Guardiã do Rei escrita por Miss America


Capítulo 33
O Jogo Vira


Notas iniciais do capítulo

Eis então o prometido.
Sério, eu gostei desse cap. Isso não significa que ele esteja bom, mas eu gostei, sei lá. Foi breve, sem muita enrolação, já que achei desnecessário.
Ok, talvez tenha UM POUQUINHO de enrolação, mas é interessante pra aumentar o nervosismo hahahaha
E... hm, espero que ninguém me mate após a leitura :)



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You, you in the chaos feigning sane

You who has pushed beyond what’s humane

Them as the ghostly tumbleweed

And where was your watchman, then?

~ Guardian

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Percy permaneceu estático. Deveria acontecer alguma coisa? Deveria sentir alguma coisa? Como os cantores sempre falavam do amor... mesmo? Nada daquilo fazia sentido agora. Com um sentimento ruim, recuou antes que a menina verdadeiramente encostasse os lábios nele.

Drew abriu os olhos subitamente e encarou Percy com sobrancelhas franzidas, ainda de nariz colado ao dele. Percy procurou as palavras para dizer algo que quebrasse aquela tensão, mas um ruído o fez esticar o pescoço para saber qual era sua origem. Ao olhar para o meio das árvores, em plena noite, nada viu. Alguém que tenha percebido a cena decerto afastou-se para não incomodar ou... ou...

Seus olhos arregalaram-se.

Annabeth.

Colocou-se em pé com um salto, deixando Drew sentada na terra com o saco de maçãs. Ela pareceu indignada.

– Ei – gritou para Percy, quando ele caminhou para longe dela. – Onde pensa que vai, menino?

Percy inspirou profundamente antes de se virar para ela.

– Vou ao pavilhão, ajudar com o jantar – respondeu calmamente.

– Isso é ridículo – a menina de olhos estranhamente puxados retrucou. – Já tem número suficiente para arrumar comida. E você é um príncipe.

Ele não se deixou levar pela bajulação.

– Não existe só o pavilhão no Acampamento – disse.

Drew arqueou uma sobrancelha.

– E não existe somente nós dois aqui – observou ela. – Você vai embora só por causa de um ruído que escutou? Ninguém viu, eu garanto. E há muitos ruídos, porque existem outras pessoas no Acampamento – Drew falou de um jeito lento e irônico, como se Percy tivesse dificuldades em entendê-la.

A atitude da menina o irritou. Lembrou-lhe um pouco Nancy.

– Vou ao meu chalé – disse rapidamente a primeira coisa que lhe veio à cabeça.

– Coitado, esqueci que ainda és indeterminado – disse ela aflita, mas era só exagero. – Tente frequentar o menos possível o chalé 11, enquanto ainda estiver lá.

Percy fechou os olhos, impaciente, arrependendo-se do momento em que se aproximou dela para conversar. Apenas conversar. Enquanto esteve calado, Drew pareceu raciocinar.

– Oh, deuses – murmurou. – Você acha que a Chase nos viu.

– Talvez.

Ela cobriu os olhos com as mãos.

– Não o entendo! – gritou, e abriu os olhos para ele, estupefatos. – Você acaba de me dizer que Annabeth nem conversa mais com você! Como pode se importar com o que ela pensa?

Percy deu um sorriso cansado.

– Porque ela sempre fez isso comigo – admitiu. – Acho que aprendi com ela.

Drew continuou encarando-o.

– Você é...

– Obrigado – ele interrompeu, enquanto ia embora. – Obrigado por ter me escutado, e perdoo-lhe pelo que fez. Não se aproveite das pessoas. Jamais o faça, ou as perderá – acrescentou, em tom amigo, deixando a menina falando sozinha atrás de si.

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Encontrou Annabeth perto da mesa dos vegetais.

Ela servia-se concentrada, e só percebeu a aproximação de Percy quando ele já estava ao seu lado.

– Olá – ele cumprimentou, um tanto inseguro.

Annabeth o analisou dos pés a cabeça, antes de sorrir sem muita empolgação.

– Olá.

Percy não tinha certeza do quê exatamente ela viu, ou se viu, então mordeu o lábio, aflito.

– Veio finalmente jantar? – perguntou ela, escolhendo alguns pedaços de tomate e os colocando no prato.

– Sim – respondeu Percy, desconfortável. Annabeth apenas acenou com a cabeça, indiferente.

Ele então pegou um dos pratos de porcelana pobres e com um dos lados faltando um pedaço e serviu-se de algumas romãs, mas sem apetite.

– Mais tarde teremos fogueira – ela avisou, minutos depois. – Sr D não gosta de atrasos, bem sei disso.

– Tudo bem – ele concordou, indo em direção a uma das mesas, que tinha um número 11 esculpido em madeira sobre ela. – Estarei lá.

– Ótimo – disse Annabeth, e foi sentar-se à mesa do chalé 6, distante dele. Havia apenas os dois no pavilhão, sentados, enquanto os outros já lavavam seus pratos. A imensidão do lugar fez o silêncio ser menos esmagador, mas Percy ainda sentia-se mal por ela.

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Percy chegou quando a fogueira já havia sido acendida. Era uma fogueira média, não tão alta quanto à do castelo. Isso era bom. A fogueira do pátio real não lhe trazia nenhuma boa lembrança, assim como não deveria trazer à Annabeth.

Haviam crianças e adolescentes sentados em bancos de madeira ou no gramado, esquentando-se do frio que fazia. Percy localizou Annabeth em um dos bancos, com uma expressão fria e vaga, perto de outras crianças louras também. Percy imaginou que fossem seus irmãos.

No todo, eram poucos os refugiados no Acampamento. Cada chalé teria no máximo oito ou dez ocupantes, sendo o maior deles o chalé de Hermes, com quatorze. Percy não entendia como um número tão pequeno de crianças entraria em uma guerra sobrenatural.

Durante a fogueira, todos cantaram músicas e celebraram seus respectivos pais divinos. Sr D, um homem gordo que usava uma pele de tigre nos ombros e expressão irritada, manteve-se neutro e calado durante toda a noite. Annabeth, do outro lado, cantava sem muito ânimo, e Quíron alternava olhares entre ela e Percy, aparentemente preocupado. Toda essa atmosfera perigosa e tensa fez o menino calar-se, e, assim que se encerraram as cantorias, ele se retirou.

Dirigiu-se solitário até o chalé onze, enquanto os outros permaneciam conversando perto das brasas da fogueira. Como o dormitório estava vazio, Percy escolheu com calma uma cama e se sentou sobre ela, desanimado. Apesar de todas as teorias de Annabeth e sua comprovação de respirar sob a água, ele ainda era um “indeterminado”. Quem quer que fosse seu pai não parecia ter pressa em reclamá-lo.

Enquanto isso dividiria o chalé com outras treze crianças alucinadas e muito, muito sagazes.

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Quando o chalé seis silenciou-se, Annabeth se abraçou ao travesseiro e engoliu a mágoa.

Não, não era com Percy que estava brava, nem com Quíron ou com qualquer outra pessoa. Era consigo mesma. Sua consciência lhe dizia que ficaria tudo bem, mas seu coração apertava-se diante do destino iminente. Olhava para seus irmãos, seus amigos, suas coisas, suas vontades. Olhava para Quíron e... para Percy. Era tão difícil.

Abraçou-se ao travesseiro e se deixou vagar por pensamentos e lembranças até adormecer.

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No outro dia, após o desjejum, Percy a fez parar perto dos alvos para treinamento.

– O que eu fiz? – perguntou ele, de olhos arregalados.

Annabeth lembrou-se da noite anterior e entristeceu-se. Não podia culpá-lo ou dizer-lhe que estava errado. Ela não tinha essa capacidade.

– Nada – ela deu de ombros, sem dar importância.

– Então por que você não conversa mais comigo? – insistiu ele.

Ela inspirou lentamente, ganhando tempo para pensar numa explicação decente.

– Não sei – respondeu. – Creio que ando muito ocupada. Desculpe-me.

Tentou voltar a andar, mas ele a parou outra vez.

– Foi algo que Quíron lhe disse? – perguntou, e seu tom de voz havia se alterado para um sussurro.

“Sim.”

– Não – assegurou. – É claro que não.

– É algo envolvido com a guerra? Ou depois dela?

“Sim e... não. Somente antes da guerra.”

– Talvez – balbuciou, fazendo Percy ficar ainda mais intrigado. Antes que ele voltasse a fazer perguntas, ela passou à sua frente: - É só nervosismo, tudo bem? E não pense que não falo com você porque não quero. Estamos muito ocupados. Temos que treinar, estudar estratégias e esperar uma guerra que pode acontecer a qualquer minuto.

Percy ficou em silêncio. Ela estranhou.

– Algo errado? – pediu.

Ele balançou a cabeça negativamente. Após uns segundos, falou:

– Você me viu com Drew?

Annabeth mordeu o lábio, surpreendida pela pergunta direta.

“Não, é claro que não!”

– Sim – confessou. – Não sabia que eram vocês. Desculpe-me.

Percy ergueu as sobrancelhas.

– Como?

– Ora, desculpe-me.

– Mas... você não...

– Sim?

– ... não se magoou ou algo parecido?

“Deveria?”

– Óbvio que não – sorriu, um pouco forçado. – Você estava conhecendo outra moça. Drew é... interessante. Precisa de uma noiva quando retornar ao castelo. Seria maravilhoso que ela fosse uma... uma semideusa, para entender você.

Percy ficou apenas encarando Annabeth como se ela fosse um fantasma, o que a deixou levemente irritada.

– É... é sua vida, Percy. Escolha sua própria noiva, sem promessas ou essas formalidades. Espero que seja... – a voz engasgou-se. - ... muito feliz.

Sentindo os olhos começarem a marejar e Percy fitar-lhe aturdido, ela virou as costas e correu para a Casa Grande.

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O resto do dia foi cruel.

Annabeth e Percy mantiveram-se distantes, e não conversaram mais. Toda vez que ela o via, sentia uma culpa tão grande que não era capaz de continuar olhando para ele. Sabia que Percy estaria ficando magoado com isso, mas ela não sabia o que fazer. Quíron lhe aconselhara a agir assim, e ela tinha certeza que era melhor, mas... ao mesmo tempo, sentia como se enganasse Percy.

Quando tinha um pouco de paz, ela caminhava ao longo do Acampamento respirando com calma o ar puro. Queria sentir o vento, ouvir o som das vozes e pisar sobre o orvalho da grama com os pés descalços. Parecia, de certa forma, um lugar irreal. Andava como se pisasse em ovos, como se tudo o que a cercava fosse desaparecer como fumaça a qualquer instante.

Essa insegurança a fazia tremer, e, quando não podia evitar, uma ou duas lágrimas rolavam pela face. O sol a esquentava e ela se sentia viva... por alguns segundos.

– Qual é o seu problema?

A voz esganiçada e autoritária veio de algum lugar a sua direita, arrancando Annabeth de suas reflexões interiores.

Drew escorava-se em um pinheiro, fitando-a com certo desprezo.

– Qual deles? – ironizou Annabeth.

A menina cruzou os braços e caminhou até ela.

– Um deles, chamado Jackson – insinuou.

Annabeth encolheu os ombros.

– Não me é um problema.

– Talvez seja para ele – disse Drew. – Você o trata como um estranho, e ainda assim ele se preocupa com você. Por que o trata assim?

“Ele se preocupa com você”. Annabeth corou.

– Ele... o quê?

– Não importa – interrompeu a menina. – Você não dá atenção a ele. Escute aqui – apontou o dedo para ela – se não vai tratá-lo como merece, então se afaste. Perseus não tem que ficar correndo atrás de você como um tolo.

Annabeth fechou os olhos, ignorando mentalmente o sermão que recebia. Quando Drew terminou, Annabeth ergueu as sobrancelhas.

– Era apenas isso?

Drew confirmou com a cabeça.

– Muito bem – disse Annabeth, sorrindo sarcasticamente. – Minha querida Drew... Percy não “corre” atrás de mim. Ele me ajuda. Caso tenha se esquecido, ele é o Herói e eu sou a Guardiã. Somos uma equipe, e temos que funcionar como uma só mente. Somos integrantes de uma profecia e não podemos nos separar. Se Percy se importa comigo, saiba que também me importo com ele, da minha forma. Então, se não lhe cabe este assunto, por favor, não se intrometa. Ah, e se quer ficar com o príncipe, vá em frente. Ele precisa de qualquer uma que sirva como noiva quando retornar ao castelo.

A menina a encarou por alguns segundos, assimilando as palavras. Não retorquiu; apenas desfez a pose autoritária e se retirou a passos rápidos. Quando ela sumiu de sua vista, Annabeth riu por alguns momentos. Incrível como Drew ainda tentava desafiá-la.

Quando a risada morreu aos poucos, se viu sozinha de novo. A vontade de chorar retornou com força, fazendo-a andar depressa para o seu chalé.

Quanto mais caminhava, mais lembranças a enchiam. Defender sua posição diante de Drew pareceu honroso e superior, mas não era assim que Annabeth via as coisas. Lembrou-se dos dias no castelo, lembrou-se de Percy descobrindo quem ela era. Lembrou-se da briga que tiveram, e da forma como ele magoou-se com ela. Sentia medo que acontecesse outra vez, e então Percy estaria sozinho para lidar com isso.

Cega pelas lágrimas que beiravam cair, ela bateu contra Quíron. O centauro assustou-se com a pressa da menina, e percebeu sua expressão.

– Annabeth, está tudo...

– Está – cortou ela, e não lhe deu mais ouvidos. Sentia vários olhares pousarem em suas costas, enquanto ela dava passos desequilibrados e lutava contra o choro.

Bateu-se contra outros semideuses, e ignorava todas as perguntas que lhe eram feitas. Quando topou com Drew, a empurrou para o lado. Ainda faltavam alguns metros até o chalé seis, quando alguém lhe segurou firmemente pelo braço.

– Annabeth! – a voz de Percy era confortável de se ouvir, e a fez parar. – O que houve?

Annabeth olhou a sua volta, e se viu cercada por várias pessoas que também queriam ouvir a resposta. Até mesmo Drew cruzou os braços e a encarou, confusa.

– Nada – respondeu, tentando puxar o braço de volta.

Percy não cedeu.

– Annabeth, pare com isso – repreendeu ele, sério. – Você está me preocupando, assim como a todos aqui. Diga-me, o que está acontecendo?

Annabeth observou Percy atentamente, comovida com a atenção do menino para com ela. Era tão doce. Ela não queria lhe dizer a verdade.

– Eu quero ir para o meu chalé – pediu ela.

– Você vai – prometeu Percy. – Mas antes, me responda.

– Não. Se afaste.

– Não vou me afastar! Diga-me. Sei que há algo errado com você.

– Vai embora. – insistiu.

– Ninguém vai brigar com você. Somos todos meio-sangues aqui, todos estamos com medo da guerra. Confie em mim, você vai ficar bem.

– Eu não vou – a voz dela alterou-se.

– Não pode dizer isso – disse Percy.

– Eu não vou ficar bem! – ela gritou de repente, puxando o braço com força. – Não vou, entendeu?

Quíron aproximou-se.

– Annabeth, acalme-se...

– Não quero me acalmar!

– Você não pode dizer isto dessa forma! Acalme-se!

Annabeth escondeu o rosto nas mãos.

– Não! – ela gritava. – Não quero que Percy saiba! Ele vai... ele vai ficar triste, ele vai ficar sozinho, não quero...! Ele não merece, ele não...

Percy a agarrou pelos ombros e a sacudiu.

– Annabeth! – gritou ele, fazendo-a se calar. – O que eu não posso saber?

Ela sentiu como se perdesse o ar.

– Eu sou a Guardiã, Percy.

– Eu sei.

– Seu livro não conta minha história.

– É verdade – ele confirmou apenas para ajudá-la, mas Annabeth viu que Percy empalidecia aos poucos.

– Percy... minha história não está lá... porque... – ela molhou os lábios. - ... porque eu vou morrer. É o suficiente, agora?

.

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///////

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Percy bateu o punho contra a mesa de Quíron, furioso.

– Como assim Annabeth vai morrer?

Quíron suspirou em desânimo.

– Pedi a ela que fosse cuidadosa em lhe contar isto.

O menino respirava pesadamente. A sala parecia rodar à sua volta, mas ele tinha olhos apenas para Quíron, em busca de uma resposta que fizesse sentido.

O centauro dobrou suas pernas humanas - tidas por meio de mágica – sobre um banquinho pequeno, e escolheu bem as palavras antes de começar.

– Percy, a verdadeira profecia aconteceu pela primeira vez há muito tempo, e o único relato que temos sobre ela é o pergaminho que li. Apesar de não sabermos o que aconteceu no fim, isso acarretou uma mudança na profecia, que passou a ocorrer em todas as vezes que a Batalha renasce. A cada nova batalha, os semideuses de suas respectivas épocas a escreviam para que retornassem informações aos sucessores.

– Assim como meu livro – disse Percy, em um murmúrio.

– Assim como seu livro – confirmou Quíron. – A passagem retirada do fim conta a maldição que a Mão recebe. Muitos dizem que isso aconteceu por causa do jovem que se ofereceu para acompanhar o Herói. Lembre-se que o Oráculo não havia chamado por ele. Mas são apenas teorias. Na realidade, sabemos apenas que, durante a Batalha, é inevitável que a Mão morra. Ela nasce e vive para proteger o Herói. É sua função.

Percy ficou em silêncio por longos minutos, processando cada nova informação. Não parecia ser real, não era real.

– E por que ela tem que morrer? – sussurrou.

Quíron encolheu os ombros, vencido.

– Não sei – admitiu. – Alguns diziam que era por causa do Oráculo, outros diziam que era uma alma requerida pelo Senhor do Tempo. Cada um pensa de um modo.

– E como o senhor pensa?

O centauro hesitou.

– Em minha concepção, são ambas as coisas. Lembre-se de como Apolo disse: “sangue derramado para o sangue culpado”. Seja o que for, ocorre sempre, mais cedo ou mais tarde. Talvez a morte não aconteça na Batalha. Talvez aconteça mais tarde. Mas me lembro... me lembro de muitas mortes – disse Quíron, com um olhar perdido entre as montanhas que apareciam pela janela.

Percy esfregou a testa com a mão direita, angustiado.

– E não há nenhuma maneira de salvá-la?

Quíron pareceu levemente contrariado.

– Não. – respondeu bruscamente, mas logo sua fala abrandou-se. – Infelizmente, não.

O menino deixou a cabeça pender sobre os ombros, derrotado pela imaginação de uma vida inteira lembrando-se de Annabeth e de como ela morreu por sua causa.

– O fim... – murmurou ele - ... vocês não contam para os outros, não é?

Quíron assentiu.

– Eu e Sr D tentamos ao máximo esconder dos meio-sangues sobre a maldição da Mão. Para evitar pânico como... bem, como o que Annabeth provocou.

– Isso então... então explica meu livro.

– Creio que não – o centauro deduziu. – Seu livro é um caso especial. Ainda quero vê-lo. Não há sentido em tal livro estar no castelo real, mesmo que você seja um semideus.

– Assim como sua memória – arriscou Percy.

– Exato.

.

.

Percy não encontrou mais Annabeth. Não havia mais ninguém no Acampamento que não estivesse em seus chalés, em silêncio. Algumas meninas choravam; estavam em um chalé coberto por rosas. Imaginou que seria a deusa da beleza, a qual Annabeth lhe ensinara o nome, mas agora ele havia esquecido. Que sentido teria em lembrar, e perceber que ela nunca mais lhe ensinaria nada?

Caminhou até a parte de trás do chalé 3, que ficava na ponta da montanha. Lá embaixo ele via o mar, exatamente como o viu quando caiu do Pico Inglês com... com Annabeth. Em um acesso de raiva, pegou uma pedra e a atirou contra as águas. Antes que a pedrinha tocasse o mar, ela já havia desaparecido no ar.

– Eu sei que você existe – gritou Percy para o nada, sem saber ao certo se seria respondido. – E sei que posso respirar embaixo da água. E posso controlá-la, assim como fiz com Nancy. Os outros não sabem, mas eu sei. Você é o meu pai. Você... só não me reclamou ainda. Você deve... deve me odiar.

O mar continuou sereno como esteve todo o dia. No céu, a lua já havia subido e o escuro tomou conta do Acampamento Secreto.

Conformado com o abandono e o silêncio, Percy permitiu-se chorar. Um choro indignado, inconsolável e incompreensível. Havia se sentado na terra e abraçado os joelhos, sozinho.

O som de trotes o fez parar.

Caminhou de volta para o centro do Acampamento, mas estava vazio. Nem mesmo Quíron, com sua metade cavalo, não faria um trote alto como aquele. Os cavalos do Acampamento estavam adormecidos. De onde viria aquele som?

Percy, assustado e desconfiado, percorreu os limites do Acampamento sem dizer nada a ninguém. Esperou, silenciosamente, que o som se repetisse, mas isso não aconteceu. Voltou para perto das brasas da fogueira, que agora já estavam apagadas, e se sentou em um dos bancos. O vento frio soprou tão forte e gelado que Percy se arrepiou dos pés à cabeça, agarrando-se ao manto para proteger-se dele.

– Percy?

Ele se virou. Encontrou Quíron em forma de centauro, com um arco e uma aljava nas costas.

– Você ouviu...

– Sim – Quíron confirmou. – Trotes. Centenas de trotes.

Com um sinal, Quíron chamou Percy para junto de si. Velas acenderam-se em alguns chalés, mas ninguém ousou ir para fora. Percy e Quíron caminharam em silêncio e aguardaram próximos ao pequeno morro por onde Percy havia chegado. O chalé de Ares não aguentou a espera e, liderados por Clarisse, ajuntaram-se com eles.

Outros semideuses saíram, mas mantiveram-se perto de seus chalés. O trote cessava e recomeçava, cessava e recomeçava. O grupo formado então por Quíron, Percy, os filhos de Ares e alguns outros se separaram e cercaram o Acampamento. Percy, em um dos limites, segurava sua espada atento, quando o trote recomeçou ainda mais alto.

Ao conseguir definir um grupo de cavaleiros e seus estandartes, Percy ergueu a espada. O brilho de Anaklusmos riscou o ar, mas pareceu ligeiramente diferente. Era como se um brilho cálido e azulado houvesse tomado seu lugar.

Então, tudo aconteceu em uma fração de segundos.

Quíron gritou “Percy!”. Todos os outros semideuses que viram o grupo de cavaleiros partiram para o ataque. O brilho azulado se intensificou, cegando Percy temporariamente. Quando abriu os olhos outra vez, viu o que parecia ser uma imagem de um tridente pequeno. Quíron estava a alguns metros, ajoelhado. Alguns murmuravam ao seu redor “ele foi reclamado”. Percy teria se perguntado o porquê dos trotes terem cessado tão rapidamente e ninguém dar importância a isso, mas uma voz austera respondeu-lhe quase que no mesmo instante.

– Uma cria das águas, então – Dern Castellan riu. – Demasiado útil sabermos disto antes de retornarmos ao reino. Prendam-nos!


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Notas finais do capítulo

Ok. Podem me matar.
EU SEI EU SEI EU SEI EU SEI EU SEI EU SEI EU SEI que eu disse que a Annabeth não ia morrer - mesmo eu nunca tendo garantido, mas... - PORÉM VOCÊS SACARAM TUDO ANTES E eu não queria estragar a surpresa.
Tcharãn :)
Mas o que foi que eu pedi? CONFIEM EM MIM. Tá tudo sob controle (porenquantoné).
Então? Foi um cap um tanto surpreendente, eu acho. Sei lá, sempre quis escrever essa última cena, mas nunca imaginei que seria tão complicado unir dois acontecimentos em uma mesma cena. MUITO HARD.
Bem gente, peço desculpas pelos reviews que eu ainda não respondi (mas eu amei, vocês são lindjas ♥) mas é que eu vou viajar amanhã e ainda não fiz minha mala e.e
Quanto à cena que eu disse que ia reescrever... bem, não rolou. Aí tentei dar uma salvada naquela bagaça. Espero que tenha dado certo xD
Bem, até sexta! :D