Guardiã do Rei escrita por Miss America


Capítulo 2
A Convocação Real


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada ao meu primeiro review!
Besos ;D



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A multidão se reunia abaixo do castelo quando o relógio marcou meio-dia.

Os cotovelos se batiam, as vozes provocavam burburinhos e as crianças eram erguidas acima dos ombros dos pais. No castelo, não se viam movimentos que indicassem o que significaria aquela convocação real em plena quarta-feira.

Então uma trombeta soou, e foi seguida por outra e depois por uma terceira; as janelas da sacada real foram abertas e os voais das cortinas de tecido fino esvoaçaram para fora, conforme o vento as carregava. Alguns rápidos minutos se passaram até poder-se enxergar a figura altiva do rei Paul Jackson.

Em seu eterno bom-humor, ele apresentava um sorriso gentil e educado quando acenou delicadamente com as mãos para que seus súditos se colocassem em pé. O rei ostentava seu traje especial para eventos da realeza, sendo uma roupa produzida com o mais puro linho, tendo em seu tecido branco belos desenhos bordados com fios de ouro.

Quando o silêncio se fez, o rei pigarreou com força e começou a falar, lenta e autoritária.

— Povo da Inglaterra, ouçam o seu rei. Ordenei a todos que se apresentassem neste local para que pudesse transmitir um aviso muito, muito especial, e creio que ninguém na corte o poderia fazer por mim.

 

 

Dentro do castelo, a rainha Sally passava de quarto em quarto, em busca do filho que sumira desde a noite anterior. Seu coração de mãe apertava-se em seu peito, ansiando encontrá-lo o mais breve possível. A voz alta de seu marido ecoava nas paredes e, a cada palavra, ela sabia que tinha de encontrar o filho mais rapidamente, a tempo de ser apresentado ao povo.

Perguntas tolas enchiam sua mente. Ele pode não ter passado a noite aqui, ou não sei se ele pode estar pronto. As perguntas eram confusas, e ela tentava respirar calmamente para expulsá-las de seus pensamentos perturbados.

Ao passar como um raio por um dos quartos, ela parou no corredor. Recuou alguns passos, entrou lentamente em um quarto desocupado e aproximou-se da janela. Ali, ela ergueu o olhar e, com um sorriso de alívio, o encontrou.

— Percy, é você, filho?

O jovem estava de costas, sentado sobre o telhado. De onde Sally estava, ela o via sobre as telhas da sacada em frente. Percy observava a multidão presente na chamada do rei, estando bem acima de todos.

Ao ouvir o grito de sua mãe, o menino olhou preguiçosamente para ela e acenou. Sally asseverou a expressão para poder intensificar a gravidade da situação, mas Percy não tinha pressa. Desceu de onde estava e, com um pulo que arrepiou Sally, ele entrou dentro de um quarto.

Ambos encontraram-se no corredor. A rainha batia nas roupas de Percy, exigindo saber onde ele esteve e por que não compareceu nem ao jantar e muito menos ao café da manhã.

— Você quer matar seu pai antes do tempo?

— Eu só estava com Blackjack, mãe...

Sally rolou os olhos.

— Você vai ter muito tempo com ele ainda, mas agora você será...

— Será rei e terá de dividir seu coração com o do seu povo — ele continuou, e então bufou. — Só não acho que estou pronto. Por que papai não pode esperar mais um pouco? Ele nem está tão doente como diz estar.

— Filho — Sally começou, segurando Percy pelos ombros e fixando seu olhar nele —, entenda: nunca estamos realmente prontos para algo, até o momento em que a vida nos impõe isso. E então, você descobre que esteve pronto o tempo todo.

— E se isso não acontecer? — insistiu Percy.

— Não me faça perguntas — Sally repreendeu. — Você será o rei a partir de agora. Responda-a sozinho. Creia em mim, haverá perguntas mil vezes piores as quais você sempre terá que dar uma reposta.

O olhar de Percy caiu, e a mãe o guiou carinhosamente até a sacada principal.

 

 

Lá fora, a multidão aguardava impacientemente. Quando o jovem príncipe surgiu, o povo obrigou-se a executar uma dura cortesia. Nenhum homem ou mulher no reino realmente acreditava que aquele menino tinha o potencial certo para governar.

Rei Paul bateu de maneira cordial nas costas do filho e ergueu sua mão para o povo. As jovens meninas do reino e mais alguns amigos que Percy fizera no meio plebeu aplaudiram, mas os mais velhos apenas assentiram, carrancudos. Percy podia sentir o quanto ele era bem-vindo ali.

— Estou ficando velho, meu bom povo — disse Paul, mas Percy sabia o quanto ele ainda era jovem. — E infelizmente... tenho que lhes dizer que... que seu rei fora atacado de uma terrível doença.

Um único suspiro ecoou pelo pátio real. Percy virou seu rosto rapidamente para o pai, não acreditando no que acabara de ouvir. Não era apenas um resfriado, alguns dias de cólera? Do que seu pai estava falando?

Paul não respondeu o olhar.

— Sei que o natural é o príncipe assumir o trono quando o rei falece, mas não quero que isso aconteça ao meu filho. Quero estar presente para ensiná-lo, e ajudá-lo a conquistar a confiança de quem não acredita nele — disse Paul, olhando significativamente para os mais velhos no meio da multidão.

Ele empurrou Percy mais para frente, mas o jovem continuava fitando-o, e a pressão que seu olhar provocava em Paul era cortante demais e dispensava perguntas. 

— Saúdem, povo, seu novo rei: Percy Jackson, o senhor da Inglaterra!

As palmas, mais fortes dessa vez, encheram o pátio e ergueram-se alto, até a sacada onde Percy estava junto ao pai. Paul virou-se lentamente para Percy, e o príncipe engoliu em seco. Aquelas palavras que ele tanto aguardou ouvir agora soavam como uma sentença.

Nesse momento, enquanto o som da multidão rugia, o rei foi tomado por uma tosse cruel e violenta, que ele tentou esconder das pessoas se virando de costas para a Sacada. No entanto, Percy viu a mão do pai encher-se de manchas vermelhas, e ele ser afastado pelos guardas para dentro do castelo, deixando Percy sozinho para trás com a multidão em polvorosa.

Não era dito em palavras, mas Percy Jackson sentia em seu coração: as coisas para ele dificultariam cem vezes mais, e ele não fazia de ideia de quanto tempo ainda teria ao lado de seu querido pai.

 


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