A Mansão Subterrânea escrita por Justine


Capítulo 8
Só mais um dia que se foi


Notas iniciais do capítulo

Aqui estou novamente após de uma década! rsrs. Sinceramente, peço desculpas a quem aguardou ansiosamente pela continuação. Mas aqui está. Divirtam-se.



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Luísa estava acorrentada em uma sala escura. De repente, ela escutou soluços. Aos seus pés estava a garota loira, chorando muito. Mas ela não estava sozinha: deitados e seu colo, estavam os dois garotos que outrora ela viu acorrentados. Os dois pareciam mergulhados em um sono profundo. Luísa contemplou os semblantes dos dois; um era magro, possuía cabelos cacheados e era negro, parecia ter sido um garoto tranqüilo e bondoso. O outro, porém, tinha uma aparência enérgica e dinâmica, embora sua pele rosada estivesse empalidecendo. Uma lágrima escorreu de seus olhos. A garota loira, que parecia ser mais velha que os dois, falou entre soluços, de cabeça baixa:

— Eles não tiveram sorte. E eu também não terei... Meu fim será ainda pior... Vê? Ele está me machucando da pior forma que alguém pode machucar uma jovem – disse ela, e ergueu os braços roxos e ensanguentados . Sua roupa estava rasgada.

Luísa soluçou alto e começou a chorar. A outra garota, porém, agitou as mãos para ela:

— Não, por favor! Não vai acontecer o mesmo com você. Você vai sair viva da Mansão Subterrânea, eu sei!

Alguém irrompeu na porta. Era Sérgio, e ele aproximou-se da garota loira, e arrastou-a para fora da sala pelos cabelos, deixando os corpos inertes dos garotos caírem no chão. Após lançar um olhar assustador para Luísa, ele fechou a porta, levando a outra prisioneira consigo.

Após ouvir um baralho de porta abrindo e fechando-se novamente, Luísa começou a ouvir uma risada pavorosa, entrecortada por gritos horríveis de dor, que as vezes vinham acompanhados de palavras de encorajamento:

— Você vai sair daqui! Você vai sair da Mansão Subterrânea! Você vai sair! Você vai...

Luísa chorava apavorada. Sair dali? Como? Começou a se debater nas correntes que prendiam seus pulsos e pés, as costas suadas contra a parede, os gritos da garota cada vez mais altos, a sala vazia da mansão aumentando seu pânico...

— Você vai conseguir! Você vai...

Luísa acordou suada e assustada. Pedro acariciou seus cabelos e sorrindo fraternalmente, perguntou:

— Está tudo bem?

— Está. – mentiu ela, ofegante.

— Luí... – disse Lúcia que mostrava que não estava acreditando nas palavras da menina – Você está molhada de suor!

Roberto olhou para ela displicente e nada disse.

Luísa não estava bem coisa nenhuma! O corpo estava suado, os olhos arregalados, a boca aberta e muito, mas muito ofegante. Mesmo com a cabeça dolorida, ela conseguiu sentar-se com os joelhos dobrados. Estava começando a compreender por que estava tendo aqueles sonhos. Impressionada com a história dos três jovens e assustada com sua prisão em forma de buraco, ela sonhou deste o primeiro momento com os três em uma mansão subterrânea. Agora com a descoberta dos cadáveres, também passou a sonhar com o modo como eles morreram. Qual era exatamente a idade dos três? Eram todos meninos ou meninas? Como eram fisicamente? Essas eram respostas que Luísa só obteria de alguém que os conheceu. Por ora, imaginava apenas os três ali, vivendo desesperados seus últimos dias de vida.

Sua imaginação já estava mal influenciando seus sonhos.

— E aí, galera? Algum sinal dele?

— Que nada! – disse Pedro, sacudindo a cabeça e pondo no rosto uma expressão que resultou da mais perfeita mistura de raiva, deboche e falta de esperança.

— Acho que seu plano falhou, Luí. – disse Roberto.

Luísa tentou ser o mais pacífica possível.

— Meu plano não falhou. Ele nem foi executado, ainda! Como pode algo que nem foi testado falhar?

Lúcia respirou fundo

— O que Rober quer dizer, Luí, é que Sérgio ainda não apareceu. Sabe o que pode acontecer daqui até o dia que ele resolver vir.

Luísa arregalou os olhos.

— Mas nós temos os biscoitos, e água e...

— Os biscoitos e a água não vão durar para sempre, Luí. – explicou Pedro, como se explicasse a um doente que ele precisa tomar os remédios.

— Ok, então. – retrucou a garota – Vamos reduzir a quantidade de biscoitos.

— Quêêêêêêê ???? – exclamaram os demais, de olhos arregalados.

— É isso aí. Ah, vamos gente. Se quisermos resistir por mais um pouco, vamos ter que economizar.

Por isso, quando os relógios dos rapazes marcaram vinte horas, os meninos jantaram um biscoito cada um e beberam água. Estavam em péssimas condições higiênicas e naquele momento, todos começaram a reclamar a falta que suas casas, quartos e refeições faziam. Pedro chegou a soltar um suspiro pesado e a dizer:

— Me arrependo tanto, mas tanto da noite em que peguei o carro do vô para subir a serra... E ainda convenci vocês duas a virem juntas... – pesaroso, ele apontou as meninas com um movimento vago do dedo indicador.

— Eu avisei... – lembrou Luísa.

Lúcia segurou-se para não bater em Luísa e rapidamente disse a Pedro:

— Não se culpe Peu! Todos nós estamos aqui porque quisemos!

— É isso aí, Lú! – disse Roberto, sorrindo largamente – Amigos que ficam unidos, correm perigo unidos!

— Ninguém de fato aprovou a piada do rapaz naquele momento. Mas Luísa foi a única que se manifestou, revirando os olhos:

— Roberto, caso ainda não tenha percebido, este não é o melhor momento para brincadeiras. – declarou hostil.

O rapaz suspirou também hostil, e suspendendo os olhos, rebateu:

— Melhor fazer uma brincadeira para alegrar o ambiente do que colocar o melhor amigo para baixo.

Lúcia e Pedro se entreolharam, percebendo a tensão do clima. Luísa se surpreendeu com a resposta de Roberto, mas mesmo assim, retrucou ainda mais venenosa:

— Entendo porque você disse isso, Rober. Afinal, a carapuça, serviu, não é mesmo?

— O que você quer dizer?

— O que quero dizer, é que Pedro é responsável o suficiente para ter tido a ideia maluca que teve há umas noites atrás, não acha?

Ou Roberto estava sendo muito sonso, ou realmente não estava entendendo o que a garota dizia, pois franziu a testa e inclinou a cabeça para o lado, exatamente como um cachorro faria diante de um dono histérico.

— AIIIIIII, Rober! – rosnou Luísa, trincando os dentes – Você está se fazendo de burro ou o quê? O que estou tentando dizer é que eu aposto que foi você que convenceu Pedro a roubar as chaves do carro e subir esta maldita serra! – ela falou tudo isso aos gritos. Os dois já estavam de pé, frente a frente.

Roberto estava um tanto chateado, mas não alterou a voz ao perguntar:

— Vem cá? Por que você sempre me acusa de tudo? Por que você sempre acha que fui eu?

Pedro, que também já estava de pé atrás de Roberto, pronto para segurar o amigo, caso fosse necessário (Lúcia também estava a postos, ao lado de Luísa), murmurou, em defesa do amigo:

— Luísa... Eu e Pedro tivemos a ideia juntos. Começamos a imaginar tudo e quando vimos, já estávamos colocando tudo em prática. Digo... Ele não teve muita culpa, entende? Até porque, a ideia de roubar o carro do vô foi minha...

Roberto sorriu triunfante e sarcástico:

— Pronto! Satisfeita agora? Quem sabe agora podemos nos sentar e voltar à santa paz?

Sentindo-se contrariada, Luísa não se deu por vencida:

— Sabe por que eu sempre te culpo por tudo o que acontece? Porque você sempre foi um irresposável! Eu me lembro perfeitamente quando namorávamos! Você sempre estava metido em encrencas e escândalos!

A voz do rapaz soou cínica:

— Ah! Então é por isso que você anda pegando no meu pé mais do que o normal! Ressentimento de ex não é?

— Não seja ridículo, Roberto! Você acha mesmo que eu te namorei porque gostava de você? Eu jamais quis algo com você, além da amizade. Mas o problema é que sua família é influente, e por isso minha mãe me pressionou para que aquele namoro acontecesse, e para que no futuro até casássemos. Parece até que todo o nosso dinheiro é insuficiente para ela. Ou ela pensa que só porque ela casou com meu pai para viver à custa dele a vida inteira, eu também tenha que fazer isso. Mas ela infernizou tanto que acabei cedendo. Foi a coisa mais ridícula que eu fiz na minha vida. E até eu resolver encarar a dona Carla e por um ponto final naquele sofrimento, percebi que ser sua namorada é duas vezes pior que ser sua amiga!

Ao terminar seu discurso, Luísa estava ofegante e de boca seca. Pedro parecia chocado, embora não menos que Roberto, que parecia ter entrado em estado de choque, literalmente. Lúcia estava tensa, mas não exatamente surpresa: ela sabia que Luísa fora pressionada pela mãe para namorar Roberto, quando eles tinham apenas catorze anos. A garota desabafava com a amiga sobre as pressões de Carla.

Ainda perplexo Pedro deu palmadinhas no ombro do amigo, sussurrando:

— Vamos lá, cara. Hora de tentar relaxar um pouco, sim? – e, dizendo isso, puxou Roberto para o chão. Lúcia parecia ter dado um conselho parecido para Luísa.

Meia hora depois, quando os dois pegaram no sono, Pedro e Lúcia iniciaram uma conversa:

— Você acha que isso foi uma DR? – perguntou o rapaz à amiga.

— Hum... Acho que não. O fato é que nunca vi Luísa discutir tão ferozmente assim com alguém, mesmo que Roberto seja o alguém em questão. Nós sabemos que ela é assim mesmo, nervosinha. E agora ela está com medo, exausta, aflita. Ela tem as emoções bem afloradas, e com tudo o que está acontecendo, não sabe como lidar com o estresse. E como Roberto é a pessoa com quem ela mais discute no grupo, acaba descontando tudo nele.

— Mas agora ela o feriu de verdade, Lú. Tudo o que ela falou não pode ser mentira e na época que os dois namoraram Rober realmente gostava dela. Nós dois sabemos disso.

— Eu sei. Mas a amizade deles ficou meio abalada depois do fim daquele namoro.

— É, mas você acha que agora vai piorar? Que eles talvez nem voltem a se falar?

— Acho que não, Peu. Quer dizer não sei.

Houve um breve instante de silêncio. Depois Lúcia resolveu quebrá-lo:

— E depois foi mais um dia difícil, onde não houve nem execução de plano nem tentativa de fuga, não é, meu amigo?

— É Lú. Só mais um dia que se foi.

Os dois suspiraram e apertaram as mãos, para dar forças um ao outro.


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Notas finais do capítulo

Por favor, não se esqueçam as minhas rewiews! Ah, e faltam poucos capítulos para terminar, portanto, nada de esquecer a historinha aí u.u Tentarei postar o próximo cap o mais rápido possível. Bjos e desculpem a demora!



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