— Ai, Isabelle, acorda! — ouvi a voz de Lily me chamar com raiva — Acooooooorda — ela começou a me cutucar. Já falei o quanto eu odeio que as pessoas me cutuquem?

— Já acordei — falei me virando para ela.

— Ainda bem! Garota, você é a pessoa mais dorminhoca que eu já conheci na vida. E que tem o sono mais pesado também!

— Hum — eu disse me virando para dormir de novo. Eu me sinto, ham... quer dizer... eu não sinto. É como se eu estivesse ligada no automático.

— Desisto — ela disse nervosa saindo do quarto e batendo a porta. Suspirei de felicidade. Finalmente posso voltar a sonhar com unicórnios e hipogrifos felizes.

Eu estava andando num campo coberto por uma grama muito verde e eu procurava algo. Eu estava aflita. Escutei um barulho estranho e olhei para trás, dando de cara com um leprechaun.

— Ham, oi?

O leprechaun nada disse e me deu um balde cheio de galeões. Opa! Dinheiro! Não nego... Ah, não preciso disso não! Ele pode estar me testando.

— Não, obrigada — falei semicerrando os olhos. O leprechaun me olhou estranho e meio ofendido e virou de costas para mim, saindo saltitando até um arco-íris.

Que estranho.

Virei para frente e continuei andando, até que vi um lago, e ,na margem dele, um bicho muito branco.

— Unicórnio! — gritei correndo até ele. O bicho se levantou e veio correndo em minha direção — Senti tanta saudade, Uni — falei, abraçando-o.

— Mim também sentir — falou o unicórnio. Olhei espantada para o Uni e ele piscou para mim.

— Por Merlin, você fala?

— Claro que mim fala.

— O certo seria "claro que eu falo", Uni — o corrigi.

— Ei, eu tenho nome sabia? E é Tarzan.

— Tarzan? Mas... Tarzan não é aquele homem macaco das histórias trouxas? Uma vez eu fui visitar uma amiga nascida trouxa minha e...

— Isabelle! — gritou Lily — Você está mais do que atrasada!

Senti meu corpo ser empurrado da cama e bati a cabeça no chão.

— Ai, sua nojenta! — berrei — Não dá pra acordar de um jeito mais delicado não? Agora vou ter que andar por aí com um hematoma na cabeça e não vou mais ver o Tarzan!

— Tarzan? — ela me encarou confusa — Ah, esquece, não quero saber sobre o que você sonha. Levante e vá se vestir, menina, você já está atrasada demais! As aulas começam em meia hora, e você vai acabar perdendo o café da manhã.

Eu só escutei "blá blá blá perder o café da manhã".

— Perder o café? Eu não posso simplesmente perder o café da manhã, você quer que eu morra de fome?

— Então eu acho melhor não ficar aí parada quando metade das pessoas já deixou o salão — gritou Lily, mais vermelha do que o cabelo — E quer parar de gritar comigo? Assim você me dá dor de cabeça!

Levantei-me com um salto e em dez minutos eu já estava pronta – sou um ninja. Saí do dormitório correndo, atravessei o portal do retrato e corri tão rápido que quando percebi já estava me sentando entre Peter e Remus.

— Droga — praguejou James batendo a mão na mesa. Eu o olhei assustada enquanto enchia o prato de bacon.

— Há! Me passa logo — falou Sirius estendendo a mão. Senti Remus suspirar como se estivesse entediado.

Então James tirou do bolso – e me encarando mortalmente – três galeões e seis sicles.

— Ei! — falei após engolir um pedaço do meu bacon delicioso — Não acredito que apostaram! E eu sei que está relacionado a mim!

— Você esta me devendo, Bells — reclamou James — Por que não ficou dormindo?

— Porque sua amada Lily Evans me acordou. Duas vezes!

— Mas dava um jeito de se atrasar!

— Ah cara, você tem que aceitar que é um perdedor — disse Sirius rindo enquanto dava palmadas nas costas de James.

— Pensei que você iria se atrasar — falou Remus para mim quando saíamos do salão — Sabe, acho que vocês deviam levar esse ano mais a serio.

— Ah, nem vem com aquela historia de N.I.E.M.s de novo, Aluado! — Sirius falou enquanto piscava para uma garota do quinto ano.

— Mas são tão importantes quanto os N.O.M.s! É o futuro de vocês que está em jogo.

— Gente, sinto dizer isso, mas o Aluado tem razão. Sabe, eu não quero virar uma louca zumbi que nem no quinto ano! É melhor começar a estudar agora para não ficar tão nervosa como eu fiquei naquela época.

— Quem é você e o que fez com a minha irmã? — falou James me olhando chocado. Ele não era o único. Sirius, Peter e até Remus olhavam para mim em choque.

— O que aconteceu com você? — perguntou Sirius me olhando como se eu estivesse ofendendo-o.

— Gente, eu só quero ter uma profissão digna...

— Mas por isso tem que deixar de se divertir?

— Eu não disse isso, eu só disse que é melhor a gente levar as coisas mais a sério. Prestar atenção nas aulas, fazer as tare...

— Tchau — disse James puxando Sirius. Peter passou entre Remus e eu e correu atrás deles dois.

— Mas o que eu falei de errado? — perguntei me virando para Remus.

— Nada. Pelo contrário, você agiu como uma boa amiga, Bells. Eles só... só são muito cabeça dura.

Assenti com a cabeça e seguimos para a aula de poções, onde teríamos aula com a Sonserina. Argh, eu não mereço isso!

Fomos o caminho todo conversando sobre as profissões que queríamos seguir.

— Deve ser muito bom ser auror, mas eu não consigo reagir muito bem a pressões, sabe? Por isso vou ser curandeira.

— Ah, pois eu gostaria de ser auror — disse Remus com o olhar distante como se estivesse se imaginando prendendo bruxos das trevas.

— Auror? — perguntou uma voz fria em tom de descrença — o máximo que conseguiria é garçom do Cabeça de Javali, já que o ministério não aceita lobisomens.

Virei-me e vi Snape sorrindo diabolicamente para Remus. Olhei para ele e o brilho sonhador nos olhos já havia desaparecido, tentava mostrar indiferença. Ele pode ter convencido o seboso, mas a mim ele nunca conseguiria. Eu sei que ele ficou magoado.

— Ninguém perguntou sua opinião, ranhoso — eu falei com raiva — Por que é que você, ao invés de nos importunar, não vai lavar esse seu cabelo seboso, hein?

Ele me olhou com nojo e murmurou um "Traidorazinha nojenta", passando direto para dentro na sala de poções. Olhei para Remus e percebi que ele estava triste.

— Ah, Remus. Não, é... não fica assim. Você sabe que você tem capacidade e é muito inteligente! E quem sabe eles abram uma exceção para você?

— É... pode ser — ele respondeu, ainda soando um pouco descrente, e entrou na sala, sentando-se em seguida.

Sentei ao seu lado e olhei para as mesas atrás de nós, vendo James, Sirius e Peter. James estava olhando para mim, mas logo desviou o olhar e começou a conversar com Sirius.

Suspirei com infelicidade. Que droga, eu só queria ajudar! Só porque eu vou levar as matérias mais a sério esse ano não quer dizer que vou parar com as marotices.

As aulas da manhã passaram voando, e em todas elas fui ignorada por James e Sirius. O único que falava comigo era Remus. Agora me digam, é errado me preocupar com meu futuro?

— Eles continuam me ignorando — reclamei, virando-me para Remus — Você já deve estar enjoado de escutar minha voz!

— Exagerada! Claro que não, sua voz é bonita de se escutar.

— O quê? — perguntei sorrindo. Ele pareceu se tocar que deixou um pensamento sair pela boca sem querer e corou instantaneamente.

— É...

— Tudo bem — ri pelo nariz — Eu... hum... gosto dos seus olhos! Eles têm uma cor linda! Parecem até...

— ...amêndoas? — ele riu se descontraindo.

— É isso aí! — ri e pisquei para ele. Ele riu negando com a cabeça e me abraçou de lado.

(...)

Já passava da hora do toque de recolher e eu corria em direção ao salão comunal. Eu sei é meio estranho dizer isso, mas eu estava fazendo um trabalho de Poções que o professor Slughorn passou.

Eu caminhava olhando para os lados com medo que o Filch ou Madame Nora me pegassem. Imagina só? Ele nunca ia acreditar que eu estava estudando lá na biblioteca. Tá vendo aí como é ruim ter fama negativa?

Cheguei à frente do quadro da Mulher Gorda e murmurei a senha. Por favor, que todos estejam dormindo, todos mesmo. E isso inclui James e Sirius!

Nossa, Isabelle, você tem tanta sorte que me deu cãibra.

— Onde você estava? — perguntou James ao me ver — Pensei que estivesse dormindo.

— É... eu estava... ham, andando. É isso aí! Eu estava só andando. — falei nervosa enquanto tentava esconder os pergaminhos atrás de mim.

— Sua habilidade para mentiras me envergonha — disse Sirius, semicerrando os olhos.

— O que é isso que você está escondendo? — perguntou James esticando o pescoço para ver o que tinha nas minhas costas.

— N-Nada — olhei para Remus pedindo ajuda com o olhar, e como ele é o inteligente, entendeu. Imagina se eu tivesse pedido pro Peter?

— Gente, deixem que ela respire — Remus falou calmamente — ela deve estar cansada. Vocês passaram o dia todo ignorando ela, acham que ela não está magoada?

Reprimi uma vontade enorme de sorrir. Uma das melhores coisas de Remus Lupin é que ele tenta ver os dois lados da verdade. Ele defende a mim e a eles ao mesmo tempo e te ajuda quando precisa.

— Ah, me poupe, Aluado! — disse Sirius revirando os olhos — Eu sei que você só está dando cobertura a ela.

Ah, esqueci que Sirius tem a incrível capacidade de detectar mentiras. Ele pode não ser certinho e dedicado como Remus, mas ele é inteligente e astuto. Às vezes – quase sempre, na verdade – isso me irrita.

— Agora — disse meu lindo irmão — Me dá isso aí.

— O quê? Não! — andei para trás enquanto ele se aproximava.

— Me dá isso! Eu quero ver o que você está escondendo.

Eu estava tão concentrada em me esquivar de James que nem percebi Sirius atrás de mim. Sirius agarrou os pergaminhos e levantou os braços para que eu não alcançasse.

— Ah não, Sirius! Me devolve. Isso é particular!

— Particular? — perguntou James pegando o pergaminho das mãos de Sirius — Ah, Aluado, agora não! Petrificus Totalus — e então Remus estava petrificado como uma estátua.

— Ei! Por que fizeram isso? — apontei para Remus — vocês não acham que já passaram dos limites?

— Vejamos... — disse James me ignorando e olhando meus pergaminhos. Ele passou os olhos da esquerda para a direita e me olhou incrédulo — Qual a importância da terceira lei de Golpalott? — ele releu — Ah, estava fazendo trabalho? Nos trocou por um trabalho inútil de Poções?

Corri até minha mochila e peguei minha varinha, apontando para Remus.

— Finite.

— Isabelle, o que está acontecendo com você? Você não é a minha irmã! Nunca nos trocou por um trabalho idiota! Por que decidiu ser “responsável” agora? — ele falou quase gritando. Senti uma enorme vontade de chorar, mas eu não daria esse gostinho a ele — O Remus tudo bem, porque ele sempre foi assim. Mas você? Era tão marota quanto Sirius e eu!

— Não devo explicações a ninguém.

— Gente, pensem no que estão dizendo a ela. James, ela é sua irmã, não seja assim tão duro — Remus protestou, pacifista como sempre. Como ele podia ficar tão calmo com eles? Eles o petrificaram!

— Minha irmã não me trocaria por um trabalho de Poções.

Fiz o máximo possível para não demonstrar o quanto essa frase me abalou e apanhei minha mochila que estava jogada no chão. Peguei os pergaminhos da mão de James e subi as escadas do dormitório, ignorando as reclamações de James para Sirius.