. – Quando o carro parou de cair, tentei tirar você daí, mas não consegui. Tive que sair para procurar ajuda. Gritei por uns dez minutos e nada. Nem sinal de alguém. Voltei para checar se você estava bem.

— Will, ah, graças a Deus que está vivo - Soluçava compulsivamente, enquanto o rapaz se aproximava – fiquei com tanto medo... você me assustou. – Ainda enxergava tudo de cabeça para baixo.

— Shhh, estou bem. Vamos ficar bem. - Disse um Will preocupado, se agachando para acariciar o rosto de sua melhor amiga, presa no carro destruído. Pode perceber, através da luz fraca, que a garota tinha muitos ferimentos e perdia muito sangue. Precisava arranjar ajuda se quisesse manter sua amiga viva.

Antes que o desespero tomasse conta do rapaz, ele ouviu passos. Provavelmente alguém que ouvira seus pedidos por socorro estava vindo averiguar. Levantou-se e voltou a gritar em direção a mata. Gritou cada vez mais alto, a plenos pulmões para que a pessoa – cuja presença ele achava ser milagrosa – pudesse encontrá-lo.

— Will – Chamou a menina baixinho – Não vou conseguir... não vou... – O rapaz virou-se novamente para ela, já com lágrimas nos olhos, suplicando:

— Não diga isso! Vem vindo ajuda. Apenas mantenha seus olhos abertos. Fica comigo, Vic. Vamos sair dessa. Juntos. Em breve estaremos em casa. – As pálpebras da menina começaram a pesar – Vic, por favor! Me escute, você precisa manter os olhos abertos, por favor! Eu estou aqui, vai dar tudo certo... não durma! – O rapaz implorava. – Fique comigo. Fique, por favor... eu te amo.

E então, antes mesmo de poder olhar o rosto de seu suposto salvador, Victoria sucumbiu à força que suas pálpebras faziam para se encontrarem e finalmente se entregou ao mundo da inconsciência.

Jamais saberia se o amor que Will declarou sentir por ela, era o mesmo que sentia por ele...


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