POV Bella

Havia acabo de me arrumar -fiz tudo em tempo recorde- e já estava me preparando para aguentar o falatório das meninas, o que sinceramente, estava me deixando nervosa e sem muita paciência. Foi quando ouvi um barulho muito estranho vindo de dentro do meu "mini escritório". Moro sozinha, não devia ter barulho algum lá. OMG!!! Será que eu estava sendo assaltada?! Bem é a minha cara mesmo ser assaltada hoje depois de tudo o que passei! Tomei coragem e fui ver o que era.

Abri a porta bem devagar e não acreditei no que meus olhos viam, fiquei surpresa e com raiva ao mesmo tempo. Aquela garota não tinha o direito de invadir minha casa e mexer nas minhas coisas! Mas esse não era o maior problema, ela estava mexendo na única coisa que não podia sonhar em mexer. Me esforcei muito pra conseguir inúmeras coisas em prol daquela caixa, ou mais especificamente em seu conteúdo, para mim aquilo se tornou a coisa mais importante que eu possuía. Mas ao mesmo tempo reabria grandes feridas, que de certa forma nunca desapareceram, pois mesmo quando eu conseguir -se conseguir, é claro- acabar tudo o que eu comecei, nunca irei esquecer tudo o que passei. Ou melhor tudo o que eu presenciei, sempre haveria aquelas malditas cicatrizes, que as vezes, teimavam em se reabrirem.

Ainda não conseguia acreditar que aquela mimada arrogante estava segurando a minha caixa! Estava tão nervosa que não consegui pensar direito, minha visão começou a ficar estranha e a única coisa que consegui naquele momento foi gritar. Gritar desesperadamente, como uma louca -coisa que eu devia estar parecendo-.

— O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI, EU NÃO MANDEI VOCÊ ESPERAR NO CARRO? E QUEM TE DEU O DIREITO DE FUÇAR NAS MINHAS COISAS? E MAIS QUEM TE DEU O DIREITO DE MEXER NISSO? — gritei apontando para a caixinha. A menina continuou estática, então fui até lá, peguei a caixinha de sua mão com brutalidade e a guardei no armário, onde era o seu lugar.

Eu estava atordoada, não sabia o que pensar e todas as cenas daquele maldito dia começaram a invadir minha mente. Não consegui mais conter as lágrimas e quando dei por mim elas já estavam caindo e embaçando minha visão. Realmente não sabia o que fazer, nunca alguém havia descoberto aquela caixa e fora meus pais, nunca alguém havia me visto chorar daquela forma -nem Alice, que era minha melhor amiga-. Gostaria de sair dali, voltar para meu quarto e assim chorar até não aguentar mais! Mas eu não tinha forças, a única coisa que consegui fazer naquele momento foi encostar minha cabeça no armário e chorar. Tudo o que conseguia pensar eram em todos os dias de angústia que passei, tudo que sofri, tudo o que eu nunca iria conseguir apagar da minha alma. Todas aquelas cenas horríveis invadiam violentamente minha cabeça, sem eu poder fazer qualquer coisa para impedir. Não conseguia raciocinar direito, mas a parte ainda lúcida de mim gritava para eu sair dali, limpar meus olhos e voltar para o carro, pois eu tinha responsabilidades.

Com muito esforço consegui me conter, enxugando aquelas lagrimas fujonas, fui ao banheiro e lavei o rosto rapidamente. Enquanto segurava minha vontade de chorar voltei ao local onde tudo havia acontecido, mas a bisbilhoteira não estava mais lá. Deve ter voltado para o carro depois da minha cena de descontrole.

Desci as escadas daquele pequeno prédio e avistei o carro, onde todas estavam olhando curiosas para Sophia que não dizia uma única palavra enquanto ouvia música com um fone em seu celular.

—Nossa estava demo... — Manu começou a falar, mas assim que viu meu rosto e olhos vermelhos, parou e passou a encarar Sophia com um olhar de repreensão, que ainda se mantinha calada ouvindo músicas. Comecei a dirigir vagarosamente, tentando não pensar em nada, mas isso era impossível. As lembranças novamente começaram a invadir minha cabeça e mais uma vez deixei uma lágrima cair. Limpei rapidamente meu rosto para as meninas não verem, mas eu acho que não adiantou muito, pois elas estavam me encarando desde que cheguei no carro. Menos é claro Sophia, que ainda continuava encolhida com seu fone no ouvido e com uma cara confusa.

Enfim chegamos a grande mansão em que eles moravam, estacionei o carro cuidadosamente na garagem e logo as meninas foram saindo. Só ficou ali a pequena, que estava na cadeirinha. Peguei-a cuidadosamente, fechei as portas abertas do carro e adentrei a casa devagar -a qual aparentemente estava vazia-. Mas esta impressão durou por pouco tempo, pois logo Edward chegou vindo de algum lugar de dentro da casa -como Manu disse, ele iria almoçar com elas- e começou a me encarar confuso. Sem saber realmente o que fazer, coloquei Pietra no sofá, ligando a TV em um canal de desenhos. Quando me virei ele ainda estava lá me olhando.

—O que aconteceu? — perguntou confuso —O que elas aprontaram dessa vez? —continuou mais sério desta vez.

—Nada —respondi ainda com a voz fraca e meio embaraçada —Se me der licença... —nem esperei sua resposta, sai da sala com pressa e corri para a lavanderia da casa. Eu sei que eu não deveria sair correndo como uma desesperada e vir me esconder, sei que deveria ter calma -como dizem comer um leão por dia- mas isso eu já venho fazendo a muito tempo. Tentando não me abater, o que é uma coisa impossível em minha situação. Existem pessoas que são mais fracas e gostam de esperar as coisas acontecerem, enquanto sofrem por elas, outras mais fortes que vão a luta para vencer e superar seus problemas. E é isso que estou tentando fazer, lutar para no final vencê-los. Sei que as vezes sou fraca e sofro pelas coisas pelas quais deveria lutar com mais garra do que nunca, mas isso eu ainda não consigo fazer. Mas estou tentando e não vou desistir! Preciso enfrentar cada dia, lutar e fazer as escolhas certas. Por isto estou aqui, trabalhando e lutando, para enfim me formar, começar trabalhar de verdade e conseguir assim acabar o que comecei anos atrás. Finalmente usar aquela caixinha que venho guardando há anos, para o que realmente ela precisa ser usada. Foi repetindo estas palavras inúmeras vezes para mim mesma que juntei minhas forças e sai de onde estava "escondida" para enfrentar aqueles olhares curiosos, que começariam a me encarar.

Logo que sai, vi alguns empregados me lançando olhares confusos e como previsto curiosos. Mas não me importei iria fingir que nada havia acontecido, pois por enquanto eu não podia fazer nada para resolver meus problemas. A solução neste momento é continuar e é isso que eu vou fazer, continuar minha vida, tentando viver um dia de cada vez, até chegar a hora que tanto esperei. Tem pessoas que vivem e outras que existem. No momento estou apenas existindo. Me sinto como se estivesse usando uma máscara de alguém forte e feliz, uma máscara de alguém sem um passado perturbado, uma máscara de alguém sem problemas.

POV Edward

Hoje iria almoçar com as meninas -as mais velhas, pois as outras estavam na escola- para ver como andava o comportamento delas com a nova babá. Adiantei os serviços do hospital e consegui chegar em casa às 13:00.

Assim que cheguei em casa percebi que a mesma estava muito movimentada, empregadas passavam de um lado para o outro. Tenho certeza que minhas filhas devem ter destruído a casa e agora as pobres coitadas das empregadas estavam limpando.

—É, com certeza elas fizeram muita bagunça. —Afirmei assim que avistei meu lustre quebrado no chão, espero que elas não tenham se machucado.

Um tempo se passou e os empregados começaram a servir o almoço. As meninas já deviam ter chegando. Estava começando a me preocupar, mas então ouvi o barulho do carro sendo estacionado na garagem. Esperei um pouco e logo as meninas começaram a aparecer. Nenhuma delas parecia estar em seus estados normais, Bia estava com a expressão curiosa, Manu parecia estar brava, pensativa e Sophi parecia estar surpresa, assustada, espantada. MAS O QUE É QUE TÁ ACONTECENDO AQUI?!

Não estava estendendo nada, então resolvi ir atrás de Bella. A encontrei na sala, mas sua expressão foi a pior de todas e realmente me surpreendeu. Seu rosto e seus olhos estavam vermelhos e suas bochechas estavam marcadas pelas lágrimas. Ela se virou e colocou Pie no sofá -que até agora estava em seus braços, o que é estranho pois Pie não gosta muito de ficar no colo de ninguém que não seja eu, ou nossa família-. Sem entender o por quê de Bella estar chorando resolvi perguntar o que tinha acontecido:

—O que aconteceu? —perguntei com uma voz meio confusa, mas logo me veio na cabeça que minhas filhas deviam ter aprontado alguma —O que elas aprontaram dessa vez? — falei novamente, porém mais sério e ao mesmo tempo preocupado, esperando que não fosse nada de tão grave. NOSSA CLARO QUE DEVE TER SIDO GRAVE, A GAROTA ESTAVA CHORANDO EDWARD! CHORANDO. Uma voz no interior da minha cabeça gritou para mim.

—Nada... Se me der licença — me respondeu com uma voz fraca e sem esperar minha resposta saiu correndo, adentrando a casa. Fiquei meio sem ação, o que eu faria agora? A nova babá em menos de um dia já estava praticamente surtando com as minhas filhas, as quais nem sob ameaças estavam sabendo se comportar. Ainda preocupado com o que poderia ter acontecido, chamei Lúcia - uma das empregadas mais antigas- e pedi para ficar cuidando de Pie, mesmo não sendo sua função.

Me dirigi até a cozinha onde as meninas ainda estavam e por incrível que pareça em silencio. Nunca vi minhas filhas quietas por tanto tempo assim, realmente o que aconteceu deve ter sido algo sério. Quando entrei, elas pararam de olhar o nada e passaram a me encarar, mas nenhuma se prontificou a falar.

—Então quem vai ser a primeira a me contar o que houve...? —Falei calmamente.

—Olha isso pode parecer absurdo e inacreditável mas dessa vez eu não fiz nada — Bia falou rapidamente e parecia estar falando a verdade.

—Se não foi a senhorita encrenca, quem foi? —Perguntei confuso olhando as outras duas.

—Olha papai, eu como sempre não fiz nada e nem sei o que aconteceu —falou Manu me olhando nos olhos.

—Então Sophia só sobra você, pode ir falando o que você fez! —Falei a encarando sério.

—Olha papai eu...- Sophi me olhava com uma carinha de piedade e hora ou outra lançava um olhar pedindo ajuda as irmãs.

—Anda Sophia, fala o que aconteceu —falei já perdendo a paciência.

—Papai eu...- Sophia começou mas não terminou mais uma vez a bendita frase.

—Sophia desembucha agora, se não vai ser muito pior pra você! Já estou cansado das suas gracinhas não basta eu ter...-fui interrompido no meio da frase por Bella.

—Ela não tem culpa de nada, eu... eu que me descontrolei acabei trombando em um porta-retratos muito importante pra mim e perdi o controle... Me desculpem por isso, prometo que não acontecerá de novo. —Bella deu uma desculpa que não me convenceu muito, mas se ela mesmo falou que Sophi não tem culpa de nada, o que eu posso fazer?

[...]

Depois de toda aquela discussão, eu e as meninas fomos almoçar -já que Bella se recusou a se juntar a nós, alegando que se sentiria mais confortável almoçando com os outros empregados-.

Nosso almoço foi bem tranquilo, conversei amenidades com Bia e Manu que pareciam ter se esquecido de todo o assunto discutido anteriormente. A única que continuava distante era Sophi, ela estava com um semblante pensativo e eu decidi não atrapalhar seus devaneios.

POV Sophia

Já entendi tudo! Aquela vadia ninfetinha, quer tentar nos ganhar me defendendo e assim consequentemente ganhar meu pai, aquela ordinária!!! Mas ela está muito enganada se pensa que vai conseguir isso...Sou muito mais esperta do que ela pode imaginar.

E aquela cena de histeria que eu presenciei? O QUE FOI AQUILO? Sério essa garota deve ser uma louca! Deve ser não, É uma louca e ainda por cima uma "bela" de uma vagabunda aproveitadora.

Eu não estava prestando atenção em nada naquela merda de almoço. Só queria ter todas minhas coisas de novo, ele não tinha o direito de me tirar elas. Por sorte eu tinha um celular reserva escondido dentro do meu colchão, que meu pai não conseguiu achar. Esperteza é tudo meu bem!

Mas uma coisa eu não consigo tirar da minha cabeça, o que ela esconde naquela caixa? Deve ser algo muito importante e eu vou descobrir o que é! Ou não me chamo Sophia Cullen! Ah se vou...